Discurso durante a 195ª Sessão Não Deliberativa, no Senado Federal

Registro de matéria publicada no jornal Meio Norte na qual são destacados os progressos gerados pelo Programa Bolsa Família no Estado do Piauí; e outros assuntos

Autor
Wellington Dias (PT - Partido dos Trabalhadores/PI)
Nome completo: José Wellington Barroso de Araujo Dias
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
PROGRAMA DE GOVERNO, POLITICA SOCIAL. ECONOMIA NACIONAL.:
  • Registro de matéria publicada no jornal Meio Norte na qual são destacados os progressos gerados pelo Programa Bolsa Família no Estado do Piauí; e outros assuntos
Publicação
Publicação no DSF de 05/11/2013 - Página 78987
Assunto
Outros > PROGRAMA DE GOVERNO, POLITICA SOCIAL. ECONOMIA NACIONAL.
Indexação
  • ANALISE, SITUAÇÃO, ECONOMIA NACIONAL, CONTEXTO, CRISE, ECONOMIA INTERNACIONAL, POLITICA ECONOMICO FINANCEIRA.
  • REGISTRO, ARTIGO DE IMPRENSA, JORNAL, MEIO NORTE, ESTADO DO PIAUI (PI), RESULTADO, PROGRESSO, BOLSA FAMILIA, AMBITO ESTADUAL, AUMENTO, RENDA, INCENTIVO, DESENVOLVIMENTO REGIONAL.

            O SR. WELLINGTON DIAS (Bloco Apoio Governo/PT - PI. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, meu companheiro de Bancada de Partido, Senador Paulo Paim, eu quero aqui, não com a intenção de rebater, dizer ao meu amigo Aloysio Nunes que há uma diferença vital numa situação conjuntural, em um item ou outro, em separado, de um conjunto ou de outro.

            Eu tive aqui a oportunidade, em determinado momento, de debater com o Senador Aécio Neves, e ele levantou vários pontos que eu achei importantes sobre o crescimento econômico, sobre o endividamento, sobre a dívida, em relação à inflação, em relação ao câmbio, em relação à indústria, em relação à agricultura, enfim, em relação a vários itens. E é espantosa a forma pessimista como muitas vezes é colocada a situação da economia brasileira.

            Eu creio que há um dado que por si só mostra o momento que estamos vivendo. Se deixarmos de ser ilha, se colocarmos o Brasil inserido dentro do mundo, vendo a realidade do que acontece nos Estados Unidos da América, em cada país da Europa - talvez a exceção seja a Alemanha mais uns dois ou três -, se examinarmos, nós vamos verificar, Senador Aloysio, um aumento de crescimento onde toda a luta é para evitar crescimento de desemprego, perda de postos de trabalho, com medidas duríssimas, com medidas que reduzem a renda, que tiram direitos, que mexem com a aposentadoria. Enfim, em todos esses países, nessa mesma conjuntura, nesse mesmo instante, nós vamos, neste ano, ultrapassar 1,2 milhão de empregos novos. Nós vamos fechar este ano - e V. Exª tem razão, é um ano duríssimo - com um crescimento da renda salarial e com um crescimento do capital. Cresce o capital e cresce a renda. Cresce o número de empresas, o número de empreendedores, de empregadores.

            Então, Bloco de Apoio ao Governo, tenho o privilégio de participar dos momentos de debate sobre essa realidade do Brasil e da própria conjuntura do ponto de vista do Governo. Há poucos dias, nós tínhamos uma situação perigosa para o Brasil, dentro da crise. Era quando o Congresso americano ali relutava em aprovar uma proposta do Presidente Obama. E digo aqui que não sou um profundo conhecedor da política econômica americana, nem sou economista, mas, do pouco que estudo e vejo, acho que em algum momento eles vão ter que tomar medidas. A sua dívida, na forma como é retroalimentada, sustentada, em algum momento, vai ter que ter uma hora do acerto. Mas o fato é que, nesta conjuntura que estamos vivendo, se o Congresso americano tivesse sacramentado negando ao Presidente Obama o direito de pagar todo mês US$80 bilhões, reduzindo para US$50 bilhões, isso causaria um impacto gigantesco inclusive no Brasil.

            Qual era a preocupação que nós tínhamos? Se pegarmos a situação econômica do Brasil neste ano, veremos que vínhamos numa situação de queda da economia. Ou seja, se olharmos o que aconteceu de 2005 para cá - mas pode ser mais para trás -, nós tínhamos uma situação em que vínhamos crescendo; em 2008 entra a crise mundial; em 2009, mergulhamos -0,3%; em 2010, foi tomado um conjunto de medidas, aprovado inclusive aqui no Congresso Nacional. E ressalto a importância aqui do papel da Oposição. Naquele momento, vários projetos que foram trabalhados aqui foram aprovados no Congresso Nacional.

            Passamos a ter crescimento, em 2010. Aí vem novamente 2011, nova força aguda. É quando não é só a Grécia, não é só a Itália, é quando a Europa entra também, de modo forte, na crise, é quando volta o pico nos Estados Unidos, e mergulhamos, de novo, chegando, em 2012, a 0,9%, ou seja, descemos de 8 para 0,9%.

            Bom, esse é o quadro até o ano passado. Por que eu digo que era um momento perigoso? Porque o conjunto de novas medidas que foram tomadas, as receitas... Não dá para ficar repetindo as mesmas medidas. Ali começa a haver a retomada.

            Se acompanharmos, este ano, o mais pessimista dos economistas vai perceber, e aí quero fazer aqui outra confissão, que nós vamos crescer entre 2,5 e 3%.

            Qual é a confissão que quero fazer? Já desde a época do Ministro Palocci, agora com o Ministro Guido, os ministros brasileiros - também não é coisa só desse Governo, já é de muito tempo - têm a tese de que quem é governo tem que ser mais otimista do que o mercado. Isso vem de longas datas, está certo?

            E eu sempre acho que nós temos uma importância tão vital no mundo - o Brasil é a sétima maior economia -, que também aquilo que nós admiramos no mundo, que é olhar a palavra do Ministro da Fazenda e poder segui-la... No Brasil, qualquer leigo... Eu sou leigo em economia. Sou um estudioso, um apaixonado pela política econômica, pela economia, mas não sou um conhecedor profundo de economia.

            Percebíamos, porém, que, este ano, em todas as medidas, com todo o esforço envidado, a gente atingiria mesmo 2,5%, 3%. Aliás, eu fiz pronunciamento nesse sentido. Quando o Governo dizia que eram 4,5%, eu dizia aqui que seriam 2,5%, 3%. A gente crescer 100%, 150% em relação ao ano passado, no ambiente em que nós estamos no mundo, é algo extraordinário, é apontar a seta do crescimento econômico não mais no rumo de baixo, mas no rumo de cima. Isso já é de bom tamanho.

            Então, o que eu quero chamar a atenção de V. Exª é para o seguinte: eu acho que aquela aprovação no Congresso americano nos tirou um grande pesadelo. Repito: vão analisar de volta, daqui a três, quatro, cinco anos. Afirmo isso pelo pouco que eu leio da realidade americana, pelo peso, pela importância que os Estados Unidos da América têm no mundo, com o tamanho da dívida, com o que eles pagam para a sustentabilidade, com a disputa dos mercados com outros atores pesando no mercado mundial, como a China, o próprio Brasil e tantos outros. Eu disse isso porque acreditava que era possível em face do risco que a gente vê hoje na própria União Europeia, da insegurança que criou todo esse ambiente no mundo. Isso tudo nos leva a crer que os Estados Unidos da América, em algum momento, vão ter que tomar alguma decisão sobre essa situação.

            Não é ufanismo, mas eu acho que este ano a gente cresce 2,5%. A indústria viveu momentos dramáticos porque - vou usar uma linguagem de povo -, no momento em que um país começa a ter dificuldade na economia, a primeira coisa que faz é tocar na política de importação. Então, reduz importação, procura proteger seu mercado interno. Foi isso que aconteceu. Resultado: reduz a compra de países como o Brasil. Ou seja, isso termina gerando instabilidade no mundo inteiro. Então, superar essa fase foi fundamental.

            Acredito que a gente fecha este ano entre 2,5% a 3%; acredito que, no próximo ano - e aí vou lhe dizer por que também - de novo, com uma forte participação do Congresso Nacional e inclusive da oposição. Nós aprovamos em 2011, 2012 e inclusive neste ano de 2013 marcos regulatórios da maior importância para o Brasil. E lhe digo mais: não era fácil para um partido com a história do Partido dos Trabalhadores tomar as decisões que a Presidenta Dilma tomou na Presidência da República, com modelos que são criticados inclusive internamente - nós estamos tendo agora a discussão interna da direção do nosso Partido, e esse é o centro do debate -, quando são apresentadas modelagens na área da política de portos, de aeroportos, de ferrovias, de rodovias, enfim, que colocam a necessidade de haver um somatório de capital privado com a participação de recursos públicos. Ou seja, a necessidade de, para o País poder segurar o tranco neste momento econômico que estamos vivendo, haver, de um lado, investimento público ancorando o crescimento, não apenas com investimentos públicos, mas também com investimentos privados.

            Veja a nova modelagem em relação à política dos portos, que gerou todo esse debate aqui no Congresso Nacional. Ali é colocada a presença de investimentos privados no que é privado e públicos no que é público. O acesso ao porto, à ferrovia ou à rodovia, ou aos dois, quem faz isso? É o Poder Público. Precisa de reforço energético. É o Poder Público. Enfim, ele chama e dá segurança ao setor privado para vir junto.

            Então, nessa mudança na política que ela apresentou aqui agora para o Congresso na área das ferrovias - nós nem votamos ainda - é feito um cálculo de tonelagem transportada. Dá-se ao setor privado a segurança de que esse estudo tem consistência, de que o Governo confia nesse estudo e diz: construa que nós garantimos uma tonelagem mínima transportada aqui nessa ferrovia.

            Portanto, eu estou aqui fazendo confissões do debate que travamos de forma acalorada, muitas vezes, com os defensores da Social Democracia aqui representada. E temos orgulho - aliás, uma das coisas que mais me entusiasmam é o debate ideológico; às vezes é porque a gente faz um debate muito miúdo, enfim, e não o debate realmente de qual é o papel público e qual é o papel do setor privado, por exemplo, na economia, no social, na área de saúde, de segurança, de educação.

            Enfim, esse debate é o que interessa, de verdade, ao País. Por que estou dizendo isso? Aqui ouvi, no começo do ano, muitas vezes o debate sobre o tema da inflação. E é verdade, a gente teve momentos perigosos em relação à inflação. Mas, num dado momento, houve uma verdadeira campanha. Era algo que me fazia perguntar: Meu Deus, a quem interessa a inflação chegar aonde parece que quer chegar? A inflação está controlada. Medidas duras? Medidas duras. Acha que é fácil para alguém que é Presidente da República?

            Eu vejo aqui a discussão sobre a autonomia do Banco Central. Se não tivesse autonomia, alguém tinha deixado, às vésperas de uma eleição, ter aumento de juro? Juro que o próprio Governo paga. Quem paga é o Governo. Quando o Governo paga, isso tem de ser dito aqui, não tem meio termo. Na hora em que a gente aprovou aqui o aumento da taxa Selic, nós reduzimos os valores de investimento. Ou seja, a cada ponto percentual que aumentamos na Selic, nós estamos falando de 10 bilhões a menos em investimento. Se nós saímos de 7,5%, para 9,5%, para 10%, estamos falando de 20 bilhões, 30 bilhões, para investimento e que vieram para o juro. Por isso que não nos interessa o crescimento do juro no País. É bom para o cidadão, para a cidadã, e é bom para o povo.

            O que eu quero aqui, Sr. Presidente, se V. Exª permitir, estamos no final da sessão, V. Exª havia pedido um aparte e eu estava aqui fazendo a explanação, mas, mesmo estando na Presidência, seria um prazer dialogar com V. Exª pela importância do tema.

            O SR. PRESIDENTE (Aloysio Nunes Ferreira. Bloco Minoria/PSDB - SP) - Não vai faltar ocasião, nobre Senador Wellington Dias.

            Agradeço muito a oportunidade, mas creio que já estamos nos encaminhando para o final da sessão, porque haverá, logo mais, uma sessão especial. E não vai faltar ocasião de debater com V. Exª, o que é sempre um estímulo.

            Muito obrigado.

            O SR. WELLINGTON DIAS (Bloco Apoio Governo/PT - PI) - Será um prazer muito grande, Sr. Presidente.

            Quero aqui encerrar, minha querida Senadora Ana Amélia, Senador Pedro Simon, que nos acompanha, apenas citando sobre isso. Hoje, o jornal Meio Norte, do meu Estado, fez um caderno especial onde trata dos efeitos do Bolsa Família no meu Estado. Aqui há alguns temas para os quais eu mesmo não estava atento, sobre os efeitos do Bolsa Família. Cita o exemplo da D. Maria de Fátima Coelho. É uma senhora dependente do Bolsa Família que foi estimulada. Ela diz que o fato de ter uma renda abriu nela o desejo de ter mais renda, e, a partir daí, ela passou a fazer alfabetização, voltou a estudar, fez uma qualificação e hoje trabalha numa panificadora, com carteira assinada.

            Esse é um exemplo de como o Bolsa Família, no meu Estado, tirou 40 mil famílias da dependência, 80% da miséria no meu Estado. Quando a gente pensava em miséria no Brasil, a gente lembrava o meu Estado, o Estado do Piauí. É duro ter de reconhecer, mas essa é a realidade do meu Estado. Hoje, 5% da população do meu Estado estão na chamada miséria.

            Eu fui governador e vi ali 1,6 milhão, 1,7 milhão de pessoas tendo que receber Bolsa Família - e isso está reduzindo: 1,6 milhão, 1,7 milhão de pessoas na miséria ou na pobreza. Reduziu-se a pobreza em 46%, como lembra bem o jornal Meio Norte, com base em um estudo feito pela Universidade do Ceará. Não é um estudo feito nem lá dentro do meu Estado. Aliás, tenho pedido às nossas universidades, faculdades, para que possam ver o efeito, para que possamos, inclusive, aprender, corrigir o que tiver de corrigir, potencializar o que tiver de potencializar.

            Enfim, quero aqui parabenizar a equipe do Meio Norte que, de forma competente - e aqui mando o meu abraço a toda a equipe, em nome do José Osmando, que é um editor, aliás, um alagoano que foi morar no Estado do Piauí -, apresenta dados de grande entusiasmo.

            Digo isso de modo diferentemente feliz, porque acredito mesmo que é possível a gente ter um desenvolvimento, num Estado como o Piauí, mais acelerado do que outros. Temos a região de Cristalina, que é uma região seca, que não tem água de subsolo, menor do que o Ceará, do que a Paraíba, do que Pernambuco. Talvez o Maranhão seja do Nordeste já amazônico. O Piauí, na divisa com o Maranhão, tem pelo menos 80% do território com condições de produtividade: Cerrados, água, seis mil quilômetros de rios perenes ou perenizados. Um potencial extraordinário! Como é que se justifica a pobreza?

            Sempre digo, ao contrário de alguns estudos do passado, que a pobreza lá só se justificava pela nossa pobreza na educação: analfabetismo lá em cima, baixo grau de conhecimento e pouca qualificação. Na hora em que estamos mudando isso, também estamos envergando a curva nessa situação.

            Por isso, quero aqui agradecer o apoio que recebemos de todos os brasileiros. No Piauí, temos consciência de que foi transferência de renda, vinda inclusive de outras regiões mais desenvolvidas como São Paulo, aliás, da própria experiência que muitos piauienses tiveram lá em São Paulo e que estão retornando, montando restaurantes, montando pequenas empresas, fomentando nossa economia. Outro dia, citei aqui o exemplo de Guaribas, onde um casal que foi a São Paulo trabalhou de cozinheiro, de garçom e agora montou uma pousada em Guaribas dizendo não estar pensando no agora e sim no futuro. Olha que coisa maravilhosa! Aqui está dentro do Parque Nacional das Serras das Confusões, vai passar uma BR. Veja que visão para alguém como ele.

            Então, quero comemorar com o povo do meu Estado e agradecer - não posso deixar de falar aqui -, desde o Presidente Lula, a todos os que participaram; desde o Patrus Ananias, na época como Ministro, e tantos outros. Aliás, ainda antes, com o Graziano, que foi o primeiro, e depois foi para FAO; a Ministra Tereza Campello e agora a Presidenta Dilma, todos os que participaram desse trabalho integrando o governo de Estado, começando quando eu era governador e agora com o Governador Wilson Martins, uma presença extraordinária dos Municípios e de um conjunto de agentes das próprias organizações não governamentais, ou seja, pessoas que acreditam que é possível.

            Nesse meio termo, não posso deixar de comemorar a edição desse relato brilhante, desses estudos publicados.

            Muito obrigado.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 05/11/2013 - Página 78987