Discurso durante a 121ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Elogios à participação do Papa Francisco na Jornada Mundial da Juventude.

Autor
Ana Rita (PT - Partido dos Trabalhadores/ES)
Nome completo: Ana Rita Esgario
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
IGREJA CATOLICA.:
  • Elogios à participação do Papa Francisco na Jornada Mundial da Juventude.
Publicação
Publicação no DSF de 02/08/2013 - Página 49376
Assunto
Outros > IGREJA CATOLICA.
Indexação
  • ELOGIO, PARTICIPAÇÃO, PAPA, ENCONTRO, JUVENTUDE, IGREJA CATOLICA, LOCAL, CAPITAL DE ESTADO, ESTADO DO RIO DE JANEIRO (RJ).

            A SRª ANA RITA (Bloco/PT - ES. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão da oradora.) - Sr. Presidente, prezados colegas Senadores, colegas Senadoras, ouvintes da rádio Senado, telespectadores da TV Senado, é com esperança renovada que venho a esta Tribuna para fazer o meu discurso de hoje.

            De todas as capacidades do ser humano, saber ouvir talvez seja a maior delas, ainda mais num momento rico como este em que os gritos ecoam por todos os cantos deste País, sinalizando um novo rumo para a humanidade.

            Tão importante quanto dar ouvidos, prestar atenção em tudo o que se vê e ouve, é perceber que algo novo está prestes a acontecer, que o momento é mesmo de transformações.

            E a melhor tradução desta realidade não coube a estudiosos, pesquisadores, intelectuais e analistas. Embora todos nós tenhamos nos debruçado sobre o assunto, um homem, em especial, o Papa Francisco, enxergou e decifrou o que para a grande maioria ainda parecia um enigma, um cenário recortado ou aparente desordem ou qualquer coisa para digerir aos poucos.

            A visita do líder da Igreja Católica ao Brasil ultrapassou todas as expectativas dos brasileiros, e não só de peregrinos, porque lançou uma luz sobre nossas dúvidas, nossos desejos e missões, nos fez compreender melhor e claramente o que é tudo isso que acontece aqui e agora, considerando as distâncias impostas entre autoridades - Igreja e Estado - e a Nação, ao longo de anos.

            A convite da Presidenta Dilma Rousseff, estive na solenidade de recepção ao pontífice, no Palácio Guanabara, no Rio de Janeiro. Em sua primeira viagem internacional, o Papa Francisco causou impacto pela simplicidade, pelo carisma, pela generosidade, pelas palavras. Na ocasião, ele disse para que veio (abro aspas): "Aprendi que para ter acesso ao povo brasileiro é preciso ingressar pelo portal do seu imenso coração; por isso, permitam-me que nesta hora eu possa bater delicadamente a esta porta. Peço licença para entrar e transcorrer esta semana com vocês. Não tenho ouro nem prata, mas trago o que de mais precioso me foi dado: Jesus Cristo!" (fecho aspas).

            Pois bem, Srªs Senadoras e Srs. Senadores. O Papa não é Francisco por acaso. E ali, no Palácio Guanabara, muito emocionada, senti vontade de ter outra chance para acompanhar os seus ensinamentos, saber o que aquele homem tinha a contar. Por isso, retornei, quatro dias depois, ao Rio de Janeiro e por três dias acompanhei de perto o encontro do Pontífice com aquela multidão, da Jornada Mundial da Juventude: A Via Sacra, a Vigília e a Missa de Despedida, no domingo.

           Não era uma multidão qualquer. Muita gente, como eu, estava ali sedenta de conhecimento e de palavras de esperança. Jovens e pessoas de todas as idades, de vários cantos do mundo, disputaram - no bom sentido - cada centímetro da Praia de Copacabana. A propósito; em cada rua, esquina, avenida, grupos de jovens exibiam as bandeiras de seus países, saudavam Cristo e o Papa, com alegria, dança e orações.

           E o Papa Francisco respondeu à altura cada uma das manifestações de carinho. Optou, inclusive, por um “papamóvel” sem vidros para estar mais perto do povo. Transformou Copacabana na casa de 3,7 milhões de pessoas, que ali comeram e até dormiram durante uma semana, apesar dos dias mais frios, em que a temperatura chegava a 10, 11 graus. Todos se entenderam perfeitamente, apesar de línguas diferentes, na praia, nas ruas, no metrô, no comércio. E se protegeram como família.

           Durante as emocionantes celebrações, muitos oravam de mãos dadas e trocavam abraços, num clima de irmandade e comoção com as palavras do Papa. Num desses momentos, tive o privilégio de ficar mais próxima de diversas nações e fazer novos amigos e amigas, como os jovens vindo do Quênia.

           Proximidade, aliás, foi uma das dez lições de Francisco. As outras, bem enumeradas pela imprensa, são: alegria, esperança, solidariedade, simplicidade, coragem, diálogo, valores, transparência e espiritualidade.

           Ao falar de coragem, por exemplo, ele usou de humor para advertir os fiéis de que "ninguém morre de véspera". E revelou que não tem medo de mudança, de romper estruturas, de dizer o que pensa e de lutar pelo que acredita. Imediatamente, os peregrinos viram ali, naquele homem, alguém que conseguia traduzir o sentimento de tanta gente, em especial dos jovens de todo o mundo, católicos ou não.

           O Papa Francisco foi mais além: admitiu que a Igreja está atrasada, com estruturas caducas, e convocou os jovens a serem revolucionários, a terem coragem de ser felizes. A não se conformarem com injustiças e de agirem como protagonistas da história.

           O Papa Francisco acolheu e foi acolhido. Trocou idéias, compartilhou do mesmo desejo de mudança dos brasileiros e, como ele mesmo disse, "botou fé" na juventude, para transformar, evoluir como nação.

            Destaco, aqui, um capítulo especial de suas mensagens, dedicado às mulheres, em que disse: "Uma Igreja sem as mulheres é como o colégio apostólico sem Maria. O papel da mulher na Igreja não é só a maternidade, a mãe da família. É muito mais forte. A mulher ajuda a Igreja a crescer. E a pensar que Nossa Senhora é mais importante do que os apóstolos!"

            O Papa Francisco observou, ainda, que a Igreja é feminina. E o papel da mulher na Igreja não pode ser limitado, e não se pode entender uma Igreja sem uma mulher ativa.

            Mulheres e homens, autoridades ou não, católicos ou não, jovens ou não, em todas as pessoas ele teve o dom de tocar de alguma forma, alertar, alegrar, encorajar, durante homílias e discursos.

            Muito importante, para nós, para toda aquela multidão que viu o Papa na Praia de Copacabana ou o viu pela TV foi o seu apelo por um mundo mais justo e mais solidário. Partiu de Francisco, sim, a seguinte convocação: todos devem sair de seus guetos e trabalhar por justiça social.

            E sair de guetos implica, no caso da Igreja, ir para as ruas, ao encontro de seus fiéis. E, no caso de outras autoridades não religiosas, deixarem seus escritórios e gabinetes e se juntarem à população, ficando ao lado de quem lhes delegou poderes para representá-la.

            Tudo isso está relacionado com o diálogo ou com a chamada "cultura do encontro", da qual o Pontífice falou, com muita sabedoria. Ele Lembrou que, entre a indiferença egoísta e o protesto violento, há uma opção sempre possível: o diálogo. Para ele, o diálogo entre as gerações, o diálogo com o povo, a capacidade de dar e receber devem permanecer abertos à verdade.

            Sabiamente, o Papa Francisco fala de várias reformas, num momento mais do que propício a isso, porque há uma exigência de toda a sociedade. A começar com a da Igreja, pelos motivos já expostos anteriormente. Mas também há necessidade de uma reforma política, porque precisamos refazer, reconstruir, continuar avançando nas políticas que deram certo, retomando o diálogo com jovens, idosos, negros, pobres, movimentos sociais, todos que de alguma forma sofram por discriminação, violência, exclusão.

            Senadoras e Senadores, Sr. Presidente, ao final da Jornada, uma frase do Pontífice será lembrada por todos os que acompanharam a sua breve visita ao nosso País: "Sejam revolucionários". Ao dizer que um jovem que não protesta não o agrada, ele condenou o conformismo. Porque os conformistas não mudam nada, sofrem sozinhos. E a todos nós, jovens ou não, católicos ou não, pediu simplesmente que não nos fechemos ao mundo.

            O Papa Francisco pediu coragem a todos para lutar contra as desigualdades, em especial para acabar com a fome, contra o racismo, a intolerância religiosa, as drogas, a corrupção e o individualismo. E, neste contexto, todos os poderes - econômico e político - têm uma imensa responsabilidade.

            Como católica, acredito na renovação da Igreja, principalmente sob a liderança de um homem que tem essa visão de mundo, coragem para mudar, simplicidade, honestidade e carisma para atrair multidões. Fé e atitude, afinal, fazem muita diferença quando sonhamos e lutamos por um mundo melhor. Eu boto fé.

            Obrigada, Sr. Presidente.

            Obrigada a todas e a todos.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 02/08/2013 - Página 49376