Discurso durante a 140ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Autor
José Agripino (DEM - Democratas/RN)
Nome completo: José Agripino Maia
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Publicação
Publicação no DSF de 28/08/2013 - Página 57338

            O SR. JOSÉ AGRIPINO (Bloco Minoria/DEM - RN. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, Srs. Senadores, Srªs Senadoras, eu tive a oportunidade de, ontem, me manifestar sobre o assunto que está dominando os debates nesta tarde - o asilo do Senador boliviano, que veio em companhia do Embaixador Saboia, de La Paz até a fronteira de carro e, de lá, pegou um avião e chegou a Brasília.

            Presidente Romero, eu fui duas vezes governador e aprendi, no exercício do governo - e governei o meu Estado, que é um Estado pequeno, com muitas limitações, com poucos recursos financeiros - que governo é como se estivesse tratando com um forno de padaria, onde todos os dias você coloca centenas de pães e tem que retirá-los todos, porque, Senador Cristovam Buarque, se você não deixar que os pãezinhos que você colocou assadinhos, retirá-los todos, você vai deixar um atrás do outro e o forno vai entupir.

            Governo não admite que você procrastine solução. Problema acumulado gera crise - pode ser pequena, média ou grande -, e o governo não admite indefinição. É aquela história do forno. Vá colocando a fornada e vá retirando. Faça todo o esforço para colocar os pães, que são os problemas, e retirá-los todos. Se você deixar que eles se acumulem, você toca fogo no forno. Foi o que aconteceu, Sr. Presidente.

            Nós tivemos um problema de crise típica de governabilidade. Isso é um retrato de governo, retrato típico, Senador Aloysio, retrato de governo. Não cabe na minha cabeça - eu que fui Governador, V. Exª foi Governador, sabe disso - você passar 450 dias com um problema, megaproblema, de um Senador trancafiado num quarto de 20m², ao lado do gabinete do Embaixador na Bolívia, todos os dias reclamando, manchete de jornal na Bolívia, assunto suscitado na imprensa brasileira e sem solução - 1 dia, 2 dias, 3 dias, 50 dias, 100 dias, 150 dias, 300 dias, 450 dias! Pelo amor de Deus! Ministro de Estado, isso é problema de Presidência da República para encontrar a saída!

            Agora, qual é o pretérito das relações do Brasil com a Bolívia? É você invadir a refinaria da Petrobras e nada acontecer; é ficarem dezenas de brasileiros presos numa masmorra no interior da Bolívia - os torcedores do Corinthians - e nada acontecer.

            É a leniência, Senador Aloysio, das relações entre Brasil e Bolívia. Uma leniência movida a uma espécie de subserviência ideológica que produziu o quê? Produziu este fato: um ato quase que de desespero do Embaixador Saboia que disse a um colega nosso, Senador Ferraço, que já havia ouvido desse Senador, declaração de que estava no limite e que a ele só restaria o suicídio. Senador Flexa, já imaginou V. Exª, chefe de um departamento qualquer, tendo no quarto ao lado de seu gabinete um sujeito ameaçando se suicidar dentro de sua casa e você ser responsabilizado pelo ato do suicida, com repercussão internacional? É compreensível o ato do Embaixador que, tomado pelo senso de responsabilidade, a única saída, a opção que lhe foi dada, já que do Governo do Brasil, a quem ele comunicava, permanentemente, a angústia, a amargura, a delicadeza do problema e não vinha a solução, até porque, parece-me, em questões sul-americanas, existem duas atuações: uma é a de Marco Aurélio Garcia; a outra, é a do Ministro Chanceler do Itamaraty. E os dois parece que não se entendem e, do desentendimento, nada acontece. Resultado: querem agora crucificar o Embaixador Saboia. É muito fácil crucificar o Embaixador Saboia, que teve uma única opção: a de pegar um carro e retirar o Senador usando de uma prerrogativa que é reconhecida no mundo inteiro: o asilo político. É uma coisa fundamental desde a Idade Média! Ele usou do sentimento de humanidade, porque, já que não resolviam o problema, ele - para não se sentir responsável pelo tiro que poderia ouvir em sua antessala - tomou uma atitude. “Ah, quebrou a hierarquia!” Quebrou hierarquia, mas foi a opção que ele teve, não tinha outra! Quatrocentos e cinquenta dias, um após outro... E agora querem crucificá-lo! E agora a Presidente da República diz: “Ah, colocaram o Embaixador e o Senador em insegurança.” Pelo amor de Deus, o que é isso? Isso é querer desviar o foco. Em insegurança estava ele quando o Senador ameaçava se suicidar! Isso sim é insegurança... Insegurança, caminhar até a fronteira para, após a fronteira, vir para o Brasil? Usar esse argumento para se justificar ao Brasil? Vir falar em DOI-Codi? Tenha paciência... Não é! Isso é desvio de foco. Acho que foi João Santana quem andou conversando com a Presidente para que ela se saísse com essa. Eu acho que é uma crise de responsabilidade de Governo. Os pãezinhos foram para o forno e foram ficando, até que o Embaixador disse: “Esse forno vai pegar fogo comigo. Comigo não vai pegar, eu vou esvaziar esse forno.” E tomou a atitude, tomou a iniciativa.

            Agora, está o Embaixador execrado. É o homem que quebrou a hierarquia. Não tem mérito, não tem nada. Não, tem mérito, sim. Ele vai ter a oportunidade de se explicar. Ele vai ter a oportunidade de ter a devida defesa, que ele tem, de justificar o seu ato. E esse assunto vai se desdobrar e ter muita coisa para ser explicada.

            Vamos dar a César o que é de César. E vamos culpar quem tem culpa real. Estamos diante de uma crise de comportamento de governo. O Governo que não soube decidir, por questões ideológicas, por uma ideologia que expôs o Brasil, seguidas vezes, no contexto internacional das nações, principalmente no contexto sul-americano das nações. Não é a primeira. E se não reagirmos, não vai ser a última.

            E o Embaixador Saboia, na minha opinião, que pode, como qualquer ser humano, cometer acertos e equívocos, pela minha posição, não vai ser execrado perante a opinião pública do Brasil.

            Muito obrigado, Presidente.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 28/08/2013 - Página 57338