Pela Liderança durante a 155ª Sessão Não Deliberativa, no Senado Federal

Referência à missão de parlamentares à Suécia para conhecimento do projeto da aeronave supersônica Gripen.

Autor
José Agripino (DEM - Democratas/RN)
Nome completo: José Agripino Maia
Casa
Senado Federal
Tipo
Pela Liderança
Resumo por assunto
SEGURANÇA NACIONAL.:
  • Referência à missão de parlamentares à Suécia para conhecimento do projeto da aeronave supersônica Gripen.
Aparteantes
Ana Amélia.
Publicação
Publicação no DSF de 14/09/2013 - Página 63364
Assunto
Outros > SEGURANÇA NACIONAL.
Indexação
  • REGISTRO, VISITA, CONGRESSISTA, PAIS ESTRANGEIRO, SUECIA, MOTIVO, POSSIBILIDADE, AQUISIÇÃO, AERONAVE ESTRANGEIRA, FORÇA AEREA, IMPORTANCIA, SEGURANÇA NACIONAL, PARCERIA, EMPRESA BRASILEIRA DE AERONAUTICA (EMBRAER), TRANSFERENCIA, TECNOLOGIA, FABRICAÇÃO, AERONAVE.

            O SR. JOSÉ AGRIPINO (Bloco Minoria/DEM - RN. Como Líder. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente e Srs. Senadores, após as manifestações, sobre as quais me associei, com relação ao julgamento que quarta-feira se vai encerrar, com relação ao caso do mensalão, eu queria abordar, mais do que abordar, fazer uma prestação de contas da missão oficial de Parlamentares da Câmara e do Senado que foram à Suécia na semana passada.

            A convite do Reino da Suécia, estiveram lá o Presidente da Comissão de Relações Exteriores e Defesa Nacional do Senado, Senador Ricardo Ferraço; Comissão de Relações Exteriores e de Defesa Nacional da Câmara, Deputado Nelson Pellegrino; o Líder do PMDB, Senador Eunício Oliveira; eu próprio; os Deputados Leonardo Gadelha, do PSC da Paraíba; e Zarattini, do PT de São Paulo. A comitiva, composta por Deputados e Senadores de diversos partidos políticos, foi convidada pelo Reino da Suécia, pelo Governo da Suécia, para conhecer o projeto do avião supersônico Gripen.

            A agenda foi extremamente consistente e prestigiosa, porque os seis Parlamentares foram recebidos pelo Rei Carlos Gustavo, pela Rainha Sílvia, pelo Ministro da Defesa, que é uma senhora, e pelo Ministro das Relações Exteriores, que é um ex-Primeiro-Ministro da Suécia, cujos nomes vão constar de um relatório que vai ser apresentado e que eu não cito por serem de pouca compreensibilidade, porque a língua sueca para nós é meio incompreensível.

            Estivemos com Parlamentares da Comissão de Relações Exteriores e Defesa Nacional num encontro de mais de uma hora debatendo assuntos de muito interesse Brasil-Suécia. Tivemos um almoço no Parlamento com a Vice-Presidente do Parlamento sueco. Enfim, com autoridades do Reino da Suécia, do Poder Executivo, do Poder Legislativo, bem como com o Comandante Supremo das Forças Armadas da Suécia, com quem tivemos o primeiro contato. Ele se fazia acompanhar do Comandante da Força Aérea da Suécia, fazendo a primeira abordagem sobre questões de segurança, de estratégia, e as primeiras informações sobre o avião supersônico, que a Suécia fabrica através da SAAB, que é uma empresa privada que fabrica o Gripen.

            Qual era o objetivo da viagem? Os Mirage, que são os supersônicos brasileiros, encerram sua vida útil em dezembro deste ano. A partir de dezembro, o Brasil ficará completamente vulnerável a eventuais - muito pouco prováveis, para não dizer improváveis - ataques de quem quer que seja, até pelo fato, como foi dito com muita clareza pelos Parlamentares que lá na Suécia estiveram, nas diversas conversas, de que o Brasil é um país pacifista. Mas a Suíça, que é um país neutro, está comprando os aviões Gripen. A República Tcheca, que é um país com um PIB infinitas vezes menor do que o do Brasil, está comprando o Gripen por razões de ordem puramente estratégica. E o Brasil, que já é há algum tempo proprietário de aviões supersônicos, precisará manter, até por exigência de segurança nacional.

            O que recolhemos das visitas feitas, das conversas mantidas, do rei e da rainha aos Parlamentares dos mais diversos partidos, passando por autoridades do Poder Executivo e ministros de Estado e terminando com uma visita à fábrica da Saab, em que fomos recebidos, inclusive, pela prefeita da cidade de Linköping? O que recolhemos da visita, das conversas, das tratativas?

            Primeiro ponto: o profundo interesse da Suécia em estabelecer uma parceria - não é venda de aeronaves. Claro que a venda é importante, mas, mais do que venda, o que a Suécia e a Saab pretendem é estabelecer uma parceria com o Brasil, que tem, no seu portfólio industrial, uma empresa chamada Embraer, absolutamente exitosa no campo da aeronáutica civil. É uma companhia que produz aviões para transporte de passageiros espalhados pelo mundo inteiro, que é detentora de inúmeros trofeus de desempenho reconhecidos pela Suécia, que tem a Saab, que pretendeu o mesmo êxito e não conseguiu. Só conseguiu esse êxito no campo da aeronáutica militar.

            O que eles pretendem? Uma parceria que junte Brasil e Suécia e junte Embraer e Saab, no ramo do mútuo interesse, com a fabricação, inclusive, de uma aeronave militar que o Brasil precisará ter para renovar o que já teve. E aí é onde vem aquilo que eu reputo um trunfo que tem que ser considerado pelo Governo brasileiro. Primeiro de tudo, é a transferência de tecnologia. Quem quer parceria, quem quer a união de ações da aeronáutica civil com a aeronáutica militar, da Embraer com a Saab não pode deixar de pensar em absoluta transferência de tecnologia e simbiose de suas equipes técnicas para um tirar partido do outro e vice-versa.

            Segundo ponto, os concorrentes do Gripen são os Estados Unidos, com seu F18, fabricado pela Boeing, e a Dassault da França, com o seu Rafale. A França e os Estados Unidos são países cujo produto interno bruto é maior do que o do Brasil. São nações industrializadas num patamar bem mais alto do que o Brasil e, como tal, olham uma operação de transferência de Rafale ou de F18 para o Brasil como uma operação de venda, com a estatura de grande nação vendendo a uma nação emergente. A transferência de tecnologia é mencionada, mas para mim a transferência de tecnologia ocorre quando você tem interesses muito mais compreensíveis, quando a estatura dos países envolvidos é assemelhada e onde a palavra arrogância está completamente riscada das relações de troca.

            Então, um dado que é importante e que foi recolhido das conversas que mantivemos... E nessas conversas esteve sempre presente a digníssima Embaixadora Leda Lúcia Camargo, que está na Suécia há mais de dois anos e que vem acompanhando o dia a dia dos entendimentos do Governo do Brasil, do Ministério da Aeronáutica e do Comando da Aeronáutica com o Governo da Suécia, e que também tem uma opinião favorável...

(Soa a campainha.)

            O SR. JOSÉ AGRIPINO (Bloco Minoria/DEM - RN) - ... sobre a relação Suécia e Brasil com vistas à venda do Gripen à Força Aérea Brasileira.

            O Gripen é um avião que custa um percentual do que custa o F18, da Boeing, ou o Rafale, da Dassault. Vamos admitir que metade do preço, mas isso não é o mais importante. O mais importante é o custo de operação. Essas aeronaves têm uma vida útil e o custo de operação é altíssimo. O custo de operação dos Gripen é mais ou menos um terço do custo de operação do Rafale ou do F18, que são aviões da melhor qualidade, caríssimos, agora, aviões para países que, eu diria, não têm as necessidades que o Brasil tem.

            O Brasil é um país pacifista. O que o Brasil precisa é ter aviões supersônicos para se estabelecer no plano internacional como um país que dispõe de instrumento de defesa, a começar pela relação, que também é pacifista, do Brasil com o seu vizinho Argentina, com o seu vizinho Venezuela, com o seu vizinho Colômbia, com o seu vizinho Peru, que são países que, no máximo, poderão ter aviões como o Gripen. Por que gastar, para ter o mesmo objetivo, duas vezes o preço e três vezes o custo de operação, para manter eu não digo a hegemonia, mas para manter a posição de liderança num continente que tem recursos financeiros limitados e que, no máximo, comprará, depois que o Brasil comprar o seu supersônico, coisa equivalente? No máximo, coisa equivalente. Por que gastar tanto dinheiro para ser cliente de uma venda em que a transferência tecnológica é limitada, quando você pode ter um parceiro num projeto em que aquilo que vier a ser fabricado, inclusive como foi dito à Saab, poderá ser fabricado parte no Brasil, parte na Suécia, e o mercado, por exemplo, da América Latina...

(Soa a campainha.)

            O SR. JOSÉ AGRIPINO (Bloco Minoria/DEM - RN) - ... estaria garantido ao Brasil na comercialização das aeronaves?

            Eu vejo, portanto, enormes vantagens. É claro que essa é uma primeira visita, os contatos foram restritos a autoridades da Suécia. Eles me convenceram, mas é apenas parte de um processo.

            Cabe, é claro, ao Governo do Brasil fazer a avaliação entre os contendores que estão escolhidos, que são o Gripen da Suécia, o F18 dos Estados Unidos, da Boeing, e o Rafale da Dassault, da França, mas a minha opinião, e é a sensação que trago, é de que a operação com o Gripen deve ser vista com lente de aumento, tendo em vista o interesse imediato e o interesse permanente que o Brasil pode tirar de uma compra de que resultará uma parceria venturosa e promissora para a indústria aeronáutica do Brasil.

            Ouço, com muito prazer, a Senadora Ana Amélia, que, ao que sei, é conterrânea e amiga pessoal da Digníssima Embaixadora Leda Camargo, com quem estivemos durante os três dias em que permanecemos em território sueco, com quem tivemos conversa de profundidade e de quem pudemos recolher espírito público nas conversas que vem tendo, ao logo de todo esse tempo, nas tratativas da eventual aquisição do Gripen pelo Brasil e uma profunda conhecedora do assunto que, na verdade, é um dos principais assuntos dentro do contencioso econômico entre o Brasil e a Suécia.

            Ouço, com muito prazer, a Senadora Ana Amélia.

            A Srª Ana Amélia (Bloco Maioria/PP - RS) - Caro Senador José Agripino, eu fico particularmente feliz, como gaúcha, pela referência que V. Exª faz tanto quanto o reconhecimento pela competência, dedicação e comprometimento que a Embaixadora Leda Lúcia Camargo tem com causas nacionais. Nas carreiras de Estado, na Diplomacia brasileira, nós, aqui, somos, digamos, testemunhas da qualificação profissional, do empenho e dedicação, mas alguns, como em toda atividade, se sobressaem, mais do que outros. E é o caso da Embaixadora Leda Lúcia, não pelo fato de eu ter relação pessoal, de termos sido contemporâneas na universidade em Porto Alegre, mas porque, ao longo da carreira, e sobretudo dos postos que ela ocupou nos últimos anos, seja no comando da Embaixada do Brasil em Moçambique, posteriormente na Embaixada do Brasil na República Tcheca e, agora, na Suécia, como Embaixadora do Brasil, e, brevemente, quando deixar esta missão, irá para o Consulado-Geral do Brasil em Toronto, no Canadá, a Embaixadora Leda Lúcia tem demonstrado não só uma determinação, mas esse comprometimento que um bom embaixador, uma boa embaixadora deve ter com as causas nacionais. Particularmente em relação ao Rio Grande do Sul, ela teve um empenho adicional por se preocupar com as causas do seu Estado. Eu penso que esse seja um traço na personalidade, no caráter, mas, sobretudo, na competência e no talento de uma pessoa moldada para a diplomacia, que é o caso da Embaixadora Leda Lúcia. Então, eu queria aproveitar o seu relato, cumprimentá-lo, cumprimentar o Senador Ricardo Ferraço e o Senador Eunício Oliveira, que participaram representando o Senado Federal neste encontro. Os chineses têm uma expressão que eu acho muito correta: “Ver uma vez vale mais do que ler mil vezes”. Seu irmão foi Embaixador na Suécia, portanto já conhecia bem o país, mas o contato pessoal com as autoridades, com aqueles especialistas que fazem este avião... Eu assisti aqui a uma exposição brilhante da força aérea sueca e também dos dirigentes da empresa que constroem, na Suécia, este modelo Gripen, que é o avião sueco, e fiquei muito bem impressionada com a qualificação, com a qualidade e com um aspecto relevante para a indústria brasileira, que é a transferência da tecnologia. Isso é fundamental, já que nós temos a Embraer, que é uma empresa de conceito internacional que nós devemos, todos, exaltar. Então, penso que, de fato, foi uma grande oportunidade para que os Senadores, e V. Exª também representa tão bem o Senado Federal, pudessem ter o contato. Mas renovo a minha...

(Soa a campainha.)

            A Srª Ana Amélia (Bloco Maioria/PP - RS) - ...satisfação pelas referências que V. Exª faz ao empenho e à dedicação da Embaixadora Leda Lúcia no comando da nossa Embaixada em Estocolmo. Parabéns, Senador José Agripino.

            O SR. JOSÉ AGRIPINO (Bloco Minoria/DEM - RN) - Obrigado, Senadora Ana Amélia.

            Grande parte do êxito da missão - como falei, durante dois dias, foram pelo menos dez reuniões diferentes: era de uma para outra, de outra para outra, de outra para outra, sem parar, de manhã até a noite, todos os dias, exaustivas, mas muito cordiais -, eu credito a cordialidade dos encontros à simpatia com que a Embaixadora Leda é tratada pelas autoridades. A Ministra da Defesa, o Ministro das Relações Exteriores, a própria Rainha Sílvia, a Vice-Presidente do Parlamento, o Comandante das Forças Armadas, todos tratam a Embaixadora Leda como minha querida amiga, com absoluta intimidade. O cumprimento de um plebeu como eu à Rainha é cerimonioso. O cumprimento da Embaixadora à Rainha Silvia é um cumprimento de amigas. Então, isso tudo facilitou que as nossas conversas ocorressem em clima de absoluta franqueza, de sinceridade e de cordialidade, o que facilitou o entendimento. As conversas fluem melhor. Você chega a entendimentos tipo: o Gripen, um avião muito mais barato do que o F-18 e o Rafale, tem algumas vantagens. Ele é montado: parte é fabricada na Suécia, mas boa parte dos seus componentes são comprados de fora, o que é bom e ruim, mas é bom principalmente. Para que serve um supersônico, que é uma arma de guerra? Para transportar mísseis, transportar artefatos de guerra.

(Soa a campainha.)

            O SR. JOSÉ AGRIPINO (Bloco Minoria/DEM - RN) - Como a Saab não os fabrica, compra de terceiros, com liberdade, quando os concorrentes ficam restritos aos armamentos de fabricação própria, o que dá liberdade a quem tiver o Gripen de, em caso de necessidade, ter diversos fornecedores para poder cumprir o seu objetivo, que é, em última análise, bélico. Então, todo esse tipo de detalhe, o custo de manutenção, o custo de operação, a própria visita à fábrica, nos menores detalhes - não nos esconderam nada, não deixaram de responder a uma única pergunta -, tudo isso foi produto da relação positiva que a Embaixadora Leda Camargo, ao longo desse tempo, conseguiu construir com o governo da Suécia e com a empresa privada sueca, com quem o Brasil tem uma relação de muitos anos, a começar pela SKF, pela Scanner, pela Volvo...

(Interrupção do som.)

            O SR. JOSÉ AGRIPINO (Bloco Minoria/DEM - RN) - ... que têm fábricas plantadas em território brasileiro há muitos anos, gerando emprego e divisas para o Brasil também há muitos anos.

            De modo que presto contas, Sr. Presidente, com este meu relato, da missão parlamentar que foi levada a efeito, a convite do governo sueco, por Deputados e Senadores. Evidentemente, será apresentado um relatório, ao qual eu me associarei, mas já me antecipo a esse relatório com esta exposição verbal sobre a viagem, sobre as conclusões e sobre o pensamento que pessoalmente trago com relação à aquisição de um supersônico por parte da Força Aérea e do Governo do Brasil.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 14/09/2013 - Página 63364