Fala da Presidência durante a 109ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Pesar pelo falecimento de Jorge Ferreira, escritor, sociólogo e empresário em Brasília/DF.

Autor
Jorge Viana (PT - Partido dos Trabalhadores/AC)
Nome completo: Jorge Ney Viana Macedo Neves
Casa
Senado Federal
Tipo
Fala da Presidência
Resumo por assunto
HOMENAGEM.:
  • Pesar pelo falecimento de Jorge Ferreira, escritor, sociólogo e empresário em Brasília/DF.
Publicação
Publicação no DSF de 04/07/2013 - Página 42240
Assunto
Outros > HOMENAGEM.
Indexação
  • HOMENAGEM POSTUMA, ESCRITOR, SOCIOLOGO, EMPRESARIO, PROPRIETARIO, BAR, RESTAURANTE, LOCAL, BRASILIA (DF), DISTRITO FEDERAL (DF), VOTO DE PESAR, ELOGIO, VIDA PUBLICA.

            O SR. PRESIDENTE (Jorge Viana. Bloco/PT - AC) - Senador Cristovam, eu não tive, pela perda, coragem de usar a tribuna hoje. Vou tentar fazê-lo, mas sei que o Senador Rodrigo Rollemberg já foi à tribuna e, certamente, falou em nome de todos nós. V. Exª acompanhou comigo, diariamente, varias vezes por dia, à noite, a situação de saúde do Jorge.

            Lamentavelmente, foi uma perda irreparável para todos nós, para a cultura, para a história de Brasília, e eu, com a licença da Senadora Vanessa, queria ler o requerimento que V. Exª apresentou, e eu subscrevo, nós dois apresentamos, que é uma maneira de homenagear essa figura tão especial, apaixonada por Brasília, apaixonada pela cultura, pela vida, que nos deixou.

            A família atrasou o velório para que os médicos pudessem fazer a retirada de órgãos de Jorge Ferreira, meu irmão, amigo, nosso amigo-irmão, porque ele era um doador. Então, mais um gesto de grandeza de sua família.

            Então eu queria ler aqui:

Requeremos, nos termos do art. 218 do Regimento Interno e de acordo com as tradições da Casa, voto de pesar, com apresentação de condolências à família de Jorge Ferreira, cidadão honorário de Brasília, escritor, sociólogo, empresário, letrista, fundador de 12 dos mais badalados bares e restaurantes de Brasília.

            É lido o seguinte na íntegra:

            REQUERIMENTO Nº 752, DE 2013

            O SR. PRESIDENTE (Jorge Viana. Bloco/PT - AC) - Jorge Ferreira, nascido em Cruzília - como ele falava e transformava em poesia essa paixão também por Minas Gerais e por Brasília -, no sul de Minas, graduado em Ciências Sociais pela Universidade Federal de Juiz de Fora, mudou-se para Brasília no começo dos anos 80.

            Escritor, sociólogo, empresário, fundou doze restaurantes e bares aqui em Brasília, entre eles o Bar Brasil, o Bar Brasília, o Armazém do Ferreira e o histórico Feitiço Mineiro, que foi palco de encontro da cultura e da política, um endereço da redemocratização do País, estabelecimentos que se tornaram redutos da classe política e artística da cidade, além de apreciadores da boa música e de ambientes de uma conversa inteligente.

            Recebeu o título de Cidadão Honorário de Brasília em reconhecimento à criação de um importante espaço cultural, que é o Feitiço Mineiro, onde foram realizados mais de 10 mil shows e espetáculos, com apresentações de grandes músicos nacionais e revelações de músicos locais, assim como pelo apoio ao lançamento de CDs como o Balé das Almas, de Zebeto Corrêa, apoiado pela Souza Cruz, em 2012. Escritor, é autor de dois livros, Rio Adentro e Livro de Causos, de poemas e crônicas.

            Jorge encontrava-se internado havia quinze dias num hospital do Rio de Janeiro. Depois de sofrer um AVC, sua situação se agravou e, em 2 de julho, faleceu, deixando a mulher, sua sempre companheira, e três filhos, além de uma legião de amigos, entre os quais nos incluímos.

            Pelos relevantes serviços prestados à cultura, ao entretenimento, à vida da cidade de Brasília e a todos nós, solicitamos que sejam encaminhadas à família do Jorge as nossas mais justas homenagens.

            Então, daqui, eu queria, Senador Cristovam, passar, em nome de todos os colegas, esse sentimento de perda, porque são os mistérios da vida. Eu não sei por que uma pessoa tão boa, com 54 anos, vai embora, quando há tanta gente que não contribui em nada para um mundo melhor. Mas são os mistérios da vida. Por sorte, estou na Presidência hoje e posso fazer...

            Este requerimento depende de votação, cujo encaminhamento poderão fazer uso da palavra as Srªs e os Srs. Senadores.

            Para encaminhar a votação, concedo, então, a palavra ao Senador Cristovam.

            Só um minuto mais, Senadora Vanessa.

            O SR. CRISTOVAM BUARQUE (Bloco/PDT - DF. Para encaminhar. Sem revisão do orador.) - Senador, apenas para dizer, como orador daqui, que existem pessoas que, quando se vão, deixam muitos amigos sentindo a sua falta e outros que, quando se vão, deixam muita falta na cidade. O Jorge conseguiu as duas coisas. Ele não só é um grande amigo de centenas ou milhares de brasilienses, assim como de gente de fora de Brasília, do Brasil inteiro, como do próprio Presidente Lula, de Ziraldo e muitos outros, mas ele também era uma figura emblemática da sociedade, como um empresário de muito sucesso, como um animador cultural da cidade e como um batalhador pela democracia, pelo Partido dos Trabalhadores, em que ele sempre militou.

            Houve momentos em que Feitiço Mineiro significava luta pela democracia. Quando a gente dizia “Vamos ao Feitiço Mineiro?”, a gente não estava lembrando apenas de um restaurante, mas de ir para uma verdadeira tribuna, para uma trincheira. O Feitiço Mineiro, que ele criou e dirigiu, era uma trincheira de todos nós que lutávamos pela democracia no Distrito Federal.

            Por isso, fica aqui manifestado o nosso sentimento de pesar que eu, assim como V. Exª, gostaria que fosse transmitido à família dele.

            O SR. PRESIDENTE (Jorge Viana. Bloco/PT - AC) - Coloco o requerimento em votação.

            As Srªs e os Srs. Senadores que o aprovam permaneçam como se encontram. (Pausa.)

            Aprovado.

            Eu queria dizer, Senador Cristovam, que ele tinha tanto amor por esta cidade... Esta cidade nasceu diferente das outras. As cidades do mundo inteiro - eu, como ex-prefeito, gosto de estudar o surgimento das cidades - nasceram em volta de mercado, mas esta cidade não tinha mercado. Então ele falou: “Vou fazer um mercado”. E fez um mercado fantástico aqui em Brasília. Ele andou o mundo inteiro fotografando mercados, comprando peças e trazendo-as. Eu o ajudei e, inclusive, ia com ele durante a obra. Ele nos ajudou a fazer um mercado em Rio Branco. Ele ficava na minha casa. É uma pessoa indescritível.

            Então, o amor por Brasília ele deixou. Inclusive, ficou uma simbologia. A cidade não tinha mercado e ele falou: “Vou fazer um mercado para Brasília”.

            O SR. CRISTOVAM BUARQUE (Bloco/PDT - DF) - É verdade.

            O SR. PRESIDENTE (Jorge Viana. Bloco/PT - AC) - E está aí, um mercado na 509, na W3.

            Então, é uma perda muito grande. Ele substituiu o Poder Público em muitos momentos, como animador cultural, promovendo eventos culturais na cidade, dando vida a Brasília, do melhor jeito, trazendo essa paixão do mineiro pelo Brasil, de que ele sempre se orgulhava e que traduzia nos seus livros de poesia.

            É um poeta. Mas, como ouvi o Senador Sarney dizer outro dia, quando fiz aqui uma homenagem a um poeta acreano que tinha falecido, os poetas não morrem.

            O SR. CRISTOVAM BUARQUE (Bloco/PDT - DF) - Verdade.

            O SR. PRESIDENTE (Jorge Viana. Bloco/PT - AC) - Então, isso é uma sabedoria que o tempo traz e eu, aqui, peço emprestada essa frase do Presidente Sarney para dizer que os poetas não morrem e que Jorge vai seguir vivo, bem vivo, no meio de todos nós.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 04/07/2013 - Página 42240