Discurso durante a 116ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Reflexões sobre a suspeita de os Estados Unidos da América terem espionado o Brasil.

Autor
Sergio Souza (PMDB - Movimento Democrático Brasileiro/PR)
Nome completo: Sergio de Souza
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
SEGURANÇA NACIONAL.:
  • Reflexões sobre a suspeita de os Estados Unidos da América terem espionado o Brasil.
Publicação
Publicação no DSF de 12/07/2013 - Página 46402
Assunto
Outros > SEGURANÇA NACIONAL.
Indexação
  • REPUDIO, INFORMAÇÃO, DENUNCIA, ESPIONAGEM, AUTORIA, PAIS ESTRANGEIRO, ESTADOS UNIDOS DA AMERICA (EUA), RELAÇÃO, BRASIL, REGISTRO, REALIZAÇÃO, REUNIÃO, LOCAL, COMISSÃO DE RELAÇÕES EXTERIORES (CRE), SENADO, PARTICIPAÇÃO, MINISTRO DE ESTADO, OBJETIVO, DISCUSSÃO, ASSUNTO, VIOLAÇÃO, SEGURANÇA NACIONAL, DEFESA, NECESSIDADE, INVESTIMENTO, TECNOLOGIA, SISTEMA BRASILEIRO DE INTELIGENCIA, FORÇAS ARMADAS, REIVINDICAÇÃO, PROVIDENCIA, GOVERNO FEDERAL.

            O SR. SÉRGIO SOUZA (Bloco/PMDB - PR. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Srª Presidente, Srªs e Srs. Senadores, todos aqueles que nos visitam na tarde de hoje, caros telespectadores da TV Senado ouvintes da Rádio Senado, senhoras e senhores, no último fim de semana, a população brasileira foi surpreendida com a denúncia de que agências de inteligência ligadas ao governo dos Estados Unidos da América praticaram espionagem no Território nacional.

            Trata-se de informação de extrema gravidade, que traz perplexidade, de um lado, e grande reflexão, de outro.

            É inaceitável que tenhamos sofrido qualquer agressão à nossa soberania ou, ainda, que tenhamos sido vítimas de crimes contra a legislação interna, especialmente se esses foram praticados por uma nação amiga, com a qual nos relacionamos de forma pacífica e solidária há tantas décadas.

            Exatamente por isso, Srª Presidente, é absolutamente fundamental que todo esse episódio seja esclarecido pelas autoridades norte-americanas o quanto antes.

            Ontem e hoje, a Comissão de Relações Exteriores do Senado Federal juntamente com a Comissão de Ciência, Tecnologia, Inovação, Comunicação e Informática ouviram quatro Ministros de Estado sobre esse assunto. Estiveram na Casa o Ministro das Relações Exteriores, Embaixador Antonio Patriota; o Ministro da Defesa, Embaixador Celso Amorim; o Ministro-Chefe do Gabinete de Segurança Institucional, o General José Elito; e o Ministro das Comunicações, Paulo Bernardo.

            Todos vieram e procuraram explicar os fatos e apresentar as providências que o governo brasileiro tomou e ainda tomará em relação a esse fato.

            As implicações de uma eventual prática de espionagem vão além do acesso a informações estratégicas do Estado brasileiro, sejam da área de defesa ou da ciência e tecnologia, ou de questões comerciais, implicam, sobretudo, Srª Presidente, Sras e Srs. Senadores, a privacidade de cada cidadão brasileiro.

            Espero que o governo brasileiro não meça esforços para demonstrar sua indignação e requeira todos os esclarecimentos sobre esse fato.

            Além disso, Srª Presidente, entendo ser absolutamente salutar a disposição da nossa diplomacia de levar esta discussão acerca da governança da Internet, bem como do respeito internacional aos direitos humanos, considerando-se o direito à privacidade, a todos os fóruns multilaterais em debate.

            É absolutamente essencial que o mundo discuta, assim como faz em vários outros setores, alguma regulamentação em relação à Internet, ao uso desse mecanismo que todos, ou quase todos, os cidadãos ao redor do Planeta utilizam diariamente.

            Reconheço que foram os norte-americanos que criaram e difundiram a Internet no Planeta; porém, mesmo diante do sucesso que tiveram na sua propagação mundial e no seu uso, não me parece razoável, que seja restrita a eles a sua regulação.

            Há outros exemplos, Srª Presidente, de temas que se mostraram demasiadamente delicados para a humanidade ou que tiveram seu uso difundido em todo o globo e passaram a ser controlados pelo conjunto das nações. Poderia citar, como ilustração, a energia nuclear, ou mesmo as telecomunicações, que possuem agências internacionais de controle. Razão pela qual entendo que é meritória e justa a pretensão brasileira de procurar ampliar este debate nos fóruns adequados.

            Concordo também com a ideia de iniciar as discussões e, se possível, já buscar um posicionamento único sobre o tema nesta cúpula do Mercosul, que se inicia agora. É esperada a presença de outras nações que compõem a Unasul; e, daí, poderíamos encontrar uma posição oficial do bloco sobre a postura a ser adotada perante as demais nações do Planeta.

            Srªs e Srs. Senadores, é importante ressaltar que o Brasil foi apenas mais uma vítima de tais práticas de espionagem denunciadas pelo norte-americano Edward Snowden. Muitos países da Europa, como França, Alemanha, Reino Unido, entre outras de nações, como Rússia, China, Índia, Paquistão, também foram, supostamente, objeto de escutas e monitoramento e suas comunicações.

            Todavia, o episódio em questão não merece atenção apenas pela ação dos norte-americanos, mas, sobretudo, pela triste demonstração de fragilidade dos nossos sistemas de prevenção e defesa das nossas telecomunicações.

            De todos os Ministros que ouvimos, foi evidente o reconhecimento de que somos vulneráveis e temos muito a melhorar.

            Não se trata aqui de desconhecimento das ameaças, o que seguramente seria ainda pior, mas de saber que estamos desprotegidos, o que é igualmente muito grave.

            Temos a obrigação, Srª Presidente, Srªs e Srs. Senadores, como sexta ou sétima economia do mundo, como um país que almeja ser membro permanente do Conselho de Segurança da ONU, de elevarmos em muito nossos investimentos em inteligência e defesa.

            Chamo a atenção para a área de inteligência, pois, talvez por preconceito, desde o fim da ditadura militar, quando nossa inteligência era usada de forma inadequada para investigar supostos subversivos, esse setor tem sido negligenciado, Srª Presidente, pelos governos que se sucederam após o Estado de exceção.

            Faço um alerta para esse episódio que ilustra esse fato, para vermos o quanto é importante, Srª Presidente, investir em inteligência em defesa da nossa democracia; inteligência não mais a serviço da ditadura, como foi no passado, mas em defesa da democracia brasileira. Seguramente, se tivéssemos melhores aparelhos, estaríamos menos vulneráveis a essas situações.

            Por fim, Srª Presidente, não poderia deixar de reivindicar também maior atenção a nossa estratégia de defesa e, por conseguinte, o reaparelhamento das nossas Forças Armadas. Estamos a um ano de realizar a Copa do Mundo e, em seguida, as Olimpíadas; não podemos, em hipótese alguma, negligenciar a segurança desses dois eventos, que, espero eu, trarão inúmeros estrangeiros ao nosso País.

(Soa a campainha.)

            O SR. SÉRGIO SOUZA (Bloco/PMDB - PR) - Encerro, torcendo para que esse levantamento seja feito e esse lamentável episódio sirva para que venhamos a buscar novos rumos, tanto no plano internacional, procurando discutir de forma mais adequada a governança da Internet com todas as nações do Planeta, quanto no plano doméstico, Srª Presidente, promovendo os avanços e os investimentos necessários para dotar nosso País de melhores condições de se defender.

            Muito obrigado, Srª Presidente.

            Uma boa tarde a todos!


Este texto não substitui o publicado no DSF de 12/07/2013 - Página 46402