Discurso durante a 121ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Satisfação com a participação do Papa Francisco na Jornada Mundial da Juventude, no Rio de Janeiro, na semana passada.

Autor
Ruben Figueiró (PSDB - Partido da Social Democracia Brasileira/MS)
Nome completo: Ruben Figueiró de Oliveira
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
IGREJA CATOLICA.:
  • Satisfação com a participação do Papa Francisco na Jornada Mundial da Juventude, no Rio de Janeiro, na semana passada.
Aparteantes
Eduardo Suplicy.
Publicação
Publicação no DSF de 02/08/2013 - Página 49330
Assunto
Outros > IGREJA CATOLICA.
Indexação
  • ELOGIO, PRESENÇA, DISCURSO, PAPA, VISITA, BRASIL, ENCONTRO, JUVENTUDE, OCORRENCIA, CAPITAL DE ESTADO, RIO DE JANEIRO (RJ), ESTADO DO RIO DE JANEIRO (RJ), COMENTARIO, IMPORTANCIA, DIALOGO, COMBATE, VIOLENCIA, CORRUPÇÃO.

            O SR. RUBEN FIGUEIRÓ (Bloco/PSDB - MS. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, minha saudação fraternal a todos os ilustres colegas desta Casa, aos servidores, àqueles que nos veem pela TV Senado e ouvem pela Rádio Senado, no início dos nossos trabalhos legislativos neste semestre.

            Sr. Presidente, minha manifestação neste instante é sobre a visita de Sua Santidade, o Papa Francisco. Disse ele, de início: “Não tenho ouro nem prata, mas trago o que de mais precioso me foi dado: Jesus Cristo!” Foi com essa frase que o Papa Francisco deu início à sua participação na Jornada Mundial da Juventude, no Rio de Janeiro, num dos acontecimentos históricos mais importantes do Brasil contemporâneo.

            Reunindo milhares de jovens, peregrinos do mundo inteiro, tivemos a grata satisfação de presenciar um dos eventos mais significativos das últimas décadas em nosso País, tanto no campo religioso quanto no político.

            Foram dias de intensas emoções. Tivemos a rara oportunidade de fazer profundas reflexões sobre temas candentes de nossa atualidade. O Papa Francisco mostrou com insofismável clareza que o grande líder prescinde de pompas, de grandes aparatos de segurança, de ostentação e de mistificações midiáticas.

            O homem simples, com mensagem direta, de pensamento translúcido, encantou todos, independetemente de classe, de religião, de ideologia, de idade e de sexo. Seu exemplo pessoal deixou-nos lições de humildade e de desprendimento. Suas palavras mostraram que os verdadeiros líderes estadistas podem ser profundos e sábios e, ao mesmo tempo, compreensíveis, calorosos e carismáticos, chegando perto do povo, promovendo “o reencontro da humanidade com valores da espiritualidade, em contraposição aos excessos da materialidade humana”, como bem disse a colunista Dora Kramer, de O Estado de S.Paulo.

            Digo isto, Srªs e Srs. Senadores, como católico praticante: nos meus mais de 80 anos de vida, jamais esperava ver um Papa com tamanho despojamento, com tamanha abertura de espírito, com igual demonstração de fé nos homens e nas mulheres que sonham com a construção de um mundo melhor.

            Sr. Presidente, sua visita ao País foi marcante e serviu para delimitar mudanças significativas da Igreja em torno de vários assuntos polêmicos. Estou extremamente orgulhoso com a passagem do Papa Francisco em solo brasileiro. Pude presenciar que, nesses dias, emergiu uma liderança mundial expressiva e tonificante, capaz de fazer o encontro da Igreja com os sentimentos da modernidade, sem que isso signifique abrir mão das tradições e dos dogmas caros à religiosidade cristã.

            O Papa foi absolutamente claro sobre aqueles temas que nos interessam de perto: violência, consumismo, miséria, ética, corrupção, oportunidades, solidariedade e igualdade. Para cada um desse temas, o Papa nos indicou um caminho e nos forneceu elementos para que possamos refletir, com a alma aberta, sem discriminações, preconceitos e maniqueísmos. Ele nos deu substância para encontrar respostas que possam nos transformar em cidadãos e homens de fé, sem que haja contradições entre as duas condições de nossa individualidade.

            Que possamos, Srs. Senadores e Srªs Senadoras, encontrar caminhos que ultrapassem as ideologias e os cacoetes teóricos, sem base na realidade! Que isso nos leve a novos pensamentos! E que possamos elaborar nossos raciocínios sob novos parâmetros!

            A cada discurso e entrevista, temos a oportunidade de aprender sempre mais com o Papa Francisco. A cada manifestação pública, podemos ver a demonstração do significado verdadeiro da entrega ao próximo. Podemos acompanhar sua peregrinação entre pobres e ricos, entre religiosos e não religiosos, entre jovens e velhos, sempre como mensageiro da paz, da harmonia e da conciliação. Podemos também vê-lo como provocador de polêmicas, sem que isso signifique a perda da ternura, da humildade e da indulgência.

            A visita do Papa, Srs. Senadores e Srªs Senadoras, ocorreu exatamente num momento de séria inflexão política no Brasil. Estamos vivenciando um processo de transformação social profundo e profícuo. Foi um momento de reflexão e de paz na Nação brasileira.

            As manifestações que tomaram conta do Brasil encontraram solo fértil na semeadora que o Sumo Pontífice fez no Encontro Mundial da Juventude. Ambos os eventos confluíram no rumo do mesmo leito de inquietação que estamos vivendo.

            Nesse sentido, a vinda do Papa Francisco nos serviu como uma parada temporária, para que possamos pensar melhor sobre o nosso cotidiano. Nos dias em que esteve entre nós, Francisco possibilitou uma pausa, para que pudéssemos refletir sobre nossas atitudes e também sobre nossas mazelas e nossas virtudes, sobre a vontade do povo e o comportamento errático dos nossos governantes, sobre o verdadeiro sentido de servir ao próximo, sobre a missão das classes dirigentes para com a sociedade.

            Devemos percorrer o caminho do diálogo, do encontro, da solidariedade com os mais pobres, arrancando do nosso coração a ganância, o hedonismo, as ilusões de consumo de bens materiais.

            A partir de agora, Srs. Senadores e Srªs Senadoras, quando nos debruçarmos sobre os grandes acontecimentos que marcaram nossa história em junho e em julho de 2013, teremos de, obrigatoriamente, analisar as manifestações populares e o encontro de mais de três milhões de pessoas com o Papa Francisco sob o prisma de um grande movimento social que deseja mais ética, mais espiritualidade, mais compreensão, mais tolerância e, acima de tudo, mais diálogo.

            O ponto mais importante das mensagens que o Papa transmitiu ao povo brasileiro foi a proclamação do diálogo. Repito: a proclamação do diálogo, do diálogo exaustivo entre pensamentos opostos; o respeito pelo outro; a tentativa de ouvir as razões do interlocutor, não para julgá-lo, mas para compreendê-lo. Esta é a base do respeito mútuo: ouvir e dialogar, encontrar novos caminhos, descobrir soluções convergentes, achar saídas sempre pelo meio e evitar os polos radicais, tanto o da direita, quanto o da esquerda.

            Parece-me, Sr. Presidente, que o Papa não estava falando apenas para os brasileiros, mas, sim, para o mundo. Todas as diferenças que originam conflitos ora de ideias, ora de interesses econômicos ou de desejo de supremacia de nações sobre outras ocorrem, fundamentalmente, porque não existe o desejo sincero de encontrar um campo que é, como sempre foi, fértil para a comunhão, que só pode ocorrer por meio do diálogo.

            Olhando assim, de maneira trivial, tudo isso parece simples e fácil, mas sabemos que não é assim. As convicções intransigentes, o radicalismo e o fanatismo afastam as pessoas, colocam povos inteiros em confronto e estabelecem o caos e a violência.

            Por isso, as palavras deixadas por Francisco devem permanecer em nossa memória, servir para refletirmos sobre o sentido da vida e o rumo que desejamos para a nossa sociedade.

            O Papa Francisco trouxe a mensagem de Cristo, da mão estendida. Deu demonstrações de humildade e de despojamento, prova real...

(Soa a campainha.)

            O Sr. Eduardo Suplicy (Bloco/PT - SP) - V. Exª me permite um aparte, Senador Ruben Figueiró?

            O SR. RUBEN FIGUEIRÓ (Bloco/PSDB - MS) - Repito, Sr. Presidente: o Papa Francisco trouxe a mensagem de Cristo, da mão estendida. Deu demonstração de humildade e de despojamento, prova real de que falou de forma absolutamente sincera.

            Com o maior prazer e honra, ouço o Senador Eduardo Suplicy.

            O Sr. Eduardo Suplicy (Bloco/PT - SP) - Tal como V. Exª, também escolhi hoje para fazer uma saudação e para dar uma palavra sobre a importância extraordinária da visita do Papa Francisco ao Brasil. Concordo plenamente com V. Exª. As recomendações do Papa Francisco em torno do diálogo, diálogo, diálogo, são fundamentais, e delas todos nós brasileiros precisamos tirar proveito, inclusive aqui, no Senado Federal, entre a base do Governo e a oposição. Cada um de nós, no Executivo, no Legislativo, precisa dizer ao povo, a todos: “Sigamos o exemplo do Papa Francisco de dialogar com todos, ainda que possamos ter divergências, mas com todo o respeito a cada um”. Meus cumprimentos a V. Exª! Meu pronunciamento, o que vou falar daqui a instantes tem muita afinidade com o que V. Exª está aqui nos transmitindo. Parabéns!

            O SR. RUBEN FIGUEIRÓ (Bloco/PSDB - MS) - Fico muito grato, eminente Senador Eduardo Suplicy. V. Exª, como meu irmão em Cristo, também revela aquele sentimento que me embala neste instante ao me referir à mensagem...

(Interrupção do som.)

            O SR. RUBEN FIGUEIRÓ (Bloco/PSDB - MS) - É um exemplo que, naturalmente, há de ecoar nos corações, sobretudo, dos nossos companheiros integrantes desta Casa, o Senado Federal. Fico muito grato a V. Exª.

            Eu concluo, Sr. Presidente.

            Seria muito importante que essa mensagem do diálogo, do diálogo e do diálogo tivesse eco entre as autoridades e os homens públicos do nosso País. Não é fácil, porque, infelizmente, a egolatria dos mais fortes ou daqueles que, não importa a instância, detêm o poder e se julgam superiores prejudica o diálogo.

            Encerro, Sr. Presidente, com a esperança de que o momento de reflexão e de paz trazido pelo Santo Padre à Nação brasileira permaneça por muito tempo em nossos corações.

            Fico muito grato a V. Exª, Sr. Presidente, pela tolerância do tempo.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 02/08/2013 - Página 49330