Discurso durante a 152ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Destaque aos atos de vandalismo ocorridos nas manifestações populares durante o Sete de Setembro, e apelo em favor da adoção de providências para atender às reivindicações da população.

Autor
Cristovam Buarque (PDT - Partido Democrático Trabalhista/DF)
Nome completo: Cristovam Ricardo Cavalcanti Buarque
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
MANIFESTAÇÃO COLETIVA.:
  • Destaque aos atos de vandalismo ocorridos nas manifestações populares durante o Sete de Setembro, e apelo em favor da adoção de providências para atender às reivindicações da população.
Publicação
Publicação no DSF de 11/09/2013 - Página 61951
Assunto
Outros > MANIFESTAÇÃO COLETIVA.
Indexação
  • ANALISE, REALIZAÇÃO, MANIFESTAÇÃO COLETIVA, PAIS, NECESSIDADE, ETICA, POLITICO, EXTINÇÃO, CORRUPÇÃO, ADMINISTRAÇÃO FEDERAL, MELHORIA, QUALIDADE, VIDA, POPULAÇÃO.

            O SR. CRISTOVAM BUARQUE (Bloco Apoio Governo/PDT - DF. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, Srs. Senadores, Srªs Senadoras, nesse sábado, Sr. Presidente Mozarildo, quem acompanhou o dia a dia do País durante as comemorações do 7 de Setembro percebeu claramente algo inédito no Brasil: manifestações por todos os lados; algumas pacíficas, algumas violentas. O que mais se caracterizou foi a ação dos chamados vândalos, que, ultimamente, virou um problema de polícia no Brasil.

            Eu creio que ninguém pode incentivar, tolerar, fechar os olhos para quebra-quebra feito em nome de protesto. Protesto é uma coisa; quebra-quebra é outra. Mas ninguém pode olhar para esse quebra-quebra, para esses vândalos, esses jovens de caras cobertas - há 20 e poucos anos, tivemos os caras-pintadas; agora, temos os caras-cobertas - sem procurar entender o que se passa com eles.

            Primeiro, é preciso lembrar que o vandalismo que eles fazem não é inédito neste País. Este é um País que tem cinco séculos de vandalismos, afinal de contas quebrar vidraças é vandalismo e não deve ser permitido, mas queimar florestas é vandalismo, roubar dinheiro público, como a gente vê todos os dias, é vandalismo. No mesmo momento em que a gente tem visto denúncias dos vândalos quebrando vidraças, nós temos visto vandalismo de corrupção, tirando dinheiro do público para bolsos privados. Isso é vandalismo. A corrupção é vandalismo. Não podemos criticar um sem criticar outro, e não podemos tolerar nenhum dos dois.

            Esse é o primeiro fato, Senador Randolfe. Acho que vale a pena a gente refletir sobre o que vem acontecendo. Este é um País de vandalismo histórico, contra o povo, contra os escravos, contra os pobres, contra o serviço público, contra as prioridades.

            O segundo ponto é que temos que ver que há uma lógica que está levando o povo para a rua. Essa lógica se chama percepção da dívida que a população hoje tem do que os políticos foram construindo ao longo da história deste País. Nós, políticos, nós todos fizemos uma dívida com o povo, contraímos uma dívida com o povo. O povo sabe agora que nós, políticos, temos uma dívida com ele. É isso que leva o povo à rua, a apresentar a fatura, a cobrar a dívida de décadas de políticas equivocadas por parte de nós, políticos. 

            O povo percebeu, caiu a ficha, e descobriu que tem um crédito - tem um crédito - com as suas Lideranças. Quer cobrar esse crédito. Quer receber aquilo que foi tirado deles ao longo dos anos.

            Se nós não entendermos isso, nós não vamos conseguir evitar a continuidade dessa tragédia social, que leva à tragédia política. A tragédia social é a quebra do acordo que há entre as pessoas de um país para que consigam e continuem convivendo e funcionando. Essa tragédia social demonstra a nossa dívida. Ao mesmo tempo, é preciso lembrar que a população percebeu que pode se movimentar, pode se mobilizar, pode agir, porque dispõe hoje de um mecanismo pessoal de convocação de mobilização, sem precisar de rádio, televisão, partido, sindicato. É o computador que cada jovem tiver em sua casa.

            Se nós não entendermos - nós, que somos daqui, a Liderança, eleitos - que temos uma dívida com este País, que temos uma dívida com a opinião pública, que temos uma dívida com a sociedade, nós vamos, um dia, acordar descobrindo que fomos chutados, expulsos. E o mais grave é que não vai ser nem pelo voto. Vai ser por uma manifestação tão grande que levará a um caos, que transformará a ordem em que nós vivemos, da qual nós precisamos, em uma grande desordem, que não vai beneficiar ninguém.

            A verdade é que nós viramos as costas para o povo ao longo de décadas, não só essa geração de políticos que está aqui, Senador Mozarildo. É uma história de políticas de costas voltadas ao povo. Agora, o que nos caracteriza, os de hoje, Senador Mozarildo, o que nos diferencia dos de antes é que, além de continuarmos com as costas viradas, nós estamos fechando os olhos para a indignação do povo na rua. E isso é grave. Virar as costas para o povo é imperdoável do ponto de vista ético. Fechar os olhos à indignação que o povo está demonstrando na rua, além de indecente eticamente, é burrice, é suicídio, e, às vezes, eu me pergunto se nós não estamos agindo como suicidas, caminhando para um abismo, ignorando o que acontece ao lado, não percebendo os avisos diários, constantes, que são feitos para mostrar que as coisas não estão bem, gente!

            O SR. PRESIDENTE (Mozarildo Cavalcanti. Bloco União e Força/PTB - RR) - Senador Cristovam, pediria a permissão de V. Exª para registrar a presença aqui de alunos e professores do curso de Direito da Universidade Regional de Blumenau. Sejam bem-vindos! Estão ouvindo aqui um mestre, ex-Ministro da Educação, ex-Governador do DF e Reitor da UnB.

            O SR. CRISTOVAM BUARQUE (Bloco Apoio Governo/PDT - DF) - Muito obrigado, Senador. Muito obrigado pela presença. Bem-vindos! Espero que sejam testemunhas do que estou tentando passar a nós todos - não aos outros; a mim também -, da crise que nós vivemos, a crise histórica das costas viradas contra o povo, e a crise atual dos olhos fechados diante da indignação do povo na rua.

            Quando juntamos esses dois fatos, quando juntamos as costas viradas e os olhos fechados, é sinal de que caminhamos para um abismo, sem ouvir os avisos que estão sendo dados a cada instante, inclusive pelos meninos de cara coberta, que agem de maneira errada ao quebrar vidraças, mas nós precisamos entender por que eles estão fazendo isso. Porque esgotou para eles a confiança de que nós vamos encontrar um caminho diferente; esgotou para eles a paciência de que estamos aqui construindo um futuro que sirva para eles, seus filhos e netos; esgotou-se a paciência do povo. Perceberam a dívida que nós políticos temos com eles e vieram para as ruas manifestar a indignação que sentem em relação a todos nós, sem exceção, Senador Mozarildo. Sem exceção! Não há mais exceção. Todo mundo ficou igual diante da opinião pública. Quem sabe, isso não pode nos trazer uma irmandade e perceber que nós temos que sobreviver juntos, ou vamos afundar juntos.

            Ainda é tempo de percebermos as costas viradas para o povo e os olhos fechados, sem ver a indignação do povo. Ainda pode ser tempo de percebermos, reconhecermos, assumirmos a dívida que temos com o povo e nos organizarmos aqui para dizer como essa dívida será paga, porque o mais grave é que os olhos fechados diante da indignação estão impedindo que nos reunamos aqui - esta Casa, a outra Casa, a Câmara, e o Governo - e, juntos, busquemos resposta para uma única pergunta: como podemos pagar a dívida que temos com o povo brasileiro?

            É isto, nada mais que isto: como pagar a dívida que nós fomos contraindo ao longo da história com o povo brasileiro e com nossa Pátria.

            Se descobrirmos como pagar, voltamos a funcionar dentro de um pacto nacional, como já funcionamos. Se não descobrirmos,...

(Soa a campainha.)

            O SR. CRISTOVAM BUARQUE (Bloco Apoio Governo/PDT - DF) - ... o vandalismo continua, o vandalismo dos que quebram vidraças, dos que queimam florestas, dos que concentram renda, dos que roubam dinheiro público.

            É tempo de parar todos os vandalismos e é tempo de pagar a dívida que temos com o povo brasileiro.

            É isso, Senador Mozarildo, agradecendo o seu tempo.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 11/09/2013 - Página 61951