Discurso durante a 176ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Críticas ao sistema tributário brasileiro.

Autor
Valdir Raupp (PMDB - Movimento Democrático Brasileiro/RO)
Nome completo: Valdir Raupp de Matos
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
TRIBUTOS.:
  • Críticas ao sistema tributário brasileiro.
Publicação
Publicação no DSF de 11/10/2013 - Página 71213
Assunto
Outros > TRIBUTOS.
Indexação
  • COMENTARIO, ESTUDO, REALIZAÇÃO, BANCO INTERAMERICANO DE DESENVOLVIMENTO (BID), ASSUNTO, TRIBUTAÇÃO, AMERICA LATINA, CRITICA, GOVERNO FEDERAL, MOTIVO, EXCESSO, TRIBUTOS, BRASIL, OBSTACULO, PRODUTIVIDADE, NECESSIDADE, ATUALIZAÇÃO, SISTEMA TRIBUTARIO, PAIS, MELHORAMENTO, OFERTA, SERVIÇO PUBLICO, ESPECIFICAÇÃO, EDUCAÇÃO, SAUDE, IMPORTANCIA, LUTA, REDUÇÃO, DESIGUALDADE SOCIAL, OBJETO, DESENVOLVIMENTO NACIONAL.

            O SR. VALDIR RAUPP (Bloco Maioria/PMDB - RO. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, estudo divulgado pelo BID (Banco Interamericano de Desenvolvimento) mostra que o Brasil, além de taxar de forma desmesurada seus cidadãos, é o campeão da desigualdade horizontal.

            Trabalho elaborado pela economista argentina Ana Corbacho, sob o título "Taxação na América Latina e no Caribe: Mito versus Realidade", evidencia que a estrutura tributária de nosso País castiga o contribuinte duplamente -- vertical e horizontalmente.

            A desigualdade horizontal mede a disparidade da tributação de contribuintes de mesma classe de renda quando são enquadrados em distintos regimes tributários.

            O exemplo mais eloquente entre nós verifica-se no caso de pessoas físicas e jurídicas que percebem a mesma renda anual.

            No caso apontado no estudo, de renda hipotética de US$12 mil, ou cerca de R$24,5 mil, enquanto a pessoa jurídica recolhe zero de Imposto de Renda, uma pessoa física, ou seja, o cidadão comum recolhe 33,9% do produto de seu trabalho ao Fisco.

            No comparativo com o Chile, por exemplo, o contribuinte brasileiro perde feio, Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores. No vizinho transandino, a imposição tributária horizontal é praticamente equivalente: 20% para empresa e 23,2% para a pessoa física.

            No caso do México e da Argentina, incluídos no estudo, o desequilíbrio é maior, embora não alcance a situação brasileira de isentar a empresa e recolher mais de um terço da renda do cidadão.

            A pesquisa do BID confere transparência a uma série de prejuízos com os quais arca cotidianamente o contribuinte nacional.

            Enquanto a carga tributária média, em relação ao Produto Interno Bruto, na América Latina, é de 17%; no Brasil, ela é simplesmente o dobro, ou seja, 34% de tudo aquilo que produzimos anualmente.

            É bem verdade que o Brasil optou, dentro de seu emaranhado fiscal que contempla nada menos que 88 tributos, pela simplificação impositiva.

            Parece ironia, mas é isso mesmo, Sr. Presidente, com o chamado Simples, sucessivos governos procuram facilitar a vida dos contribuintes. Hoje, verifica-se que a situação está perpetrando uma tremenda injustiça fiscal.

            Ana Corbacho, em entrevista ao jornal Folha de S.Paulo, lembra que os modelos de simplificação

[…] foram criados para simplificar a cobrança, mas hoje é cada vez mais custoso atender a milhões de pessoas que optam por esse regime e pagam muito menos que os assalariados de empresas grandes.

            Para a pesquisadora, é preciso que os governos considerem igualmente o impacto na produtividade, na medida em que os micro e pequenos empresários seriam incentivados a evitar o crescimento. É que as empresas de maior porte são dotadas de economia de escala, com compartilhamento de custos de contabilidade, pessoal e de acesso ao crédito, não disponibilizados aos pequenos.

            Com correção, ao meu juízo, a funcionária do BID alerta para o caráter transitório que deveriam ter modelos como o Simples brasileiro, na atualidade gerador de gritantes distorções.

            Em vigor desde 1997, e reforçado 10 anos depois pela adição do prefixo “super”, Super Simples, acredito que o modelo deve mesmo ser revisto. E estamos diante de uma ocasião para lá de oportuna: quando a economia nacional começa a dar frequentes sinais de desaceleração e a confiança dos agentes econômicos registra discreto, mas persistente esmorecimento.

            Na verdade, Srªs e Srs. Senadores, já passou a hora de nos debruçarmos com decisão sobre uma reforma fiscal de corte vertical. O País, na vocalização de suas principais forças produtivas e representativas, clama há muitos anos por uma profunda revisão de nossa estrutura tributária.

            Além de arcaico e pesado, com perto de uma centena de tributos, entre impostos, taxas e contribuições, nosso modelo é muito injusto, como deixa claro, em apenas uma de suas vertentes, esse novo estudo.

            Ademais, não bastasse a obesa carga impositiva, o Estado, por intermédio dos vários Governos que se sucedem no País, não tem dado a devida contrapartida aos cidadãos e contribuintes. Ao contrário, os serviços públicos, em geral, são insatisfatórios, basta analisarmos as pesquisas, Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores.

            Há Estado, há Município em que a saúde chega a ter um apontamento, ou melhor, desapontamento, porque é crítica de 77% a de 78% da população. Eu já vi pesquisas de Estados e Municípios em que em torno de 78% da população reclamam do serviço de saúde. Então aí alguma coisa está errada. Com certeza absoluta, alguma coisa está errada.

            Se formos para a segurança pública, também não é diferente. São as duas áreas mais citadas nas pesquisas em todo o País: a saúde e a segurança pública. Depois vem a educação, a geração de emprego, que não é mais o grande problema no Brasil, graças a Deus! Hoje temos quase emprego pleno, mas ainda existem alguns gargalos, como a infraestrutura e a mobilidade urbana, muito apontadas pelas manifestações populares de junho deste ano.

            Somos deficitários em atendimento médico-hospitalar e ambulatorial, em infraestrutura de transportes e armazenamento e em qualidade da educação, por exemplo. Isso, para não mencionar a situação da segurança pública brasileira, uma preocupação constante e crescente na vida de milhões de cidadãos.

            Por tudo o que recolhe cotidianamente aos cofres públicos, a sociedade merece mais atenção e respeito. O cidadão tem todo o direito de identificar nos serviços públicos o resultado correto e positivo dos tributos que é compelido a recolher.

            Não há dúvida de que o nosso maior desafio é tornar isto uma singela realidade.

            Eu concluo, Sr. Presidente. Isso aqui é o que chamamos de crítica construtiva; eu não estou aqui fazendo uma crítica destrutiva do Governo; nós somos da base do Governo. O PMDB é o maior partido do Brasil, tem o Vice-Presidente da República, tem o Presidente do Senado Federal e o Presidente da Câmara dos Deputados. Logo, já fica bem claro que é um grande partido e que está na base do Governo, mas não podemos apenas só aplaudir; temos que fazer críticas também para poder chegar à resolução dos problemas.

            Eu sei que o Governo tem se esforçado. O governo do Presidente Lula, com o qual nós colaboramos e ao qual ajudamos, foi um grande governo. Houve uma diminuição significativa das desigualdades sociais e regionais; a infraestrutura tem avançado, se bem que não tem acompanhado o crescimento do País, por isso está aí o gargalo na infraestrutura, nas estradas, nas nossas rodovias, nas nossas ferrovias, nas nossas hidrovias, nos nossos portos, nos nossos aeroportos. O Governo tem se esforçado através do PAC (Programa de Aceleração do Crescimento), e eu tive o privilégio, quando Relator-Geral do Orçamento, em 2007, de colocar os primeiros recursos, R$15 bilhões, naquele orçamento para iniciar o PAC no Brasil, a pedido do governo do Presidente Lula.

            O PAC, realmente, tem acelerado o desenvolvimento do Brasil, senão na forma desejada, mas já diminuíram muito os impactos dos gargalos da infraestrutura brasileira.

            O apelo que faço neste dia, nesta tarde, ao encerrar o meu pronunciamento, é de que as obras, os investimentos, a resolução dos problemas seja mais célere, mais rápida, tenha mais agilidade, porque o Brasil anda um pouco travado. A gente tem reclamado muito, desde o início deste ano tenho reclamado de que o País está travado, de que a burocracia, ao invés de estar diminuindo, está aumentando, e nós precisamos fazer alguma coisa.

            O Congresso está fazendo a sua parte, tem trabalhado, tem votado, tem deliberado, mas o Governo precisa acelerar um pouco mais as ações para que a população sofra um pouco menos. Acho que estamos no caminho certo. Temos protestos de rua, temos movimentos populares, reivindicando, cobrando, o que é justo.

            O meu Partido nasceu dos movimentos, tanto é que teve o nome, no início, de Movimento Democrático Brasileiro, o velho MDB, o velho Manda Brasa, que nasceu das ruas, das lutas contra a ditadura militar. Por isso nós apoiamos os movimentos. Não o vandalismo, jamais, o quebra-quebra, a depredação de agências bancárias, de prédios públicos, seja aquilo que for. Não apoiamos esse tipo de protesto, esse tipo de manifestação, mas as manifestações pacíficas nós apoiamos, sim, e precisamos avançar para diminuir as desigualdades sociais e regionais do nosso País.

            Muito obrigado, Sr. Presidente.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 11/10/2013 - Página 71213