Discurso durante a Sessão Solene, no Congresso Nacional

Homenagem ao transcurso de mais de quarenta anos de dedicação à vida pública do ex-Ministro da Justiça, ex-Deputado, Sr. Fernando Lyra.

Autor
Vanessa Grazziotin (PCdoB - Partido Comunista do Brasil/AM)
Nome completo: Vanessa Grazziotin
Casa
Congresso Nacional
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
HOMENAGEM.:
  • Homenagem ao transcurso de mais de quarenta anos de dedicação à vida pública do ex-Ministro da Justiça, ex-Deputado, Sr. Fernando Lyra.
Publicação
Publicação no DCN de 07/05/2013 - Página 1156
Assunto
Outros > HOMENAGEM.
Indexação
  • HOMENAGEM POSTUMA, EX MINISTRO DE ESTADO, ESTADO DE PERNAMBUCO (PE), COMENTARIO, ATUAÇÃO, POLITICA, ELOGIO, VIDA PUBLICA.

            A SRª VANESSA GRAZZIOTIN (Bloco/PCdoB - AM. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão da oradora.) - Muito obrigada, Deputado Roberto Freire, que preside esta sessão, da qual participo com muito orgulho e prazer.

            Cumprimento a Deputada Moema São Thiago, que está também entre nós, quero cumprimentar o Deputado Sérgio Guerra, que foi muito sintético na sua explanação, entretanto muito profundo naquilo que falou e, tenho certeza, nos sentimentos para com um conterrâneo seu que é homenageado no dia de hoje, quero cumprimentar o Vice-Governador do Estado de Pernambuco, João Lyra Neto, irmão de Fernando Lyra, quero cumprimentar o Deputado Wolney, com quem tive a oportunidade de trabalhar na Câmara dos Deputados, quero cumprimentar a Srª Márcia Lyra e, na pessoa dela, todos os familiares, filhos, genros, cunhados, todos os familiares, netos, netas e amigos que aqui estão para esta homenagem mais do que merecida.

            Sr. Vice-Governador, ouvindo atentamente os discursos, eu vi aqui alguns Parlamentares filiados ao PSB, outros tantos vindos lá do querido Estado amigo de Pernambuco, outros... E nós ouviremos, daqui a pouco, as palavras do Presidente em exercício do PMDB, Partido em que militou, durante muito tempo, Fernando Lyra.

            Digo que não venho de Pernambuco, nunca fui filiada ao PSB e tampouco ao PMDB, mas sou de um Partido, que é o Partido Comunista do Brasil, que deve muito à luta de muitos brasileiros, não só dos militantes do nosso Partido, mas de muitos brasileiros, como Fernando Lyra, que resistiram bravamente, duramente, a um período dos mais difíceis por que o nosso País já passou, um período de exceção, um período em que não havia democracia.

            Eu sou Senadora pelo Estado do Amazonas. Fui Deputada, cheguei à Câmara exatamente quando saía Fernando Lyra, mas tive a felicidade, a alegria de conhecê-lo.

            Considero esta homenagem, repito, extremamente justa. Um homem que faleceu jovem ainda, não só jovem na idade - tenho certeza de que suas filhas e sua esposa poderão falar até melhor do que eu -, mas no pensamento, porque não é jovem aquele que tem pouca idade, mas é jovem aquele que tem ideias inovadoras, que tem ideias modernas, que tem ideias revolucionárias e sempre voltadas à melhoria e à boa qualidade de vida da nossa gente querida.

            Faleceu aos 74 anos, no mês de fevereiro, depois de prestar grandes serviços ao País.

            Eu me lembro muito bem da figura marcante de Fernando Lyra, principalmente em duas campanhas importantes: na campanha das Diretas Já e na campanha de Tancredo Neves à Presidência da República.

            Na época, eu era uma militante do movimento estudantil, mas, como uma jovem brasileira, como tantos brasileiros, participei ativamente daquele momento importante da história da reconstrução da democracia em nosso País. De longe, eu prestava muita atenção em Fernando Lyra, que esteve em meu Estado algumas vezes para falar da anistia, para fazer comícios das Diretas Já, e pensava em como era importante para o Brasil ter pessoas como Fernando Lyra.

            Sem dúvida nenhuma, a atuação de pessoas como Fernando Lyra e outros brasileiros e brasileiras me trouxe para o caminho da política, para o caminho da boa política, não da política que é vendida hoje à população, mas da boa política, aquela que faz com que seja possível a construção de um mundo melhor, com que seja possível, de fato, a distribuição de renda para a nossa gente.

            Eu admirava muito não só a capacidade de articulação de Fernando Lyra, mas também a forma entusiástica como ele falava e envolvia a todos que o envolviam.

            Fernando Lyra tem toda uma vida dedicada ao país e ao seu Estado de Pernambuco. Formado em Ciências Jurídicas e Sociais, em Caruaru, Fernando Lyra foi Deputado Estadual pelo MDB. Estou repetindo o que aqui já foi dito, mas faço questão de repetir. Eleito Deputado Federal em 1970, o ex-Ministro da Justiça fazia parte do MDB “autêntico”, que abrigou tantos dos militantes. Roberto Freire sabe, pois era ele do PCB e nós do PCdoB, que todos tínhamos no PMDB, à época MDB, a casa democrática onde todos se abrigavam, e lá estava Fernando Lyra enfrentando a ditadura militar.

            Foi reeleito pelo MDB para dois mandatos, em 1974 e 1978. E, como foi dito também pelo Deputado Patriota, que me antecedeu, com o fim do bipartidarismo, Fernando Lyra ingressou no PMDB em 1980 e foi reeleito Deputado Federal em 1982, retornando à Câmara em 1993, já filiado ao PSB, onde ficou até 1998.

            Sobre sua luta, disse Fernando Lyra à revista Carta Capital:

Quando conquistei meu primeiro mandato, havia uma ditadura no País que tinha a pretensão de parecer uma democracia e criou um partido de oposição. Entrei nele e, apesar de todas as dificuldades, da ameaça que pesava sobre nossas cabeças, da cassação de mandatos, de prisões, torturas e assassinatos de parlamentares, o MDB se transformou em importante espaço de luta democrática. Hoje, com a democracia instalada, os momentos gloriosos tornam-se raros.

            Depois da derrota da campanha das Diretas Já, Fernando Lyra foi um dos primeiros a se aproximarem de Tancredo Neves e acabou sendo um dos seus coordenadores de sua campanha. Mesmo com a posse do ex-Presidente José Sarney - assino embaixo de tudo foi dito pelo Deputado Roberto Freire -, temos um profundo reconhecimento ao ex-Presidente José Sarney, que foi, de fato, quem cumpriu os compromissos de restabelecimento da democracia, de legalização do Partido Comunista do Brasil, assim como do PCB, e que devolveu a possibilidade de sairmos às ruas e dizermos “este é o meu partido, nele estou filiado” sem temer a qualquer policial que pudesse vir nos prender por simples liberdade de expressão.

            Como dito aqui, ele foi candidato a Vice-Presidente nas eleições de 1989.

            Este brevíssimo relato que faço - fiz questão de vir a esta tribuna para falar não só em meu nome, mas em nome de meu Partido, o Partido Comunista do Brasil, pois o nosso Líder, Senador Inácio Arruda, não está aqui, está no seu Estado, o Ceará, mesma região do querido Estado de Pernambuco - eu faço em nome de um Partido a quem os militantes, dirigentes e, principalmente, aqueles que conviveram muito de perto com Fernando Lyra devotam muito carinho. Não só por respeito ao político que foi, mas pelo carinho à pessoa que foi e continuará sendo sempre.

            Aqui, nós estamos vendo, desde o início da sessão, algumas fotos históricas importantes e algumas frases. Numa delas estavam palavras de Fernando Lyra: “os fatos e atos políticos de hoje serão a história de amanhã”. E Fernando Lyra é parte dessa história. Por isto, Fernando Lyra jamais morrerá. A pessoa, o corpo vai, mas as ideias e o legado ficarão, sem dúvida nenhuma.

            Muito obrigada.

            Meus cumprimentos e carinho, principalmente a seus familiares.

            Obrigada. (Palmas.)


Este texto não substitui o publicado no DCN de 07/05/2013 - Página 1156