Explicação pessoal durante a 140ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Uso da palavra para uma explicação pessoal referente ao pronunciamento do Senador Lindbergh Farias.

Autor
Aécio Neves (PSDB - Partido da Social Democracia Brasileira/MG)
Nome completo: Aécio Neves da Cunha
Casa
Senado Federal
Tipo
Explicação pessoal
Resumo por assunto
Outros:
  • Uso da palavra para uma explicação pessoal referente ao pronunciamento do Senador Lindbergh Farias.
Publicação
Publicação no DSF de 28/08/2013 - Página 57327
Assunto
Outros
Indexação
  • EXPLICAÇÃO PESSOAL, RESPOSTA, DISCURSO, AUTORIA, LINDBERGH FARIAS, SENADOR, ESTADO DO RIO DE JANEIRO (RJ), REFERENCIA, REPUDIO, CRITICA, ATUAÇÃO, PRESIDENTE DA REPUBLICA, FUGA, PAIS ESTRANGEIRO, BOLIVIA, ORIGEM, BRASIL.

            O SR. AÉCIO NEVES (Bloco Minoria/PSDB - MG. Para uma explicação pessoal. Sem revisão do orador.) - Agradeço a V. Exª, que, mais uma vez, cumpre o que estabelece o Regimento.

            Eu não sei se de forma proposital ou não, até porque eu conversava há poucos minutos com o Senador Lindbergh sobre a reforma política, não acredito que tenha sido apenas pelo fato de eu ter deixado o plenário por alguns minutos para atender alguns que me chamavam, mas soube que ele fez aqui críticas a uma declaração que dei hoje - na verdade, já a havia feito ontem - em relação a esse episódio envolvendo o Senador boliviano.

            É claro que cada um de nós, Sr. Presidente, pode ter aqui a opinião que quiser em relação a essa questão. Mas o que eu disse e quero aqui repetir é que, na verdade, a diplomacia brasileira, mais uma vez, se curva ao alinhamento ideológico. Esse não é um fato isolado, Sr. Presidente. Na verdade, dentro das tradições da diplomacia brasileira, está o respeito humanitário.

            Eu vou aqui lembrar ao Senador Lindbergh, com muito respeito, que a atitude do Ministro Saboia, que convivia com o Senador boliviano, ao lado da sua sala, por mais de 450 dias... E aí está o primeiro equívoco grave do Governo brasileiro que, em uma subordinação aos interesses da Bolívia, não agiu com a força que o Brasil precisa ter em questões como essa para fazer com que o asilo temporário, dado na Embaixada, viesse acompanhado do respectivo salvo-conduto. Não é digno, não é admissível que alguém possa estar vivendo em um cubículo, qualquer que seja ele, sem ter sido condenado por qualquer crime, sobretudo sob a guarda da diplomacia brasileira. Portanto, este é o primeiro equívoco: não houve uma ação efetiva do Governo Federal, da chancelaria do Governo brasileiro, do Itamaraty, para que esse cidadão tivesse o necessário e esperado salvo-conduto.

            A partir daí, tomou o Ministro Saboia uma decisão, sabendo ele dos riscos dessa decisão, até do ponto de vista pessoal em relação a sua carreira, mas uma decisão humanitária. Isso me lembra, Senador Lindbergh, o que ocorreu há muitas décadas no momento em que o nazismo tomava conta da Europa e assustava membros de várias nacionalidades naquela época, não apenas os que viviam na Alemanha. Naquele instante, em Paris, a Srª Aracy Guimarães Rosa, uma diplomata, acompanhada do Embaixador Souza Dantas, permitiu que inúmeros refugiados do nazismo, naquela época, contrariando decisão do governo brasileiro, uma decisão do Itamaraty, pudessem ter aqui seus vistos concedidos e, portanto, pudessem escapar da morte e da tortura.

            A Srª Aracy Guimarães Rosa e o Embaixador Souza Dantas são, hoje, considerados heróis, inclusive pelo Governo brasileiro, Senador Lindbergh, porque tiveram a coragem de colocar em risco suas carreiras e defender a vida. Nós estamos falando aqui de defender a vida. Nós estamos falando aqui de garantir a um Senador da República boliviana algo que já lhe havia sido formalmente concedido pelo Governo brasileiro: o asilo. Só que esse asilo não se efetivava, porque o salvo-conduto não lhe foi permitido.

            Externei hoje cedo e externo novamente da tribuna desta Casa meu sentimento de que a postura do Ministro Eduardo Saboia deve receber nossa total solidariedade. Não sei que incorreções ele cometeu ou se, dentro da estrutura do Itamaraty, ele lesou as regras pré-estabelecidas para a carreira. Neste instante, sobrepõe-se até mesmo à hierarquia a questão humanitária: ele salvou a vida de um Senador da República, e foi esse o reconhecimento que nós fizemos.

            Mas, mais do que isso, lamento o viés e o alinhamento ideológico da chancelaria brasileira que se repete mais uma vez. Começa com a aproximação com o regime iraniano; passa pela tentativa de restabelecer o governo Zelaya; em inúmeros momentos, e agora, recentemente, com o afastamento do Paraguai do Mercosul. Enfim, uma sucessão de atitudes que, infelizmente, não honram as melhores tradições da chancelaria brasileira.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 28/08/2013 - Página 57327