Fala da Presidência durante a 150ª Sessão Especial, no Senado Federal

Homenagem às vítimas da violência e do arbítrio no quadragésimo aniversário do Golpe Militar no Chile, ocorrido em 11 de setembro de 1973.

Autor
João Capiberibe (PSB - Partido Socialista Brasileiro/AP)
Nome completo: João Alberto Rodrigues Capiberibe
Casa
Senado Federal
Tipo
Fala da Presidência
Resumo por assunto
HOMENAGEM, POLITICA INTERNACIONAL.:
  • Homenagem às vítimas da violência e do arbítrio no quadragésimo aniversário do Golpe Militar no Chile, ocorrido em 11 de setembro de 1973.
Publicação
Publicação no DSF de 10/09/2013 - Página 61385
Assunto
Outros > HOMENAGEM, POLITICA INTERNACIONAL.
Indexação
  • HOMENAGEM, ANIVERSARIO, GOLPE DE ESTADO, AUTORIA, FORÇAS ARMADAS, LOCAL, PAIS ESTRANGEIRO, CHILE.

            O SR. PRESIDENTE (João Capiberibe. Bloco Apoio Governo/PSB-AP) - Nesta homenagem, destacamos a figura de Salvador Allende.

            Allende morava com sua família na Calle Tomas Moro, situada no setor elegante da cidade popularmente conhecido como Barrio Alto, próximo à Cordilheira. A casa também foi bombardeada pelos golpistas. Ali ele se sentia mais a vontade do que no Palácio de Ia Moneda. Não se tratava de uma casa qualquer. Ela encerrava objetos de arte dignos de um mecenas avisado. As paredes estavam repletas de quadros de grandes mestres. Uma amostra das tendências mais expressivas da pintura moderna latino-americana e europeia: Matta, Siqueiros, Guayasamin, Portocarrero, além dos catalães Miro e Picasso. Decorada com móveis de estilo, Allende colecionava uma infinidade de peças de artesanato combinadas a estátuas de marfim chinesas. Tinha especial afeição por uma centena de peças pré-colombianas.

            Esse velho caminhante da esquerda sul-americana, admirador de Mariátegui, solidário de Arbentz, Bosch e Fidel, havia amealhado esse tesouro ao longo de sua trajetória política. Os quadros faziam parte de um conjunto de lembranças e presentes que recebera desde jovem, quando começara sua carreira política. Sua biblioteca continha os grandes clássicos, tanto políticos como literários. Era também decorada com fotos de Ho-Chi-Minh e do Presidente Pedro Aguirre Cerda, principal protagonista da Frente Popular de 1938. Com orgulho, costumava mostrar um exemplar de Guerra de Guerrilhas, autografado pelo autor e endereçado para aquele "que por otros medios trata de obtener el mismo. Afectuosamente, El Che".

            Salvador Allende Gossens nasceu em Valparaíso, mítica cidade portuária, situada a alguns quilômetros de Santiago. Havia cumprido sessenta e cinco anos. Era descendente de notáveis, porém não pertencia a uma família de "terratenientes" nem tampouco de industriais. Seu avô, Ramón Allende Padín, alcunhado El Rojo, médico, Sereníssimo Gran Mestre Maçom, também foi político, tendo ocupado uma cadeira de deputado. Militou infatigavelmente pela separação da Igreja do Estado, objetivo somente alcançado em 1925. Uma espécie de Jules Ferri do Pacífico, que disseminou a escola pública na França, seu avô fundou as primeiras escolas leigas do país. Como retribuição pelo seu anticlericalismo contumaz, Don Ramón foi agraciado pela Igreja Católica com a Comenda da Excomunhão.

            Seu pai, Salvador Allende Castro, também foi contaminado pelo vírus da política. Advogado, foi militante do Partido Radical. Faleceu ainda jovem quando Allende terminava seu curso de Medicina. Consta que, nesse momento, estava preso, tendo sido autorizado pela Corte Marcial a assistir aos funerais do progenitor. Allende discursou no enterro do próprio pai, jurando fidelidade à causa dos excluídos.

            Formado, Allende dedicou-se durante pouco tempo à Medicina, trabalhando em um hospital de Valparaíso. Vangloriava-se de haver praticado mais de um milhar de autópsias e nada mais em Medicina.

            Aos 29 anos, elegeu-se Deputado; aos 30, foi nomeado Ministro da Saúde por Aguirre Cerda. Em 1952, postulou, pela primeira vez, o cargo de Presidente da República, sendo finalmente eleito, após três tentativas, em 1970.

            Não obtendo maioria, teria que passar pela homologação do Congresso chileno. Depois de muita dificuldade e muita crise, finalmente, o Congresso homologou, e Allende tomou posse.

            Antes de dar seqüência a esta cerimônia, convidando o Professor Jacques de Novion para falar sobre os 40 anos do golpe no Chile, queria cumprimentar o Senador Randolfe Rodrigues, aqui presente, a Deputada Janete Capiberibe e outras autoridades, que, aos poucos, vamos anunciando para todos.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 10/09/2013 - Página 61385