Discurso durante a 131ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Repúdio a atos de violência ocorridos em meio às manifestações populares no Rio de Janeiro; e outros assuntos.

Autor
Aloysio Nunes Ferreira (PSDB - Partido da Social Democracia Brasileira/SP)
Nome completo: Aloysio Nunes Ferreira Filho
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
MANIFESTAÇÃO COLETIVA.:
  • Repúdio a atos de violência ocorridos em meio às manifestações populares no Rio de Janeiro; e outros assuntos.
Aparteantes
Cristovam Buarque.
Publicação
Publicação no DSF de 16/08/2013 - Página 54357
Assunto
Outros > MANIFESTAÇÃO COLETIVA.
Indexação
  • REPUDIO, UTILIZAÇÃO, VIOLENCIA, MANIFESTAÇÃO COLETIVA, REFERENCIA, OCUPAÇÃO, CAMARA MUNICIPAL, RIO DE JANEIRO (RJ), TENTATIVA, INVASÃO, PALACIO, GOVERNO ESTADUAL, ESTADO DO RIO DE JANEIRO (RJ).

            O SR. ALOYSIO NUNES FERREIRA (Bloco Minoria/PSDB - SP. Pronuncia o seguinte discurso. Com revisão do orador.) - Sr. Presidente, Srs. Senadores, creio que não faltam motivos para a expressão do protesto, da indignação, até mesmo da cólera dos brasileiros em relação ao panorama da sociedade brasileira hoje, especialmente àquilo que se passa na esfera pública, na esfera governamental, na esfera política. É visível a deterioração da qualidade da atividade política, aqui mesmo, no Congresso Nacional.

            Atualizei, agora há pouco, a relação de medidas provisórias enviadas pela Presidente Dilma ao Congresso: cem medidas provisórias - 101, para ser mais exato -, das quais 20% ou caducaram por decurso de prazo, ou são consideradas prejudicadas, porque são absorvidas por outras. A própria atividade legislativa se degrada: no Congresso e a na Presidência da República, quando exerce suas prerrogativas de editar medidas provisórias para disciplinar questões pretensamente urgentes e relevantes e que, depois, são esquecidas.

            A qualidade dos serviços públicos, evidentemente, é lastimável. Por mais que o nosso querido Senador Valdir Raupp, comparando o Brasil com outros países, possa apontar progressos que, efetivamente, ocorreram no nosso País em termos de universalização do acesso ao ensino fundamental, nós não podemos deixar de lamentar a baixíssima qualidade do ensino oferecido às nossas crianças e aos nossos jovens.

            O SUS foi uma conquista importante dos movimentos que lutavam pela reforma sanitária no Brasil nos anos 80. Agora, como não deplorar a ausência de médicos, a ausência de equipamentos onde há médicos, a insuficiência do financiamento onde há médicos e equipamentos?

            Agora há pouco, medida paliativa, como essa tomada pela Presidente Dilma, com o Programa Mais Médicos, revela, pelo seu resultado pífio, qual era a verdadeira intenção da Presidente: importar médicos cubanos ou médicos de baixa qualificação profissional para vir trabalhar no nosso País. E nem isso alcançou resultado, pois, como bem lembrou, agora há pouco, o Senador Cristovam Buarque, dos 15 mil médicos que se pretendia recrutar, cerca de 10%, apenas, se apresentaram. E, nos Municípios mais carentes, em que a falta de assistência médica é mais dramática, o interesse deles em receber os tais médicos ficou muito baixo dos demais, uma vez que ter médicos trabalhando pressupõe equipamentos, pressupõe toda uma estruturação da Administração Pública nas Unidades Básicas de Saúde e exige recursos que hoje faltam a esses Municípios pequenos.

            Os transportes coletivos, a qualidade das estradas, tudo isso é objeto de uma indignação crescente do nosso povo, um povo cada vez mais informado - informado por meios não convencionais, por redes sociais -, cada vez mais exigente por qualidade que aumenta na medida em que o nível de renda, também aumenta. Cada vez se quer mais, mais e melhor; e se recebe de volta menos, menos e pior.

            Agora, nada justifica, Sr. Presidente, a violência como forma de manifestação. Nada! Eu, como muitos dos meus colegas, fiz da conquista da democracia o objetivo fundamental da minha mocidade e, também, da minha maturidade, já como deputado estadual, depois como político pelo PMDB e pelo PSDB - a conquista e a consolidação da democracia no nosso País.

            O Brasil, hoje, é uma democracia que promove regularmente eleições livres, às quais comparecem cerca de 140 milhões de eleitores, cujos resultados, regularmente, não são contestados pela competência da nossa Justiça Eleitoral, que acabou por organizar o sistema de voto eletrônico, que é exemplo para o mundo; somos um país em que há plena liberdade sindical, plena liberdade de imprensa, em que nenhuma corrente política é impedida de disputar o poder ou de exercer a sua influência, a sua pregação em razão discriminações ideológicas. O Brasil, pois, sob esse ponto de vista, é realmente uma democracia madura.

            Por isso, e especialmente por isso, é que manifestações como essas que temos verificado nos últimos dias, em que a violência emerge como forma de luta e, às vezes, como objetivo da mobilização - mobilização de grupos pseudorrevolucionários, como o PSTU, de organizações que apregoam legitimidade para representar movimentos populares, mas que nada mais são que a extensão da ação de partidos políticos sobre organizações da sociedade -, enfim, essas manifestações, de teor como essas a que se referiu o Senador Cristovam Buarque, como a tentativa de invasão e depredação do Hospital Sírio-Libanês, são absolutamente intoleráveis.

            O SR. PRESIDENTE (Mozarildo Cavalcanti. Bloco União e Força/PTB-RR) - Senador Aloysio, permita-me fazer um registro.

            Encontram-se aqui presentes, nas nossas galerias, os alunos do 4º ano da Escola Classe 305 Sul.

            Sejam bem-vindos à nossa sessão!

            (Palmas.)

            O SR. ALOYSIO NUNES FERREIRA (Bloco Minoria/PSDB-SP) - Bem-vindos entre nós!

            Um grupo de manifestantes a pretexto de protestar contra a baixa qualidade da saúde pública, o descaso do atendimento pelo SUS a contingentes enormes da população brasileira, resolve invadir o setor de emergência de um hospital, para agravar, com isso, o sofrimento das pessoas que estão lá em busca de tratamento médico. É um ato desumano e covarde!

            Nenhuma causa, por mais nobre que seja, justifica o emprego da violência contra pessoas como forma de argumento ou como forma de ganhar visibilidade pública nos meios de comunicação.

            Sou um crítico do Governador Sérgio Cabral, em aspectos importantes da sua gestão, e mesmo do seu comportamento, aspectos sobre os quais ele próprio fez uma autocrítica, como a movimentação de helicóptero para cá e para lá enquanto o povo do seu Estado, da sua cidade, da capital do seu Estado enfrenta trânsito congestionado e transportes públicos precaríssimos. Contudo, nada justifica ação dirigida contra a pessoa do Governador Sérgio Cabral: cercarem a sua residência, causarem vexame à sua família, injuriarem-no fisicamente. Isso é absolutamente inadmissível! Isso lembra o procedimento dos fascistas de Mussolini.

            Da mesma forma, não consigo aceitar, Sr. Presidente, que um órgão do Poder Judiciário legitime a ocupação do plenário de uma Casa de representantes do povo, como é a situação atual da Câmara Municipal do Rio de Janeiro, onde de dez a quinze pessoas resolveram acampar - ali, no plenário da Câmara Municipal.

            O Presidente da Câmara, que não sei quem é, não sei a que partido pertence, não tenho a menor ideia de qual é o seu perfil político - mas é o Presidente de uma Câmara de representantes eleitos pelo povo carioca -, vai à Justiça para pedir a desocupação do plenário, e a juíza que recebe o pedido do Presidente da Câmara indefere a sua solicitação sob pretexto de que a Câmara deve estar aberta para todos os cidadãos.

            Só que aqueles manifestantes estão lá para impedir o acesso dos Vereadores ao plenário, daqueles que foram eleitos para ocupar o plenário e, ali, exercer as suas atividades em nome do povo, e que foram eleitos em pleitos legítimos, limpos, democráticos. E, ainda ontem, uma Vereadora pelo Rio de Janeiro, a Vereadora Laura Carneiro, do PTB, que foi congressista, minha colega na Câmara dos Deputados, foi agredida e apedrejada por esses manifestantes que cercavam a Câmara Municipal.

            Igualmente, a tentativa de invasão no Palácio do Governo do Rio de Janeiro. Como tolerar isso? Ali está alguém que não é uma pessoa física; ali está alguém que exerce uma magistratura popular, um eleito do povo. Podemos criticá-lo, fazer manifestações de rua, desde que pacificamente, trabalhar politicamente para que a sua corrente política não se perpetue no poder, mas, agora, tentar invadir o Palácio do Governo?!

            Imagine, Sr. Presidente, se tentassem invadir a Casa Branca, nos Estados Unidos ou o Palácio do Eliseu, na França! O que aconteceria se tentassem invadir a Assembleia Nacional na França? Já houve uma tentativa, em 1936, por um movimento fascista. O resultado não foi bom para eles, porque as forças da ordem agiram na defesa da soberania popular representada e abrigada naquela Casa.

            Ainda ontem, manifestantes protestavam contra supostas irregularidades ocorridas no metrô de São Paulo. Digo supostas porque é preciso que se prove ainda, o que está longe de acontecer, isto é, que houve participação, concordância, ou suporte por parte de servidores do metrô e agentes públicos ao cartel da Siemens; mas, enfim, é algo que está sendo investigado.

            Esse episódio, como disse, suscitou uma manifestação. Até aí é absolutamente legítimo. Nenhum problema! Agora, os manifestantes se dirigem à Câmara Municipal, cercam o seu prédio, a Polícia Militar erige uma barreira com grades para impedir que, à semelhança do que ocorreu no Rio, viesse a ocorrer também uma ocupação da Câmara Municipal por manifestantes - e era esse o objetivo daquela marcha -, e esses manifestantes passam a apedrejar os policiais e a bombardear as vidraças da Câmara Municipal até o momento em que uma dessas vidraças se estilhaçou.

            Aí, um grupo deles é convidado para conversar com o Presidente da Câmara. Sabe V. Exª como é que eles se apresentam para conversar com o Presidente da Câmara? Encapuzados, como se fossem bandidos. Que tipo de civilidade política pode nascer de um comportamento, de uma cultura como essa? Esse tipo de cultura se diz anarquista, mas, seguramente, nunca leu um livro de Bakunin. Nunca leu.

            São grupelhos de toda ordem, alguns com inspiração política, como esse PSTU, cujo presidente nacional - que já foi candidato a Presidente da República certa vez - estava lá, à frente dos manifestantes, tentando invadir a Câmara Municipal. Eles foram repelidos depois de a polícia, pacientemente, durante mais de uma hora, ter suportado os xingamentos, as pedradas e as bombas desse grupo de baderneiros, porque é disso que se trata. Há diferença entre a manifestação popular, legítima, democrática, qualquer que seja a sua motivação, e a baderna e a violência.

            Em São Paulo, depois, na Assembleia Legislativa acontece a mesma coisa. Cercam a Assembleia, tentam entrar para ocupar o plenário e a galeria, o Presidente da Assembleia permite a entrada de um número de pessoas compatível com a capacidade da galeria, e a partir daí abre-se uma brecha no dispositivo das forças de ordem, a tentativa de invasão, que é repelida, evidentemente, pela Polícia Militar no cumprimento de se dever. E agora a bancada do PT na Assembleia - pasmem V. Exªs! - quer abrir uma sindicância contra excessos cometidos pela Polícia Militar, que nada mais fez senão repelir a tentativa de invasão de um prédio público, não um prédio público qualquer.

            E veja V. Exª que um dos dirigentes dessa manifestação, que é, também, ao mesmo tempo, alto na hierarquia de um tal movimento de congregação ou de coordenação de lutas populares, é funcionário da bancada do PT e recebe R$11 mil por mês da Assembleia Legislativa de São Paulo. Quer dizer, movimento popular estatal, movimento popular conduzido por pessoas que são pagas pelos cofres públicos para isso. E muito bem pagas!

            Faço esta manifestação, Sr. Presidente, para dizer que é preciso que todos aqueles que prezam a ordem, a ordem democrática, que não é uma ordem qualquer, a ordem baseada na lei, a ordem baseada no respeito aos direitos dos cidadãos, a ordem baseada no direito de ir e vir, a ordem baseada na observância das regras do jogo da vida democrática, aqueles que defendem a ordem democrática a tanto custo e com tanto sacrifício conquistada, quaisquer que sejam as nossas divergências políticas, quaisquer que sejam as soluções que nós preconizemos para os males de que o nosso Brasil padece, temos que nos unir para repelir, de uma maneira absolutamente irretorquível e enérgica, esse tipo de procedimento, que, infelizmente, pouco a pouco, vem ganhando uma legitimidade esquisita.

            Ouço o aparte, que me honra, do nosso Senador Cristovam Buarque.

            O Sr. Cristovam Buarque (Bloco Apoio Governo/PDT - DF) - Senador Aloysio, talvez um dos mais antigos amigos que eu tenho aqui, o senhor estava falando e eu estava me lembrando de que, quando fiz meu serviço militar, Senador Mozarildo, havia um capitão que, quando a gente chegava atrasado e explicava que tinha sido por causa disso, daquilo ou daquilo outro, dizia: “explica, mas não justifica.”

            O SR. ALOYSIO NUNES FERREIRA (Bloco Minoria/PSDB - SP) - É verdade.

            O Sr. Cristovam Buarque (Bloco Apoio Governo/PDT - DF) - Enquanto o senhor falava dessas invasões que não se justificam, eu fiquei pensando: mas o que explica? Nada justifica invadir...

(Soa a campainha.)

            O Sr. Cristovam Buarque (Bloco Apoio Governo/PDT - DF) -... um hospital da qualidade do Sírio, mas algo explica. Se não explicasse, eles não iam sair do que estão fazendo para fazer aquilo. Poderiam dizer “explica o concorrente que quer acabar com esse hospital para ganhar os clientes”. Não é isso. Algo explica.

            O SR. ALOYSIO NUNES FERREIRA (Bloco Minoria/PSDB - SP) - O que explica, se me permite, Senador, entre outras coisas, é uma ideologia antidemocrática.

            O Sr. Cristovam Buarque (Bloco Apoio Governo/PDT - DF) - Não! Não! Não! Senador...

            O SR. ALOYSIO NUNES FERREIRA (Bloco Minoria/PSDB - SP) - É o culto à violência como forma de luta.

            O Sr. Cristovam Buarque (Bloco Apoio Governo/PDT - DF) - Não, não estou falando da violência, a violência não justifica. Mas o que é que explica?

            O SR. ALOYSIO NUNES FERREIRA (Bloco Minoria/PSDB - SP) - Ah, da manifestação.

            O Sr. Cristovam Buarque (Bloco Apoio Governo/PDT - DF) - O que é que explica por que esse pessoal faz isso? Vamos falar com franqueza. Explica que, em fevereiro, eu fiz ali um check-up pago pelo Senado, e os filhos ou pais ou irmãos daqueles não têm médico. Se não são daqueles, há milhões de outros brasileiros. É isso que está explicando essas movimentações. Caiu a ficha. E se a gente não procurar entender...

(Interrupção de som.)

            O Sr. Cristovam Buarque (Bloco Apoio Governo/PDT - DF) - ... e ficar apenas na sua posição, correta, de dizer que não é justificável, vai continuar acontecendo, mesmo não sendo justificável, porque é explicável. Caiu a ficha do povo, porque, depois de tantos anos não só do PT, mas do PSDB também... Quando o PT assumiu, não havia médicos nesses lugares. Já não havia antes. E governos que reputo terem sido bons para o Brasil, como o do Fernando Henrique e como o do Lula, não fizeram o que era preciso fazer não para se ter um Sírio Libanês à disposição de todos, mas para ter remédio! Talvez nem para se ter remédio, mas para se ter um médico. Caiu a ficha do povo porque não dá para continuar com uma desigualdade no atendimento dos serviços públicos. Caiu a ficha daquela empregada doméstica que arruma a criança de manhã, na casa em que trabalha, para ir a uma escola da melhor qualidade sabendo que o seu filho, no máximo, está indo a uma escola pública de péssima qualidade. Caiu a ficha do trabalhador que sabe que seu filho está doente em casa e que o filho doente de quem tem dinheiro está no médico. Aí, tem que se entender a raiva que está tomando conta hoje e que leva a uma violência injustificável, mas explicável. O que me atordoa é que nós, aqui, neste Senado, que deveríamos estar parados, tentando explicar, enquanto fazemos discursos dizendo que é injustificável - no que estou de acordo, pois não podemos também começar a justificar -, não debatemos, não encontramos um espaço na nossa agenda. Era hora de parar todos os nossos trabalhos de Comissão e sentarmos para tentar explicar a guerrilha...

(Soa a campainha.)

            O Sr. Cristovam Buarque (Bloco Apoio Governo/PDT - DF) - ... cibernética que tomou conta do Brasil e que não vai parar, Senador. Esta semana foi no Sírio Libanês, porque foi dirigido, sobretudo, a nós, políticos, que vamos para lá, mas vai ser nos outros hospitais de ricos. Graças a essa arma poderosíssima que é o computador com Internet, graças a essa possibilidade de uma guerrilha cibernética que isso abriu, será difícil imaginar que uma mãe jovem com uma criança doente, que não está sendo atendida num hospital público, que não tem médico, que não tem remédio, vai para casa e, no computador, vai convocar todos os seus parentes e amigos para invadir um hospital privado?

            O SR. ALOYSIO NUNES FERREIRA (Bloco Minoria/PSDB - SP) - Não foi uma dona de casa que fez isso. Desculpe-me, Senador Cristovam.

            O Sr. Cristovam Buarque (Bloco Apoio Governo/PDT - DF) - Não estou falando da dona de casa.

            O SR. ALOYSIO NUNES FERREIRA (Bloco Minoria/PSDB - SP) - Não, foram os tais black blocs.

            O Sr. Cristovam Buarque (Bloco Apoio Governo/PDT - DF) - Um momento! Aloysio, um momento! Eu não estou falando daquele caso. Estou perguntando se o senhor não é capaz de imaginar que isso vai acontecer daqui para frente.

            O SR. ALOYSIO NUNES FERREIRA (Bloco Minoria/PSDB - SP) - Claro que eu sou capaz de imaginar.

            O Sr. Cristovam Buarque (Bloco Apoio Governo/PDT - DF) - Daqui para frente, não vai acontecer?

            O SR. ALOYSIO NUNES FERREIRA (Bloco Minoria/PSDB - SP) - Pode ser.

            O Sr. Cristovam Buarque (Bloco Apoio Governo/PDT - DF) - Vai. Vai. Uma pessoa que está desesperada, porque o seu parente não é atendido no hospital público...

            O SR. ALOYSIO NUNES FERREIRA (Bloco Minoria/PSDB - SP) - O senhor me permite? Eu acho que há um mal entendido entre nós. Há um mal entendido.

            O Sr. Cristovam Buarque (Bloco Apoio Governo/PDT - DF) - Não, um momento. Não, não há um mal entendido.

            O SR. ALOYSIO NUNES FERREIRA (Bloco Minoria/PSDB - SP) - Há.

            O Sr. Cristovam Buarque (Bloco Apoio Governo/PDT - DF) - O senhor falou em justificar e eu estou de acordo. Eu falo em explicar. O senhor falou de um fato passado, e eu estou de acordo, e eu falo dos fatos que a gente tem que antecipar imaginando que vão acontecer.

            O SR. ALOYSIO NUNES FERREIRA (Bloco Minoria/PSDB - SP) - O senhor quer um exemplo do que é preciso fazer?

            O Sr. Cristovam Buarque (Bloco Apoio Governo/PDT - DF) - Não, deixe-me terminar.

            O SR. ALOYSIO NUNES FERREIRA (Bloco Minoria/PSDB - SP) - Aumentar o financiamento do SUS, por exemplo.

            O Sr. Cristovam Buarque (Bloco Apoio Governo/PDT - DF) - Ministro, deixe-me falar.

            O SR. ALOYSIO NUNES FERREIRA (Bloco Minoria/PSDB - SP) - E com isso todos nós estamos de acordo.

            O Sr. Cristovam Buarque (Bloco Apoio Governo/PDT - DF) - Ministro, deixe-me falar. Isso é um detalhe que não vai dar para resolver. Agora, se isso resolver, vão acabar todas essas manifestações. Eu estou querendo é chamar a atenção para o fato de que há um clima, que eu não vou dizer revolucionário, porque é um negócio caótico, desorganizado, eu diria até, de certa maneira, um tanto esquizofrênico, maluco, o que seja... Mas, daqui para frente, com essa tal de Internet, as pessoas vão invadir tudo aquilo onde está o que as pessoas não têm. Uma pessoa, um cara doente vai, sim, a partir de agora, ser tentado a obrigar um hospital privado a recebê-lo. Eu não digo que vão obrigar uma escola privada a receber porque a urgência da escola não é tão premente, mas na saúde vai. Eu não diria que vai ter gente pressionando para invadir supermercado para pegar comida porque quem tem fome nem computador tem. Não é uma revolução das massas realmente excluídas, mas é dessa massa que está aí embaixo, no limite, desiludida, porque conseguiu algo, mas não consegue se realizar. Eu estou chamando a atenção porque, como dizia aquele Capitão Jorge do meu tempo, não basta explicar; é preciso justificar. Não basta justificar; é preciso explicar. E nós estamos fugindo da busca de explicações por que aqueles meninos invadiram a Câmara Legislativa do Rio de Janeiro.

            O SR. ALOYSIO NUNES FERREIRA (Bloco Minoria/PSDB - SP) - V. Exª me permite?

            O Sr. Cristovam Buarque (Bloco Apoio Governo/PDT - DF) - Não, um minutinho. A não ser que a gente diga que é porque nomearam alguém que não queriam na CPI. Isso é um detalhe que provocou a gota d’água. Mas é que vem se enchendo o tanque há muito tempo e a gota d'água chegou coincidindo com o computador e a Internet. Nós estamos entrando num processo - o senhor tem toda razão - descontrolado.

            O SR. ALOYSIO NUNES FERREIRA (Bloco Minoria/PSDB - SP) - Pois é exatamente este o objeto do meu discurso, Senador Cristovam! Eu não deixo de explicar coisa nenhuma, nem fujo de explicação de coisa nenhuma.

            O Sr. Cristovam Buarque (Bloco Apoio Governo/PDT - DF) - Mas há que se saber a explicação, Senador.

            O SR. ALOYSIO NUNES FERREIRA (Bloco Minoria/PSDB - SP) - Mas eu quero dizer a V. Exª o seguinte: o fato do uso de violência nas manifestações, seja no Sírio Libanês, seja na Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro, seja na Câmara Municipal, seja contra a pessoa do Governador Sérgio Cabral...

(Soa a campainha.)

            O SR. ALOYSIO NUNES FERREIRA (Bloco Minoria/PSDB - SP) -..., isso é um problema em si mesmo.

            O Sr. Cristovam Buarque (Bloco Apoio Governo/PDT - DF) - Injustificável. Muito bem.

            O SR. ALOYSIO NUNES FERREIRA (Bloco Minoria/PSDB - SP) - Injustificável. E é um problema a ser analisado e combatido em si mesmo. É claro que existem causas de descontentamento. Eu não seria um Dr. Pangloss para dizer aqui que está tudo uma maravilha.

            O Sr. Cristovam Buarque (Bloco Apoio Governo/PDT - DF) - Não. Nós somos obrigados a tentar explicar, Senador.

            O SR. ALOYSIO NUNES FERREIRA (Bloco Minoria/PSDB - SP) - Mas eu tento.

            O Sr. Cristovam Buarque (Bloco Apoio Governo/PDT - DF) - Tem que combater sabendo.

            O SR. ALOYSIO NUNES FERREIRA (Bloco Minoria/PSDB - SP) - Mas não aqui, neste discurso. Neste discurso, eu estou criticando algo que, no meu entender, deve ser objeto de tratamento autônomo, que é a violência...

            O Sr. Cristovam Buarque (Bloco Apoio Governo/PDT - DF) - Mas é muito simplismo.

            O SR. ALOYSIO NUNES FERREIRA (Bloco Minoria/PSDB - SP) - Que seja. Talvez eu seja simplista.

            O Sr. Cristovam Buarque (Bloco Apoio Governo/PDT - DF) - É simplismo a gente fazer isso e, depois, cada um de nós ir para casa, como eu vou...

            O SR. ALOYSIO NUNES FERREIRA (Bloco Minoria/PSDB - SP) - Mas eu sou simplista.

            O Sr. Cristovam Buarque (Bloco Apoio Governo/PDT - DF) - Não estou jogando culpa em ninguém. Aqui, todo mundo é culpado. A gente vai para casa. “Estou satisfeito, Senador Mozarildo. Já falei. Vou para casa”. Não basta. Nós temos que fazer uma reflexão para explicar o que está acontecendo antes que seja tarde. Começa com a Câmara de Vereadores do Rio; depois, vão para a Assembleia; depois, vão para outras... Daqui para frente, a maior parte das câmaras de vereadores vai ser tomada. Será que alguém não consegue ver isso? E um dia vão chegar aqui. Aí, aqui não vão invadir, porque a gente vai botar a polícia na frente. Agora, é sério um Senado que, para funcionar, precisa botar polícia na rua por muito tempo? Por um dia, sim. Por um dia ou dois, justifica. Houve tentativa de invasão da Casa Branca durante a Guerra do Vietnã. Estava explicado. Não deixaram, nem devem deixar. Não sou a favor de deixar invadir nada. Não sou a favor. Muito menos um hospital como o Sírio Libanês. Mas a gente deve entender o que explica isso.

            O SR. ALOYSIO NUNES FERREIRA (Bloco Minoria/PSDB - SP) - Senador Cristovam Buarque, se me permite...

            O Sr. Cristovam Buarque (Bloco Apoio Governo/PDT - DF) - Eu peço até que o senhor, como eu também, use um pouco de uma coisa que caiu de moda, que é a tentativa de observar o concreto. Nós não estamos observando.

            O SR. ALOYSIO NUNES FERREIRA (Bloco Minoria/PSDB - SP) - É para isto que estou chamando atenção.

            O Sr. Cristovam Buarque (Bloco Apoio Governo/PDT - DF) - Não.

            O SR. ALOYSIO NUNES FERREIRA (Bloco Minoria/PSDB - SP) - Para o fato concreto...

            O Sr. Cristovam Buarque (Bloco Apoio Governo/PDT - DF) - Não.

            O SR. ALOYSIO NUNES FERREIRA (Bloco Minoria/PSDB - SP) -..., que merece ser reprovado, que merece ser repudiado, que merece ser absolutamente banido...

            O Sr. Cristovam Buarque (Bloco Apoio Governo/PDT - DF) - O senhor está chamando isso...

            O SR. ALOYSIO NUNES FERREIRA (Bloco Minoria/PSDB - SP) -..., que não pode ser legitimado como comportamento político, que é a violência.

            O Sr. Cristovam Buarque (Bloco Apoio Governo/PDT - DF) - Mas essa violência, estou de acordo, tem de ser criticada, mas tem de se saber por que ela existe.

            O SR. ALOYSIO NUNES FERREIRA (Bloco Minoria/PSDB - SP) - Veja V. Exª: não vou embora para casa sossegado, não. Eu, assim como V. Exª, trabalho para melhorar as coisas. Eu, como V. Exª... Ainda ontem assinei nota de protesto e de repúdio a episódio que ocorreu aqui, no Senado da República: por um ato de vindita contra a ação do Procurador da República, dois nomes honrados, dois nomes que haviam sido sabatinados exemplarmente pela Comissão de Justiça, foram recusados. Nós dois agimos, e agimos juntos, como continuaremos a agir juntos em relação a todas essas mazelas que V. Exª e eu deploramos.

            Mas o objeto do meu discurso hoje, nesta tribuna, não é a qualidade do SUS, não é a qualidade da educação, não é a qualidade dos transportes, embora eu creia que tudo isso deva se estudado e deva ser objeto de atenção permanente e de atenção nossa.

            O Sr. Cristovam Buarque (Bloco Apoio Governo/PDT - DF) - Está bom.

            O SR. ALOYSIO NUNES FERREIRA (Bloco Minoria/PSDB - SP) - E isso justifica o mal-estar, justifica o descontentamento, justifica o protesto, tudo isso. Estou plenamente de acordo com V. Exª, mas o objeto do meu discurso, hoje, é dizer o seguinte: quem preza a ordem democrática tem de repudiar, com todas as forças, sem ambiguidade alguma, esse tipo de manifestação. É disso que estou tratando!

            O Sr. Cristovam Buarque (Bloco Apoio Governo/PDT - DF) - Permita-me mais uma vez...

            O SR. ALOYSIO NUNES FERREIRA (Bloco Minoria/PSDB - SP) - Eu fiz apenas um apanhado desse episódio, para mostrar que esses acontecimentos estão se banalizando.

            O Sr. Cristovam Buarque (Bloco Apoio Governo/PDT - DF) - Isso!

            O SR. ALOYSIO NUNES FERREIRA (Bloco Minoria/PSDB - SP) - Eles estão se vulgarizando. As polícias militares... Isso é o objeto até de um artigo de Janio de Freitas, publicado na Folha de S.Paulo de hoje. Os governadores estão com receio de exercer o seu legítimo papel de garantidores da ordem pública.

(Soa a campainha.)

            O SR. ALOYSIO NUNES FERREIRA (Bloco Minoria/PSDB - SP) - As polícias militares estão com receio de atuar - evidentemente, ainda que dentro de toda a moderação possível e desejável - para manter a ordem, porque se está criando um clima de que vale tudo!

            O Sr. Cristovam Buarque (Bloco Apoio Governo/PDT - DF) - Senador, permita-me?

            O SR. ALOYSIO NUNES FERREIRA (Bloco Minoria/PSDB - SP) - Estão ocorrendo movimentos em que é considerado legítimo um sujeito marombado e fortão sair à rua encapuzado, com um pedaço de pau na mão, para invadir o que lhe der na telha!

            O Sr. Cristovam Buarque (Bloco Apoio Governo/PDT - DF) - Permita-me falar mais uma vez, Senador?

            O SR. ALOYSIO NUNES FERREIRA (Bloco Minoria/PSDB - SP) - É contra isso que estou falando!

            O Sr. Cristovam Buarque (Bloco Apoio Governo/PDT - DF) - Isso! E eu estou de acordo com o senhor.

            O SR. ALOYSIO NUNES FERREIRA (Bloco Minoria/PSDB - SP) - Então, estamos de acordo.

            O Sr. Cristovam Buarque (Bloco Apoio Governo/PDT - DF) - Agora, só há um detalhe: o senhor falou que quem preza a ordem democrática tem de se pronunciar contra isso, com o que estou de acordo. Mas quem realmente preza a ordem democrática, além de se pronunciar contra isso, tem de se pronunciar contra as causas disso.

            O SR. ALOYSIO NUNES FERREIRA (Bloco Minoria/PSDB - SP) - Eu venho me pronunciando!

            O Sr. Cristovam Buarque (Bloco Apoio Governo/PDT - DF) - É só um detalhe...

            O SR. ALOYSIO NUNES FERREIRA (Bloco Minoria/PSDB - SP) - Aliás, Senador...

            O Sr. Cristovam Buarque (Bloco Apoio Governo/PDT - DF) - E vou dizer por quê.

            O SR. ALOYSIO NUNES FERREIRA (Bloco Minoria/PSDB - SP) - Senador, eu me tenho pronunciado, na maior parte do meu tempo, sobre essas causas.

            O Sr. Cristovam Buarque (Bloco Apoio Governo/PDT - DF) - Está bom! Então, não é nada contra...

            O SR. ALOYSIO NUNES FERREIRA (Bloco Minoria/PSDB - SP) - Mas, hoje, eu estou falando sobre isso.

            O Sr. Cristovam Buarque (Bloco Apoio Governo/PDT - DF) - Sim, mas, hoje, eu peguei o seu aparte para dizer - na sua fala, não houve isso, porque o senhor optou por isso, o que é correto - que não adianta a Polícia! Ela não vai conseguir resolver isso, porque, com a Internet, hoje a manifestação é feita aqui e, amanhã, é feita ali! A Polícia está doida, como também nós, políticos. Na verdade, essa crise vem dos desiludidos, que se juntam aos desesperados, aos despreparados da Polícia para este novo tempo e aos despreparados aqui dentro, nós políticos. Nós não estamos sabendo! Então, eu só quero...

            O SR. ALOYSIO NUNES FERREIRA (Bloco Minoria/PSDB - SP) - E há o componente de dinheiro público e de ação política. Hoje, fiz, inclusive, requerimento, para saber de onde vem o financiamento do tal grupo Mídia Ninja, que, aparentemente, é um grupo independente, que usa palavras como “solidário”, “diálogo” etc., mas que é financiado com dinheiro público. Muitos desses movimentos resultam de correias de transmissão entre partidos políticos e o movimento popular.

            O Sr. Cristovam Buarque (Bloco Apoio Governo/PDT - DF) - Mas me deixe concluir.

            O SR. ALOYSIO NUNES FERREIRA (Bloco Minoria/PSDB - SP) - O que estou dizendo é que estou tratando, hoje, de um tema, Senador Cristovam Buarque... V. Exª me perdoe, porque falo aqui, na maior parte do tempo, assim como V. Exª - não só falo, como também procuro tratar efetivamente disto no meu trabalho parlamentar, no meu trabalho político -, de enfrentar todos esses problemas que V. Exª, tão justamente como eu, aponta como problemas que devem ser resolvidos e enfrentados, porque a sua persistência é inaceitável.

(Soa a campainha.)

            O SR. ALOYSIO NUNES FERREIRA (Bloco Minoria/PSDB - SP) - Mas, hoje, neste momento, estou tratando de outro tema. Isso não quer dizer que esqueça o outro, isso não quer dizer que eu vá para casa esquecendo o outro problema. Estou falando hoje de algo que é um problema em si, que é o problema da desconsideração às regras de convivência de uma sociedade democrática.

            O Sr. Cristovam Buarque (Bloco Apoio Governo/PDT - DF) - Só que eu...

            O SR. ALOYSIO NUNES FERREIRA (Bloco Minoria/PSDB - SP) - Estou tratando da intimidação a que estão submetidos hoje os Governadores, os responsáveis pela segurança pública, porque têm receio de atuar para impedir essas depredações e esse vandalismo. E estamos caminhando, cada vez mais, para um estado de anarquia. É isso que me preocupa!

            O Sr. Cristovam Buarque (Bloco Apoio Governo/PDT - DF) - Isso o preocupa - e o seu preparo é dos maiores de todos aqui -, mas não basta a gente dizer isso.

            O SR. ALOYSIO NUNES FERREIRA (Bloco Minoria/PSDB - SP) - Eu sei disso.

            O Sr. Cristovam Buarque (Bloco Apoio Governo/PDT - DF) - A gente tem de entender que há causas hoje.

            O SR. ALOYSIO NUNES FERREIRA (Bloco Minoria/PSDB - SP) - Mas eu estou falando, Senador, em princípio, num pronunciamento de 20 minutos.

            O Sr. Cristovam Buarque (Bloco Apoio Governo/PDT - DF) - Está bom!

            O SR. ALOYSIO NUNES FERREIRA (Bloco Minoria/PSDB - SP) - Não vou falar, hoje, sobre todas as causas. Escolhi um tema para falar, que é o tema da violência como método de ação política, o que, como V. Exª, considero absolutamente injustificável. É explicável? É. É explicável pelas condições objetivas a que V. Exª se refere, como a má qualidade dos serviços e a má qualidade da política, mas é explicável também por razões subjetivas, que é a utilização desses descontentamentos por grupos políticos que, ao se mobilizarem a pretexto de enfrentar os problemas, acabam por descambar, na sua ação, para o enfrentamento não do problema em si, mas da ordem democrática, que deve ser preservada.

            Esse é meu tema. É claro que V. Exª, em tudo que disse, tem total razão, mas vim à tribuna para falar desse problema. E agradeço o aparte, a oportunidade do diálogo, que, seguramente, vai continuar ao longo desse tempo, porque nós temos muito mais coisas em comum do que uma eventual diferença de pontos de vista sobre o mesmo fenômeno, neste discurso de hoje que tem um foco especifico.

            Muito obrigado.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 16/08/2013 - Página 54357