Pela Liderança durante a 157ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Considerações sobre denúncias de corrupção e de desvio de dinheiro público no Ministério do Trabalho, chefiado por membro do PDT.

Autor
Cristovam Buarque (PDT - Partido Democrático Trabalhista/DF)
Nome completo: Cristovam Ricardo Cavalcanti Buarque
Casa
Senado Federal
Tipo
Pela Liderança
Resumo por assunto
ADMINISTRAÇÃO FEDERAL.:
  • Considerações sobre denúncias de corrupção e de desvio de dinheiro público no Ministério do Trabalho, chefiado por membro do PDT.
Aparteantes
Pedro Taques.
Publicação
Publicação no DSF de 17/09/2013 - Página 63630
Assunto
Outros > ADMINISTRAÇÃO FEDERAL.
Indexação
  • CONGRATULAÇÕES, POLICIA FEDERAL, REALIZAÇÃO, TRABALHO, INVESTIGAÇÃO, COMBATE, CORRUPÇÃO, ADMINISTRAÇÃO FEDERAL, PAIS, COBRANÇA, JUDICIARIO, PUNIÇÃO, ACUSADO, ATO ILICITO, ADMINISTRAÇÃO PUBLICA.

            O SR. CRISTOVAM BUARQUE (Bloco Apoio Governo/PDT - DF. Pela Liderança. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, Srs. Senadores, Srªs Senadoras, eu venho dar continuidade à fala que acaba de terminar do Senador Pedro Taques. Ele como eu somos filiados ao Partido Democrático Trabalhista, e ele como eu queremos manifestar aqui com clareza aquilo que o Deputado Reguffe falou na semana passada ao parabenizar a Polícia Federal pelo trabalho que vem fazendo no Brasil em diversos órgãos, inclusive parabenizar o trabalho dela no ministério que é dirigido por um companheiro nosso.

            Se não fosse a Polícia Federal levantando tudo o que acontece neste País, imaginem como estaria a corrupção, que mesmo assim adquiriu níveis inimagináveis até pouco tempo atrás.

            A verdade é que nós conseguimos, Senador Simon, corromper a corrupção, transformando-a em um espetáculo, porque se a Polícia Federal tem conseguido apurar a Justiça, Senador Aloysio, não tem conseguido punir. E por melhor que seja o trabalho da Polícia Federal para apurar, a corrupção não se resolve se não formos capazes de punir além da apuração.

            E aí eu temo que a decisão esperada do Supremo Tribunal Federal na quarta-feira possa agravar a situação de corrupção no País ao dar um recado de impunidade, mesmo naqueles casos que já foram apurados, julgados e postergados ninguém sabe para quando ou que terminem tendo penas irrelevantes.

            Nós precisamos, Senador, além de parabenizar a Polícia Federal, cobrar da Justiça. O ministro, como disse o próprio Senador Aloysio, Manoel Dias, é um homem de tradição de luta, é um homem que lutou contra o regime militar, foi preso, cassado. Sua história passa uma limpeza muito grande, mas o fato é que - e disse também o Senador Aloysio - a engrenagem da corrupção continua. E o meu Partido, o Partido do Senador Taques, com seis anos e meio de Ministério, não conseguiu estancar essa engrenagem.

            E aí eu lembro que, nesta tribuna, em novembro de 2003, quando o Presidente Lula convidou o Lupi para ser Ministro, eu fiz um discurso aqui fortemente contrário - fortemente contrário! -, dizendo que entrar no Governo significava reduzir ao Brasil a chance de um discurso alternativo, altaneiro, por parte do PDT. Eu temia - e disse, naquela época - que a entrada no Governo faria o PDT irrelevante. O que eu não imaginava é que ia fazê-lo também suspeito.

            Hoje, nós temos um Partido criado pelo Leonel Brizola, um Partido com bandeiras de luta, com tradição, que ficou irrelevante e ficou sob suspeita. Irrelevante - como diz muito bem o Senador Taques, de vez em quando - porque virou um puxadinho. Virou um puxadinho do Partido no Governo. Aí, ficou irrelevante. A gente não vê, nas análises sobre o futuro da política brasileira, o nome do PDT aparecer. Entre os outros partidos, todos, de porte médio, o PDT não entra.

            E agora, além disso, sob suspeição. E suspeição, Senador Taques, por ironia, de desvio de recursos em programas educacionais. O Partido que nasceu sob a bandeira da educação como vetor do progresso hoje está sob suspeita de que um Ministério sob o comando dele - do Partido - desvia recursos que deveriam ir para a formação de mão de obra.

            Começa que não deveriam ser necessários programas desse tipo se a gente estivesse fazendo o dever de casa na educação de base. Com uma boa educação de base, como eu defendo, com quatro anos no ensino médio, e todo mundo saindo com um ofício, não precisaria estar fazendo esses cursinhos, muitos deles fajutos. A gente sempre se lembra do desvio de dinheiro que devia ir para programas de educação. A gente se esquece é que, em muitos casos, o dinheiro não é desviado, e a formação não serve para nada. É a corrupção nas prioridades, diferente da corrupção no comportamento.

            Nós estamos dando um jeitinho naquilo que a gente não faz com a educação de base. E esse jeitinho, lamentavelmente - pelo menos está parecendo -, está servindo para um outro jeitinho de desvio de recursos, de enriquecimento de pessoas.

            Eu ainda tenho esperança de que tudo isso seja apurado, e pelo menos a figura do Manoel Dias saia ilesa, como ele merece. Mas a do Partido já não sairá mais ilesa. Ficará uma mágoa, ficará uma mancha, que nós vamos levar tempo para corrigir.

            Eu digo isso pensando no futuro. Um futuro em que o Brasil precisa ter governo e oposição. E é ruim o governo querer cooptar todos os partidos dentro dele e perder vozes de oposição com propostas alternativas, como deveria ser a finalidade do PDT nesta Casa. Nós teríamos colaborado muito mais com o Brasil estando fora do governo do que dentro do governo. Falei isso quando o Lupi entrou, falei isso quando colocaram o Brizola Neto, falei isso quando colocaram o Manoel. Agora, estamos pagando um preço que o Leonel Brizola não merecia. Não merecia seja pelo fato em si, que ainda não foi apurado totalmente, não merecia pela suspeita que pesa hoje sobre o Partido.

            Felizmente, nós temos tempo adiante, e, nesse tempo, creio que devemos, além de parabenizar a Polícia, pedir que se faça a apuração completa, que, quando chegue o momento, voltemos a ser um partido com propostas, e não um partido dentro do governo. E, entre essas propostas, uma tem que vir para criar vacinas contra a corrupção no serviço público, porque elogiar a Polícia, cobrar da Justiça, muito bem; mas e o nosso papel? Nosso papel era fazer com que corrupção ficasse praticamente impossível. Nós queremos ladrões fora do governo, mas um país realmente honesto é aquele em que até um ladrão entrando no governo não consegue roubar.

(Soa a campainha.)

            O SR. CRISTOVAM BUARQUE (Bloco Apoio Governo/PDT - DF) - Porque criou-se um sistema tal que protege o interesse público contra o desvio de recursos. Eu espero que nós saiamos dessa não apenas limpos, mas com mais experiência do que a que nós tivemos em 2006, quando cometemos o que eu considero um desatino de ter aceito um Ministério no governo do Presidente Lula. Foi um erro. E erro sempre se pode consertar. Às vezes, nem sempre no instante em que a gente quer, mas constrói-se o momento, porque quem quer fazer algo constrói a hora de fazer.

            Eu teria concluído, Senador Mozarildo, mas gostaria de passar a palavra para ouvir o aparte do Senador Pedro Taques.

            O Sr. Pedro Taques (Bloco Apoio Governo/PDT - MT) - Senador Cristovam, na mesma linha de V. Exª, expresso o nosso respeito ao Manoel Dias, que tem história no PDT, uma história de decência no PDT e uma história de decência na sua vida pessoal. Agora, precisa ser investigado, sim, e V. Exª e nós queremos essa investigação. Guerra avisada não mata aleijado, já dizia lá para trás. Muito bem. Quando o PDT entrou no Ministério, nós aqui subimos à tribuna e afirmamos, mais de uma vez, que o PDT não precisa de Ministério para apoiar as causas decentes do Governo da Presidente Dilma. O PDT é muito maior do que esse Governo que está aí, porque o PDT, como diz o Brizola, vem de longe.

            O SR. CRISTOVAM BUARQUE (Bloco Apoio Governo/PDT - DF) - Eu complementaria dizendo que nos falamos aqui que não precisava de Ministério para falar as coisas, apoiar aquilo que for certo, nem adiantava Ministério para calar a boca da gente quando fizesse coisa errada.

            O senhor, eu e outros, mesmo com Ministério, temos feito aqui as críticas necessárias ao Governo, e acredito que essas críticas, muitas vezes, contribuem muito mais para o sucesso do Governo e do Brasil de que certas apologias falsas, certos puxa-saquismos - desculpem eu usar essa palavra chula - que a gente vê de tanta gente, fechando os olhos aos erros que o Governo comete.

            Vamos esperar que, de tudo isso, saia um PDT com mais convicção, que não caia na tentação de ocupar cargos quando esse não é o melhor para o País.

            Muito obrigado, Sr. Presidente.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 17/09/2013 - Página 63630