Pronunciamento de Jorge Viana em 11/10/2013
Discurso durante a 177ª Sessão Não Deliberativa, no Senado Federal
Comentários sobre entrevista concedida por S.Exª ao jornal Valor Econômico; e outros assuntos.
- Autor
- Jorge Viana (PT - Partido dos Trabalhadores/AC)
- Nome completo: Jorge Ney Viana Macedo Neves
- Casa
- Senado Federal
- Tipo
- Discurso
- Resumo por assunto
-
ELEIÇÕES, PRESIDENTE DA REPUBLICA.
LEGISLAÇÃO TRABALHISTA.
:
- Comentários sobre entrevista concedida por S.Exª ao jornal Valor Econômico; e outros assuntos.
- Aparteantes
- Cristovam Buarque.
- Publicação
- Publicação no DSF de 12/10/2013 - Página 71414
- Assunto
- Outros > ELEIÇÕES, PRESIDENTE DA REPUBLICA. LEGISLAÇÃO TRABALHISTA.
- Indexação
-
- COMENTARIO, ENTREVISTA, ORADOR, ARTIGO DE IMPRENSA, JORNAL, VALOR ECONOMICO, ESTADO DE SÃO PAULO (SP), SITUAÇÃO, POLITICA, ELEIÇÃO, PRESIDENCIA DA REPUBLICA, CITAÇÃO, EX SENADOR, MARINA SILVA, OPINIÃO, ALIANÇA (PE), OPOSIÇÃO, PARTIDO POLITICO, PARTIDO SOCIALISTA BRASILEIRO (PSB), DESENVOLVIMENTO ECONOMICO, CRITICA, PARTIDO POPULAR SOCIALISTA (PPS), TRANSFERENCIA, VOTO, LUIZ INACIO LULA DA SILVA, EX PRESIDENTE DA REPUBLICA, INFLUENCIA, DILMA ROUSSEFF, PRESIDENTE DA REPUBLICA, SEGUNDO TURNO.
- CITAÇÃO, PARTICIPAÇÃO, CONFERENCIA, TRABALHO, CRIANÇA, EX PRESIDENTE DA REPUBLICA, LUIZ INACIO LULA DA SILVA, PARTIDO DOS TRABALHADORES (PT), REDUÇÃO, BRASIL, TRABALHOS FORÇADOS, INFANCIA, IMPORTANCIA, RESPONSABILIDADE, EDUCAÇÃO, FAMILIA.
O SR. JORGE VIANA (Bloco Apoio Governo/PT - AC. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente Mozarildo Cavalcanti, caro Líder José Pimentel, nosso Líder no Congresso, eu queria cumprimentar V. Exª, porque todos achavam que o mundo ia cair quando voltássemos a apreciar vetos -- e sei do trabalho de V. Exª junto com a Ministra Ideli, com outros Líderes da Casa --, e o Congresso apenas ganhou agora a conclusão do processo legislativo.
Temos apreciado vetos, temos tido vitórias importantes para o País, não só para o Governo, e sei que aí surgiu um trabalho silencioso de V. Exª na Liderança do Governo no Congresso. Poucos valorizam isso, mas quem trabalha aqui sabe da dificuldade que é pautar uma matéria, apreciar uma matéria e ter maioria em relação a ela. E quem tem, de alguma maneira -- já que a Câmara é mais complexa --, dado esse equilíbrio é também a Bancada do Senado, já que tem que haver um quórum qualificado ou um percentual, um número de votos adequado, quando se aprecia veto ou quando se delibera no Congresso Nacional.
Então, parabéns!
Agora vou imitar um pouco o querido Senador Cristovam. Vou deixar para fazer uma fala sobre a Conferência sobre o Trabalho Infantil, que se encerrou ontem, na semana que vem.
Mas a situação segue tão grave, Senador Cristovam Buarque, que não vou fazer hoje porque saiu uma entrevista minha no Valor Econômico de hoje e preciso fazer alguns comentários sobre essa minha entrevista dada à competente jornalista Andréa Jubé, que ontem conversou comigo aqui na Vice-Presidência do Senado. E preciso fazer referência, tendo em vista que entramos no calendário eleitoral. A minha fala é sobre política, sobre esse novo cenário político, de Marina junto com Eduardo Campos, ou seja, da Rede, que ainda não é um partido de direito, mas já é de fato, junto com o PSB, ambos ex-aliados nossos e que, agora, se colocam como uma alternativa na disputa presidencial.
Queria dizer que, ontem, participei, com o Presidente Lula, que fez uma fala brilhante, da III Conferência Global sobre Trabalho Infantil, organizada pela OIT. Estavam lá o Ministro do Trabalho, que tem procurado colaborar -- inclusive há lideranças do PDT à frente do Ministério --, o Ministro Manoel Dias, assim como a Ministra Tereza Campello. O Brasil conseguiu inclusive trazer a III Conferência para cá graças à ação do Governo do PT, do Presidente Lula e da Presidenta Dilma, que abriu a Conferência; o Presidente Lula fez sua fala ontem, no último dia.
O Brasil conseguiu uma redução de 67% no número de crianças de 5 a 14 anos que trabalham; mundo afora, a média da redução foi de 36%, mas são números alarmantes. Existem no mundo ainda, Senador Cristovam… Na Conferência de ontem havia 153 países. Está se ganhando consciência. Na última, realizada na Holanda, havia 80. Ontem havia 153 países representados aqui em Brasília. Lamentavelmente, não foi a pauta do noticiário. Não sei o que pode ser mais grave no mundo de hoje, além da fome. Há crianças escravizadas pelo trabalho infantil. Não sei o que pode ser mais urgente. Nunca encontrei, como prefeito e como governador, um bezerro solto na cidade, sem dono. Sempre tem um dono. Mas encontramos crianças sem eira nem beira. E não há ninguém que assuma a responsabilidade por elas.
É um assunto tão sério, tão complexo, que vou me organizar melhor. Portanto, na semana que vem, já estou inscrito, pretendo abordar esse tema. Existem no mundo mais de 160 milhões de crianças de 5 a 14 anos que ainda trabalham. E V. Exª, Senador Cristovam, que é uma pessoa que ganhou respeito de todos nós seus colegas, desde a época do PT, desde a época do seu governo, e também agora, no PDT, com o seu mandato, sabe que lugar de criança é na escola.
Ontem, o Presidente Lula falou duas coisas em relação às crianças. Ele defendeu e fez uma homenagem a Leonel Brizola e a Darcy Ribeiro, dizendo que eram pessoas que lutaram pela escola integral, que trabalharam, que apontaram caminhos. E reafirmou que lugar de criança é na escola e, fora da escola, brincando, não trabalhando, para poder se completar como ser, para poder viver essa fase tão bonita, que adoramos e desejamos para os nossos sobrinhos, para os nossos filhos, mas nos esquecemos dos filhos dos outros, e são muitos, são milhões, que não fazem uma coisa nem outra, que não estão na escola nem estão brincando, estão trabalhando, escravizados, na busca da sobrevivência da família.
Parabenizo a Presidenta Dilma, o Presidente Lula, a Ministra Tereza Campello, o Ministro do Trabalho, todos que nos ajudam, os órgãos, o Ministério Público, a Justiça brasileira, os conselhos, as prefeituras, os governos, por essa redução de 67% do número de crianças de 5 a 14 anos que trabalham em nosso País. Enquanto o mundo reduziu um terço, o Brasil reduziu dois terços. Mas o número ainda é alarmante.
Mas, Srªs e Srs. Senadores, caros colegas, eu queria dizer que, hoje, no primeiro caderno, na contracapa, há uma matéria sobre a minha conterrânea, a companheira Marina Silva, que tem dominado os noticiários, na Folha de S.Paulo. É claro, eu li, pois ela escreve às sextas-feiras. Estou publicando, inclusive, no meu site, como faço sempre, junto com outros artigos. O meu site ganhou nesta semana, a minha fan page, um espaço enorme, porque estou tentando traduzir um pouco aquilo que é fundamental no Acre e também no Brasil.
O jornal Valor Econômico foi generoso comigo. Publicou até uma foto grande, com uma matéria que se chama de pingue-pongue, caro Líder. Descreve algumas opiniões que dei ontem, e dei com toda a sinceridade, com toda a independência, pois o nosso Partido nos permite fazer política, sempre com o propósito de, primeiro, ser transparente e autêntico. É assim que eu faço na minha vida.
Dei, inclusive, uma entrevista no Acre esta semana, que de alguma maneira tentaram transformar em polêmica, uma entrevista em que reconheço a realidade, sincera, verdadeira, elogiando, inclusive, o trabalho que estamos realizando. Alguns menos avisados, até sem ler o que eu falei, sem ver a minha entrevista, tentaram fazer -- e aí, de parte a parte -- comentários absolutamente sem nenhum apego à verdade, no sentido de tirarem algum proveito da fala que eu fiz com absoluta transparência.
E a minha entrevista começa… Os jornalistas todos ficam cobrando -- e os jornais de hoje tratam disso -- por que o Presidente Lula conversou durante quatro horas ontem com a Presidenta Dilma e mais alguns assessores. Todos ficam perguntando, por eu ser do Acre, assim como a Marina... Primeiro, a Marina saiu do PT, seguiu sua vida, é uma pessoa que sigo admirando, temos uma relação de mútuo respeito, uma história de vida construída juntos. A história dela se confunde com a nossa história no Acre. Nós temos muito orgulho disso tudo. Mas ela resolveu seguir um caminho e, como ela mesma diz, passar adiante seus sonhos, seus ideais, e tentar reunir pessoas em torno desses sonhos, todos eles tentando, de alguma maneira, construir um Brasil melhor para todos.
E me perguntam sempre. A primeira pergunta que me foi feita é como eu vejo essa aliança do PSB, Senador Pimentel, e da Rede. Eu falei que, primeiro, essa é a demonstração real, concreta, do fracasso das oposições em nosso País. Porque, veja bem, Sr. Líder Pimentel, as oposições estão há treze anos fora do governo. Treze anos depois, às vésperas da eleição de 2014, as oposições não têm nenhum projeto, nenhum programa e nem candidato, porque passaram treze anos colocando defeito naquilo que o PT ia tentar fazer ou naquilo que o PT fazia. Como o Presidente Lula, o PT queria o Bolsa Família, que é um programa que V. Exª está na origem dele, pela sua militância e gestão. O Presidente Lula transforma-o num programa fantástico, que chama a atenção do mundo inteiro, e o PSDB -- não digo o PSDB, mas pessoas do PSDB ou aliadas ao PSDB -- argumenta: “Eu quero saber quando esse pessoal vai sair do Bolsa Família”. O Presidente Lula diz: “Deixa pelo menos o pessoal entrar no programa, começar a ter algum benefício”. São bilhões de reais que vão direto para a mão do pobre.
Ontem, o Lula falou: “É engraçado. Quando a gente põe dinheiro na mão do rico, é investimento, mas quando põe dinheiro na mão do pobre, é despesa!”. O nosso Governo fez o contrário: colocou dinheiro nas mãos dos pobres e deu oportunidade àqueles que querem crescer suas fortunas. Quantos eram milionários e ficaram bilionários no Brasil, com o Governo do PT? Quantos eram pobres e ficaram ricos? Quantos eram ricos e ficaram milionários? Quantos eram excluídos e passaram a ser incluídos?
Então, a primeira pergunta é sobre o que eu acho dessa aliança. Ora, as oposições foram incompetentes, e agora nós estamos tendo um noticiário gordo, grande, falando de Eduardo Campos e Marina. E quem são Eduardo Campos e Marina? São ex-ministros do nosso Governo. Ajudaram a construir este Brasil e, legitimamente, têm o direito de se colocar como alternativa. Mas a construção dessa alternativa, que alguns chamam de terceira via, é a prova, é um tiro de misericórdia nas oposições. Aliás, a informação que temos é que a permanência do ex-Governador Serra e ex-candidato a Governador de São Paulo, a Prefeito de São Paulo, a Presidente da República -- a tudo -- se deu para ele ser candidato, de novo, a Presidente pelo PSDB. Nem o disco eles conseguem trocar. É o mesmo. O Aécio estava querendo se colocar como candidato, mas o Serra disse: “Não, só vamos discutir isso em 2014”.
Nessa primeira pergunta, eu ainda falei que há uma vítima da ida da Marina para essa aliança com o PSB, que é o PPS. A oposição mais raivosa que nós temos hoje, aqui, é a do PPS. O PPS foi criado na biblioteca do Palácio da Alvorada, para ser uma força auxiliar ao PSDB. E eu falei aqui que o PPS estava no altar, esperando a noiva. A noiva não apareceu, ele ficou lá, no altar, e não houve casamento. É uma oposição raivosa, cheia de rancor, que só vê defeito no País. Tudo o que fazemos está errado. E não reconhece absolutamente nada.
A outra pergunta é se o PT está preparado para enfrentar dois ex-aliados. E eu falo claramente: a Marina tem deixado bem claro que ela não quer fazer. E quando eu vi na imprensa alguma notícia e alguns posicionamentos da própria Marina, eu disse: “Tomara que não haja aí nenhum tipo de ressentimento”, e ela logo disse: “Olha, não há”. Porque, se houver, ela estará agindo contra tudo o que fez na vida, porque a Marina sempre trabalhou de forma positiva, pela proposição, e não contra, fazer uma ação só contra isso ou contra aquilo.
Enfim, a Marina tem agora o seu partido, e há muito tempo isso está muito bem resolvido na minha cabeça. Mas nós temos que ver que são duas pessoas que saíram de dentro do nosso Governo e que querem fazer um debate, agora, da qualidade -- tomara que seja isso -- do crescimento do Brasil, da qualidade das ações do Governo. Isso seria muito importante para o Brasil.
E também me pergunta que reflexo isso traz para a campanha e se haveria transferência de voto automática para Eduardo Campos. Eu acho que os eleitores que estão buscando novos partidos, especialmente um partido diferente, que vem parecido com a história do PT, porque a Marina escreveu, outro dia -- eu repeti, tenho falado sobre isso --, que no Brasil existe o costume de se criar um partido primeiro e depois ir atrás de uma representação social. Foi assim com os últimos. E tem sido assim com dezenas. No caso do PT, nós nascemos de movimentos sociais legítimos, com líderes enraizados no Brasil, e só precisávamos da chancela de um partido para seguir na luta partidária, com a nossa jornada de tentar mudar a sociedade brasileira e o Brasil. E conseguimos. A Rede está tentando esse caminho. Não é um caminho novo, é um caminho que o PT já trilhou. Não é um caminho inovador, mas é um caminho correto. Acho que todos os partidos deveriam ser criados assim. Como foi o próprio PDT no nascimento. Também foi assim. Havia um movimento, uma base social, precisava apenas do partido. Tanto é que houve briga pelo PTB e pelo PDT.
Mas ouço, Senador Cristovam, o aparte de V. Exª, com muita satisfação.
O Sr. Cristovam Buarque (Bloco Apoio Governo/PDT - DF. Fora do microfone.) - Pode ser depois, Senador.
O SR. JORGE VIANA (Bloco Apoio Governo/PT - AC) - E eu logo concluo, porque tenho cinco minutos...
O Sr. Cristovam Buarque (Bloco Apoio Governo/PDT - DF) - Senador, eu não quero interromper...
O SR. JORGE VIANA (Bloco Apoio Governo/PT - AC) - ... e eu ainda vou pegar uma asa dura para o Acre.
O Sr. Cristovam Buarque (Bloco Apoio Governo/PDT - DF) - Então, está terminando. Eu vou ser muito rápido, até porque, com este aparte, eu abro mão da minha fala, para que o Senador Pimentel o faça, a tempo da reunião dele e eu da minha. Senador, realmente, eu próprio não havia percebido a ideia. De que a oposição não traz nenhuma proposta, eu já disse muitas vezes aqui.
Não há proposta.
O SR. JORGE VIANA (Bloco Apoio Governo/PT - AC) - Cadê o projeto da oposição para o Brasil?
O Sr. Cristovam Buarque (Bloco Apoio Governo/PDT - DF) - Não há, não há. Eu já o disse. Agora eu não tinha percebido que hoje surgiu uma alternativa de dentro do próprio projeto -- vamos dizer -- democrático e popular. Talvez essa seja a maior vitória do Governo Lula e Dilma, com os quais nós colaboramos.
O SR. JORGE VIANA (Bloco Apoio Governo/PT - AC) - Prova do nosso sucesso. Está tão bom que alguns estão querendo fazer do jeito deles.
O Sr. Cristovam Buarque (Bloco Apoio Governo/PDT - DF) - Agora, há uma vitória maior do que esta: é, de fato, acontecer a alternância com a eleição de uma proposta que saiu de dentro, mas que não é a mesma, que seja capaz de dar um oxigênio novo ao que está sendo claramente um esgotamento natural em toda força que fica muito tempo no poder. Não existe nenhuma que não se esgote. Algumas levam 70 anos, como o PRI, como a União Soviética; outras, 4 anos; outras, 12 anos; outras, 20 talvez. Então, realmente é uma vitória a alternativa que hoje tenta formular um projeto -- não formulou ainda com clareza. Eu tenho dito que Marina e Campos são a novidade, mas ainda não são o novo, porque não mostraram aqui o novo, saíram das mesmas fileiras, da mesma concepção de um projeto chamemos -- muita gente não gosta; eu gosto -- de esquerda. Mas a alternância vai ser uma vitória maior ainda, como eu acho que a maior vitória de Fernando Henrique Cardoso foi passar o poder para Lula sem nenhum problema, sem constrangimento, tranquilamente, apesar de seu candidato ter perdido. Então, o senhor tem razão: vem das mesmas fileiras. Isso é uma vitória. Mas a maior vitória vai ser a alternância com avanços ainda maiores, como, por exemplo -- para concluir --, no combate ao trabalho infantil. Eu acho lamentável que o Presidente Lula não tenha aceito, nos primeiros meses de Governo, como eu sugeri, criar um grupo específico para lutar contra o trabalho infantil. Eu lembro que eu chamei até de xerife, alguém que coordenasse o trabalho, primeiro ponto -- hoje são cinco entidades --, e segundo, com meta, meta, meta de abolir em tantos anos. Lamentavelmente, não foi esta a preferência, o trabalho infantil, como não foi a erradicação do analfabetismo, como a gente começou no primeiro ano do Governo Lula.
O SR. JORGE VIANA (Bloco Apoio Governo/PT - AC) - Eu agradeço o aparte de V. Exª, Senador Cristovam.
De fato, aqui também eu sou perguntado: “Marina vai transferir votos para Campos?” Eu respondo que o problema é que ela tem, dentre os simpatizantes dela -- ela teve quase 20 milhões de votos --, a parte talvez mais exigente de eleitores do Brasil, que não vai ser encaminhada com o que se chama na política, com todo o respeito, de efeito manada: vai um, vão todos para lá.
É um eleitor que tem de ser conquistado, que é sujeito do processo político. Certamente uma parcela grande desses eleitores vai ficar conosco, caso ela não venha a ser candidata. Não tenho nenhuma dúvida disso.
Aqui me foi feita outra pergunta: “Lula e Dilma intensificaram os encontros. Qual o papel de Lula no governo Dilma?”
Eu faço questão de ler a resposta porque a jornalista foi muito precisa e porque é uma questão que eu vejo -- está na minha resposta -- como verdadeiro preconceito contra Lula, por parte de algumas pessoas. Querem vestir o pijama no Lula a qualquer custo quando ele está em pleno vigor. E nunca esteve tão bem. Está virando sábio, já com os outonos da vida. Eu respondo: “Lula é o mais experiente político em atividade no país, é o ‘cão de guarda’ do nosso projeto” -- usei esse termo. Dilma criou uma condição que nunca ninguém tinha visto na política: sendo a número um no Executivo brasileiro, ela se encontra permanentemente com o Presidente Lula, com outras lideranças, como um relógio, todo mês. Ontem foi mais... E, agora, dependendo do cenário, eles se encontram duas vezes por mês para aumentar o nervosismo daqueles que querem Lula longe da política e do debate sobre os destinos do País.
“Isso é pedagógico e, lamentavelmente, não é reproduzido na política brasileira, nos Estados.” Deveria ser -- deveria ser. “Ninguém pode pegar um líder como o Lula [ouçam todos que me acompanham pela TV Senado e pela Rádio Senado e meus colegas aqui], que é um ‘Pelé da política’ [usei essa figura do Pelé porque Pelé só existe um] e deixar no banco de reserva”. É como se houvesse uma disputa da Copa do Mundo, uma decisão importante, e o Pelé, com 28 anos, ficar na reserva, não participar de nada.
A Presidenta Dilma está pegando o nosso Pelé da política e está fazendo um extraordinário uso do nosso Pelé, que é o Lula.
Aí vem outra pergunta: “Mas essa relação é criticada como uma interferência de Lula no governo de sua sucessora”.
Respondo:
Lula faz tudo isso sem interferir de maneira direta no governo. Essas críticas beiram o preconceito, acham que Lula tem de vestir o pijama. Lula não nomeou nem demitiu ministro. A relação com Dilma e o governo, Lula faz como um mestre, com sabedoria.
Aqui há mais uma pergunta, que eu queria deixar como última: “O marqueteiro João Santana disse que Dilma vai se eleger no primeiro turno, porque ocorrerá uma ‘antropofagia de anões’. O senhor concorda?”
“Não podemos criar um ambiente que nos leve a tomar decisões precipitadas, como não vai ter segundo turno.”
Não dá para discutir isso, tem que trabalhar como se... A eleição é de turnos. O PT tem tratado isso com muita tranquilidade, o próprio Presidente Rui Falcão, a própria Presidenta Dilma, que não está fazendo uma discussão direta, aberta sobre sucessão, mas sempre coloca... Estive com ela, em Nova York. Tenho visto que tem os pés no chão. O Presidente Lula nem se fala. Se alguém chegar com uma conversa dessa para ele, ele vira uma arara.
“Achei precipitadas e lamentáveis as declarações [de João Santana -- respondo eu.] Ele é um craque, mas acho que disse algo tão reprovável quanto o Montenegro.”
Eu conheço e me dou bem com o Montenegro do Ibope. Há um ano e meio antes, por conta do Mensalão, ele sentenciou que o Lula não faria o sucessor e que o PT sairia do Governo, porque estava derrotado. Com base em quê?
Eu acho que o craque João Santana não pode repetir o Montenegro do Ibope, que também é uma pessoa muito qualificada para debater esse tema, mas eles também erram quando tentam assumir um papel de adivinho. Então, uma figura, um craque como o João Santana não pode trabalhar com achismo.
“Não tem eleição fácil, muito menos a busca de um quarto mandato.”
Então, eu concluo aqui dizendo que a eleição começou agora e nós do PT, que estamos no Governo, precisamos ter uma avaliação desse quadro político com muita humildade, nós temos que ter os pés no chão. Nós temos hoje as duas mais importantes lideranças do País, a Presidenta Dilma e o Presidente Lula, um governo bem avaliado, um governo que, de alguma maneira, faz uma governança pedagógica para o mundo, mostrando prioridade na busca da inclusão social, no crescimento econômico, no controle econômico.
O próprio Senador Cristovam tinha, num aparte, falado sobre a importância da alternância, eu quero só dizer: a alternância é importante, mas nós precisamos de mais um tempo, que a democracia nos permite com o processo de eleição e reeleição, para que nós possamos concluir essa obra, que não é uma obra acabada.
Mesmo depois desse tempo, ainda não vai estar acabada, mas vai ter transformado o Brasil e a vida dos brasileiros para melhor. É esse o legado que o PT, e o PT tem todo o direito de reivindicar mais um governo para poder aperfeiçoar e avançar.
Então, eu vou reproduzir essa entrevista que eu dei no Valor Econômico no meu site, na minha fan page e espero que, ela, sendo lida, possa ser comentada por aqueles que se interessarem. Eu vou ler e acompanhar os comentários com toda atenção e respeito.
Obrigada, Senador Mozarildo. Desejo um bom fim de semana para V. Exª e para todos os colegas do Senado.
Cumprimento os que nos visitam e todos que estão me acompanhando pela TV e Rádio Senado.
Muito obrigado, Sr. Presidente.