Discurso durante a 168ª Sessão Não Deliberativa, no Senado Federal

Preocupação com o descontrole na aplicação do dinheiro público.

Autor
Pedro Simon (PMDB - Movimento Democrático Brasileiro/RS)
Nome completo: Pedro Jorge Simon
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
CORRUPÇÃO, GOVERNO FEDERAL. POLITICA PARTIDARIA, ELEIÇÕES. PRESIDENTE DA REPUBLICA, ATUAÇÃO.:
  • Preocupação com o descontrole na aplicação do dinheiro público.
Aparteantes
Alvaro Dias.
Publicação
Publicação no DSF de 01/10/2013 - Página 67509
Assunto
Outros > CORRUPÇÃO, GOVERNO FEDERAL. POLITICA PARTIDARIA, ELEIÇÕES. PRESIDENTE DA REPUBLICA, ATUAÇÃO.
Indexação
  • APREENSÃO, AUMENTO, CORRUPÇÃO, PAIS, CRITICA, GOVERNO FEDERAL, AUSENCIA, CONTROLE, DINHEIRO, PUBLICO.
  • REGISTRO, ORIENTAÇÃO, LIDERANÇA, PARTIDO POLITICO, PARTIDO DO MOVIMENTO DEMOCRATICO BRASILEIRO (PMDB), PROIBIÇÃO, CANDIDATURA, SUSPEITO, ACUSAÇÃO, CORRUPÇÃO.
  • COBRANÇA, PROVIDENCIA, DILMA ROUSSEFF, PRESIDENTE DA REPUBLICA, REFERENCIA, ACUSAÇÃO, CORRUPÇÃO, MINISTRO DE ESTADO, MINISTERIO DO TRABALHO E EMPREGO (MTE).
  • SOLICITAÇÃO, TRANSCRIÇÃO, ANAIS DO SENADO, ARTIGO DE IMPRENSA, JORNAL, CORREIO BRAZILIENSE, DISTRITO FEDERAL (DF), ASSUNTO, INVESTIGAÇÃO, POLICIA FEDERAL, OBJETIVO, COMBATE, CORRUPÇÃO, PARTICIPAÇÃO, POLITICO, FUNDOS, PENSÃO, INSTITUIÇÃO FINANCEIRA, SERVIDOR, MINISTERIO DA DEFESA, MINISTERIO DA PREVIDENCIA E ASSISTENCIA SOCIAL (MPAS).

            O SR. PEDRO SIMON (Bloco Maioria/PMDB - RS. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Eu repito, Sr. Presidente, o que eu já disse várias vezes: V. Exª fica muito bem na Presidência.

            O SR. PRESIDENTE (Eduardo Suplicy. Bloco Apoio Governo/PT - SP) - Eu pediria a gentileza de V. Exª falar um pouco mais perto do microfone, para que a sua voz saia muito bem. Obrigado.

            O SR. PEDRO SIMON (Bloco Maioria/PMDB - RS) - Eu digo mais uma vez: V. Exª fica muito bem na Presidência.

            Lembro quando seu nome apareceu nos jornais lá no início. V. Exª, presidindo a Câmara de Vereadores de São Paulo, tomou uma série de medidas revolucionárias, corajosas, que mudou o eixo de atuação daquela Casa. Foi se baseando, inclusive, nessa atuação que V. Exª seguiu a sua vida pública e, hoje, ocupa um lugar tão importante na política brasileira.

            Iniciou-se, praticamente, a campanha eleitoral.

            E pela entrevista, inteligente e competente, que o ex-Presidente Lula deu ao Correio Braziliense de ontem, primeira, segunda e terceira página, praticamente - se alguém tinha alguma dúvida, não tem mais: a campanha está na rua.

            Eu imagino que o grande debate nessa eleição vai ser primeiro o contexto do futuro do Brasil. Eu acho que como nunca, numa eleição presidencial nossa, a presença do Brasil, no contexto internacional, vai ser debatida e analisada.

            O Brasil adquiriu um contexto realmente importante, realmente respeitável. O Brasil não é hoje um País que aparece na imprensa internacional por causa do Pelé, do futebol ou de algum fato raro, mas aparece pelas notícias da sua economia, do seu desenvolvimento e das suas posições políticas. E hoje, mais do nunca, isso é uma realidade,

            Se internacionalmente a posição do Brasil será de grande debate nessa próxima eleição, eu diria que o fator preponderante, que diferenciará essa eleição das anteriores, é exatamente o que vem acontecendo no Brasil.

            O Brasil, considerado o paraíso da impunidade, o segundo País onde há a maior corrupção na humanidade, e, acompanhando esse fato, o fato de a corrupção no Brasil não ser punida, não acontece nada, ano que vem vai mudar. O projeto que o Congresso votou, por pressão da sociedade brasileira - Ficha Limpa - será o primeiro marco que determinará a nova fronteira dos candidatos a qualquer cargo na eleição do ano que vem.

            Eu só digo isso. No MDB, o seu presidente em exercício já enviou carta aos diretórios estaduais e municipais do Rio Grande do Sul para que não coloquem como candidatos pessoas que tenham qualquer problema com a Justiça. Se colocarem, criarão dois problemas: primeiro, deixarão mal o candidato. Às vezes, ele tem uma questão, mas que está na gaveta, que ninguém fala, ninguém discute, o tempo pode passar e não acontecer nada; de repente, vira manchete e complica a vida dele. E, segundo, complica a vida do partido. O partido vai ter de responder por que ele tem ficha suja, vai ter que debater, vai ter que analisar; e isso vai ser manchete negativa de jornal.

            Nessas eleições passadas, municipais, já tivemos notícia imensa de pseudocandidatos serem barrados no partido, sem falar na imensidão de candidatos que abriram mão, não foram candidatos, para evitar que se criassem problemas com os seus nomes; afora, ainda, a imensidão daqueles que foram vetados na Justiça eleitoral, ou seja, que a Justiça eleitoral impediu que fossem candidatos. Isso ainda estava iniciando, a lei tinha sido recém-aprovada, em cima dos últimos dias de véspera de campanha. Agora, não! Agora, é um assunto da maior importância e que todos os partidos levam na maior consideração.

            É por isso, Sr. Presidente, que venho aqui, para mostrar alguns casos, apenas rapidamente, em uma passagem de olhos; para mostrar que, apesar de o Governo da Presidenta ser um governo em que ela se esforça pela seriedade, em que ela busca punir, e apesar de as manchetes da imprensa serem cada vez mais concretas e reais com relação a essa matéria, a corrupção continua, e o Brasil continua sendo o campeão e o recordista mundial nessa matéria.

            Nas últimas três semanas, os jornais nos brindaram com desvio de cerca de R$400 milhões no Ministério do Trabalho e a movimentação de outros R$300 milhões por uma quadrilha que cooptava prefeitos e gestores de fundo de pensão dos Municípios. O que une mais estreitamente esses dois impressionantes casos de corrupção, além dos valores estratosféricos dos números, é a participação de grande número de funcionários públicos nessa corrupção. Entre os envolvidos, nessas tramoias, segundo a Polícia Federal, estão um secretário-geral do Ministério, Parlamentares, ex-parlamentares, prefeitos, ex-prefeitos, incontáveis assessores de vários ministros, alguns policiais, um auditor fiscal e até mesmo um graduado funcionário da Procuradoria da Fazenda Federal.

            Não vou descer, neste momento, aos detalhes de dois casos que já foram exaustivamente noticiados na nossa imprensa. Vou me concentrar no que me parece o mais importante neles. Tudo o que vou dizer me leva a uma dolorosa constatação de que os fatos teimam em provar, dia após dia, escândalo após escândalo, o Estado brasileiro é antes do mais completamente incompetente.

            Só pode ser chamado de incompetente um Estado que se deixa roubar tão facilmente, e quase sempre roubado em cifras astronômicas. Isso precisa ser reafirmado: os valores da corrupção no Brasil são sempre inacreditáveis.

            Quando se ouve dizer que foram desviados R$400 milhões em cinco anos de malfeitos em um único Ministério, só se pode pensar e chegar a uma conclusão de que o Estado brasileiro não tem praticamente nenhuma competência, nenhum controle na aplicação dos recursos públicos.

            O Sr. Alvaro Dias (Bloco Minoria/PSDB - PR) - Permita-me um aparte, Senador Pedro Simon?

            O SR. PEDRO SIMON (Bloco Maioria/PMDB - RS) - Pois não.

            O Sr. Alvaro Dias (Bloco Minoria/PSDB - PR) - Senador Pedro Simon, primeiramente, meus cumprimentos. V. Exª é uma voz autorizada, competente e acreditada. Quando aborda um assunto dessa grandeza, certamente presta um serviço extraordinário ao País. Veja, V. Exª diz algo da maior gravidade: o Estado brasileiro é incompetente. É verdade. Nós temos mecanismos de fiscalização e controle teoricamente extraordinários. Temos um Ministério Público que é uma instituição independente, uma Polícia Federal competente. Existem os mecanismos de fiscalização e controle no âmbito do Executivo, como a CGU, para dar um exemplo, a Comissão de Ética da Presidência etc., mas verificamos que a corrupção é escancarada. Há uma conivência, cumplicidade, numa avaliação temerária até, porque é impossível avaliar o valor do desvio, mas se fala que mais de US$80 bilhões são desviados anualmente pela corrupção no Brasil, ou, como diz a Federação das Indústrias de São Paulo, R$500 bilhões por ano são desviados pela incompetência administrativa e pela corrupção. Isso é realmente gravíssimo! E V. Exª aborda com muita competência essa situação. Quando há eficiência, como houve no caso do mensalão, aparece alguém dizendo que houve um linchamento. Ora, linchamento? Estamos muito longe de presenciarmos um linchamento nesse caso. Ao contrário, estamos verificando uma tentativa exagerada de acobertamento, de proteção dos envolvidos no episódio do mensalão. Mas eu não quero tomar o tempo de V. Exª. Acho mais importante ouvi-lo agora do que falar. Pedi o aparte apenas para cumprimentá-lo, porque este é um tema essencial na vida do Brasil.

            O SR. PEDRO SIMON (Bloco Maioria/PMDB - RS) - Agradeço a V. Exª.

            O SR. PRESIDENTE (Eduardo Suplicy. Bloco Apoio Governo/PT - SP) - Permita-me, Senador Pedro Simon, pois gostaria de informar que estão assistindo ao seu pronunciamento cerca de 45 estudantes e alguns professores que os acompanham do Colégio I.L.Peretz de ensino fundamental, de São Paulo. Vieram aqui hoje especialmente para ouvir os seus ensinamentos. Eles querem dialogar comigo, e possivelmente com V. Exª, sobre o que é a Comissão da Verdade, o que aconteceu ao tempo da ditadura militar. Então, nada melhor do que agora estarem ouvindo V. Exª, Senador Pedro Simon, que responde o aparte do Senador Alvaro Dias, que é do PSDB, do Paraná.

            Senador Pedro Simon, que é do PMDB, do Rio Grande do Sul, tem V. Exª a palavra.

            O SR. PEDRO SIMON (Bloco Maioria/PMDB - RS) - Não sei se os senhores sabem que o Senador é do PT de São Paulo, um dos mais competentes. Chegou aqui em primeiro lugar sozinho, o PT só tinha um Senador que era ele. E este Senado tinha de trabalhar correndo para responder a oposição dele. Até digo que ele de certa forma fazia mais barulho nesta Casa do que os oito Senadores que hoje o PT tem.

            Concordo com V. Exª, Senador. V. Exª é um dos primeiros a demonstrar essas questões. Acho importante demonstrá-las, pois que no Brasil já viraram rotina. Sai notícia de roubar, sai notícia de falcatrua, e ninguém mais toma conhecimento; ninguém mais leva a sério porque sabe que não vai acontecer nada.

            E agora, com mensalão e com a Ficha Limpa, as coisas estão mudando. E nós, Congresso Nacional, temos que dar, nessa eleição do ano que vem, o sinal radical da mudança. E, se Deus quiser, isso vai acontecer.

            Mas se eu digo que nós chegamos à conclusão de que o Estado brasileiro não tem controle da aplicação do dinheiro público, em outras palavras o dinheiro sai dos cofres públicos e depois o Estado não mostra a menor competência para realizar a necessária auditoria sobre a sua aplicação. Se ela é correta ou não, o Estado não tem a mínima ideia.

            O esquema da roubalheira, pilhado pela Operação Miqueias - os jovens agora, a cada operação da Polícia Federal ou da Procuradoria-Geral, dão um nome especial; essa é a Operação Miquéias, da Polícia Federal -, desviou pelo menos R$300 milhões, mas atingiu essa cifra em tempo muito menor, em apenas um ano e meio, ou seja, roubaram com rapidez, e competência para roubar ainda maior.

            Uma segunda constatação.

            Em todos esses casos, a maioria dos fraudadores é integrada por agentes do antigo Agentes Públicos. Muitas vezes, os comandantes dos esquemas criminosos são exatamente servidores públicos. Outras vezes, os transgressores são os ocupantes dos cargos comissionados, os chamados cargos de confiança, que, no Brasil, seriam quase um milhão de servidores quando se somam as três esferas da Administração Pública.

            Um milhão de servidores do Brasil usam cargos de confiança. O Deputado, o Senador, o Prefeito, o Governador, o Ministro, o Presidente pega fulano, beltrano, cargos de confiança. Não interessa de onde vêm, o que querem, cargos de confiança. Oito mil, dez mil, doze mil, vinte mil reais ele passa a ganhar.

            Na Europa, na França, por exemplo, na Inglaterra, na maioria dos países desenvolvidos, muda de governo, mas lá, quer dizer, muda o governo: sai o partido de esquerda, sai o partido trabalhista Inglês, entra o partido conservador. É completamente diferente.

            A mudança dos cargos é o comando dos ministérios, é a chefia dos ministérios, é quem vai dar a linha, a orientação, a rota do ministério. Esses mudam. O novo presidente, o novo primeiro ministro muda, tira o do partido adversário e bota o dele. Mas é rotina do ministério, a burocracia da máquina administrativa é a mesma. São agentes que estão lá há 20, 30 anos, servem a vários partidos, e não têm compromisso com nenhum desses partidos.

            No Brasil, não. No Brasil - repito - um milhão de cargos públicos são nomeados, gente sem expectativa, sem nenhum sonho, sem nenhuma realidade. E é aí que começa o desvio da coisa pública.

            Para mim, o pior mesmo é quando os infratores são Parlamentares ou ex-Parlamentares, pessoas que em alguns momentos tiveram a confiança do cidadão, pediram o seu voto, e, afinal, não honraram a sua confiança.

            Em suma, Sr. Presidente, nos casos de corrupção descobertos no Brasil, é sempre grande o número de envolvidos que, embora obrigados a trabalhar pelo bem comum como servidores públicos, acabam por saquear o Estado.

            Mas por que isso ocorre no Brasil com tanta frequência? Por que essa maldição bate no Brasil? A resposta é simples: porque, no Brasil - sabemos todos -, vivemos permanentemente não a mera sensação, mas a dura realidade da impunidade permanentemente intocável, quase pétrea, sempre sem-vergonha. Rouba, faz o que quer e o que deixa de fazer, ninguém vai para a cadeia, ninguém tem que devolver. Pega um bom advogado e vai embora. Um, dois, recorre, recorre, recorre... Tem gente importante lá de São Paulo, governador e tudo o mais... O que tem de casos que estão respondendo na polícia há 40 anos, condenados aqui, condenados no exterior, não podem sair daqui, não podem ir para o exterior... Cadeia, nunca. Devolver o dinheiro, nunca. Esta é a rotina: rouba e sabe que não acontece nada.

            Na Itália, agora, o Ex-Primeiro Ministro, o fanfarrão, aquele que é dono da televisão, um dos mais ricos do mundo, foi condenado. Foi condenado - está quase saindo do Congresso - a três anos e meio de cadeia. Não foi nem por roubar dinheiro; foi por fazer festas, e, nas festas, levar mulherzinha de menos de 18 anos. Foi condenado.

            Imaginem no Brasil. Flagrado, o agente público corrupto contrata um bom advogado na certeza de que seu caso se arrastará por anos ou décadas pelos tribunais, mas nunca chegará ao fim.

            Passo a examinar, Sr. Presidente, alguns detalhes sórdidos do caso envolvendo o Ministério do Trabalho.

            Reproduzo texto do jornal O Estado de Minas:

O delegado da Polícia Federal que coordenou a Operação Esopo - vejam como o nome das operações são bonitos, envolvem até as fábulas gregas -, Marcelo Freitas, classificou o esquema investigado como “grosseiro”. Segundo ele, as prefeituras conseguiam os recursos para os serviços e direcionavam as licitações para uma entidade, o Instituto Mundial de Desenvolvimento e Cidadania (o IMDC), que, na melhor das hipóteses, executava parcialmente os serviços. O dinheiro era então distribuído para a quadrilha. ‘Os saques eram feitos na boca do caixa. Em um deles, foram retirados R$ 850 mil', afirmou o delegado Freitas".

            O que impressiona nesse texto é o saque de R$850 mil na boca do caixa. Ora, só um criminoso absolutamente certo de sua impunidade saca uma quantia que é um bonde de dinheiro, R$850 mil, em uma agência bancária, ali na frente de todo mundo.

            Outro aspecto igualmente me surpreendeu na mesma reportagem de O Estado de Minas. Diz ele: “Segundo o chefe de Operações Especiais da CGU em Minas, Israel José Reis de Carvalho, a demora em fechar o cerco à quadrilha ocorreu ao menos em parte pela participação de integrantes dos governos federais e estaduais".

            Embora pareça incrível é isso mesmo que está escrito no jornal: “(...) a operação demorou a ser deslanchada devido ao grande número de integrantes dos governos federal e estadual envolvidos no esquema criminoso”.

            Como funcionava esse esquema?

            Prefeituras conseguiam verbas federais para capacitação profissional, festivais culturais e perfuração de poços artesianos. A seguir, montavam (às vezes nem montavam) processos de licitação para contratar serviços e obras.

            Alegando notória especialização, as prefeituras direcionavam os contratos para o Instituto Mundial de Desenvolvimento e Cidadania (IMDC), com sede em Belo Horizonte, o organismo principal do esquema de fraude. O IMDC não executava os serviços, mas recebia o dinheiro, que era distribuído entre os integrantes da quadrilha.

            Um outro detalhe intrigante: entre os principais envolvidos do caso em Minas Gerais, segundo a Polícia Federal, está Simone Reis Lobo de Vasconcelos - ex-braço direito do empresário Marcos Valério - que, como ele, foi condenada pelo Supremo Tribunal Federal (STF) por envolvimento no Mensalão. Essa Simone que era a principal coordenadora da corrupção já era condenada no mensalão, e como condenada agia dessa maneira.

            Cabe aqui uma pergunta: como pode continuar atuando, num caso envolvendo dinheiro público, uma pessoa que foi condenada pelo STF, no maior e mais divulgado julgamento da História da Nação? Mas como condenada no Supremo ela continuava agindo, roubando lá em Minas Gerais? 

            Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, a Operação Miquéias, da Polícia Federal, desbaratou uma quadrilha que pagava propina a prefeitos e gestores para que eles aplicassem o dinheiro dos fundos de previdência de seus Municípios em fundos de investimento lastreados em títulos pobres.

            Eu não vi na imprensa, além das informações sobre o esquema, a indignação que tal caso deveria gerar. Quero destacar o lado mais dramático de tudo isso: esse esquema visava basicamente roubar o dinheiro que é investido com sacrifício nos fundos de previdência pelos trabalhadores municipais.

            Em suma, trata-se de dinheiro suado que é investido para que, na aposentadoria, os munícipes mais modestos - em geral mal remunerados - tenham uma pensão digna que os garanta no crepúsculo de suas vidas.

            Faço uma pergunta, Sr. Presidente: o que nós, parlamentares, podemos fazer para impedir que prefeitos desonestos, que ocupam por poucos anos o cargo, façam negociatas com o dinheiro que trabalhadores estão investindo para o resguardo na sua velhice?

            A resposta tem que ser dada por nós mesmos, legisladores, aqui no Parlamento.

            Pois bem, a quadrilha, que tinha sede em Brasília, movimentou 300 milhões de reais e causou rombo de outros 50 milhões aos fundos municipais geridos criminosamente por maus prefeitos de cidades de nove Estados brasileiros.

            O dinheiro desviado foi transformado em automóveis de luxo, imóveis e até mesmo um iate e um avião.

            Eu espero, Sr. Presidente, eu sonho, eu imagino que, depois de vendidos esses bens que foram confiscados, o valor seja ressarcido aos fundos municipais, enquanto os maus gestores sejam não digo levados para a cadeia, mas pelo menos levados aos tribunais.

            Existe, Sr. Presidente, um aspecto ainda mais inacreditável dessas duas grandes operações policiais.

            Logo após a denúncia, caíram vários funcionários importantes do Ministério do Trabalho, inclusive o Secretário-Geral. Os olhos da imprensa voltaram-se então para o Ministro do Trabalho, o Deputado Manoel Dias, de Santa Catarina, que era desconhecido no cenário político, como, aliás, costumam ser os demais integrantes que abrilhantam a atual Esplanada dos Ministérios.

            No auge da crise, o Ministro do Trabalho deu ao jornal O Globo uma entrevista que certamente entrará para a lista das entrevistas ministeriais mais bizarras da história da nossa Nação.

[Pergunta do repórter]: O senhor vai entregar o cargo?

[Responde o Ministro]: "Não vou sair como bandido, picareta, a não ser que a Presidente me mande embora.

            O SR. PEDRO SIMON (Bloco Maioria/PMDB - RS) -

Já cumpri minha missão no Ministério, porque acabei com qualquer possibilidade de corrupção nele, ao acabar com os convênios. E agora vou apurar tudo no mundo".

[Indaga o repórter]: Quem?

[Responde o ministro]: "Vou pegar [FHC], Aécio, Jorge Bornhausen, todos os governadores e prefeitos, e descontentar muita gente. Nós criamos uma força-tarefa por determinação da Presidente. Outros Ministérios, órgãos do Governo e a Caixa vão fornecer especialistas em análises, e nós vamos começar a analisar todas as contas desde 1990 e pegar toda essa gente. No final, quero ver quantos pedetistas estarão envolvidos em denúncias."

[Pergunta o Repórter]: Se o PDT entregar o cargo quem vai assumir?

[Resposta do Ministro]: "Ninguém. Vou reunir o partido porque devo explicações, 99% me colocaram aqui e sabem que eu ganhei o respeito deles do partido. Se ela, Dilma, me mandar embora, tomo minhas providências."

[Indaga o repórter]: Quais providências?

[Responde o Ministro]: "Não sei. São impublicáveis."

            Não vim aqui para fazer política menor, com p minúsculo; não vim acusar o partido A ou B; vim simplesmente pedir à Senhora Presidente da República que tome providências para estancar a corrupção.

(Soa a campainha.)

            O SR. PEDRO SIMON (Bloco Maioria/PMDB - RS) - Como já fiz outro dia, aqui desta tribuna, volto a pedir à Presidente da República que peça a divulgação pelo seu Ministro do Trabalho das tais “providências impublicáveis”, que nós não sabemos quais são.

            Estou certo de que não atingem a Presidente da República, cuja integridade moral não está em dúvida.

            Estou, porém, alinhado entre os que se espantam com a falta de firmeza da Presidente neste caso. Penso que ela já deveria ter demitido o seu Ministro do Trabalho.

            A falta de atitude da Presidente Dilma gera boatos.

            O que se diz por aí, pelos corredores de Brasília, é que a Presidente Dilma não agiu porque não quer perder o apoio do PDT na eleição presidencial do próximo ano.

            Numa coligação eleitoral, dizem, o apoio do PDT significa um precioso minuto na propaganda eleitoral gratuita.

            Tudo acontece...

(Interrupção do som.)

            O SR. PEDRO SIMON (Bloco Maioria/PMDB - RS) - ... porque cada partido tem um determinado tempo de televisão (Fora do microfone.) na hora do horário eleitoral gratuito.

            O PDT tem um minuto. Transpondo aqui faz com que não se demita o Ministro, não se quer perder o partido, porque esse minuto é importante. A que ponto chegamos neste País!

            Ela deve pedir ao Ministro do Trabalho que se desdiga ou que fale e conte tudo. Um Ministro de Estado que sabe de providências impublicáveis tem a obrigação de torná-las públicas. Um governo honrado não pode conviver com fatos escusos e com Ministros omissos, sob pena de sucumbir à chantagem.

            Encerro, Sr. Presidente. Agradeço a tolerância de V. Exª. Apenas...

            O SR. PRESIDENTE (Eduardo Suplicy. Bloco Apoio Governo/PT - SP) - Senador Pedro Simon, V. Exª traz aqui uma observação de grande relevância, e observo que V. Exª sempre transmitiu mensagens à Presidenta Dilma Rousseff, embora de outro partido, mas tendo conhecimento pessoal da conterrânea gaúcha. V. Exª sempre demonstrou por ela um grande respeito e fala sobre as coisas que acontecem no Governo como um amigo da Presidenta. Eu pelo menos sinto assim. Então acho que a sua voz, as suas colocações deverão chegar à Presidenta Dilma Rousseff, para que ela bem reflita a respeito do que aqui disse de uma maneira muito séria e de maneira construtiva também para com o Governo da Presidenta Dilma.

            Tem agora a palavra, pela Liderança do PSB, o Senador...

            O SR. PEDRO SIMON (Bloco Maioria/PMDB - RS) - Sr. Presidente, só um minuto...

            O SR. PRESIDENTE (Eduardo Suplicy. Bloco Apoio Governo/PT - SP) - Rodrigo Rollemberg...

            O SR. PEDRO SIMON (Bloco Maioria/PMDB - RS) - Presidente.

            O SR. PRESIDENTE (Eduardo Suplicy. Bloco Apoio Governo/PT - SP) -... do Distrito Federal.

            O SR. PEDRO SIMON (Bloco Maioria/PMDB - RS) - Só um minuto, que eu quero apenas transcrever nos Anais. Um minuto.

(Soa a campainha.)

            O SR. PRESIDENTE (Eduardo Suplicy. Bloco Apoio Governo/PT - SP) - A solicitação de V. Exª será atendida, para que seja inserida nos Anais a reportagem mencionada por V. Exª.

            O SR. PEDRO SIMON (Bloco Maioria/PMDB - RS) - Correio Braziliense, “Nem o Fome Zero escapa das quadrilhas no Brasil”:

Operação no DF e em três estados prende 11 suspeitos de desviar dinheiro do programa de combate à miséria no País. Em Brasília, Polícia Federal ouviu dirigente da Conab.

Além da Previdência e da Fazenda, empresas do esquema que roubou dinheiro de fundos de pensão tinham ligações nos ministérios da Defesa e da Agricultura.

Megablitz em três cidades goianas reúne 200 agentes, 90 carros da polícia, helicópteros e põe na cadeia 20 integrantes de bando que assaltava ônibus no Entorno.

            O SR. PRESIDENTE (Eduardo Suplicy. Bloco Apoio Governo/PT - SP) - V. Exª será atendido. (Pausa.)

            Mais do que um?

            O SR. PEDRO SIMON (Bloco Maioria/PMDB - RS) - “Quadrilha alcança a Fazenda Nacional”; “Quadrilha atuava em mais dois ministérios”; “Petista envolvido em fraude no Fome Zero”; “Rosemary demitida” - ainda bem -; “Planalto demite assessor suspeito de integrar quadrilha. Auxiliar de Ideli Salvatti é acusado pela PF de ser lobista de esquema com prefeitos” - braço direito da Ministra -; “Sexo, corrupção e briga de policiais no centro do poder” - vejam que era garota de primeiro time; coitados dos prefeitos -; “Megaesquema envolve obras de R$2 mi no DF”.

(Soa a campainha.)

            O SR. PEDRO SIMON (Bloco Maioria/PMDB - RS) - Agradeço a V. Exª, Sr. Presidente.

 

DOCUMENTOS A QUE SE REFERE O SR. SENADOR PEDRO SIMON EM SEU PRONUNCIAMENTO.

(Inseridos nos termos do art. 210, inciso I e §2º, do Regimento Interno.)

Matérias referidas:

- “Nem o Fome Zero escapa das quadrilhas no Brasil”;

- “Quadrilha alcança a Fazenda Nacional”;

- “Quadrilha atuava em mais dois ministérios”;

- “Petista envolvido em fraude no Fome Zero”;

- “Rosemary demitida”;

- “Planalto demite assessor suspeito de integrar quadrilha”;

- “Sexo, corrupção e briga de policiais no centro do poder”;

- “Megaesquema envolve obras de R$2 mi no DF”.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 01/10/2013 - Página 67509