Discurso durante a 177ª Sessão Não Deliberativa, no Senado Federal

Destaque para a importância da provável participação do PSB na próxima eleição presidencial.

Autor
Pedro Simon (PMDB - Movimento Democrático Brasileiro/RS)
Nome completo: Pedro Jorge Simon
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
ELEIÇÕES.:
  • Destaque para a importância da provável participação do PSB na próxima eleição presidencial.
Publicação
Publicação no DSF de 12/10/2013 - Página 71425
Assunto
Outros > ELEIÇÕES.
Indexação
  • COMENTARIO, POLITICA NACIONAL, ELEIÇÕES, PRESIDENCIA DA REPUBLICA, DEMOCRACIA, DITADURA, ELOGIO, VOTAÇÃO, JUSTIÇA ELEITORAL, CONGRESSO NACIONAL, INDEPENDENCIA, PROGRESSO, URNA ELEITORAL, COMPARAÇÃO, PAIS ESTRANGEIRO, ESTADOS UNIDOS DA AMERICA (EUA), DEBATE, GOVERNADOR, ESTADO DE PERNAMBUCO (PE), PARTIDO POLITICO, PARTIDO SOCIALISTA BRASILEIRO (PSB), PARTICIPAÇÃO, ALIANÇA (PE), MARINA SILVA, EX SENADOR, CRITICA, CAMPANHA ELEITORAL, PARTIDO DOS TRABALHADORES (PT), PUBLICIDADE, FERNANDO COLLOR, LUIZ INACIO LULA DA SILVA, FERNANDO HENRIQUE CARDOSO, EX PRESIDENTE DA REPUBLICA, ASSESSORIA, IMPRENSA, OPINIÃO PUBLICA, OPOSIÇÃO, PARTIDO DA SOCIAL DEMOCRACIA BRASILEIRA (PSDB), DILMA ROUSSEFF, PRESIDENTE DA REPUBLICA, POLITICA SOCIAL, MIDIA SOCIAL, FICHA LIMPA.

            O SR. PEDRO SIMON (Bloco Maioria/PMDB - RS. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, Srs. Parlamentares, nós estamos vivendo, digamos assim, um momento muito importante na vida política brasileira.

            Vários políticos estão dizendo que, talvez, nesta eleição, nós vivamos o fim da Velha República, em que houve a Revolução de 1930. Lá se vão 80 anos. Lá se disse: “A Revolução de 30 terminou com a Velha República”. Terminou. Democracia, voto direto, eleições democráticas. Mas, na verdade, os vícios, os erros, os fracassos da Velha República continuaram tempo afora. Momentos de democracia entrecortados por longos períodos de ditadura.

            Parece mentira, Presidente, mas, agora, quando a gente festeja os 25 anos da Constituinte, na verdade, o que a gente está festejando é que o Brasil está vivendo o maior período de vida democrática de sua existência desde a sua independência. O maior período. O Império era o Império. Normalmente o Congresso fazia o papel de mentirinha. Na Velha República, as eleições eram feitas a bico de pena, de forma aberta. O cidadão entrava na fila e votava. Votava no candidato do comissário, do chefe, ou, então, não se sabia o que aconteceria com ele.

            Conta a história que em vários Estados não havia Justiça Eleitoral, e o Presidente da República nomeava uma comissão eleitoral. Essa comissão apurava e chegava às conclusões. É claro que ganhava sempre o candidato do governador. Era a chamada “política dos governadores”. Veio 1930, e isso mudou: democracia, voto secreto, mulheres votando. Justiça Eleitoral criada, grandes mudanças. Mas, na prática, na realidade, os vícios da Velha República estão aí: Congresso sem independência nenhuma.

            Na Justiça Eleitoral temos uma grande vitória, um grande avanço, que é a urna eletrônica. Em termos, do momento em que o eleitor vota até a apuração, o Brasil é o maior exemplo de eleição no mundo inteiro. É perfeito. Os Estados Unidos ficam lá atrás de nós. Mas, até chegar ali, as anarquias, as irresponsabilidades, os gastos públicos postos fora, a fortuna que se faz, os descalabros. O Brasil continua como a Velha República

            Assisti ao programa eleitoral do PSB, ontem, na televisão. Falou o Governador de Pernambuco e falou a ex-Senadora Marina. Gostei do programa. Achei um programa bonito, interessante, firme e coeso. Eu gostei do Governador porque ele deu uma mensagem de, na campanha, desta vez, fazer-se um grande debate.

            Eu gostei do Governador, porque ele não linchou as obras do governo de Lula e até as obras do Fernando Henrique. Não foi um “destrói quarteirão”. Ele disse que o que foi feito foi feito e foi benfeito, só que agora nós temos que abrir o diálogo a um debate conjunto de toda a sociedade. Nós agora podemos ficar batendo palmas para o que aconteceu, mas temos que fazer um grande debate do que deve ser feito com a participação de toda a sociedade.

            Eu acho que essa aliança do PSB com a Rede tem um aspecto positivo para o Brasil. A eleição passada, na minha opinião, foi uma das mais tristes, uma das campanhas mais tristes que já vi. Os motes da campanha eram o aborto, o homossexualismo, teses ridículas, porque essas são teses de consciência, que debatemos, mas, na Presidência da República, o candidato tem que debater os problemas do País e as propostas que ele apresenta. A oposição foi muito dura em cima da candidata do Governo, a Senhora Dilma, e ela teve que entrar nesse debate, na minha opinião, ridículo. Foi feia a campanha, foi ruim, foi triste.

            O que eu gostei, ontem, no programa do PSB, com a presença da Rede e da própria Senadora Marina, falando, inclusive, ao vivo, o que eu senti exatamente é que eles deverão levar o debate para o sentido da análise do que fazer e de como avançar. É o que diz o Governador. Não se pode deixar de reconhecer que o Brasil cresceu, não se pode deixar de reconhecer que as classes sociais melhoraram, que muita gente saiu da miséria e que, hoje, come duas vezes por dia.

            O problema não é debater querendo acusar, querendo ver os erros, os equívocos. A questão é daqui para frente. Pode-se fazer mais e melhor. E com isso eu concordo.

            Eu acho que, nesta campanha, a Presidente Dilma não deve seguir à risca como o PT tem feito.

            É verdade que deu certo. O PT, na primeira campanha do Lula, naquela em que ele perdeu para o Collor, se alguém tivesse lhe dado uma orientação, o Lula estaria com a eleição ganha. Perdeu naquele debate da Rede Globo. E perdeu de uma maneira ridícula. O Collor colocou em debate que ele tinha uma filha e que havia falado para a senhora mãe da filha fazer aborto, e fez disso um escândalo. A coisa foi tão ridícula que ele, Collor, olhava a vida do Lula. Lá pelas tantas, aparecia um aparelho de música, de televisão, muito completo, e o Collor disse: “Mas é tão bom, é tão caro que eu não dinheiro para comprar. Eu não tenho um igual”. No dia seguinte, a Rede Globo, o Jornal Nacional... Todo o Jornal Nacional pinçando as coisas ruins do Lula e colocando o Collor nas alturas. Lá, eu concordo, faltou ao Lula um planejador, que é necessário.

            Eu não sou contra que haja publicitário que oriente, que faça, que demonstre as coisas. Eu sou contra o publicitário tomar conta. A primeira eleição que o Lula ganhou, na verdade, foi o Duda Mendonça. A imprensa publicava, todos os dias, muito mais a palavra do Duda Mendonça do que a do Lula, porque o Lula só repetia o que Duda Mendonça mandava. O Duda Mendonça dizia: “Eu vou mudar a aparência do Lula, essa barba não dá”. Aparou a barba, aquela rústica, liberta do Lula, e fez uma barba como a desses empresários importantes. “Eu vou mudar a roupa do Lula.” O Lula, que aparecia com aquela roupa simples e tal, de repente, apareceu com um figurino excepcional. Líamos no jornal, primeiro, o que o Duda disse que ia fazer. No dia seguinte, o Lula fazia aquilo que o Duda mandou fazer.

            Por aí, não dá! Aí, os americanos são mil vezes mais sérios na campanha do que nós. O que decide a campanha nos Estados Unidos, Presidente, são os três ou quatro debates entre os dois presidentes ao vivo. A pergunta é feita e eles respondem na hora, sem nenhum papel. Não tem nada na frente deles.

            O Kennedy ganhou nesses debates. O vice-Presidente do Clinton, Prêmio Nobel da Paz, candidato excepcional -- era praticamente certo que seria nomeado Presidente da República --, perdeu. Por que ele perdeu? Ele perdeu porque as pesquisas eram tão favoráveis a ele que a equipe disse o seguinte: “Tu não tens de ganhar pontos neste debate. Não tens. Tu não podes perder; então, cuidado na hora de falar. Evita, sempre que possível, dizer alguma coisa com que tu podes perder”. Então, vinham as perguntas clássicas: “E a intervenção no Iraque?”. Ele respondia: “Pois é, eu vou ver, eu vou pensar, eu não sei o quê”. Chegava o Bush e dizia: “Eu vou fazer, eu vou determinar”. Sobre todas as medidas, o Bush tinha personalidade para falar. Ele afirmava: “Vamos fazer isso, vamos fazer aquilo e vamos fazer aquilo!”. E o outro, com o pensamento da sua assistência -- “Já estás com a eleição ganha, só não dê resposta que vá ser colocada em jogo.” --, perdeu a eleição. Perdeu no debate. Perdeu no debate.

            Aqui, não. Aqui, os debates são de mentirinha, até porque é uma pergunta aqui, outra ali, são cinco ou seis candidatos. O que vale é, realmente, o programa. Na primeira eleição do Lula, foi espetacular o programa que o Duda armou. Foi fictício.

            Então, os homens da televisão dizem que é bom, bom, mesmo, o candidato que não tenha nada, que não tenha vida passada. Quando a gente fala: “Mas para votar num candidato assim tem que...” Um que não tenha vida passada é uma maravilha! Foi o que eles acharam desse Ministro da Educação que se elegeu Prefeito de São Paulo: não foi vereador, não foi deputado, não foi secretário, nunca foi nada. Teve uma passagem pelo Ministério. Com esse, a propaganda fez o que quis. Não tinha o que cobrar, nem o que deixar de cobrar.

            Então, quando o candidato do PSB diz que devemos ir para um grande debate, tratando dos grandes problemas da sociedade brasileira, olhando para frente, eu acho que o PT e o PSDB deveriam dar a mesma resposta, fazer a mesma coisa.

            A melhor coisa, na minha opinião, que o PT e o PSDB podem fazer é esquecer a briga de 20 anos entre PT e PSDB e pensar no Brasil, porque esse negócio de oito anos PT, oito anos PSDB, oito anos PT, isso está cansando a opinião pública, e é o grande argumento que está aí.

            O grande argumento do PSB e da Rede é: “Chega de embromação entre PT e PSDB, que significam a mesma coisa”.

            Há muita semelhança entre o governo do Lula, do PT, e o governo do Fernando Henrique, do PSDB, tanto que, mesmo aqui no Senado, é muito difícil. O PSDB, quando critica o Governo, critica com cuidado, porque vem o PT e responde: “Mas vocês também fizeram”.

            O mesmo acontece com o PT. Quando o PSDB faz uma acusação mais dura, o PT não responde: “Não, nós não fizemos, não é verdade. A nossa linha é essa. Isso aí é completamente errado”. O PT responde: “Nós fizemos, mas vocês fizeram primeiro”.

            Então, na verdade, se nós analisarmos, nesses longos últimos anos que estamos vivendo, a oposição no Congresso é de mentirinha, é de faz de conta. O PSOL mais duro, mas numa posição intransigente, eu respeito e não discuto, mas muito diminuta na sociedade brasileira, e os outros vão levando.

            O PMDB esteve no governo oito anos com o Fernando Henrique, está no governo com os oito anos do Lula -- os oito não, porque os primeiros quatro,... mas estava, praticamente --, também não... O PFL, que quase desapareceu, não sabe para onde vai, nem o que vai fazer, nem qual é o seu futuro.

            O PSDB surpreende. Pensávamos que a questão já estava resolvida. Primeiro, o candidato era o Aécio. Segundo, o Serra parou com aquela bobagem de sair de um partido para ser candidato por outro partido e havia determinado: “Estou no PSDB e vou ficar no PSDB”. E o tempo de mudar de partido já passou, 5 de outubro. Então, está resolvido.

            Veio o Serra ontem, em manchete, e disse: “Não, o assunto de candidato a Presidente do PSDB não está resolvido. Nós vamos discutir isso no ano que vem”. E já abriu uma confusão dos diabos. Quando achávamos que a candidatura no PSDB já estava decidida, que era o Aécio, que o apoio do Serra já estava decidido e que o Serra ia apoiar, o Serra diz com todas as letras: “Não, esse assunto só vamos discutir no ano que vem”.

            No PT, eu tenho a convicção de que vai ser a Presidenta a candidata. Nisso, eu acho muito positiva a ação do Lula. Não há dúvida de que há movimento intenso de muita gente no PT que gostaria do retorno do Lula. São aqueles que sempre veem na Presidenta uma senhora importante e competente, mas uma pessoa que entrou no PT, mas que não teve origem no PT. Ela é do PDT do Brizola. Ela começou como Secretária de Fazenda do Collares, na Prefeitura de Porto Alegre; continuou com o Collares como Secretária de Minas e Energia no governo do Estado; e, depois, um núcleo do PDT, ela, Sereno Chaise, amigos íntimos do Brizola, inclusive, saiu do PDT e ficou com Olívio Dutra no governo.

            A escolha dela para Ministra não foi indicação do PT, nem do Rio Grande do Sul, nem de lugar nenhum; foi uma escolha pessoal do Lula. Lula, já eleito, fez reuniões pré-governamentais e, na reunião de Minas e Energia, chamou os secretários de todos os Estados e pessoas que entendiam do assunto. Ele ficou impressionado com a análise que a Dilma fez, discordando, inclusive, de alguns chefões e mostrando um caminho. Ficou tão impressionado que a convidou para ser ministra, à revelia... O PT do Rio Grande do Sul não gostou. E isso porque o PT do Rio Grande do Sul, no primeiro governo do Lula, se não me engano, teve três ou quatro ministros. Mas a Dilma não entrou na cota do PT, entrou na cota do Lula.

            Então, há muita gente que gostaria de trocar. Se o Lula tivesse vaidade, o que é muito comum nos políticos, seria só ele aceitar essa onda. Tenho certeza de que a Presidenta Dilma, inclusive, cairia fora para ele entrar. Não! Com muita autoridade -- e eu acho muito bonita a competência dele --, ele deixa claro que ele não é candidato e que o candidato dele é a Dilma. Então, a Dilma já é candidata.

            Uma coisa interessante é que, tanto no caso da Dilma quanto no do Aécio, no debate, vai ser como na eleição passada: um não tem muita coisa para dizer do outro. O PSDB, na hora de bater no Lula, já sabia que viria a resposta do PT, mas lá no Fernando Henrique também aconteceu. E o PSDB, a mesma coisa: atacava o PT, mas sabendo que viria a contraverdade, dizendo: “Mas no seu governo também aconteceu”.

            Esta eleição vai ser diferente. Se a Dilma e o Aécio ficarem trocando afagos ou desaforos, não vão somar. Vai haver uma terceira versão, em que vão debater os problemas do Brasil. Então, eles vão ter de entrar nesse debate. E acho que o Brasil vai realmente acompanhar, com grande significado.

            Eu diria que, pela primeira vez, será uma eleição que vai ter conteúdo. Não fizemos a reforma partidária, estamos com tantos partidos como nunca tivemos antes. Mas, apesar disso, a essa altura, a menos de um ano da eleição, eu me atrevo a dizer: pode haver candidaturas de mentirinha, partidos que lançam candidatos para se firmarem. Nem sempre acontece isso.

            Tenho uma admiração profunda pelo grande professor, que foi grande Deputado, fundador do PT e que, na última eleição, foi candidato a Presidente da República. E, como candidato a Presidente da República, se não me engano, do PSOL, o maior debate que ele tinha, as maiores acusações que fazia era com a Marina, nem com o candidato do PSDB, nem com a Dilma.

            E ele, um professor católico, um homem extraordinário, um pouco radical, entrou em todos os debates, e o foco das suas acusações era a Marina: “Essa é perigosa, porque está vendo uma coisa que não é. Essa não pode”. E dava a entender que era preferível votar no candidato do PSDB, no candidato do PT a votar na Marina. Eu olhava aquilo e não conseguia entender, não conseguia imaginar o porquê. Em primeiro lugar, o PSOL e o PSTU deveriam estar juntos em um determinado entendimento. Não. E não fizeram nada, com um pouquinho de Deputados, mas atrapalharam.

            Mas desta vez será diferente, porque se vai haver um candidato que não vai fazer a campanha para ver os erros da Dilma nem comparar com os erros do Fernando Henrique, se vai haver um candidato que vai olhar para frente, vai debater e discutir com a sociedade o que será daqui para diante... Gostei muito do Governador de Pernambuco quando falou ontem: “Não posso deixar de reconhecer o avanço social no governo do Lula, foram conquistas importantes. Não vou deixar de dizer que muita gente saiu da miséria e hoje tem uma vida respeitável. Isso foi feito, isso é importante. O que vou dizer é que isso foi feito. Vamos ver o que vão fazer daqui para diante”.

            Isso é o correto, absolutamente correto. É o que, de certa forma, a imprensa publicou ontem. Fernando Henrique, diz a imprensa, tem como expoente dos seus anos de governo a estabilidade financeira, o fim da inflação e a colocação do Brasil nos trilhos. Faltou dizer que o Fernando Henrique fez isso continuando o que tinha começado o Itamar. Essa política toda, o Itamar, no seu interregno como Presidente, começou. Mas justiça seja feita, o Fernando Henrique levou adiante e consolidou.

            Por outro lado, se a marca do governo Fernando Henrique foi essa estabilidade na economia, combate à inflação, a marca do governo Lula foi o social. Pode-se discutir -- muita gente discute -- que temos que ter cuidado no sentido de dar dinheiro para o cidadão no fim do mês, porque ele termina se acostumando.

            O Roosevelt fez isso na Grande Depressão em 1930. A depressão era tão horrível, o desemprego era tão intenso, que Roosevelt criou um programa. Aconteceu exatamente um problema como esse, o de dar um dinheiro, um auxílio para cada desempregado.

            E a economia foi se retomando. Retomada a economia, alcançado um estágio de desenvolvimento, foi difícil, porque alguns se acostumaram a receber aqueles dólares no fim do mês e queriam aquilo e mais nada. Não queriam trabalhar!

            Então, fazer que o cara entendesse que aqueles dólares que ele recebia no fim do mês -- uma miséria, mas com que ele acabou se acostumando --, ele tinha que deixar e tinha de conseguir o trabalho dele levou tempo. Mas se conseguiu.

            Isto, no Brasil, temos que entender: Bolsa Família, tudo isso é importante, mas tem que ser temporário. Jamais teremos uma sociedade sadia, um país desenvolvido, com milhões de pessoas que para terem duas refeições precisem do dinheiro fornecido como caridade pelo Governo.

            Deve ser feito, está certo. Mas tem de haver um prazo e uma forma por meio da qual na medida em que o País for se desenvolvendo, na medida em que o País for crescendo, mais pessoas entrem no ritmo da produção, conseguindo uma posição firme que lhes dê um rendimento bem maior do que aquele que estavam recebendo. Isso, para eles adquirirem confiança neles mesmos.

            Não há nada que diminua mais a personalidade do homem... Eu vejo isso várias vezes em minhas andanças, quando vou para o meio do povo, para o meio da gente mais simples e converso: “Dr. Simon, eu chego com vergonha em casa. Nós agora estamos tendo. Eu ganho um dinheirinho. Almoçamos e jantamos, estamos bem melhor! Mas eu me sinto inválido, porque eu não tenho emprego, eu não faço nada. Vivo disso!” Esse é o inconformado, que está buscando um trabalho. Mas muitos se conformam e se acomodam nisso.

            Então, está certo o Governador de Pernambuco, quando diz que o que foi feito até aqui foi feito e bem feito. Mas que temos que ver o próximo passo. O Brasil crescer e cada pessoa ser mais útil, trabalhando e recebendo a remuneração pelo seu trabalho.

            Um amigo meu, um grande escritor, que tenho a honra de ter comigo no meu gabinete, me dizia agora há pouco que essa campanha será feita em vários níveis. Ele concorda que o nível da televisão, desta vez, vai ser elevado. Os Partidos farão grandes comícios, grandes concentrações -- não pela concentração em si, porque com a televisão em cadeia, rádio em cadeia para todo o Brasil, um comício com 5 mil, 10 mil, 30 mil, 40 mil, 50 mil pessoas não tem significado. Mas é importante para filmar e botar na televisão. Então, os partidos farão isto: grandes concentrações para mostrar prestígio e botar na televisão. E na televisão, o debate vai ser elevado.

            O SR. PRESIDENTE (Mozarildo Cavalcanti. Bloco União e Força/PTB - RR) - Senador Pedro Simon, permita-me apenas fazer o registro da presença, nas nossas galerias, dos alunos do Programa Escola na Câmara, do ensino médio de uma escola do Gama, Distrito Federal; eles estão aqui nos prestigiando.

            E quero informá-los que hoje, sexta-feira, é uma sessão não deliberativa, portanto, não há votação. É destinada apenas, como está fazendo o Senador Pedro Simon, a debater os temas nacionais ou do Estado do Senador. Sejam bem-vindos!

            O SR. PEDRO SIMON (Bloco Maioria/PMDB - RS) - Meu abraço aos jovens. É importante a explicação do Presidente. Senão, vão sair por aí dizendo: “Esse é o Senado? Um presidindo, o outro falando e o plenário vazio”. O problema é que sexta-feira, normalmente, é um dia não deliberativo, ou seja, não há votação, apenas debates. Os Senadores foram para os seus Estados ou estão nos seus gabinetes, ou até em casa, ligando a TV Senado e assistindo à sessão. De qualquer maneira, é interessante filmar para ver que aqui está vazio, e vocês nos honram com a presença. Um abraço.

            Mas o que dizem, o que o meu amigo me diz é que está sendo preparada uma campanha suja, suja, suja, lá fora, nas redes sociais. Uma série de coisas que acontece. E vai ser de tal maneira que todo mundo não vai dar muita bola para a televisão normal, mas para o que está acontecendo nessas redes.

            Já ouvi uma série de coisas que dizem, e praticamente não acredito, de A, de B, de C. E é triste, porque, nisso aí, ninguém pode atirar a primeira pedra. Ninguém pode atirar a primeira pedra!

            Já estive nesta tribuna várias vezes defendendo a minha simpatia imensa pelas redes sociais. Imensa! E esses jovens na rua, aqui e no mundo, são a convicção de que vamos mudar. Não é aqui no Congresso Nacional. A depender das reuniões de Líderes do Senado e da Câmara, a depender de nós aqui, este mundo iria para pior. Com todo o respeito, o Supremo não é muito diferente. Não vamos esperar jamais grandes mudanças vindas do Judiciário. E do Executivo, então, reforma nenhuma. Mas do povo na rua.

            Então, eu esperava e espero, nessa eleição, um grande debate. Isto é fantástico, as redes de comunicações, com milhares, milhões de pessoas falando, discutindo, debatendo. Tenho a convicção de que vai ser uma batalha imensa. Pena é o que se está dizendo: que vai ser suja, muito suja, porque tudo aquilo que vão recolher, não tendo coragem de botar nos programas de rádio e televisão, porque teriam de responder processo, vai ser jogado ao ar.

            Mesmo assim, acho que teremos uma grande eleição. Uma grande eleição! Talvez até, se Deus quiser, estejamos dando um grande passo para enterrar a Velha República. É provável. Já temos aí a Lei da Ficha Limpa. Tenho visto uma série de companheiros, amigos de vários Partidos dizendo que não são candidatos, alguns até com mágoa. Conheço gente até do meu Partido, um grande prefeito, sério, honesto, decente, digno, que não tinha maioria na Câmara e a Câmara rejeitou as contas dele; então, está com a as contas rejeitadas e não pode ser candidato.

            Mas disse para ele: “Pode ir porque, afinal, o tribunal...”. “Não, não vou. Não vou porque não quero ver esse debate, na cidade inteira, todo mundo dizendo que não foram aprovadas as contas, e até eu provar que não roubei nada, não fiz nada...”. Então, muita gente, honesta inclusive, será excluída por conta própria da campanha. E outros, se a Justiça for firme, e se mantiver o que diz a Lei da Ficha Limpa, condenado no Colegiado, ainda que o processo esteja andando -- e vai andar mais 20 anos --, não pode ser candidato.

            Alguém me diz: “Mas serão feitas injustiças”. Serão, muitas pessoas que talvez não mereçam serão atingidas e não serão candidatas. É o preço a pagar, é o preço a pagar até termos a consolidação do processo. Esse é o grande fato determinante daquilo que Dr. Ulysses dizia, quando os Deputados iam lá falar com ele, queixando-se de que o Congresso estava muito ruim, muito ruim: “Espera até ver o que vem depois, porque o que vem depois é muito pior”.

            Hoje eu não diria isso aqui, porque acho que, com a Lei da Ficha Limpa, muitos ficarão pelo caminho, e começaremos a ver aquilo que digo: o grande mal deste País é a impunidade. O cara rouba, mata, faz o diabo, mas, se é rico, não acontece nada --, nada! --; se é pobre, a Justiça nem toma conhecimento, e um cara no último grau da Polícia, um policial subalterno, pode pegar, prender, botar na cadeia e fica por isso mesmo.

            Nós não temos condições. Esta Casa votou uma reforma eleitoral de mentirinha, de mentirinha, sem grande conteúdo, sem grande significado, mais para dizer que nós votamos, para não ficar essa imagem de que o Congresso não vota a reforma política, nem a reforma eleitoral, não faz nada. O Senado fez. Vai cair lá na Câmara. Nem isso se consegue fazer.

            Mas eu creio no novo Congresso, eu creio. Acho que teremos mudanças, e mudanças profundas.

            Era isso que eu queria dizer, Sr. Presidente. Uma hora em que vejo com alegria, e a imprensa tem salientado este aspecto: que a entrada do Governador de Pernambuco e a chefe da Rede, essa união vai revolucionar as eleições no ano que vem e vai fazer com que o PT e o PSDB tenham um programa, sigam um rumo, apresentem uma proposta. E talvez, depois de muito tempo, vamos realmente discutir o que é o melhor para o nosso País.

            Obrigado a V. Exª.

(Manifestação da galeria.)


Este texto não substitui o publicado no DSF de 12/10/2013 - Página 71425