Discurso durante a 145ª Sessão Não Deliberativa, no Senado Federal

Críticas à UNE e a entidades sindicais pelo alinhamento com o Governo Federal; e outros assuntos.

Autor
Pedro Simon (PMDB - Movimento Democrático Brasileiro/RS)
Nome completo: Pedro Jorge Simon
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
MANIFESTAÇÃO COLETIVA. JUDICIARIO, CORRUPÇÃO.:
  • Críticas à UNE e a entidades sindicais pelo alinhamento com o Governo Federal; e outros assuntos.
Aparteantes
Ana Amélia.
Publicação
Publicação no DSF de 03/09/2013 - Página 59250
Assunto
Outros > MANIFESTAÇÃO COLETIVA. JUDICIARIO, CORRUPÇÃO.
Indexação
  • REGISTRO, APOIO, ORADOR, RELAÇÃO, REALIZAÇÃO, POPULAÇÃO, MANIFESTAÇÃO COLETIVA, CRITICA, ATUAÇÃO, CENTRAL UNICA DOS TRABALHADORES (CUT), UNIÃO NACIONAL DOS ESTUDANTES (UNE), MOTIVO, AUSENCIA, LUTA, DEFESA, DIREITOS, REPRESENTADO.
  • ELOGIO, ATUAÇÃO, SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL (STF), RELAÇÃO, JULGAMENTO, AÇÃO PENAL, REFERENCIA, DENUNCIA, CORRUPÇÃO, PAGAMENTO, MESADA, CONGRESSISTA, TROCA, APOIO, GOVERNO FEDERAL.

            O SR. PEDRO SIMON (Bloco Maioria/PMDB - RS. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - O Senador Paim chamou “Srª Presidenta”, ele atendeu o que a Presidenta quer. Embora numa longa conversa com o Senador Brossard, ele diz que, com todo o respeito à Presidenta, ele acha que deve ser “Srª Presidente”.

            A SRª PRESIDENTE (Ana Amélia. Bloco Maioria/PP - RS) - Eu prefiro assim: “Presidente”.

            O SR. PEDRO SIMON (Bloco Maioria/PMDB - RS) - E eu, com todo o respeito à Presidenta, eu fico com Paulo Brossard: “Srª Presidente”.

            Hoje é um dia em que se inicia a Semana da Pátria. Eu, que venho das calendas gregas, quando era guri, a Semana da Pátria era uma semana, realmente, muito importante. Nós vivíamos num regime fechado do Presidente Getúlio Vargas. Ficou em mim a imagem - embora eu até hoje seja um admirador do Presidente Getúlio Vargas - da obra que ele fez, depois, pelo Brasil, mas me lembro de como me irritava a gente ter que marchar: “Getúlio Vargas, Getúlio Vargas, abre as asas sobre nós”. Quer dizer, criando a figura de um mito e tudo girava em torno dele. Aquela Semana da Pátria, tinha um lado interessante: realmente, nós aprendíamos a gostar do nosso País, éramos levados a respeitar o nosso País.

            Hoje continua a Semana da Pátria, mas na verdade a Semana da Pátria, o que tem, o que marca, é o desfile das Forças Armadas no dia 7 de setembro.

            Com a ditadura, desapareceu o desfile da mocidade, o que é uma pena. Houve época - e eu me lembro bem - em que o desfile da mocidade era muito mais bonito que o desfile militar, em que há aquelas Forças, às vezes com um tanque ou uma metralhadora, uns a cavalo etc. e tal. O da mocidade, não!

            Era muito interessante, pois havia um colégio masculino e um feminino. Nós éramos do Rosário e apaixonados pelas gurias do Bom Conselho; os do Anchieta eram apaixonados pelas gurias do Sévigné; os do Júlio de Castilho eram apaixonados pelas meninas do Colégio Farroupilha. Isso era feito de uma forma muito bonita. A banda do Rosário, por exemplo, marchava com o rosário por todo o desfile; depois deixava o rosário e voltava para trazer o Colégio Bom Conselho. Hoje isso não existe; poderia voltar a existir.

            Falo isso porque, nesta Semana da Pátria, neste Sete de Setembro, estão marcadas ações por parte de jovens, manifestações que deixam a interrogação do que poderá acontecer.

            Há muito tempo, nobre Presidente, desde que eu era jovem estudantil, participei da União Nacional dos Estudantes (UNE), do centro acadêmico, ou seja, participei da vida estudantil o tempo todo. Eu aprendi, na mocidade, com nossa gente, a olhar pelo Brasil. Ao sair da faculdade e entrar na política, um ano depois, como Deputado com seu primeiro mandato, vem a tal da revolução e, quando vejo, estou na Presidência do Partido no Rio Grande do Sul, um gurizinho bobo que não sabia o que fazer. Desde então estou até hoje neste corre-corre que não para.

            Mas eu me lembro que, depois, já naquela época, a Semana da Pátria contava com a participação dos jovens e havia movimentos bonitos. Um deles, por exemplo, foi O Petróleo é Nosso! Lá, em Porto Alegre, nós colocamos uma torre de petróleo ali na Praça da Alfândega. Durante todo tempo... Naquela altura, era meio absurdo, pois não havia petróleo em lugar nenhum.

            As informações genéricas eram de que havia no Brasil um pouquinho de petróleo ali na Bahia ou coisa que o valha. Monteiro Lobato debatendo, dirigindo e mais pessoas. Esse movimento foi feito nesse sentido.

            Hoje, o Paim falou sobre o movimento dos trabalhadores organizados na semana passada. Eu acho que foi tranquilo, foi bom. É engraçado porque, embora sendo do PT, foi um movimento pacífico, ordeiro, organizado, quase igual aos do tempo da ditadura, com os militares marchando em ordem, unidos, por determinação do governo. Vamos marchar! Por quê? Vamos lá! Saíram-se bem. Não teve maior significado, mas se saíram bem.

            Nós sabemos por que eles saíram. Eles saíram porque está ficando muito ruim perante a sociedade brasileira. A CUT, a Força Sindical, a UNE desaparecem do meio do povo. Não se vêem mais; são grandes forças, importantes, são representantes da nossa sociedade e sempre estiveram na linha avançada.

            A entidade encarregada da realização da reforma agrária, os jovens estudantes da UNE e a CUT estavam à frente de todos os movimentos e, agora, de repente, ela foi se recolhendo, foi se recolhendo. O debate foi muito delicado. Ficar na rua e debater era o comum da UNE e da CUT.

            Antes eles ficavam na rua batendo, gritando, protestando, e ficava por aí. Mas, de repente, vem um partido e um governo forte que os convida para participar do governo. Aí é diferente. Olha, UNE, você vai ter a sede mais bonita do mundo. A sede mais bonita do mundo? Lá, na praia do Flamengo. Vira-se governo. Olha, UNE, você vai ter carteiras de estudantes não só para cinema, mas também para futebol, para teatro, para concerto, e só uma entidade vai vender essas carteiras: a de vocês. Não tem centro acadêmico, não tem união estadual, não tem mais ninguém, são só vocês. É um mar de dinheiro. Eu vou brigar com o cara?

            Então a UNE tem grandes propostas como essa que eu tenho dito. Por exemplo, ela está defendendo a liberdade sexual, a homossexualidade etc., mas com relação ao Governo, nesta hora em que estamos vivendo, é uma piada. E com relação à CUT é a mesma coisa. Dá pena ver.

            As coisas são tão engraçadas... Gosto muito do presidente da Força Sindical. Ele está lá no PDT, é Deputado do PDT, mas está criando outro partido. Quer dizer, é hoje do PDT, é o chefão do PDT em São Paulo, mas está organizando outro partido. E agora a direção do PDT, diz a imprensa, vai se reunir para dizer: se quer criar outro partido, vá criar lá fora, mas não dentro do PDT.

            Então, a imprensa estava batendo muito nessas entidades. Elas resolveram fazer o movimento que fizeram, pacífico, tranquilo; as forças militares estavam ali para garantir, como guardas de trânsito, para as pessoas saírem, para darem lugar. Foi bom. Não houve nada de mais, de bom nem de ruim. O problema é que esse movimento, dizem, foi feito tendo em vista a preocupação com o Sete de Setembro, em que estaria prevista ou, melhor dito, está prevista uma manifestação da mocidade. A mocidade, que lutou pelas Diretas Já, lá atrás; a mocidade, que lutou pela Ficha Limpa e pelo mensalão. Esses jovens estão se manifestando, estão falando, estão dialogando e estão convocando um grande movimento - não sei como vai ser, nem onde vai ser, mas se pretende pelo Brasil todo - a favor da liberdade, da ética, da moral e, muitas vezes, batendo, e com razão, no Congresso Nacional.

            Sei que a maioria do povo brasileiro, inclusive meus irmãos, que estão me assistindo pela TV Senado, está ainda conturbada com esse negócio dessa gurizada, que se reúne convocada não sei por quem, lá não sei onde e pelo motivo não sei qual. Mas, afinal, o que são? Uma coisa que eles fazem questão de dizer, absolutamente, é que não são partidários, não gostam dos partidos políticos. Não posso criticá-los por isso. Eu, na minha vida inteira, sou de partido político, mas também não gosto. Se dependesse de mim, tinha que mudar muita coisa nos partidos políticos. Então, eles fazem questão de dizer que o movimento deles não é favor do Governo nem contra o Governo, não é do partido A nem do partido B. É a favor do Brasil, da ética, das transformações que são necessárias. Mas, se for uma reforma ética, uma reforma política, uma reforma tributária, uma reforma do pacto democrático, uma mudança na história do Brasil, eles são favoráveis. Qual o caminho a que eles querem chegar? O caminho a que eles querem chegar é que a sociedade brasileira e, de modo especial, a classe política, que tem a responsabilidade de levar essas coisas adiante, façam a sua parte.

            Não há dúvida nenhuma da deterioração da vida brasileira. Na sexta-feira eu mostrei, desta tribuna, a capa do jornal Correio Braziliense, que falava em R$1 trilhão desperdiçado por ano no roubo, na falcatrua, na anarquia, na desorganização e em tudo que há de ruim na organização do Estado brasileiro. Se R$1 trilhão fosse aplicado na educação, na saúde, na segurança, faria com que o Brasil, em muito pouco tempo, pudesse atingir patamares muito melhores do índice de desenvolvimento e garantir melhorias na saúde pública. É com isso que a mocidade está preocupada. É isso que a mocidade cobra, como cobrou deste Congresso Nacional em várias oportunidades, na semana passada, em meio a um movimento, em uma hora muito importante do Brasil.

            E agora, se Deus quiser, depois de amanhã, quarta-feira, o Supremo define a “punidade” dos criminosos do mensalão, e o Brasil escreve uma história emocionante na sua vida, terminando - terminando não digo, porque seria exagero -, ou melhor, iniciando para valer o fim da impunidade dos ladrões e dos criminosos que, sendo ricos, não vão para a cadeia. Se for rico, tendo posição, sendo militar, sendo Senador, sendo Deputado, sendo presidente de banco, tendo dinheiro, podendo pegar um bom advogado, jamais vai para a cadeia. Rouba à vontade, faz o que quer, mas nada acontece. Essa é a tradição do Brasil.

            Esse cidadão foi condenado pelo Supremo, e a Câmara Legislativa, vergonhosamente, não confirmou o Supremo. Foi o primeiro Parlamentar condenado pelo Supremo. Levou a vida inteira para cassar um Deputado, e a Câmara tenta rejeitar. E que coisa mais feia: tenta rejeitar porque o voto é secreto. Não querem introduzir no Congresso brasileiro o voto aberto.

            O Presidente do Senado é fulano. Se eu sou a favor, eu voto a favor; se eu sou contra, eu voto contra.

            Para o Supremo Tribunal Federal, o Congresso indica fulano. Se eu sou a favor, eu voto a favor; se eu sou contra, eu voto contra.

            Para os cargos x das diversas entidades do Estado - para embaixador, uma infinidade de cargos - que dependem do voto desta Casa, o voto tem que ser aberto.

            O voto secreto existe para garantir o povo, o cidadão, o eleitor humilde, em lugares onde há o capitão de estância, o cara que manda, que pisa.

            Hoje, graças a Deus, o Brasil é modelo na hora de fazer uma eleição. A urna eleitoral do Brasil é um exemplo para o mundo. Não há processo de votação, nem nos Estados Unidos, nem onde quer que seja, em que o voto é mais tranquilo, é mais firme, é mais independente do que no Brasil. Isso é verdade. Mas saber votar é diferente.

            Ele não tem precisão; não tem coação, mas o que há e que aparece muitas vezes é exatamente votar ou por vantagem, ou por medo, ou por incompetência. Por isso o voto é secreto.

            O eleitor vai votar no prefeito. Só ele sabe em quem. Só ele sabe quem é o candidato dele a Vereador, a Deputado estadual, a Deputado Federal, a Presidente da República. O voto do eleitor é secreto. Mas eu estou aqui votando, e aquele que votou em mim tem que saber em quem eu votei, o que eu fiz, como votei o projeto tal, como votei a indicação do beltrano, como procedi nas várias ações.

            O voto tem que ser absolutamente aberto.

            Pois está lá na Câmara o projeto já aprovado nesta Casa. Nós votamos, o Senador Paim estava à frente, um projeto do voto aberto. O Senado já votou, por unanimidade, mas está na gaveta da Câmara. Está na gaveta da Câmara. E porque está na gaveta da Câmara, na quarta-feira passada, na hora de votar a cassação do Deputado, o voto foi secreto. E, sendo secreto, faltaram os votos necessários.

            É claro que no dia 7 de setembro, a gurizada que vai à rua irá protestar contra isso.

(Soa a campainha.)

            O SR. PEDRO SIMON (Bloco Maioria/PMDB - RS) - Mas nós merecemos. Não é gritar, mas nós merecemos.

            Jovens, prossigam!

            Quarta-feira, jovens, fiquem de olhos arregalados olhando para o Supremo, grande Supremo, que está tendo grandes atitudes, grande Presidente. Esse Supremo merece o respeito muito especial, muito especial. Esse Supremo foi praticamente todo indicado pelo Lula e pela Presidenta, praticamente todo. O normal do Brasil - eles foram indicados há três, há quatro anos pelo Lula ou pela Dilma - é votar a favor deles. Era votar contra um projeto que ia machucar o PT. Estão tendo dignidade, estão tendo respeito, estão tendo atuação firme, inédita, porque o normal do Supremo é deixar um projeto como esse ficar na gaveta, como ficou, durante uns oito anos, no governo Fernando Henrique; o Brindeiro, o Procurador-Geral da República, que foi um engavetador-geral, pois esse projeto não saiu de sua gaveta.

            Hoje está aí, voto em cima de voto, a figura do revisor assustando a gente, mas felizmente ele está falando cada vez mais sozinho. Figura como o Ministro a quem, quando foi indicado aqui, eu fiz as minhas restrições; candidato duas vezes a Juiz de Direito, em São Paulo, rodou as duas vezes; foi condenado em um processo lá no Nordeste, um processo insignificante, na minha opinião, está em recurso e ele vai ganhar. Mas eu disse ao Presidente Lula na hora em que ele entrou aqui: espera ele terminar esse processo, mas não vote para o Supremo, é um homem que é réu, que está respondendo a um processo, condenado. Mas ele foi. Ele que foi homem particular do Chefe da Casa Civil, José Dirceu; trabalhou ao lado dele permanentemente; foi advogado do PT em várias campanhas, mas está lá no Supremo. E não levanto nenhuma dúvida, não me arrependo do voto que deu e acho que Deus sabe o que faz. É bom ter o Sr. Toffoli lá, é bom ter o Sr. Revisor lá, porque ali o debate é aberto. Todo mundo está dizendo o que tem que dizer. Mas eu acredito em uma palavra final: que eu acredito.

            Acho que foi magnífica a exposição do último Ministro que nós votamos para lá. Ele nos impressionou desde o início pela sua fineza, pela presença da sua palavra. E eu concordo com ele, quando diz que sofria ao condenar uma pessoa como o Genoíno, um homem cujo passado era de lutas, de defesa da democracia; um homem que sempre tinha vivido e sempre viveu em condições humildes e que ele não sabia de um fato contrário. Eu concordo ipsis litteris com tudo o que ele disse, mas também concordo com o que a Presidenta do Tribunal Superior Eleitoral falou em resposta: “Esse tribunal não está julgando a história, esse Tribunal está julgando o fato, o ato. Ele tem todos os méritos que S. Exª diz, mas aqui, aqui, ele foi culpado”.

            Por isso é que eu digo, e pouca gente está reparando nisso, mas os membros do Supremo que estão julgando foram indicados pelo Lula e pela Dilma. Isso é mérito, isso é positivo, eu estou falando neste sentido, isso é altamente positivo. No cargo mais importante, mais significativo que o Supremo teve até hoje, quando é de se imaginar que alguém que é indicado por alguém vota a favor do alguém que o indicou? Eles estão votando com a sua consciência.

            E eu espero, Sr. Presidente, e eu creio...

(Soa a campainha.)

            O SR. PEDRO SIMON (Bloco Maioria/PMDB - RS) - Vou falar mais um pouquinho, Sr. Presidente. A nossa querida Ana Amélia está ali...

            O SR. PRESIDENTE (Paulo Paim. Bloco Apoio Governo/PT - RS) - O senhor sabe que aqui o senhor manda, não pede.

            O SR. PEDRO SIMON (Bloco Maioria/PMDB - RS) - A nossa querida Ana Amélia está ali, mas depois eu não vejo mais ninguém... Porque um gaúcho e, depois, novamente, um gaúcho, aí fica meio sem graça a segunda rodada. Vamos ver se tem mais alguém do Brasil.

            O SR. PRESIDENTE (Paulo Paim. Bloco Apoio Governo/PT - RS) - E ainda um aparte da Senadora Ana Amélia. Eu só posso dizer sim.

            O SR. PEDRO SIMON (Bloco Maioria/PMDB - RS) - O que eu digo é que é um momento histórico.

            Por isso, jovens que estão se preparando para o 7 de setembro façam um preâmbulo na quarta-feira. Por que na quarta-feira? Porque, na quarta-feira, será dado o voto que decide, mais uma vez, se há possibilidade de começar tudo de novo. Aceito o pedido - e o pedido só tem um objetivo, o pedido da defesa: começar tudo de novo. Esse é o Brasil. Por isso que ninguém no Brasil vai para a cadeia. Porque começa, recomeça, vai, revisão da revisão, não sei mais o quê, não sei mais o quê, não sei mais o quê. Eu acho que quarta-feira tem que terminar.

            Eu já disse mil vezes, perdoem-me, mas um dos fatos mais bonitos dos meus 83 anos foi quando, na terça-feira, todas as vozes aqui no Senado - todas que eu digo são as que falaram - que repudiavam a Ficha Limpa, iam votar contra a Ficha Limpa, e a gurizada encheu aqui, encheu com cruzes, com não sei mais o quê, e nós aprovamos, por unanimidade.

            O Senado aprovou, por unanimidade, o projeto que, um dia antes, a unanimidade dos que se manifestavam para a imprensa dizia que ia recusar. E isso é normal, não é um pecado. É normal que vendo, caindo na rotina, que nem foi a sessão lá da Câmara dos Deputados, que foi mal marcada, inclusive muita gente não sabia, foi marcada de última hora, ninguém tomou conhecimento e tal, é uma coisa. Agora, os jovens debatendo, discutindo e analisando, é outra coisa. E pode ser, então, meus jovens, que, no dia 7 de setembro, quando vocês forem para as ruas, entre várias outras questões, vocês tenham um motivo para bater palma, para dizer que valeu a pena, que o Supremo terá encerrado o mensalão, condenando, em definitivo, aqueles que devem ser condenados.

            A Srª Ana Amélia (Bloco Maioria/PP - RS) - Senador Pedro Simon, é sempre...

            O SR. PEDRO SIMON (Bloco Maioria/PMDB - RS) - Quero salientar que eu tomei conhecimento de que a presença de V. Exª na Expointer foi um sucesso.

            A Srª Ana Amélia (Bloco Maioria/PP - RS) - Obrigada, Senador. Maior sucesso fez o Presidente do Partido que o Senador...

            O SR. PEDRO SIMON (Bloco Maioria/PMDB - RS) - Pessoas de todos os partidos, inclusive do meu, fizeram questão de me cumprimentar. Diziam, um para o outro: “É uma grande candidata”.

            A Srª Ana Amélia (Bloco Maioria/PP - RS) - Obrigada, Senador Pedro Simon.

            O SR. PEDRO SIMON (Bloco Maioria/PMDB - RS) - Com o que eu concordo plenamente.

            A Srª Ana Amélia (Bloco Maioria/PP - RS) - Obrigada, Senador. O senhor é sempre generoso. Quero assinar embaixo das declarações de V. Exª a respeito deste momento e da Semana da Pátria e dessa movimentação dos jovens e do impacto disso sobre as deliberações desta Casa. Não apenas a Ficha Limpa, Senador Pedro Simon, mas também a PEC 37, que estava para ser aprovada, não fosse a reação das ruas. O que era a PEC 37? Os cartazes pediam: “Abaixo a PEC 37!” Ela visava limitar ou cercear os poderes do Ministério Público, que - entendo - é irmão siamês da imprensa. Quanto maior for o aperfeiçoamento e o fortalecimento da Justiça nas suas diversas instâncias, mais bem servida estará a sociedade brasileira. Na questão do julgamento que o Supremo está fazendo, com raras exceções, de maneira absolutamente isenta e que a sociedade está acompanhando, porque, com a transmissão ao vivo pela TV Justiça, fica muito mais fácil também acompanhar o desempenho dos magistrados... Eu queria dizer que o fortalecimento da Justiça, especialmente na área eleitoral, é muito saudável e muito importante. Daqui a pouco o Senador Paulo Paim, o senhor e eu vamos receber o Presidente da Ajuris, Dr. Pio Geovani Dresch, o Desembargador Marcelo Bandeira Pereira, que é Presidente do Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul, e a Presidente do Tribunal Regional Eleitoral do nosso Estado, Drª Elaine Macedo, que estão defendendo e apoiando uma PEC de autoria do Senador Pedro Taques, que amplia de sete para nove os integrantes da composição dos juízes federais nos tribunais regionais. Hoje é um juiz federal. Pela PEC do Senador Pedro Taques, que tem parecer favorável do Senador Anibal Diniz na Comissão de Constituição e Justiça, em vez de sete membros da Justiça Eleitoral nos tribunais regionais eleitorais serão nove, dos quais três, e não apenas um, serão juízes federais. Então, faço essa referência, para dizer que nós, os três Senadores do Rio Grande do Sul, estamos apoiando a PEC 31, que trata da ampliação da composição do Tribunal Regional Eleitoral, o que vai ser benéfico na agilização desse processo. E quero renovar os meus cumprimentos pela abordagem desse tema. Também sou favorável ao projeto do Senador Paim e ao do Senador Alvaro Dias, que dá voto aberto especialmente em cassação de mandato de parlamentares. Senador Pedro Simon, muito obrigada.

            O SR. PEDRO SIMON (Bloco Maioria/PMDB - RS) - Muito obrigado, querida Senadora.

            Eu me dirijo através da TV Senado e fico impressionado. Está aí um fato que temos de apreciar: a criação da TV Senado.

            Eu fui dos que deram força desde o tempo do Senador Antonio Carlos Magalhães e, depois, do Sarney como Presidente do Senado, que transformaram aquela interrogação numa realidade.

            TV Senado? Agora os Senadores vão transmitir as suas ações pela televisão? A troco de quê?

            Olha, hoje o Brasil é outro. E pode levar tempo para chegar lá, mas está chegando. A TV Senado, a TV Câmara, a TV da Justiça e até a TV Brasil, que publica os atos do Executivo, são mais ouvidas agora. E, quando é um fato importante, quando é uma votação importante...

            Por exemplo, na CPI, eu me lembro de um momento em que o Requião quase aceitou um convite da Globo para ser artista de televisão, da novela da Globo. Ele era o relator da Comissão e era tão ouvido, tão respeitado, tinha tanta simpatia, que disse: “Ah, se estão me pedindo, acho que vou para a Globo”. A concorrência, nos grandes debates da CPI do sistema financeiro, a TV Senado chegava a bater, em condições com as outras televisões.

            É por isso que agora a gente pode falar isto:

            Meus irmãos, jovens, vocês têm uma parte muito importante nessa continuidade. Na ditadura - hoje está esclarecido -, nós levamos um tempo enorme para começar a ter efeitos na derrubada da ditadura. Foi um tempo em que estávamos nós, mas os jovens não participavam. Quando os jovens foram para a rua, a coisa começou a mudar.

            Hoje, O Globo - e virei aqui em outra oportunidade falar sobre isso - faz mea-culpa, reconhecendo que errou ao patrocinar, apoiar, como apoiou, o Movimento de 1964. E, dentro disso, reconhece que foi um equívoco não dar a importância que merecia o movimento dos jovens nas Diretas Já.

            Por isso, jovens...

(Soa a campainha.)

            O SR. PEDRO SIMON (Bloco Maioria/PMDB - RS) - ...é bom vocês entenderem isso que eu quero dizer. Nós estamos vivendo um dos momentos mais importantes na história de nosso País. A democracia, graças a Deus, está consolidada. Podemos garantir, com absoluta tranquilidade, que a democracia vai bem no Brasil. Os militares estão no seu lugar. As lideranças populares estão cada uma no seu lugar. Os jornais, a seu jeito, estão, democraticamente, defendendo as suas ideias. Os empresários estão dialogando com trabalhadores, de um lado, e com o Governo, do outro. Vai bem. Agora, a seriedade, a moral, a dignidade, a honra, a decência vão muito mal.

            Um trilhão...

(Interrupção do som.)

            O SR. PEDRO SIMON (Bloco Maioria/PMDB - RS) - ...de cruzeiros postos fora, na roubalheira e nas burrices feitas por (Fora do microfone.) nós todos. Isso é um crime. E acontece todos os dias.

            Para todo lugar que nós vamos, é ladrão, é vigarista nos melhores lugares. E não vai um para a cadeia. Nos jornais de hoje, minha querida Ana Amélia, ainda não há condenado. Parece que vai haver. E já estão sendo discutidas cadeias de luxo para os presos que têm dinheiro. Já está sendo discutido, nos jornais de hoje, como vai ser. Tem de ser suíte especial, tem de ter televisão com Net. E o Deputado que não foi cassado, foi absolvido, disse: “Eu trago aqui o recado dos presidiários: eles estão achando a comida muito ruim. E eu também acho a comida muito ruim.” Os jornais já estão respondendo. Pegue O Globo, O Estadão e o Correio Braziliense de hoje. Vão mudar; já estão vendo onde é que vão fazer penitenciárias especiais para o preso que tem dinheiro. Onde é que eles vão encontrar penitenciária especial?

            Está aqui uma notícia importante:

O Ministro Luiz Roberto Barroso [a que me referi há poucos instantes] acaba de suspender a decisão do Plenário da Câmara que manteve o mandato do Deputado Natan Donadon. O ministro atendeu pedido feito em mandado de segurança do Deputado Carlos Sampaio (PSDB-SP). Na avaliação do ministro do STF, todo condenado em regime fechado que tenha que permanecer detido sob esse regime fechado, por prazo superior ao que lhe resta de mandato, não pode exercer o cargo político. Por isso, a decisão da Câmara que manteve o mandato de Donadon seria inaplicável.

            O Supremo Tribunal Federal deve divulgar, em instantes, a íntegra do despacho de Barroso.

            Meus cumprimentos ao Ministro Barroso. Ele fez, realmente, o que a gente esperava.

            Volto a dizer: por isso, eu falo a ti, meu prezado jovem. Eu sou político, e vocês não gostam de político. E vocês têm razão de não gostarem de político. Acho que não deve ser um ódio perpétuo, porque a política é uma parte muito importante na democracia.

            Prezados jovens, nós não temos como fazer a democracia em um governo do povo sem partidos políticos. Não podemos voltar à velha Grécia, que é do povo e pelo povo. As consultas eram feitas na praça pública, perante o povo. Hoje, com as dimensões do mundo, isso se torna impossível. Mas temos de reformar.

            Não são 40 partidos políticos que vão resolver. Não é a falta de ética e de moral que vai resolver. Mas vocês têm razão. Eu participei de duas, três reuniões de vocês, lá no canto, escondido, não querendo aparecer para não me meter. E vi quando os senhores pediram que se afastassem as pessoas com bandeiras de partidos, e vi a preocupação permanente que os senhores tinham para manter a ordem e o respeito.

            No Sete de Setembro do ano passado, nós tivemos um fato magnífico aqui, na Esplanada dos Ministérios, algo que, realmente, o mundo olhou. À direita, a Presidente da República, todo o mundo civil, todo o mundo militar. Todas as autoridades assistiram a um honroso desfile da Semana da Pátria, e as forças militares desfilaram. Do outro lado, à frente da Catedral, os jovens desfilaram, tranquilos, serenos. Mas foi a defesa das ideias que eles têm e que eles quiseram fazer. Acho que, talvez, no mundo, tenha sido difícil encontrar um movimento tão mais bonito, tão democrático, tão aberto como esse que aconteceu um ano atrás.

            Eu diria, meus irmãos, hoje, vocês, jovens, têm muito mais razões para fazer um movimento nesse sentido do que no ano passado. Um ano atrás, a rigor, nós não tínhamos o que festejar. O mensalão tinha aparecido, mas não saía do chão, não se levantava, e todas as notas e notícias eram de que ele ia morrer por inanição. O Congresso não estava presente em absolutamente nada. Hoje, a Ficha Limpa; 1,5 milhão de assinaturas populares fizeram com que essa votação diretamente do povo viesse aqui, e foi aprovada. E os jovens foram lá para frente do Supremo. E todo mundo esperava, todo mundo achava que o Supremo ia dizer “não”, e o Supremo aceitou.

            E também a questão do mensalão. Este Congresso aceitou e o Supremo está agindo com a maior dignidade.

            Eu sei que falta muito, meus irmãos jovens. Falta muito para chegar ao sonho, às ideias e às propostas que vocês querem. Mas, concordo, já foram duas grandes vitórias que vocês conquistaram. Eu digo vocês, porque eu repito aqui o que eu venho repetindo ao longo da minha vida: não esperem nada que modifique para a moral, a dignidade do Congresso Nacional. Não esperem nada da Presidência da República e do Governo Federal e não esperem nada do Supremo, se o povo não estiver nas ruas, se o povo não cobrar, se o povo não fiscalizar, se o povo não nos marcar na cara e disser: Isso está certo, meus cumprimentos; isso está errado, você é vigarista. Repito isto: nada acontecerá se os jovens não estiverem na frente.

            Por isso vocês têm razão para, neste Sete de setembro, ir com mais alegria, com mais amor, com mais firmeza, cobrar se avançamos mais no que está faltando.

            Mas há uma coisa que eu tenho que dizer aqui. Tem chamado a atenção, e muito estranho, o que tem acontecido nas últimas manifestações. As manifestações feitas por esses jovens que defendem a democracia e a moral contra a corrupção, todas foram feitas com a maior tranquilidade. Não teve nada que deteriorasse a seriedade do fato. Ultimamente mudou, e tem que se perguntar: mudou por quê?

            De um lado está aparecendo, na rua, gente da UNE, da CUT, diversas entidades que estão se manifestando. Mas, ao que sei, não é essa gente que está fazendo agitação. Não são pessoas nem da CUT e nem da UNE que estão depredando Catedral, Itamaraty e Prefeitura do Rio de Janeiro. Não. De um lado, estão os jovens que querem a moral; do outro lado, as pessoas que são UNE, são CUT e debatem a favor das suas ideias. Mas há um terceiro grupo. Esse é de vândalos. Esse é de criminosos. Inclusive, são mascarados, se escondem.

            A televisão mostrou os jovens pegando os postes e quebrando as janelas do Itamaraty; jovens pegando os postes e quebrando as portas da Prefeitura do Rio de Janeiro. Atirando pedras na Catedral. E se viam jovens - inclusive, o que é muito interessante se analisar - que estavam parando, que estavam forçando a que eles não fizessem isso, pedindo que parassem. E a polícia não fez nada. A Polícia não tomou conhecimento.

            Eu acho que, tendo em vista esses acontecimentos, se eu aparecer, ou seja quem for, de máscara numa reunião como essa, eu tenho que ser afastado imediatamente. Tem que se fazer a divisão. E vocês, jovens, têm que fazer um esforço para mostrar essa divisão: vocês estão de um lado e eles, que estejam onde estiverem. São vândalos.

            A imprensa do Rio de Janeiro mostrou que, ao mesmo tempo em que acontecia o quebra-quebra lá na Candelária, lá na Prefeitura do Rio de Janeiro, bandos deles iam pelos supermercados, para as várias regiões, e faziam roubalheira, e faziam bandalheira, e faziam saqueamento.

            E, Sr. Governo, Senhora Presidente da República, a impressão que a gente tem é que o Governo, por omissão, está concordando que essas coisas aconteçam. Porque é uma omissão...

(Soa a campainha.)

            O SR. PEDRO SIMON (Bloco Maioria/PMDB - RS) -... se não criminosa, é uma omissão irresponsável. Botando para quebrar? Assaltando? Arrebentando? Prenda! Vamos fazer a divisão, vamos fazer a distinção. E esses jovens mascarados que querem aparecer, que querem fazer, que façam, escolham o dia e façam.

            Esse 7 de Setembro está claro que são os jovens que lutam a favor da moral que estão fazendo. São eles que estão fazendo! Os mascarados querem fazer um movimento? Que marquem numa quarta-feira, marquem um dia, “nós vamos fazer”, e vão eles, os mascarados! Agora, aproveitar o dia em que tudo está marcado para fazer isso, desculpe-me a palavra, é safadeza. E a omissão do Governo, não podendo fazer a separação, vendo os jovens chutando, dando trancos e arrebentando as janelas, todo mundo vendo, e a Polícia não faz nada!? O que é isso?

            Então, eu penso que, se eu fosse parlamentar do Governo, seria bom se eu pudesse vir aqui e dizer, ou se o Chefe da Casa Civil pudesse dizer: “Olha, manifestação é permitido, mas quebra-quebra, início de lutas, isso será punido com prisão. Cidadão que aparecer mascarado será afastado. Isso não é baile à fantasia! Mascarado por quê?”

            Eu falo com muita preocupação, Presidente, porque acho que esse 7 de Setembro é muito importante. E, como eu já estou sentindo que o Supremo nos vai dar ganho de causa, eu acho que esse ganho de causa deve ser acompanhado de uma movimentação bonita e pacífica, não com quebra-quebras, não com um “deixa para lá” em que se arrebenta tudo, nem com manchetes que não sejam a da vitória no Supremo ou a vitória das ruas, mas manchetes da anarquia.

            Era isso, Sr. Presidente, que eu tinha a dizer neste início de uma Semana da Pátria. Espero que seja o início de um grande movimento na vida do nosso povo.

            As movimentações são muito interessantes. Quando vejo os nomes que estão se projetando como candidatos à Presidência, a atual Presidente, D. Dilma, uma mulher de grande liderança, de grande capacidade; pelo menos até ontem, pelo PSDB, o companheiro Aécio, uma biografia notável, oito anos de uma administração excepcional em Minas Gerais; quando vejo o Governador de Pernambuco, oito anos excepcionais como governador de Pernambuco - interessante, ele, neto do Arraes, e Aécio, neto de Tancredo -, quando vejo essa mulherzinha, pequenina, com vozinha mansa, mas com uma capacidade, uma disposição impressionante, que é a Senadora Marina, eu vejo que, desta vez, parece que estamos selecionando o que há melhor na vida pública. E, se Deus quiser, vamos ter uma eleição aberta, democrática, e, se Deus quiser, haveremos de iniciar um novo Brasil, da dignidade e do respeito. Só isso! O trilhão que hoje é jogado no lixo da anarquia e do roubo vai ser lançado nos braços da saúde, da educação, da segurança e das grandes obras da infraestrutura.

            Muito obrigado pela gentileza, Sr. Presidente.

            E eu digo, para encerrar: “Jovem, é a tua vez, vá adiante!


Este texto não substitui o publicado no DSF de 03/09/2013 - Página 59250