Discurso durante a 143ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Destaque para o avanço tecnológico como fator propulsor do aumento da produtividade agropecuária brasileira.

Autor
Blairo Maggi (PR - Partido Liberal/MT)
Nome completo: Blairo Borges Maggi
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
AGRICULTURA, POLITICA CIENTIFICA E TECNOLOGICA.:
  • Destaque para o avanço tecnológico como fator propulsor do aumento da produtividade agropecuária brasileira.
Publicação
Publicação no DSF de 30/08/2013 - Página 58399
Assunto
Outros > AGRICULTURA, POLITICA CIENTIFICA E TECNOLOGICA.
Indexação
  • REGISTRO, EVOLUÇÃO, TECNOLOGIA, AGROPECUARIA, EFEITO, AUMENTO, PRODUTIVIDADE, CAMPO, ELOGIO, ATUAÇÃO, Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (EMBRAPA).

            O SR. BLAIRO MAGGI (Bloco União e Força/PR - MT. Sem apanhamento taquigráfico.) - Sr. Presidente, Srªs Senadoras e Srs. Senadores, recente matéria publicada no jornal Valor Econômico, de autoria da jornalista Gleide de Castro, traça um interessante quadro sobre a revolução tecnológica que transformou a agricultura brasileira, nas últimas quatro décadas.

            Impulsionado sobretudo pela criação da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária -- Embrapa, o salto tecnológico em nossa produção agrícola fez com que o Brasil deixasse de ser um importador de alimentos para se transformar, nos dias atuais, em um dos celeiros do mundo!

            Os números impressionam, Senhor Presidente. Apenas de 1990 para cá, a produção agrícola brasileira aumentou em 220%, enquanto a área plantada se expandiu em apenas 40%. Tudo isso, meus caros Colegas, apenas com incremento da produtividade, e o desenvolvimento de tecnologia própria às condições climáticas brasileiras.

            Para os Senhores e as Senhoras terem uma idéia, se as taxas de produtividade de vinte anos atrás tivessem sido mantidas, 68 milhões de hectares a mais de área plantada seriam necessários para alcançar a mesma safra atual de grãos!

            Podemos dizer, portanto, que a revolução tecnológica na agricultura brasileira permitiu a preservação de mais de 68 milhões de hectares de florestas, campos e cerrados em todo o País.

            Nesse sentido, fica evidente que as pesquisas desenvolvidas pela Embrapa e os ganhos de produtividade por elas propiciados se constituíram, nos últimos anos, na mais eficaz ferramenta de conservação ecológica de nosso País, fornecendo os alimentos e as divisas necessárias para o Brasil sem que houvesse avanço demasiado da agricultura sobre áreas de reserva e ecossistemas.

            Nessa toada, Sr. Presidente, estima-se que nos próximos dez anos o Brasil poderia triplicar a produção de alimentos sem aumentar em um hectare a área já plantada, de pouco mais de 53 milhões de hectares. Isso apenas com transferência de tecnologias já desenvolvidas e adoção de boas práticas, como a verticalização da produção por meio do sistema integrado.

            Segundo o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada -- IPEA, que também se debruçou sobre o tema, 68% do crescimento da produção agrícola brasileira nos últimos 4 anos está diretamente relacionado ao emprego de novas tecnologias, enquanto apenas 9% corresponde ao aumento das áreas cultivadas, e 2% relacionado à mão de obra.

            Fazendo uma comparação com outros países, de 1975 a 2010, enquanto a produtividade brasileira aumentou 267%, a dos Estados Unidos subiu apenas 75%. Vejam que nos estamos comparando com o país que, certamente, mais investe em tecnologia produtiva em todo o mundo!

            O cenário mais provável para os próximos dez anos, Senhor Presidente, aponta para um aumento na produção brasileira de grãos em 38 milhões de toneladas, com um aumento de área cultivada de pouco mais de quatro milhões. Espera-se, também, para o mesmo período, um incremento de 34,9%, ou 9,3 milhões de toneladas, na produção de carnes.

            A verdade, meus Nobres Colegas, é que o papel absolutamente decisivo exercido pela Embrapa teve efeito acumulativo ao longo do tempo de sua existência, com o desenvolvimento de sementes e espécies mais adaptadas às nossas condições físicas.

            Associada a essa adaptação climática das variedades vegetais, Senhor Presidente, houve um grande investimento em maquinado mais eficiente e utilização de fertilizantes e defensivos agrícolas de maior qualidade. Finalmente, não podemos deixar de mencionar a adoção de uma gestão rural mais profissional e conectada aos rumos da economia mundial.

            E não foi somente a produção agrícola que cresceu exponencialmente nas últimas décadas. Os números confirmam que a pecuária brasileira evoluiu bastante nesse mesmo período, igualmente devido a um importante salto tecnológico da produção.

            Segundo o censo agrícola do IBGE, a despeito de ter acontecido uma redução de quase 15 milhões de hectares nas áreas de pastagem de 1980 até 2006, o nosso rebanho aumentou de 118 milhões para 176 milhões de cabeças de gado, devido, sobretudo, ao melhoramento das pastagens já existentes e à recuperação de antigas áreas degradadas.

            Sr. Presidente, Srªs Senadoras e Srs. Senadores, podemos dizer que o grande impulso tecnológico na agricultura brasileira se deu com a abertura das novas fronteiras agrícolas, na década de 1970.

            Nesse momento surgia a Embrapa, e sua tarefa principal era adequar a tecnologia e as espécies vindas dos países temperados ao nosso clima e ao nosso solo. Nesse sentido, o caso da expansão da lavoura de soja foi absolutamente paradigmático.

            Até aquele momento, a soja só era produzida na Região Sul de nosso País, com baixa produtividade e difícil adaptação aos climas mais quentes e úmidos. Todos os cultivares vinham dos Estados Unidos, e não conseguiam prosperar em outras regiões.

            Pois bem, após a realização de um amplo programa de desenvolvimento genético, conseguiu-se chegar a algumas variedades adaptadas ao clima mais seco e quente do cerrado, e uma verdadeira revolução aconteceu.

            Estimulada pela valorização no mercado internacional, sua produção cresceu vertiginosamente, calcada, sobretudo, no aumento da produtividade.

            De 1976 a 2013, enquanto a produção nacional de soja aumentou em quase sete vezes, a área plantada se ampliou em pouco mais de quatro vezes. Calcula-se que esse avanço na produtividade da soja possibilitou a preservação de mais de 18 milhões de hectares nesse mesmo período.

            Hoje, mais de 70% de sua produção de grãos e derivados é exportada, sendo fator importante para bons resultados em nossa balança comercial e ajudando a financiar investimentos em nossa economia, por meio da captação de divisas, necessárias à normalidade dos fluxos financeiros e comerciais com o Exterior.

            O fato, Sr. Presidente, Srªs Senadoras e Srs. Senadores, é que toda a agricultura moderna, até meados da década de 1970, havia sido desenvolvida para os países de clima temperado.

            Somente a partir do desenvolvimento de uma tecnologia própria, com o aprimoramento de seus próprios cultivares, é que o Brasil pôde tomar essa dianteira e se transformar em uma das grandes potências agrícolas da atualidade.

            Atualmente, a região Centro-Oeste, símbolo desse processo de expansão agrícola, já é responsável por cerca de 60% da soja, 55% da carne bovina, 40 a 45% do leite e 55% do milho, além de 30% do arroz e quase 40% do café do nosso país.

            Dessa forma, Sr. Presidente, tal êxito nos inspira e nos motiva a fazer com que essa evolução se espalhe para todos os demais segmentos produtivos de nosso País, em todas as suas Regiões e Estados.

            Sem negligenciar nunca, portanto, a sua inequívoca vocação agrícola - sobre a qual sustentou sua expansão no comércio exterior e sua ascensão econômica recente -, o Brasil precisa impulsionar os investimentos em tecnologia e inovação para reproduzir, em todas as vertentes produtivas, a notável revolução que promoveu em sua produção agropecuária.

            Nosso País precisa de mais Embrapas, Sr. Presidente. Essa é a lição que tiramos do processo de grande expansão e desenvolvimento tecnológico promovido pela Empresa em nossos campos.

            Era o que tínhamos a dizer. Muito obrigado!


Este texto não substitui o publicado no DSF de 30/08/2013 - Página 58399