Discurso durante a 121ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Sugestão de resposta que o PMDB pode adotar em relação às recentes manifestações populares.

Autor
Casildo Maldaner (PMDB - Movimento Democrático Brasileiro/SC)
Nome completo: Casildo João Maldaner
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
ATUAÇÃO PARLAMENTAR, POLITICA PARTIDARIA.:
  • Sugestão de resposta que o PMDB pode adotar em relação às recentes manifestações populares.
Aparteantes
Cristovam Buarque, Eduardo Suplicy.
Publicação
Publicação no DSF de 02/08/2013 - Página 49343
Assunto
Outros > ATUAÇÃO PARLAMENTAR, POLITICA PARTIDARIA.
Indexação
  • APOIO, ORADOR, PARTIDO POLITICO, PARTIDO DO MOVIMENTO DEMOCRATICO BRASILEIRO (PMDB), OBJETIVO, SOLUÇÃO, PROBLEMA, REIVINDICAÇÃO, MANIFESTAÇÃO COLETIVA, OCORRENCIA, BRASIL.

            O SR. CASILDO MALDANER (Bloco/PMDB - SC. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Caro Presidente, Senador Mozarildo Cavalcanti, caros colegas, antes de tudo, quero agradecer ao Senador Eduardo Suplicy. Tive a honra de entrar na fila. S. Exª entregou um livro sobre a renda mínima ao Papa Francisco, e acabo de ter a honra de também receber das mãos de S. Exª um exemplar da mesma obra, que já está na sua 7ª edição. Esse é o Eduardo Suplicy que anda pelo Brasil afora, anda pelo mundo com a sua pregação. É um outro Francisco em prol da renda mínima.

            Sr. Presidente, neste instante, quero fazer uma pequena análise que, de certo modo, vai também na direção daquilo que pregou o Senador Eduardo Suplicy.

            Sr. Presidente, que, neste momento em que o Congresso Nacional retorna às atividades, depois dessa parada de dez ou quinze dias, se faz necessário uma profunda reflexão, uma autocrítica, uma busca pelo caminho a ser trilhado, tendo como norte o crescimento econômico e o desenvolvimento social do País.

            Os protestos ocorridos em todo o Brasil trouxeram uma série de demandas, mas, acima de tudo, impõem uma nova conduta. Expuseram, de forma incontestável, um sentimento de reprovação à atual forma de fazer política. Isso ficou muito claro.

            Ao longo dos anos, ao tempo em que conquistas democráticas se consolidaram - e foram elas que garantiram, entre outras coisas, o inviolável direito de livre manifestação -, o nobre exercício político distanciou-se da realidade das pessoas. Todos clamam por ética, transparência, austeridade e por avanços na prestação dos serviços públicos essenciais. Todos clamam nesse sentido, notadamente saúde e educação de qualidade.

            O Papa Francisco, em sua memorável passagem pelo Brasil, encantou a todos com sua postura de homem simples e sua mensagem direta, que calou fundo na alma do brasileiro, independente de seu credo, vamos ser sinceros. Deixou lições preciosas que não devem ficar restritas ao âmbito religioso, mas encontrar eco e aplicação na vida cotidiana.

           Reunido com cardeais, bispos, sacerdotes e seminaristas, o Papa Francisco fez uma vigorosa exortação. "Não podemos ficar enclaustrados em nossa casa, em nossa paróquia. Não se trata simplesmente de abrir a porta para acolher, mas de sair pela porta fora para procurar e encontrar", conclamou o Santo Padre.

           Como já dissemos, a mensagem não é dirigida somente aos clérigos. Também na política é preciso ir ao encontro das ruas, ouvir as pessoas e construir, juntos, um novo fazer político, um novo jeito de fazer; é preciso restabelecer as bases dessa relação, mas não como algo imposto, de cima para baixo, encastelado dentro dos gabinetes.

           Esta é uma missão que está acima das siglas, passa distante de objetivos eleitoreiros, mas que deve ser encampada, abraçada por todos. Como peemedebista, presidente de honra do meu Partido em Santa Catarina e, sem falsa modéstia, com algumas décadas de militância, sinto-me no direito e, mais que isso, no dever de propor ao PMDB, que sempre esteve à frente das lutas democráticas, a desfraldar essa bandeira, a caminhar pelo Brasil. Não para discursar, para exibir soluções pré-definidas, mas para andar, ouvir, conversar, auscultar os desejos desta Nação tão grande e diversa.

           Eu diria até ao nobre presidente em exercício do meu partido, Senador Valdir Raupp, que há pouco ocupou esta tribuna: essa é a missão do PMDB, e para ela estamos preparados. Vamos rodar o Brasil, Senador Roberto Requião, ouvir a juventude, erigir bases sólidas e dar início a uma nova caminhada.

           Já temos, inclusive, a pessoa talhada para liderar essa cruzada: nosso estimado amigo e companheiro, legendário Senador Pedro Simon, caro Senador Roberto Requião, que preside esta sessão neste momento.

           Não é momento de parar - eu diria ao Pedro, que pensa até em dar uma parada. Eu acho que não é o momento de o Pedro parar, de encostar o seu cajado. Há uma missão a ser cumprida, para a qual sua trajetória de luta o preparou. Assim como o apóstolo que foi pedra, também nosso Pedro deve partir dos seus Pampas gaúchos, começar no Chuí e alcançar o Oiapoque, de Mozarildo Cavalcanti, ouvindo a voz das ruas para edificar um novo tempo na maneira de fazer política em nosso País.

            Eu diria que, com isso, os companheiros concordam. Eu diria que o Renan, que tenta lutar para implantar novas maneiras aqui na Casa, nosso Presidente, concorda com isso. Eu diria que o nosso Líder, Eunício, não tem porque discordar. Eu diria que o Sarney, que está se recuperando, não tem porque não concordar. Por que nós não delegamos ao nosso Pedro passear pelo Brasil com o seu cajado, cruzando as fronteiras, andando por aí como missionário? Assim os próprios jovens viram o Papa Francisco, o nosso Sumo Pontífice. Por que não? E o Pedro tem jeito para isso, tem estrada para isso, para ouvir, para satisfazer a juventude do Brasil, para implantar, para tentar buscar. E não só o nosso Pedro, não só o nosso partido, eu diria, mas os partidos políticos. Acho que é a hora! Há muito por realizar, tantas reformas e mudanças.

            A transformação, no entanto, deve ser mais profunda, sobretudo na maneira de exercer essa nobre missão de ser voz do próximo, ser legítimo representante. Essa refundação se constrói no diálogo aberto com a sociedade. Pedro tem as virtudes, as qualidades desse missionário, que, mais do que pregar, vai ao encontro das pessoas.

            Volto a usar a sábia mensagem do Sumo Pontífice: “a cultura do encontro é a única que pode fazer uma pessoa, uma família, uma sociedade crescer”. O caminho, para ele, resume-se em apenas uma palavra: diálogo, diálogo e diálogo.

            Pedro, toma teu cajado e, com o nosso PMDB, com os nossos companheiros, conduz essa caravana, esse encontro com o Brasil...

(Soa a campainha.)

            O SR. CASILDO MALDANER (Bloco/PMDB - SC) - ... para fundar a política do amanhã em consonância com os mais legítimos anseios dos brasileiros.

            Eu não poderia deixar de trazer, no reinício desta caminhada do segundo semestre do Congresso Nacional, do nosso Senado, para que, depois desses 10 ou 15 dias de meditação, nós, retomando essa caminhada, façamos algumas ponderações nesse sentido.

            O Sr. Eduardo Suplicy (Bloco/PT - SP) - V. Exª me permite, Senador Maldaner?

            O SR. CASILDO MALDANER (Bloco/PMDB - SC) - Se a Mesa me permitir, com muita honra. Agradeço de antemão.

            Com muita honra, Senador Eduardo Suplicy.

            O Sr. Eduardo Suplicy (Bloco/PT - SP) - Quero, aqui...

            O SR. CASILDO MALDANER (Bloco/PMDB - SC) - Antes de tudo, agradeço o livro com que V. Exª me presenteou. Fui um dos condecorados também.

            O Sr. Eduardo Suplicy (Bloco/PT - SP) - Compartilho com V. Exª essa homenagem que faz ao querido Senador Pedro Simon, que, desde que aqui cheguei, em 1991...

(Interrupção do som.)

            O Sr. Eduardo Suplicy (Bloco/PT - SP) - ... aprendi a admirar. Acabou o som. (Fora do microfone.) Agora, sim. Desde 1991, quando aqui cheguei, aprendi a admirá-lo, a tê-lo como conselheiro, uma pessoa que sempre pôde indicar os melhores caminhos. Então, que bom V. Exª estar sugerindo que ele seja uma pessoa que percorra todo o Brasil para falar aos jovens, a exemplo do que fez o Papa Francisco. Certamente, isso tem muito a ver com o querido Senador Pedro Simon. Muitos brasileiros vão aprender com ele.

            O SR. CASILDO MALDANER (Bloco/PMDB - SC) - Muito obrigado. Recolho, com muita alegria, Senador Eduardo Suplicy, as ponderações de V. Exª.

            Acho que é um novo jeito de fazer. E acho que a juventude brasileira tem demonstrado isso pelo Brasil afora, que é uma nova fórmula...

(Soa a campainha.)

            O SR. CASILDO MALDANER (Bloco/PMDB - SC) -..., que é uma nova ética, que é um novo jeito, que é um debate diferente, que é um debate não de “vamos tentar encontrar caminhos para continuarmos no poder” ou de fazer arranjos daqui e de lá. Acho que nós tínhamos de buscar uma nova maneira de fazer. E eu digo que, dentro do nosso partido - acho que vale para todos nós, todos os partidos políticos -, mas acho que o Pedro reúne, com o seu jeito, com a sua maneira, com a sua franqueza, e por isso que digo que ele não pode parar. Acho que ele tinha de sair por aí, liderando, dentro do partido, os nossos companheiros, e assim os demais companheiros, os demais partidos, os colegas. Acho que é a nova fórmula de nós buscarmos até para... Eu não sei o que virá aí daqui a pouco. Com essa reforma política, daqui a pouco, não haverá reeleição, não haverá coligação, e aí temos que buscar um novo jeito, sei lá.

            É com muita honra, Prof.

(Interrupção de som.)

            O SR. CASILDO MALDANER (Bloco/PMDB - SC) - …Cristovam, que, com a bondade do (Fora do microfone.) Presidente em exercício da Mesa, Senador Roberto Requião, ao lado do Mozarildo Cavalcanti, que podemos ouvir o mestre.

            O Sr. Cristovam Buarque (Bloco/PDT - DF) - Senador Maldaner, espero que o seu discurso, como o de outros, como o do próprio Senador Suplicy, sobre a presença do Papa Francisco aqui inspire muitos outros. Eu mesmo quero fazer um, mas estou analisando tudo que ele falou, em entrevistas que deu, em discursos que fez, porque não podemos perder essa oportunidade na história. A sensação que eu tive ao ver a circulação do Papa foi de que estamos vivendo, para a América Latina, aquilo que João Paulo II fez para o Leste Europeu. A diferença é que lá era pela liberdade e aqui temos a democracia. Mas, aqui, Senador Mozarildo, é pela simplicidade, como o senhor disse, é pela ética não só no comportamento, mas também nas prioridades - que nem vemos a falta de ética nas prioridades. A presença do Francisco pode, sim, ter um impacto na América Latina, a partir do Brasil, como teve a visita a João Paulo II à Polônia, depois de ser eleito Papa, e que, graças ao clima que já existia - não foi ele que fez, mas o clima -, deu aquele salto que levou à queda do muro de Berlim e ao fim da União Soviética, à democracia em todos os países. Aqui não seria o caso de democracia, mas, como o senhor disse, de simplicidade, de ética no comportamento, de ética nas prioridades. Lamentavelmente, porém, vejo que não ouviram bem aqui. Quando li a entrevista, Senador Mozarildo, da Presidenta Dilma, no jornal de domingo, à Folha de S.Paulo, a sensação que tive foi de que a ela não viu a passagem do Papa aqui. Uma entrevista de arrogância em que responde às ruas dizendo que não vai mudar nada, que está tudo ótimo. Creio que foi uma pena. A sensação que tive foi de que a Presidenta Dilma não viu a mensagem do Papa e nem ouviu a mensagem dos jovens nas ruas. Ela falou como se estivesse no primeiro dia de seu governo, com prestígio em alta e todo mundo acreditando que ela faria o que se esperava. Espero que ela leia o que o Papa Francisco disse no Brasil e que desperte para o que a juventude está dizendo na rua.

            O SR. CASILDO MALDANER (Bloco/PMDB - SC) - Agradeço imensamente, Senador Cristovam Buarque.

            Eu diria que marcou profundamente mesmo. A cruzada na América Latina, conforme V. Exª cita, foi quem nem a de João Paulo II no Leste Europeu. E para nós, na América do Sul, foi a primeira vez que tivemos um Sumo Pontífice. E ele veio de uma maneira que calou profundamente: a maneira de ele colocar com franqueza, o jeito dele de não tergiversar, de falar sobre nós todos irmos até ele; que nós temos que sair, que não podemos ficar enclausurados, que nós temos que conversar com a sociedade. E não só a minha Igreja, dizia ele, não só a nossa, mas a de todos, a de todas as religiões... Vamos conversar para encontrar os caminhos melhores.

            Então, eu acho que é um alerta - diplomaticamente, ele tem dito isso - para que nós não fiquemos tratando de como é que nós vamos nos manter no poder. Vamos cuidar da saúde no momento. A sociedade quer resolver isso, quer resolver a questão da segurança, quer resolver essas questões profundas, e também a educação. E é por isso...

            (Soa a campainha.)

            O SR. CASILDO MALDANER (Bloco/PMDB - SC) -... que eu acho que nós tínhamos que sair por aí afora, porque, queiramos ou não, em 60 dias - há comissões tratando da reforma política -, não sabemos como é que ficará no ano que vem. Vai haver reeleição? Não sei se vai haver. Vai haver cinco anos de mandato? Tudo pode acontecer até outubro. Vai haver coligações ou não? Quer dizer, eu acho que este é o momento de uma cruzada nacional, não só do nosso partido... E aqui eu reafirmo: eu acho que o Pedro tem jeito para isso, para andar, pela sua história, por ser uma pedra também, uma rocha na qual o nosso partido se tem estribado em muitos e muitos anos. Assim, eu diria a todos os partidos para nós caminharmos pelo Brasil afora buscando ouvir mais de perto a nossa comunidade, a nossa sociedade.

            Agradeço demais, Senador Requião, Senador Mozarildo Cavalcanti, a tolerância de V. Exªs para que eu pudesse expor estes pensamentos no reinício dos trabalhos do Congresso Nacional.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 02/08/2013 - Página 49343