Discurso durante a 129ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Relato da visita de S. Exª ao Paraguai.

Autor
Blairo Maggi (PR - Partido Liberal/MT)
Nome completo: Blairo Borges Maggi
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
ATUAÇÃO PARLAMENTAR, POLITICA EXTERNA.:
  • Relato da visita de S. Exª ao Paraguai.
Aparteantes
Sergio Souza, Waldemir Moka.
Publicação
Publicação no DSF de 14/08/2013 - Página 53750
Assunto
Outros > ATUAÇÃO PARLAMENTAR, POLITICA EXTERNA.
Indexação
  • REGISTRO, VISITA, PAIS ESTRANGEIRO, PARAGUAI, ENCONTRO, CANDIDATO ELEITO, PRESIDENTE DA REPUBLICA, COMENTARIO, IMPORTANCIA, REINTEGRAÇÃO, PAIS, MERCADO COMUM DO SUL (MERCOSUL).

            O SR. BLAIRO MAGGI (Bloco União e Força. PR - MT. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, ouvintes da Rádio e da TV Senado:

            Poucos dias atrás, tive a grata satisfação de visitar o Paraguai, nosso vizinho, amigo e parceiro em diversas atividades econômicas capitaneadas pela gigante Hidrelétrica de Itaipu, bem como, é sempre importante recordar, como o membro Fundador do Mercosul.

            Particularmente, posso dizer que a minha visão do passado hoje se transformou em uma forte empatia por essa nação amiga, visto que passei toda minha juventude na cidade de São Miguel do Iguaçu, no Paraná, e, na época, costumava visitar o Paraguai, nos idos dos anos 70. Tenho que confessar que aquela visão que eu tinha de fronteira nada tem a ver com a realidade dessa nação hoje.

            Durante dois dias, percorri parte da região oriental, que são 362Km, ao sul da capital, Assunção, onde ficam localizados os planaltos orientais, uma continuação do planalto meridional brasileiro.

            Lá constatei uma grande transformação: a organização planejada da agricultura e pecuária ocorrida na região, aonde, conjuntamente, ao longo de mais de cinco décadas, vem acontecendo um verdadeiro salto em direção a um futuro de prosperidade, com a indubitável participação de nossos orgulhosos compatriotas, os chamados “brasiguaios", que somam, hoje, 8% da população do Paraguai e que, de mãos dadas com os nossos irmãos paraguaios, vêm trabalhando com afinco em prol do progresso dessa nação amiga.

            Ao desembarcar no Aeroporto Silvio Pettirossi, em Assunção, e durante todo o trajeto percorrido pelo país, pude sentir uma profunda espontaneidade no acolhimento dado por aquele povo, humilde, porém austero, cordial, educado e verdadeiros anfitriões.

            Em Assunção, mantive vários contatos com diversas autoridades, grupos de empresários do setor do agronegócio e da construção civil e, sem dúvida, pude constatar o verdadeiro aquecimento da sua economia em tão curto tempo.

            Tive a honra e a grata satisfação de ser recebido, em audiência privada, pelo Sr. Horacio Manuel Cartes Jara, um jovem político, nativo da capital, Assunção, eleito por sufrágio popular em abril do corrente ano, que assume, nesta quinta-feira, a Presidência da República do Paraguai e, por coincidência, também opera na área do agronegócio, além de outras atividades econômicas.

            Dialogamos sobre diversos temas sociopolíticos durante mais de 60 minutos, e, na ocasião, me foram apresentados alguns dados de economistas do governo demonstrando que eles continuam com grande otimismo em relação ao crescimento da nação.

            Realmente, pode-se verificar que o Paraguai, hoje, com uma população de 6,5 milhões de habitantes, dos quais 70% são compreendidos por jovens ou pessoas em plena capacidade laboral, com um índice de alfabetizados de 94%, com o agronegócio, que desempenha o papel motor da economia, chegando a atingir cifras de 75% de suas exportações, com um compêndio de leis que são utilizadas para atrair investidores, a exemplo da Lei de Maquila e da nova lei das PPPs, é hoje o país que mais cresce na América, apesar de suas dificuldades sociais e econômicas.

            De acordo com dados do Banco Central paraguaio, do FMI e da Cepal - Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe, o Paraguai vai liderar o crescimento econômico da região em 2013, com uma estimativa de elevação de 10% do seu PIB.

            Um dos temas da audiência com o Presidente eleito do Paraguai foi o papel do Paraguai no Mercosul, mais em específico a relação futura com o seu irmão Brasil, quando o Presidente daquele país enfatizou o desejo de continuarmos trabalhando de mãos dadas, bem como deixou claro que não serão poupados esforços para que isso venha a acontecer.

            Deixou claro também que o Paraguai é um país soberano, e, como tal, suas atitudes, decisões e anseios do seu povo devem ser respeitados, expressões das quais compartilho em número, gênero e grau.

            Paraguai e Brasil sempre andaram e andarão de mãos juntas, a história nos cobra isso.

            O Brasil deve rever sim seu posicionamento, olhar para essa nação amiga e fazer jus à nossa história, que prospera a nossa relação, afinal de contas a história é o fiel da balança aqui; Paraguai e Brasil juntos já demonstraram ao mundo do que são capazes: Itaipu.

            A maior represa do mundo, na época, foi projetada pelo nosso País e logo construída a duas mãos. Paraguaios e brasileiros ali trabalharam de sol a pique, até que surgiu ali e realizaram um sonho até então inimaginável.

            Não podemos nos esquecer de que, ao mesmo tempo, acontecia um avanço mais silencioso, porém não menos importante, que marcaria para sempre o futuro próspero que hoje se vivencia por todo o território nacional paraguaio, e esse avanço econômico foi o agronegócio.

            Mais uma vez de mãos dadas, brasileiros e paraguaios, criaram uma verdadeira revolução econômica, desta vez no campo através das lavouras, transferindo tecnologia, know-how, experiências culturais, gerando empregos e contribuindo consideravelmente para o aumento do PIB paraguaio.

            Ao longo do nosso encontro, a questão da pobreza em seu território também foi abordada. Sua principal plataforma na corrida presidencial foi "a erradicação da pobreza".

            Concedo um aparte ao Senador Sérgio Souza, do Paraná, que é vizinho e amigo também do Paraguai no Sul do Brasil.

            O Sr. Sérgio Souza (Bloco Maioria/PMDB - PR) - Obrigado, Senador Blairo Maggi. V. Exª que tem também suas origens no oeste do Paraná conhece bem as relações dos brasileiros com o Paraguai. Em dois aspectos devemos fazer uma reflexão sobre as relações do Brasil/Paraguai. A importância para os brasileiros. O Brasil tem na sua base da formação cultural essa miscigenação vinda de imigrantes. O Brasil foi colonizado por europeus, africanos. E a colonização que ocorreu no meio rural foi feita por alemães, italianos, por aqueles vindos do leste europeu, os ucranianos, os poloneses. E vieram, no início, para o sul do País, Santa Catarina, Rio Grande do Sul. E esses têm, na sua base de formação, a migração. Eles migraram, eles são desbravadores. Vieram para o Brasil para desbravar o País. Eles saíram do Rio Grande do Sul, Senador Paim, e de Santa Catarina, desbravaram o sudoeste e o oeste paranaenses e foram ao Mato Grosso do Sul, ao Mato Grosso, a Rondônia. Eles foram ao Brasil todo e também foram ao Paraguai. Hoje, há cerca de 500 mil brasileiros e descendentes de brasileiros residindo no Paraguai. São esses brasileiros que levaram para lá, como levaram para vários Estados brasileiros e estão levando para a região do Matopiba, a região do norte da Bahia, do sul do Tocantins, do sul do Piauí, também pegando uma região de Goiás, novas tecnologias e o poder de cultivar a terra que é próprio daqueles que vieram da Europa, passando pelo Sul do Brasil, e hoje estão lá. Quero parabenizar V. Exª pelo pronunciamento e dizer que o Paraguai é muito importante para o Brasil, para os brasileiros que lá vivem e também para os brasileiros que vivem aqui, que vão ao Paraguai diariamente, aos milhares, para fazer compras. Eu tenho dito que, em curto espaço de tempo - eu acho que em 10, 20, 30 anos -, nós vamos ao Paraguai para fazer turismo e não para fazer compras, porque vamos comprar aqui com o mesmo valor. Parabéns, Senador Blairo, pelo pronunciamento.

            O SR. BLAIRO MAGGI (Bloco União e Força/PR - MT) - Muito obrigado, Senador Sérgio Souza.

            Senador Paim, o que tem de gaúcho no Paraguai também não é brincadeira!

            Eu visitei um cerealista, Carlos Trociuk, que tem um belo porto no Rio Paraná. Ele financia a agricultura, Senador Moka. Aí eu entendi que gaúcho, mesmo pulando a fronteira, não perde o jeito de ser. Lá, há ucranianos, alemães, brasileiros, particularmente os gaúchos, uma série de nacionalidades que fazem agricultura. E ele estava me dizendo, Senador Sérgio Souza, que, na hora de financiar, todos os demais agricultores, menos os brasileiros, os gaúchos, sempre tomam o crédito estritamente necessário para fazer o seu negócio. Ele me disse que os gaúchos, os brasileiros lá não são diferentes dos do Rio Grande do Sul, do Brasil: se oferecerem R$1.000,00 por hectare de custeio, eles pegam; se oferecerem R$2.000,00, eles também pegam. Eles estão sempre querendo fazer um pouco mais. Esse é o espírito do brasileiro que está no Paraguai.

            Concedo um aparte ao Senador Moka, do Estado do Mato Grosso do Sul, também vizinho dos paraguaios.

            O Sr. Waldemir Moka (Bloco Maioria/PMDB - MS) - Senador Blairo, eu tenho uma ligação - eu diria - muito forte, pois sou nascido em Bela Vista, uma cidade que faz...

            O SR. BLAIRO MAGGI (Bloco União e Força/PR - MT) -... fronteira.

            O Sr. Waldemir Moka (Bloco Maioria/PMDB - MS) -... fronteira com outra. Nós as chamamos cidades gêmeas, porque, do outro lado, ao atravessar o nosso Rio Apa, está Bella Vista, no Paraguai. Fui criado nessa região com a qual tenho uma ligação muito forte. Conheço a cultura paraguaia, a sua tradição, a comida. E essa tradição paraguaia é tão forte que eu vou lhe dizer uma coisa: é muito comum, Senador Paim, em função até da ida dos gaúchos, que em toda cidade do Mato Grosso do Sul sempre haja um CTG. Onde existe gaúcho existe um CTG. Em Bela Vista, a minha cidade, a cultura paraguaia é tão forte que curiosamente os gaúchos não conseguiram montar um CTG...

            O SR. BLAIRO MAGGI (Bloco União e Força/PR - MT) - E se estabelecer.

            O Sr. Waldemir Moka (Bloco Maioria/PMDB - MS) -... porque lá ainda se dança a polca paraguaia - engraçado, não é? -, com a música tradicional. Mas, evidentemente, o Senador Blairo Maggi traz aqui uma concepção sobre a posse de um novo Presidente. Eu quero aqui, Senador, me somar ao seu discurso, no sentido de dizer que pelo menos na fronteira não existe rivalidade - pelo menos, eu não conheço - entre o brasileiro e o paraguaio. Isso vale para Porto Murtinho; Isla Margarita; Caracol; San Carlos, do outro lado; Bela Vista; Ponta Porã, Pedro Juan Caballero; Capitán Bado, que faz também limite com Coronel Sapucaia, e assim por diante. Na verdade, há uma ligação muito fraterna. É muito comum ver brasileiros, filhos de paraguaios, e os paraguaios já que têm toda uma ligação com o Brasil. Mas V. Exª está dizendo - e eu tenho isso comigo também - que muitos empresários brasileiros estão indo para o Paraguai em razão da proposta do Presidente que ganhou a eleição de realmente fazer um governo voltado para criar essa infraestrutura e aumentar a produção. E, para isso, está, evidentemente, dando segurança jurídica ao investimento. Eu não tenho dúvida de que o custo da produção no Paraguai é um atrativo para qualquer investimento, porque eles têm energia abundante e barata, em função de Itaipu, e também uma mão de obra mais barata do que a do Brasil. E dessa parceria eu não tenho a menor dúvida. Eu quero encerrar dizendo o seguinte: o Governo brasileiro e nós do Senado... Eu tive oportunidade, na época, de me solidarizar com os Senadores paraguaios naquele episódio do afastamento do Presidente Lugo e na posse do Presidente. E hoje eu quero ser um dos Senadores que vai estimular esse intercâmbio, esse relacionamento. Saúdo V. Exª e digo aos paraguaios irmãos que estão me ouvindo o seguinte ditado usado na fronteira: quando o povo quer, o povo se une. E eu acho que isso está acontecendo. Quer dizer, não há exército que segure; é o povo que quer. Eu acho que, depois de uma eleição democrática, o sentimento do povo paraguaio é exatamente de que possam melhorar as condições de vida do povo trabalhador do querido irmão Paraguai. Obrigado, Senador Blairo Maggi.

            O SR. BLAIRO MAGGI (Bloco União e Força/PR - MT) - Muito obrigado, Senador Moka.

            Eu, Senador Moka, tive oportunidade, na conversa com alguns empresários e também políticos, de constatar que, talvez, o maior exemplo que o Paraguai deu de observância à legislação, ao dizer que é um país que quer seguir o caminho da democracia, foi quando fizeram o impeachment do Presidente Lugo. Não vou entrar no mérito se foi certo ou errado, mas fizeram com base na Constituição paraguaia, colocaram o Vice-Presidente, que está encerrando o mandato, e houve uma eleição livre e democrática com um vencedor.

            Portanto, o Paraguai dá uma demonstração de que segue o caminho da democracia e deve, sim, ser readmitido no nosso bloco do Mercosul para que possamos somar e continuar os trabalhos, a exemplo do Brasil, que está trabalhando incansavelmente em seus programas sociais, como o Bolsa Família, o programa de erradicação da extrema pobreza - o PAC contra a miséria -, e o da geração de empregos, entre outros.

            Concluindo, disse ao Presidente eleito, Cartes, que, a partir daquele momento, ele acabara de ganhar um sincero amigo, em virtude de suas claras colocações a respeito de como pretende governar o país, com as características de seu povo e sua plena soberania inquestionável, marca de qualquer nação democrática.

            Coloquei-me a sua inteira disposição no sentido de prestar qualquer ajuda em nível oficial e particular, como Senador da República Federativa do Brasil, e com possível apoio da minha Bancada no Senado, contribuindo para aquilo que seja útil para o bom desempenho de seu período de governabilidade e para uma contínua e próspera aproximação, cada vez maior, das nossas nações.

            Por derradeiro, quero agradecer às autoridades. Agradeço ao Embaixador Eladio Loizaga, que já foi confirmado como Ministro de Relações Exteriores do Paraguai; ao meu amigo e Senador Luis Alberto Castiglioni, líder da bancada do Partido Colorado no Senado da República do Paraguai...

(Soa a campainha.)

            O SR. BLAIRO MAGGI (Bloco União e Força/PR - MT) - ... e também ao Intendente de Assunção, Sr. Arnaldo, que nos recebeu na Intendência de Assunção.

            Para finalizar, Presidente Paim, quero desejar ao Presidente eleito do Paraguai, Sr. Cartes, que tenha um excelente mandato para que consiga cumprir com toda a agenda proposta para o Paraguai. Senti, no âmbito do empresariado, um ânimo muito grande de que o Paraguai se moverá em direção ao crescimento, ao desenvolvimento, enfim, a tudo aquilo com que nós sonhamos e que queremos para uma nação.

            Por último, agradeço, mais uma vez, ao Senador Luis Alberto Castiglioni, que me recebeu em sua casa. Lá sua esposa foi para a cozinha - coisa rara de se ver aqui no Brasil - e fez um belíssimo jantar para mim e para aqueles que me acompanharam nessa visita ao Paraguai. Portanto, quero aqui deixar o meu sincero agradecimento, o meu reconhecimento e a minha admiração.

            Mais uma vez, quero dizer que o que eu pensava do Paraguai, que o que eu conhecia da Ciudad del Este não tem nada a ver com o Paraguai que conheci no interior e com o povo educado que vi por lá.

            Muito obrigado, Sr. Presidente.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 14/08/2013 - Página 53750