O SR. EDUARDO SUPLICY (Bloco/PT - SP. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Prezado Sr. Presidente, Senador Mozarildo Cavancanti. Senador Casildo Maldaner, eu logo encaminharei a V. Exª, como o fiz ao Papa Francisco na semana passada, um exemplar de meu livro Renda de cidadania. A saída é pela porta, assim como a Srª Soraia Jorge, que hoje nos visita e que também o recebeu.

            Gostaria de falar sobre a importância, como o fez o Senador Ruben Figueiró, da visita do Papa Francisco na semana passada. Mas quero também saudar a presença aqui no Senado do Sr. Francisco Nóbrega e da Srª Marina Nóbrega, que são membros do Conselho Municipal da Renda Básica de Cidadania de Santo Antônio do Pinhal - ela é a presidente e ele, secretário desse Conselho.

            Ainda na manhã de hoje, por cerca de uma hora e quinze minutos, tivemos uma audiência muito profícua com a Ministra do Desenvolvimento Social, Tereza Campello, em que o prefeito e o Conselho Municipal puderam relatar todo o esforço que tem sido feito em Santo Antônio do Pinhal para alcançar as metas da busca ativa nos programas de transferência de renda, em especial o programa Bolsa Família. Mas também ali dialogamos sobre a perspectiva de Santo Antônio do Pinhal, conforme lei aprovada por consenso na Câmara Municipal em 2009, se tornar um exemplo pioneiro da Renda Básica de Cidadania, que significaria para todos os sete mil habitantes quase o direito inalienável de participarem todos da riqueza daquela comunidade, não importando origem, raça, sexo, idade, condição civil ou socioeconômica.

            Marina e Francisco ali colocaram a sua convicção de como esta é uma meta alcançável, possível. Querem fazê-lo em cooperação com o Governo Federal e estadual e têm tido todo o apoio do ex-Prefeito, autor da proposição, José Augusto Guarnieri Pereira, bem como do atual Prefeito Clodomiro Júnior. O Conselho Municipal propõe que se inicie passo a passo, começando pelos que nascem a cada ano, podendo se acelerar esta meta a cada momento.

            Eu gostaria de dizer que tudo isso tem muito a ver com o tema de que falarei aqui hoje: os efeitos notáveis da presença, durante seis dias, na semana passada, do Papa Francisco no Brasil, dos seus ensinamentos e de seu exemplo.

            Sua Santidade revolucionou o Brasil. Em sua primeira visita ao nosso País, durante a Jornada Mundial da Juventude, de 2013, ele nos deu um exemplo de simplicidade ao se vestir sem ostentação e carregar a sua própria bagagem. Agiu como qualquer um de nós.

            Francisco cultua a alegria de viver e a proximidade entre as pessoas. Como ele mesmo diz, não gosta de estar só, quer estar com o povo, principalmente com os mais pobres. Mesmo em sua vida no Vaticano, ele é assim, uma pessoa alegre, simples. Abriu mão de viver no apartamento pontifício e foi morar junto com outros religiosos na Casa Santa Marta.

            Durante a Jornada Mundial da Juventude, ele falou a linguagem da juventude, suas palavras foram facilmente entendidas por todos. Elas vinham do mais profundo do seu ser. Seu amor pelas pessoas, principalmente os pobres, velhos e jovens, era comovente.

            Ele condenou a atitude do mundo moderno, que só se interessa por aqueles que podem produzir e afasta os velhos e os jovens. O Papa nos ensinou que os mais velhos trazem a experiência do já vivido e os jovens precisam ter contato com essa experiência para não repetir os erros das gerações passadas. Em outras palavras, o mundo não anda sem os idosos e sem os jovens. Essa foi uma das muitas mensagens deixadas por Francisco.

            Aliás, ele nos disse que precisaria do auxílio psiquiátrico se tivesse de viver sozinho, sem o calor humano.

            Algumas das frases mais marcantes de Sua Santidade durante sua estada no Brasil foram as seguintes: “A Igreja precisa de vocês, jovens, do entusiasmo, da criatividade e da alegria que lhes caracterizam. Ide, sem medo, para servir”. E repetiu: “Ide, sem medo, para servir. Despertai no coração dos vossos irmãos a consciência de que serão chamados para trabalhar para a salvação da humanidade.”

            “O mal é a violência contra o ser humano e, portanto, contra a humanidade.”

            Ah, que bom seria se aquelas pessoas que hoje - alguns jovens, outros já mais amadurecidos - estão utilizando máscaras ou panos para se tornarem anônimos e que, de repente, têm saído às ruas, se colocado em meio às marchas - em que a maior parte das pessoas tem realizado passeatas e manifestações sem violência e pacíficas - e que começaram a realizar vandalismo, começaram a destruir vitrines, sinais nas ruas e sinais de trânsito, incendiaram diversas latas de lixo e coisas pelas ruas e até bancas de jornais de modestos trabalhadores, destruíram patrimônios, que bom seria que essas pessoas pudessem ouvir o apelo do Papa Francisco para que venhamos a ter o diálogo, por maiores que sejam as divergências entre todas as pessoas.

            Aqui prossigo com algumas das principais observações e das homilias e palavras do Papa Francisco:

            “Os jovens vão perceber que quem evangeliza é evangelizado.”

            “Partilhar a experiência da fé, testemunhar a fé, anunciar o Evangelho é um mandato que o Senhor confia a toda a Igreja, também a você. É uma ordem sim; mas não nasce da vontade de domínio ou de poder, nasce da força do amor e da alegria, do fato de que Jesus foi quem veio primeiro para junto de nós e nos deu não somente um pouco de Si, mas Se deu por inteiro, deu a sua vida para nos salvar e mostrar o amor e a misericórdia de Deus.”

            “Para onde Jesus nos manda, não há fronteiras, não há limites: envia-nos para todas as pessoas.”

            “Não tenham medo de ir e levar Cristo para todos os ambientes, até as periferias existenciais, incluindo quem parece mais distante, mais indiferente. O Senhor procura a todos, quer que todos sintam o calor da sua misericórdia e do seu amor.”

            “Jesus não nos deixa sozinhos, nunca lhes deixa sozinhos! Sempre acompanha a todos nós!”

            “Continuem acompanhando os jovens com generosidade e alegria, ajudem-lhes a se comprometerem ativamente na Igreja; que eles nunca se sintam sozinhos!”

(Soa a campainha.)

            O SR. EDUARDO SUPLICY (Bloco/PT - SP) - "Cantai ao Senhor Deus um canto novo"(Salmos, capítulo 95, versículo 1). Qual é este canto novo? Não são palavras, nem uma melodia, mas é o canto da nossa vida, é deixar que a nossa vida se identifique com a vida de Jesus, é ter os seus sentimentos, os seus pensamentos, as suas ações. E a vida de Jesus é uma vida para os demais. É uma vida de serviço.”

            “Quem transmite a alegria da fé recebe alegria.”

            “Quando Deus enviou o profeta Jeremias, lhe deu o poder de "extirpar e destruir, devastar e derrubar, construir e plantar" (Jeremias 1,10). E assim é também para todos que acreditam. Levar o Evangelho é levar a força de Deus, para extirpar e destruir o mal e a violência; para devastar e derrubar as barreiras do egoísmo, da intolerância e do ódio; para construir um mundo novo.”

(Interrupção do som.)

            O SR. EDUARDO SUPLICY (Bloco/PT - SP) - “A força da Igreja não está em si mesma, mas esconde-se nas águas profundas de Deus nas quais é chamada a lançar as redes. A Igreja, assim, não pode afastar-se da simplicidade. Sem a simplicidade da sua atitude, a nossa missão está destinada ao fracasso. Às vezes perdemos aqueles que não nos entendem porque desaprendemos a simplicidade, importando de fora também uma racionalidade alienada da nossa gente.”

            O Papa ainda homenageou o coração acolhedor e solidário dos brasileiros e sua disposição de "colocar mais água no feijão", para receber sempre mais alguém em casa. Chamou a atenção para a necessidade de mais solidariedade para resolver os problemas sociais no Brasil e no mundo. Convocou os jovens e a todos nós para não seguirmos a lógica consumista e a não nos empanturrarmos de coisas que não matam a fome existencial.

            Francisco aponta a importância de levarmos uma vida mais sóbria e atenta às necessidades do próximo. O Papa Francisco também nos alerta para as palavras de São Paulo aos Coríntios: “Todo atleta se priva de tudo. Eles assim procedem para conseguirem uma coroa corruptível. Quanto a nós, buscamos uma coroa incorruptível”. E continua o Papa: “Jesus nos oferece algo muito superior que a Copa do Mundo. Vocês são o Campo da Fé, são os atletas de Cristo. Vocês são os construtores de uma Igreja mais bela e de um mundo melhor”.

            Finalizando, a alegria do Papa Francisco e o seu amor pessoal pelos excluídos conquistaram o coração de todos - crianças, jovens, adultos e idosos - deste nosso Brasil, prenunciando uma nova Igreja, mais aberta ao amor, à solidariedade, à fraternidade; uma Igreja mais humana.

            Recomendo a leitura da íntegra das cartas, discursos e homilias...

(Soa a campainha.)

            O SR. EDUARDO SUPLICY (Bloco/PT - SP) - ... do Papa Francisco que se encontram no site da CNBB.

            E quero aqui, na conclusão, Sr. Presidente, registrar o requerimento que, juntamente com o Senador Pedro Simon e, já, também, os Senadores Ruben Figueiró e o próprio Presidente da Comissão de Relações Exteriores, que aqui, hoje, já subscrevemos, que solicita, nos termos do art. 93, a realização de audiência pública conjunta da Comissão de Direitos Humanos e de Relações Exteriores, a fim de que sejam ouvidos o Cardeal Raymundo Damasceno, Presidente da CNBB; Dom Orani João Tempesta, Arcebispo do Rio de Janeiro; o escritor Frei Betto; Dom Frei Cláudio Hummes, Arcebispo de São Paulo; Dom Odilo Scherer, Arcebispo de São Paulo; e o teólogo e escritor Leonardo Boff, autor de Francisco de Assis, Francisco de Roma, com o objetivo de estas Comissões do Senado serem informadas acerca do legado da visita do Papa Francisco e para o fortalecimento das relações do Estado brasileiro com o Estado do Vaticano.

            Peço que seja transcrito na íntegra.

            E gostaria, Sr. Presidente, de, aqui, registrar a carta que encaminhei...

(Soa a campainha.)

            O SR. EDUARDO SUPLICY (Bloco/PT - SP) - ...ao Ministro José Eduardo Martins Cardozo e ao Secretário de Segurança do Estado do Rio de Janeiro, José Mariano Benincá Beltrame, onde expresso meu testemunho do sério e profícuo trabalho do AfroReggae, organização que tem como um de seus principais Diretores o Sr. José Junior, com o objetivo de promover a inclusão e a justiça social, a cultura afro-brasileira e a educação como ferramentas para a criação de pontes que unam as diferenças e sirvam de alicerces para a sustentabilídade e o exercício da cidadania.

            Pois bem; nesses últimos dias, no Complexo do Alemão, a sede do AfroReggae foi objeto de atentados, e José Júnior e seus membros do AfroReggae estão sendo ameaçados. Ainda anteontem, houve tiros na porta da nova sede, inaugurada na quarta-feira, de maneira que gostaria de pedir ao Ministro José Eduardo Martins Cardozo e ao Secretário Beltrame que deem todo o apoio, inclusive diante da triste notícia de que faleceu Wagner Moraes da Silva, suspeito de atear fogo no imóvel do AfroReggae. Ele faleceu por ter sofrido fortes queimaduras, mas, com isso, até se dificultou a apuração de quais teriam sido aqueles que levaram Wagner Moraes da Silva a praticar incêndio criminoso e ameaçador à entidade AfroReggae.

            Quero aqui expressar, portanto, a minha solidariedade a José Júnior. Certamente, as recomendações do Papa Francisco são no sentido de que se respeite o trabalho do AfroReggae, de José Júnior e de que não se procure utilizar essa violência para expressar eventuais divergências de procedimento e de conduta.

            Muito obrigado, Sr. Presidente, Senador Mozarildo, pela tolerância.

DOCUMENTOS A QUE SE REFERE O SR. SENADOR EDUARDO SUPLICY EM SEU PRONUNCIAMENTO.

(Inseridos nos termos do art. 210, inciso I e §2º, do Regimento Interno.)

Matérias referidas:

- Requerimento nº , de 2010;

- carta encaminhada ao Ministro José Eduardo Martins Cardozo e ao Secretário de Segurança do Estado do Rio de Janeiro, José Mariano Benincá Beltrame.