Discurso durante a 146ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Considerações a respeito da infraestrutura de transportes no Estado de Rondônia, especialmente o hidroviário.

Autor
Acir Gurgacz (PDT - Partido Democrático Trabalhista/RO)
Nome completo: Acir Marcos Gurgacz
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
POLITICA DE TRANSPORTES.:
  • Considerações a respeito da infraestrutura de transportes no Estado de Rondônia, especialmente o hidroviário.
Publicação
Publicação no DSF de 04/09/2013 - Página 59840
Assunto
Outros > POLITICA DE TRANSPORTES.
Indexação
  • REGISTRO, REUNIÃO, COMISSÃO DE AGRICULTURA, MUNICIPIO, GUAJARA-MIRIM (RO), COBRANÇA, LIBERAÇÃO, RECURSOS, CONSTRUÇÃO, PORTO, CRITICA, PRECARIEDADE, SITUAÇÃO, SISTEMA DE TRANSPORTES, ESTADO DE RONDONIA (RO), DIFICULDADE, EXPORTAÇÃO, PRODUTO AGRICOLA, NECESSIDADE, INVESTIMENTO, INFRAESTRUTURA, TRANSPORTE, ESPECIFICAÇÃO, HIDROVIA, ZONA PORTUARIA, PROPOSTA, IMPLANTAÇÃO, ZONA DE PROCESSAMENTO DE EXPORTAÇÃO (ZPE).

            O SR. ACIR GURGACZ (Bloco Apoio Governo/PDT - RO. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, nossos amigos que nos acompanham pela TV Senado e pela Rádio Senado, trago à tribuna, nesta tarde, um assunto que entendo da maior importância para nós de Rondônia e para toda a população brasileira.

            No último final de semana, na sexta-feira, fizemos uma reunião da Comissão de Agricultura em Guajará-Mirim. Eu e o Senador Raupp estivemos lá ouvindo a sociedade e visitando a nossa cidade de Guajará-Mirim. Visitamos a chamada área portuária de Guajará-Mirim.

            Antes de seguir nessa linha, eu quero saudar os servidores da Receita Federal e do Ministério da Agricultura, que, no meu entendimento, são uns heróis por trabalharem naquelas condições, onde se faz parte das exportações brasileiras, no Porto de Guajará-Mirim.

            Por lá, são exportados ovos, carne, manteiga, refrigerante, cerveja, farinha. É um porto importante para o nosso Estado de Rondônia, um porto que não é de hoje, um porto que está lá há mais de 100 anos.

            Eu não sei se é possível, mas faço questão que a TV Senado mostre algumas fotografias que nós tiramos do que é o Porto de Guajará-Mirim. Aqui dá para ver claramente que são manteigas que estão a céu aberto, literalmente em cima da terra, para serem vistoriadas pelo Ministério da Agricultura brasileiro. A céu aberto. Assim como os caminhões. Tanto eu como o Senador Valdir Raupp ficamos estarrecidos por ver essa situação, os ovos que estão lá esperando, cervejas... O desembarque é feito por tábuas. Escorregam e embarcam a mercadoria nas embarcações, nas canoas, e atravessam o rio Mamoré, adentrando a Bolívia.

            Essas são as condições de um país que quer aumentar a exportação, principalmente a de agregados, que é exatamente o que estamos vendo, é disso que estamos falando. Estamos exportando agregados para outros países, principalmente, nesse caso, para o Estado vizinho da Bolívia. Os produtos são colocados em embarcações dessa natureza, a céu aberto, sob chuva e sol, exatamente como estão aqui, em cima da terra.

            Esse é o nosso porto de Guajará-Mirim, por onde estamos exportando a produção brasileira, a produção do nosso Estado de Rondônia, Senador Eduardo Amorim. Não dá para não ficar indignado com a situação que vimos em Guajará-Mirim: o Brasil, que quer ser a quinta ou a sexta maior economia do mundo, estar exportando dessa forma. Um porto que não é novo, que tem mais de 100 anos. Por lá se exportava a borracha, o látex para fazer a borracha. Várias extrações do extrativismo, e nós temos essa situação.

            Olha, Rondônia cresce por força do povo de Rondônia, realmente, principalmente essa região chamada Pérola do Mamoré, uma das mais antigas do nosso Estado de Rondônia. O comércio internacional dessa região de fronteira existe há mais de um século. Iniciou com a exportação do látex, durante o ciclo da Borracha, e hoje é mantido por micro e pequenos empresários e algumas distribuidoras que usufruem dos benefícios fiscais da área de livre comércio de Guajará-Mirim. Esse comércio responde por quase que a totalidade do abastecimento do Vale do Mamoré, no Brasil, e da região do Beni, na Bolívia, onde vivem mais de 300 mil pessoas. Essas famílias praticamente se abastecem da produção do nosso Estado de Rondônia - produção de carne, produção leiteira, derivados do leite. Como vimos aqui, essas pessoas se alimentam da produção do nosso Estado de Rondônia. E a exportação é feita nessas condições. Imaginem se nós dermos uma estrutura para essa população produzir e realmente comercializar com o país vizinho.

            Guajará-Mirim tem 93% do seu território em áreas de florestas, totalmente intocadas, áreas indígenas. Somente em 7%, incluindo o Município, a cidade de Guajará-Mirim, a cidade e os distritos, podemos produzir agricultura, criar o nosso rebanho, produzir para exportarmos para o país vizinho. Imaginem se nós dermos melhores condições para que essas pessoas possam exportar, possam fazer o seu trabalho com dignidade.

            Tanto eu como o Senador Raupp ficamos indignados ao ver a situação daquelas pessoas que estavam lá trabalhando, sob um sol forte, que é o sol da Amazônia. Quando não é o sol, é a chuva. E os produtos ficam na terra, em cima da terra, literalmente, na terra ou no barro.

            É assim a exportação de um país que quer ser um dos maiores produtores de alimentos do mundo. E nós temos que vir aqui falar sobre isso, porque não é uma coisa de hoje, Senador Presidente Eduardo Amorim. Nós estamos falando de 100 anos. Passaram-se vários governos federais, vários governos estaduais, e nada fizeram, nada mesmo. Temos apenas um rio e a terra para colocar nossos produtos.

            A região tem potencial para se tornar um novo corredor de exportação e ajudar a economia dos Municípios de Guajará-Mirim e Nova Mamoré, de toda essa região. Nós tanto queremos um novo corredor de exportação que temos a proposta de criar uma Zona de Processamento de Exportação (ZPE) no Município, a exemplo do que já foi criado na cidade de Porto Velho.

            Porto Velho também atravessa momentos difíceis, pois as obras das usinas já começam a demitir pessoas e a população começa a sentir a diminuição da força da economia na cidade de Porto Velho, a nossa capital. A alternativa para a nossa capital e também para a ZPE é o transporte modal. A construção, portanto, de um terminal portuário em Guajará-Mirim é uma reivindicação antiga dos produtores e comerciantes da região do Vale do Mamoré.

            Na audiência pública da Comissão de Agricultura do Senado, realizada na última sexta-feira, em Guajará-Mirim, assumimos o compromisso com a comunidade local de cobrar a liberação urgente dos recursos previstos para a construção desse porto, que é da maior importância para Guajará-Mirim.

            A dotação orçamentária de R$800 mil, prevista para a construção do terminal portuário de Guajará-Mirim foi assegurada por meio de decreto da Presidência da República, publicado em 26 de julho de 2013, que transferiu dotações orçamentárias da Secretaria de Portos da Presidência para o Ministério dos Transportes. Foram destinados R$88 milhões para manutenção, ampliação e operação dos terminais hidroviários na Região Amazônica. Rondônia deverá receber, no total, cerca de R$30 milhões para investimentos em portos e hidrovias.

            É importante destacar que a construção do terminal portuário de Guajará-Mirim faz parte do projeto de modernização portuária de Rondônia, que está sendo coordenado pela Sociedade de Portos e Hidrovias do nosso Estado, em parceria com a Secretaria de Estado de Desenvolvimento Econômico e Social (Sedes), que prevê a ampliação e modernização do Porto Organizado de Porto Velho e a construção de terminais portuários nas cidades rondonienses de Guajará-Mirim, Costa Marques, Pimenteiras, Cabixi e Machadinho D’oeste.

            No porto da capital serão investidos R$5,3 milhões na aquisição de equipamentos, reforma dos espaços portuários e execução de novas obras e serviços. A perspectiva é estruturar a parte física e operacional do atual Porto Organizado da capital, que beneficiará a logística de transporte e viabilizará a construção do novo terminal portuário, ambos com recursos federais. Além disso, há projeto de construção de um terminal privado para o escoamento da soja, que é produzida tanto no Estado de Rondônia como no Estado vizinho, o Mato Grosso.

            Para tanto, é necessário que o Ministério dos Transportes agilize a liberação de recursos para a elaboração de projetos de engenharia para a construção do novo porto da capital e dos cinco terminais portuários de Rondônia.

            Portanto, fica aqui o meu apelo ao Ministro César Borges e à diretoria colegiada da Agência Nacional de Transportes Aquaviários para que auxiliem o Estado de Rondônia na finalização e aprovação dos projetos e na liberação dos recursos para a execução dessas obras, que, para nós em Rondônia, são da maior importância.

            Esses investimentos nos terminais portuários de Rondônia, bem como a sinalização e a consolidação das hidrovias amazônicas, darão nova configuração às exportações do agronegócio brasileiro, deslocando as rotas de escoamento para o Arco Norte, rota de transporte multimodal integrada pelas Rodovias BR-364, BR-163 e MT-235, bem como pela hidrovia do Madeira. Trata-se de uma das mais promissoras rotas de escoamento do agronegócio brasileiro. Essa é a solução para o nosso Estado, Rondônia, e principalmente para nossa capital, Porto Velho.

            Só para se ter uma ideia do potencial dessa rota, de acordo com os dados coletados pelo Grupo ESALQ-LOG, da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz, o frete do transporte rodoviário da soja a partir de Sorriso (MT), para o terminal de transbordo ferroviário de Alto Araguaia (MT), no mês de setembro de 2012, custava aproximadamente R$108,00 a tonelada, enquanto pela rota de Sapezal (MT), para o terminal intermodal de Porto Velho, no mesmo período, custava, em média, R$89,00 por tonelada de soja em grão, o que representa uma diferença, uma economia de R$19,00 por tonelada.

            Os valores dos fretes rodoviários com destino à Região Norte eram 17,6% mais baratos do que os fretes pagos para os portos da Região Sudeste e da Região Sul, mostrando o quanto a utilização dessa alternativa de escoamento é vantajosa e rentável para o produtor, sendo que, de acordo com o estudo da Associação dos Produtores de Soja e Milho (Aprosoja), essa redução pode chegar a 74% nos gastos com fretes, se levados a Porto Velho, incrementando e melhorando a economia do nosso Estado de Rondônia e dando um reforço aos produtores do norte do Mato Grosso e, principalmente, aos produtores do Estado de Rondônia, que começam a produzir cada vez mais, tanto o milho como a soja, no Estado de Rondônia.

            Portanto, para o ganho de competitividade da soja brasileira no mercado internacional é necessário que os gargalos logísticos e a ineficiência da infraestrutura dos modais dos portos sejam solucionados, para que o Brasil alavanque de maneira crescente e sólida no setor. Para isso, a alternativa de escoamento do grão para os corredores de exportação da Região Norte deve ser considerada como uma solução logística para diminuir o custo do frete praticado, além de estar no enfoque do Governo Federal com uma maior necessidade de projetos de infraestrutura para o nosso País, em especial a Região Amazônica. Que a Região Amazônica não seja esquecida, não esteja lá apenas como uma preservação, uma produção de oxigênio para o mundo. Nós podemos ajudar a economia brasileira, tanto produzindo como também servindo para o transporte dessa produção que não é produzida apenas no Estado de Rondônia, apenas na Amazônia.

            Os investimentos nos portos e hidrovias são importantes, mas devem ocorrer de forma coordenada e simultânea aos investimentos nos demais modais de transporte, como o rodoviário, o aéreo e, principalmente, o ferroviário, como nós já debatemos e falamos por várias vezes aqui. Nós precisamos ter a ferrovia chegando a Porto Velho ou iniciando em Porto Velho, ligando a malha ferroviária brasileira e interligando com a hidrovia do Madeira-Mamoré.

            É evidente que temos que melhorar - e muito - a infraestrutura da Região, principalmente com a restauração da BR-425; a da BR-364 já começou, mas a da BR-425 ainda não começou e ainda não foi definida a questão da licitação. Nós temos um prazo até o dia 12 de setembro, que foi dado pelo DNIT, para resolver a questão da BR-425. Esperamos que isso realmente aconteça, pois a população de Nova Mamoré e a de Guajará-Mirim não suportam mais aquela BR da maneira que está. Não há mais a ferrovia que havia, a Madeira-Mamoré, nem a rodovia, e o aeroporto de Guajará-Mirim está fechado. Não está pior do que o porto porque um dia foi asfaltada a pista de Guarajá-Mirim.

            No entanto, a construção, a ampliação e a modernização dos terminais portuários e das hidrovias de Rondônia e da Amazônia serão de fundamental importância para que possamos dinamizar a economia regional e criar caminhos alternativos para o escoamento da nossa produção agrícola e também para a exportação brasileira.

            Nesse sentido, quero destacar, mais uma vez, a importância dos investimentos que estão sendo feitos na Região Norte do País, em especial no nosso Estado de Rondônia. São extremamente necessários esses investimentos e o esforço do Governo Federal no sentido de integrar os modais de transportes para que eles funcionem de forma complementar. E principalmente de criar alternativas para o desenvolvimento da Amazônia, em especial do nosso Estado de Rondônia.

            Rondônia produz, cresce acima da média brasileira, e nós precisamos dessas obras, que são importantes para nós, consolidando principalmente a economia da nossa capital, Porto Velho, como um polo de exportação, através da ZPE, gerando emprego e renda para a nossa gente, que perde hoje o emprego em função da diminuição do ritmo das obras das usinas que estão em fase final.

            E a nossa capital de Porto Velho precisa de uma alternativa para gerar emprego e renda para a nossa população. E a alternativa é exatamente esta: nós implementarmos as ZPEs, para que Porto Velho possa se tornar uma Zona de Processamento e Exportação cada vez maior, dando vazão à grande produção do Estado de Rondônia e do norte do Mato Grosso.

            Essa é a saída para o nosso Estado de Rondônia e é a saída para a nossa capital, Porto Velho, que sofre e começa a sofrer o desaquecimento da sua economia e também começa a gerar desemprego.

            Essas eram as minhas considerações, colocando, mais uma vez, a importância de nós realizarmos a obra do Porto de Guajará-Mirim. Essa é uma obra importantíssima para a Região Norte, para o Estado de Rondônia e para o nosso País.

            Muito obrigado, Sr. Presidente.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 04/09/2013 - Página 59840