Discurso durante a 178ª Sessão Não Deliberativa, no Senado Federal

Análise sobre a disputa eleitoral para a Presidência da República; e outro assunto.

Autor
Jarbas Vasconcelos (PMDB - Movimento Democrático Brasileiro/PE)
Nome completo: Jarbas de Andrade Vasconcelos
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
PRESIDENTE DA REPUBLICA, ATUAÇÃO, ELEIÇÕES. DIVIDA PUBLICA.:
  • Análise sobre a disputa eleitoral para a Presidência da República; e outro assunto.
Aparteantes
Ana Amélia, Eduardo Suplicy.
Publicação
Publicação no DSF de 15/10/2013 - Página 71639
Assunto
Outros > PRESIDENTE DA REPUBLICA, ATUAÇÃO, ELEIÇÕES. DIVIDA PUBLICA.
Indexação
  • CRITICA, DILMA ROUSSEFF, PRESIDENTE DA REPUBLICA, RECEBIMENTO, RESIDENCIA, PALACIO, REUNIÃO, GRUPO, ENTREVISTA, TELEVISÃO, DISCUSSÃO, ASSUNTO, CAMPANHA ELEITORAL, APOIO, ORADOR, UNIÃO, CANDIDATURA, MARINA SILVA, EX SENADOR, EDUARDO CAMPOS, GOVERNADOR, ESTADO DE PERNAMBUCO (PE), PARTIDO POLITICO, PARTIDO SOCIALISTA BRASILEIRO (PSB), ENFASE, ELEIÇÕES.
  • CRITICA, GOVERNO FEDERAL, UTILIZAÇÃO, RENEGOCIAÇÃO, DIVIDA, ESTADOS, OBJETIVO, APOIO, CAMPANHA ELEITORAL, DESRESPEITO, LEI DE RESPONSABILIDADE FISCAL.

            O SR. JARBAS VASCONCELOS (Bloco Maioria/PMDB - PE. Pronuncia o seguinte discurso. Com revisão do orador.) - Meu caro Presidente Paulo Paim, Srªs e Srs. Senadores, acompanhei com muita atenção, mesmo estando fora do País, o desenrolar dos acontecimentos que levaram à união do Partido Socialista Brasileiro com a Rede Sustentabilidade; o entendimento político firmado entre o Governador do meu Estado, Eduardo Campos, com a ex-Senadora pelo Acre e ex-Ministra do Meio Ambiente, Marina Silva.

            Esse, Sr. Presidente, é um daqueles episódios antológicos da História, com H maiúsculo, do tipo que será registrado para sempre, independentemente dos resultados que venha a obter nas eleições presidenciais do próximo ano.

            Como bem registrou a jornalista Dora Kramer, na sua coluna no jornal O Estado de S. Paulo -- abre aspas --: “Inesperado, surpreendente, competente, pragmático no melhor sentido da palavra e feito em termos decentes” -- fecha aspas.

            Creio que essa união entre Marina Silva e Eduardo Campos vem para quebrar essa perniciosa tentativa de dividir os brasileiros entre o bem e o mal, sendo benditos aqueles que acompanham o PT e malditos todos aqueles que enxergam as coisas de maneira diferente dos petistas, como é o meu caso. Essa falsa polarização, vale bem ressaltar, foi alimentada pelo próprio PT, que pretendeu vender a imagem de que o Brasil passou a existir apenas a partir de 1º de janeiro de 2003.

            O entendimento entre o PSB, a Rede Sustentabilidade e pessoas de diversos outros partidos pretende superar essa etapa da História brasileira. E nele estou inserido, estou engajado.

            Precisamos deixar clara uma coisa: o PT não é o exclusivo depositário das coisas boas que ocorreram no nosso País nos últimos 20 anos. É verdade que o ex-Presidente Lula deu sua contribuição, especialmente por não ter colocado em prática todas as ideias extravagantes que o PT pregou como oposição, nos palanques e nos programas de governo, antes de chegar à Presidência da República.

            Lula manteve os pressupostos implantados com o Plano Real e ampliou a rede de combate à miséria e à pobreza extrema, que, apesar de reduzida, ainda prevalece, em especial nas Regiões Norte e Nordeste do País.

            Não podemos deixar de registrar, Sr. Presidente, que, infelizmente, existe um contraponto a isso tudo, que é o aparelhamento do Estado brasileiro de uma forma irresponsável e temerária, com instituições e organismos, como o BNDES, por exemplo, servindo aos interesses de empresários simpáticos ou aderentes ao projeto de poder do PT.

            Foi importante, muito importante que a própria ex-Senadora Marina tenha tomado a iniciativa, na entrevista coletiva do último dia 5, de reconhecer que tanto o PSDB do ex-Presidente Fernando Henrique Cardoso quanto o PT do ex-Presidente Lula deram suas contribuições para a posição de destaque que o Brasil ocupa hoje no cenário político e econômico mundial.

            O certo, na minha opinião, é que sem a estabilidade econômica construída nos governos Itamar Franco e Fernando Henrique Cardoso, com a implementação do Plano Real e de todos os seus desdobramentos, o Brasil continuaria naufragando nas outras áreas. Uma moeda estável é pressuposto básico para qualquer nação.

            Eu não conheço nenhum país que se possa chamar de país se ele não tem moeda. O Brasil, antes do Plano Real, era um país sem moeda.

            É preocupante, Sr. Presidente, quando vemos o governo bancar uma nova renegociação da dívida dos Estados, quando sabemos que isso está sendo feito às vésperas de uma eleição.

            E não foi à toa, Presidente Paulo Paim, que o O Estado de S. Paulo, em editorial, condenou, de forma severa e contundente, essa renegociação, denominando-a inclusive de renegociação eleitoreira.

            Vou ler apenas três parágrafos do editorial do Estadão.

Está muito longe de ser mera coincidência o fato de o governo federal ter acertado com o Congresso uma fórmula para aliviar a dívida de Estados e de municípios no momento em que o prefeito paulistano, Fernando Haddad [do PT], precisa urgentemente de recursos financeiros. Só com mais dinheiro Haddad, que é do mesmo partido da presidente Dilma Rousseff, poderá mostrar alguma realização no próximo ano -- quando, não custa recordar, haverá eleição de presidente da República e de governadores.

            Imaginem a que ponto chegou o País: fui governador de Estado duas vezes, em Pernambuco, e, para as pessoas que, naquela época, logo após a primeira negociação da dívida, procuravam-me para vir a Brasília fazer uma renegociação eu dizia, pura e simplesmente: “Eu tenho vergonha de falar com o Ministro da Fazenda ou com o Presidente da República, seja ele quem for, para renegociar uma dívida que foi renegociada por 25, 30 anos, e a juros bem inferiores que os juros de mercado”. Eu me negava, Senadora Ana Amélia, terminantemente, a participar de reuniões de governadores para uma renegociação naquela época.

            E agora, o que se está fazendo é arrebentando a Lei de Responsabilidade Fiscal e comprometendo o futuro fiscal do País, que está amplamente debilitado nesta área, profundamente debilitado. Basta ver o noticiário da semana que se encerrou para ver analistas, colunistas, pessoas especializadas em economia chamando a atenção para os desajustes de todos os pressupostos da nossa economia.

            Voltando ao editorial de O Estado de S. Paulo: “Resta saber como essas mudanças poderão ser feitas sem violentar a Lei de Responsabilidade Fiscal (LRF). Em vigor desde 2000, a LRF foi e tem sido essencial para assegurar gestão mais responsável do dinheiro do contribuinte”.

            E conclui o editorial: “Mudar esse dispositivo da LRF implicará tirar-lhe um de seus elementos essenciais. Seria um gigantesco retrocesso institucional, que a Nação não perdoaria”.

            Eu ocupei, faz anos, esta tribuna para denunciar, naquela época, um projeto que tramitava na Comissão de Constituição e Justiça, que, se aprovado, comprometeria profundamente a Lei de Responsabilidade Fiscal. A pretexto de “flexibilizar” -- entre aspas -- queriam modificar a Lei de Responsabilidade Fiscal para beneficiar maus gestores, para beneficiar aqueles que não conseguiram obedecer aos pressupostos da Lei de Responsabilidade Fiscal e queriam uma renegociação.

            Por isso, Sr. Presidente, é que volto a dizer que é preocupante quando vemos o Governo bancar uma nova renegociação das dívidas dos Estados, quando sabemos que isso está sendo feito às vésperas de uma eleição. Precisamos é de uma reforma tributária, que redistribua os recursos públicos hoje concentrados nas mãos da União.

            Srªs e Srs. Senadores, guarda um simbolismo muito grande o fato de Eduardo e Marina terem sido ministros do Governo Lula. Pois eles não foram auxiliares apagados, sem expressão, como ocorre hoje com a maioria dos 39 ocupantes da Esplanada dos Ministérios -- alguns que, se forem vistos nas ruas ou aqui neste plenário, não serão sequer identificados. Marina e Eduardo tiveram gestões elogiadas, destacadas e reconhecidas, em duas áreas estratégicas para o futuro do Brasil que almejamos: Meio Ambiente e Ciência e Tecnologia.

            Eduardo e Marina falam e falarão com credibilidade sobre o que avançou e deve ser mantido e sobre o que precisa urgentemente ser mudado no planejamento governamental. Como ex-colegas da Presidente Dilma Rousseff, eles conhecem suas fragilidades, o seu jeito prepotente de ser -- apesar de todo o esforço do marketing governamental para mudar esse perfil que, aqui, em Brasília, todos conhecem.

            Esse cenário acendeu a luz de alerta entre os palacianos, que, apesar das dificuldades dos últimos meses, parece que não perderam a prepotência e a arrogância, demonstradas com requintes pelo marqueteiro João Santana, na agora tristemente célebre entrevista à revista Época. Santana não apenas comparou Dilma Rousseff a uma deusa grega como classificou seus adversários de “anões”. Politicamente incorreto ao extremo, para dizer o mínimo da coleção de baboseiras jogadas ao léu pelo quase onipresente Senhor João Santana.

            Com recursos públicos, João Santana lidera uma campanha eleitoral sem disfarces. O marqueteiro petista escolhe da roupa vermelha da Presidente ao discurso que ela faz nas Nações Unidas. Ninguém sabe onde começa a Chefe de Estado e termina a candidata à reeleição.

            Sr. Presidente, antes de continuar o meu discurso, gostaria de ler o que escreveu o jornalista Josias de Souza em seu blog no dia 11 deste mês, sete dias após Dilma condecer entrevista ao apresentar Ratinho no Alvorada, o título é: “Durantes 5 horas, Alvorada virou comitê eleitoral”. Imagina isso na época do PT como oposição, um presidente da República ocupar o Alvorada, por dez minutos, para uma reunião eleitoral.

Em pleno horário de expediente, ela [Dilma Rousseff] converteu o Palácio da Alvorada em comitê eleitoral durante cinco horas.

Dilma recebeu o padrinho Lula, o marqueteiro João Santana, o presidente do PT Rui Falcão, o ministro Aloizio Mercadante e o ex-ministro Franklin Martins. Discutiram detalhes da estratégia a ser adotada pela gigante do olimpo [a deusa grega, não é?] no embate contra os anões.

Você, caro contribuinte, não foi avisado. Mas pagou a conta do encontro. Além de financiar o local, o conforto, a água mineral, o suco, o refrigerante, o cafezinho, o lanche, o garçom e o serviço de copa, você pagou os salários de Dilma e Mercadante para eles suspenderem todos os negócios da Nação e dedicarem atenção total [especial] às mumunhas reeleitorais.

            Isso, Sr. Presidente, Srªs Senadoras, Srs. Senadores, em qualquer País sério seria considerado uma verdadeira indecência, a Presidente da República se reunir com o ex-Presidente da República e os marqueteiros da campanha eleitoral no Palácio da Alvorada.

            A História, Sr. Presidente, é marcada por ciclos. E este ciclo de poder do PT está chegando ao fim. O Brasil não acabará por causa disso.

            É chegada a hora de nosso País se permitir um salto qualitativo, para que possamos construir uma nova lógica governamental, sob outros parâmetros políticos e de gestão pública. Tudo na natureza, Senadora Ana Amélia, é assim: nasce, cresce, vive e, um dia, morre, abrindo caminho para a renovação. É o ciclo da vida.

            Eu vislumbro, Senador Dornelles, na união entre Eduardo Campos e Marina Silva o melhor caminho para esse novo jeito de fazer as coisas funcionarem. O desprendimento demonstrado por essas duas lideranças, no último dia 5, surpreendeu a todos. Tenho certeza de que eles reúnem as condições para continuar surpreendendo, sempre de maneira positiva.

            No entanto, Srªs e Srs. Senadores, não deixa de ser irônico que petistas e alguns dos seus aliados venham a público questionar Marina e Eduardo por motivos opostos: a ex-Senadora por pretensamente não buscar alianças, por ser uma radical, e o Governador por filiar quadros ao PSB nos Estados onde o seu partido é frágil.

            O choque com essa união foi tão grande que perderam até o senso do ridículo com a diversidade de sandices que os aliados do Governo espalharam pela imprensa e nas redes sociais nos últimos dias.

            Tragicamente, neoaliados do PT acusam Marina das mesmíssimas coisas que diziam de Lula no passado.

            Eu ouço V. Exª, com muita atenção, Senadora Ana Amélia.

            A Srª Ana Amélia (Bloco Maioria/PP - RS) - Caro Senador Jarbas Vasconcelos, eu queria cumprimentá-lo pela abordagem deste tema tão relevante e renovar a minha crença de que tudo isso está acontecendo muito pela antecipação indevida e inadequada do processo sucessório de 2014. Temos muitas coisas a fazer neste País e estamos gastando energias num debate que é relevante, mas não é o essencial e momentoso, dadas as necessidades que temos. Penso também que o fato novo na política contemporânea foi exatamente como V. Exª bem qualificou: a surpreendente e benfazeja associação de dois líderes políticos. Podemos questioná-los em algumas questões, mas não podemos deixar de reconhecer a relevância que têm Marina Silva e Eduardo Campos no cenário político brasileiro. Talvez isso tenha perturbado a tranquilidade do processo sucessório e incomodado muita gente, mas é exatamente para o que vieram os dois -- Marina e Eduardo: incomodar; mas incomodar para o bem, para o bem do País, porque ampliamos o debate e não ficamos num mantra igual de que tudo está muito bem, de que está tudo ótimo e de que tudo vai bem, obrigada. Penso que eles darão uma excelente contribuição ao debate geral sobre o processo do futuro do nosso País. E é disto que nós estamos precisando: ter visão crítica, mas não cometer isso que V. Exª chama até de infantilidades, na agressão indevida, injusta e inadequada para quem se diz político sério, na desvalorização ou no desmerecimento dessa associação política, que é muito importante, porque, como diz V. Exª, surpreendeu todos que fazem política em nosso País. Então, cumprimentos a V. Exª pela abordagem com tanta propriedade sobre este tema, Senador Jarbas Vasconcelos.

            O SR. JARBAS VASCONCELOS (Bloco Maioria/PMDB - PE) - Isso me surpreendeu, Senadora Ana Amélia de forma altamente positiva, como eu disse e V. Exª reiterou em seu aparte.

            Eu conhecia a sua opinião, externada nos meios de comunicação e pessoalmente, avaliando o fato como relevante e positivo.

            Concordo inteiramente com V. Exª quando diz da antecipação indesejada do processo eleitoral no País, que necessita de quase tudo, que precisa de infraestrutura para dar um salto à frente, um salto qualitativo, e se perde nas questiúnculas eleitorais. Um país não pode fazer o que o Brasil está fazendo, que, desde fevereiro, pós-carnaval, tem como discussão número um a questão eleitoral. A Presidente tem, vestida de vermelho, a toda hora e a todo instante, percorrido este País, de forma lamentável, buscando uma reeleição que vai se dar exatamente daqui a um ano.

            Hoje, Sr. Presidente, Srªs Senadoras, Srs. Senadores -- já o ouço, Senador Suplicy, sempre com a costumeira atenção que dedico a V. Exª --, o PT fecha alianças como quem vende indulgências: quem adere ao Governo se transforma instantaneamente em progressista, engajado às causas nobres. É transformado num esquerdista benemérito. Quem, pelo contrário, ousa discordar é apontado como reacionário, direitista, conservador e outros adjetivos menos nobres. Chega-se ao absurdo de os concorrentes à Presidência da República serem comparados a “anões”, numa tentativa tacanha de desqualificar os adversários.

            Essa lógica retrógrada e fascista precisa ser superada.

            Por sua história de vida, por sua coragem e determinação em defender o que acredita, a ex-Ministra Marina Silva precisa ser respeitada. Essa união com Eduardo Campos representa um alento para que o Brasil continue tendo a esperança de que vamos superar nossas dificuldades crônicas; de que vamos transformar este País numa Nação desenvolvida, na qual as oportunidades de progresso sejam asseguradas a todos e não apenas a um pequeno segmento da sociedade.

            E isso só se consegue, Sr. Presidente Paulo Paim, Srªs e Srs. Senadores, com a prestação de serviços públicos de qualidade, na educação, na saúde, na infraestrutura básica, de água e saneamento, na infraestrutura econômica, com energia, portos, aeroportos, ferrovias, hidrovias. Tudo isso sob a égide do desenvolvimento sustentável, baseado na ética, compromissos esses assumidos publicamente por Eduardo e Marina.

            O modelo implantado pelo PT esgotou. As manifestações que tomaram as ruas do Brasil, no último mês de junho, estão aí para comprovar esse esgotamento.

            A economia brasileira dá sinais, cada vez mais evidentes, de que está patinando e não tem condições de decolar como apregoa a equipe econômica do Governo Dilma.

(Soa a campainha.)

            O SR. JARBAS VASCONCELOS (Bloco Maioria/PMDB - PE) - As previsões para 2014 colocam o desempenho da nossa economia no último lugar entre os chamados países emergentes. A estimativa de crescimento para o próximo ano caiu de 3,2% para 2,5%.

            Ouço V. Exª Senador Eduardo Suplicy.

            O Sr. Eduardo Suplicy (Bloco Apoio Governo/PT - SP) - Caro Senador Jarbas Vasconcelos, vossa palavra é sempre de muito peso. V. Exª, ao formular críticas aqui, faz com que todos nós do Partido dos Trabalhadores, a própria Presidente Dilma, o Presidente Lula, reflitamos a respeito. Mas, permita-me ponderar sobre alguns dos pontos, não todos, porque V. Exª falou de tantos assuntos. Primeiro, acho importante ter registrado que a ex-Senadora Marina Silva e o Governador Eduardo Campos representam agora uma força importante que vai, acredito, enriquecer o processo sucessório brasileiro, a democracia, e eles vêm para colocar proposições, ideias, de uma maneira que considero saudável, inclusive para a Presidenta Dilma Rousseff, que -- aqui assinalo -- considero que tem sido uma Presidente muito positiva, com muitos méritos e é minha intenção apoiá-la. V. Exª referiu-se àquilo que está sendo objeto do exame por parte da Câmara dos Deputados, o Projeto de Lei Complementar nº 238. Quero assinalar que, ainda hoje, o Ministro Guido Mantega, numa entrevista sobre esse tema ao jornal Valor Econômico, observa que a Lei de Responsabilidade Fiscal está sendo cumprida rigorosamente, que a trajetória da dívida dos Estados e Municípios continuará cadente, mesmo com a retroatividade da selic para a data de assinatura dos contratos. Apenas se está corrigindo uma distorção do indexador que acabou provocando não apenas para a prefeitura municipal de São Paulo, mas para governos como, por exemplo, do Estado de Alagoas, que é governado por um governador do PSDB, como do Rio Grande do Sul -- esse do PT --, e diversos Estados e Municípios suprapartidariamente poderão ter o benefício desta que foi uma distorção gerada a partir da renegociação havida com as dívidas dos Estados e Municípios e pelo uso do indexador. Está modificando-se apenas o uso do indexador, e de uma maneira que, segundo o Ministro -- e ele está pronto a vir aqui para esclarecer --, não ferirá a Lei de Responsabilidade Fiscal. V. Exª fez uma observação crítica ao fato de a Presidenta Dilma ter concedido, no Palácio do Planalto, uma entrevista ao Ratinho. Cabe salientar que o apresentador Ratinho, que tem extraordinária audiência no SBT, tem entrevistado todos os candidatos à Presidência e dado um espaço praticamente igual para todos e, portanto, certamente, a equidade de tratamento está sendo conferida a todos os presidenciáveis. Mas eu quero dizer que sempre ouço com muita atenção as suas palavras.

            O SR. JARBAS VASCONCELOS (Bloco Maioria/PMDB - PE) -Senador Eduardo Suplicy, agradeço a sua atenção e faço votos que o discurso do Ministro Mantega à imprensa -- como relata V. Exª -- seja verdade, de que a Lei de Responsabilidade Fiscal não será mutilada para atender Governos e Municípios gastadores.

            Quando falei em Ratinho, não fiz crítica ao apresentador ou a entrevista que foi dada a ele no Alvorada, porque é normal um candidato a Presidente da República receber em sua residência qualquer órgão de imprensa. O que condeno é Dilma receber no Alvorada Lula, o marqueteiro João Santana, o presidente do PT Rui Falcão, o ministro Aloizio Mercadante e o ex-ministro Franklin Martins para uma reunião político-eleitoral-partidária, como bem relatou Josias de Souza em seu blog. 

            O noticiário econômico nacional e internacional apresentou durante toda a última semana dados preocupantes sobre a saúde financeira do Brasil.

            A infraestrutura brasileira, apesar dos propagandísticos PACs, permanece como um quase intransponível obstáculo ao desenvolvimento do País e à busca por competitividade e eficiência, fundamentais para superar os desafios dessa economia altamente dinâmica do século XXI.

            E o que falar do legado que a Era do PT nos deixa na área política? Um quadro de completa e absoluta degradação, com uma absurda pulverização partidária.

            A propalada "governabilidade", entre aspas -- desculpa esfarrapada para acordos espúrios --, é mantida com a distribuição de cargos públicos, secretarias, ministérios, direção de empresas estatais e emendas parlamentares ao Orçamento da União. Escândalos e investigações contra integrantes do Governo passaram a fazer parte da paisagem brasileira.

            O PT não inventou esse tipo de prática, Sr. Presidente, Srªs Senadoras, Srs. Senadores. Ela, infelizmente, existe desde a época do Brasil Colônia. Mas é correto dizer que ocorreu uma piora evidente desses maus costumes nos últimos dez anos.

            Fez-se vista grossa para os malfeitos, passou-se a mão na cabeça de quem errou, de quem meteu a mão no dinheiro público em benefício próprio ou do seu partido político. Faxina? Só de fachada. Pura lorota.

            É nesse cenário que vi com bons olhos e apoiei, ainda no nascedouro, o entendimento entre o Governador Eduardo Campos e a ex-Senadora Marina Silva. Ambos representam a garantia e a segurança de que as conquistas obtidas nas últimas décadas não serão jogadas fora.

            Mas os dois representam principalmente a possibilidade de romper com este atual círculo vicioso, com essas tentativas espúrias de dividir o Brasil, que surgem a cada eleição presidencial. Tenho convicção de que, no próximo ano, será diferente.

            É cedo, Sr. Presidente, muito cedo para ter uma leitura precisa do que essa ousada união representará do ponto de vista meramente eleitoral, mas eles já são vitoriosos do ponto de vista político. Também é precipitado e inapropriado reduzir essa aliança a uma questão meramente aritmética, de quem ganha alguns pontos percentuais na intenção de voto dos eleitores brasileiros.

            Algum petista -- não me lembro quem -- disse que não existe "liga" na união entre Marina e Eduardo. Talvez ele se refira à "liga" que uniu o PT ao meu partido, o PMDB, uma cola adesiva baseada apenas em espaços de poder no amplo cardápio ministerial de 39 pastas. Foi por causa desse tipo de "cola", de "liga", que os brasileiros foram às ruas. Só não leu bem quem é analfabeto político.

            Não vão me impressionar, de forma alguma, as pesquisas de intenção de voto, neste momento. Tenho o maior respeito por elas. As pesquisas são instrumentos essenciais para avaliar o que pensa a opinião pública. No entanto, só para refrescar nossa memória, quero lembrar os números do Ibope sobre a eleição presidencial de 2010, divulgada em novembro do ano anterior, quer dizer, em 2009.

            Naquele levantamento, o então Governador José Serra aparecia com 38% das intenções de voto, contra 17% da Ministra Dilma e 6% da Senadora Marina Silva. O Vox Populi trouxe números semelhantes: 36% para Serra, 19% para Dilma e 3% para Marina.

            Os números falam por si. Todos aqui conhecem o resultado da eleição ganha por Dilma, em dois turnos.

            Pesquisa a um ano da eleição, como a que saiu no último final de semana, quer dizer muito pouco sobre o resultado que sairá das urnas. Qualquer pesquisa hoje vai trazer uma previsível vantagem da Presidente da República, que está em plena campanha eleitoral antecipada, ilegal e escancarada, inclusive utilizando recursos e a estrutura governamental -- sob a ampla e total passividade da Justiça Eleitoral. Mas ela jamais vai reconquistar aquela dianteira que existiu até os brasileiros irem às ruas, há quatro meses.

            Eduardo e Marina, Senador Paulo Paim -- que preside esta sessão --, não devem se intimidar por eventuais pesquisas desfavoráveis ou provocações do PT e dos seus aliados. Eles vão sofrer agressões, maledicências, insinuações e tentativas de separá-los. Mas Marina e Eduardo já enfrentaram e superaram toda a sorte de obstáculos que foram erguidos nos seus caminhos. O PSB ousou ao entregar os cargos que tinha no Governo Federal, e a Rede Sustentabilidade ousou ao se unir ao PSB para apresentar um novo projeto aos brasileiros.

            Não é um projeto acabado, fechado, dogmático, pois o nosso País é muito mais complexo do que muitos supõem.

            É por isso que vejo como fundamental que o Governador Eduardo Campos e a ex-Senadora Marina Silva busquem firmar entendimentos com outras lideranças, com pessoas de todo o País, de vários partidos políticos, que estão dispostos a construir um novo Brasil, que não vai simplesmente destruir o que está aí e foi conquistado a duras penas.

            Sr. Presidente, vamos construir um novo jeito de apontar soluções inovadoras e sustentáveis para os velhos problemas que permanecem nos assombrando.

            Quero concluir esta minha fala recorrendo ao pensamento de um brasileiro que dedicou sua vida a construir esse Brasil sonhado por Eduardo e Marina: o paraibano Celso Furtado. Abre aspas: "Não tenho dúvida de que sempre existirá espaço para o exercício da vontade política quando esta se manifesta com o vigor adequado" -- fecha aspas.

            Essa aliança entre Marina e Eduardo une isto tudo: compromisso, vontade política, vigor, coragem e determinação. São os ingredientes, Srªs Senadoras, Srs. Senadores, necessários para que a gente acredite em um novo futuro, um futuro que será sempre possível.

            Muito obrigado.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 15/10/2013 - Página 71639