Discurso durante a 173ª Sessão Não Deliberativa, no Senado Federal

Registro do 36º aniversário de criação do Estado do Mato Grosso do Sul, a realizar-se no dia 11 do corrente.

Autor
Ruben Figueiró (PSDB - Partido da Social Democracia Brasileira/MS)
Nome completo: Ruben Figueiró de Oliveira
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
HOMENAGEM.:
  • Registro do 36º aniversário de criação do Estado do Mato Grosso do Sul, a realizar-se no dia 11 do corrente.
Aparteantes
Alvaro Dias.
Publicação
Publicação no DSF de 08/10/2013 - Página 69944
Assunto
Outros > HOMENAGEM.
Indexação
  • HOMENAGEM, ANIVERSARIO DE FUNDAÇÃO, ESTADO DO MATO GROSSO DO SUL (MS), CRESCIMENTO ECONOMICO, CRESCIMENTO DEMOGRAFICO, PANTANAL MATO-GROSSENSE.

            O SR. RUBEN FIGUEIRÓ (Bloco Minoria/PSDB - MS. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Srª Presidente, Srs. Senadores, venho a esta tribuna para anunciar a comemoração do 36º aniversário da criação do meu Estado, Mato Grosso do Sul, no próximo dia 11. Tal fato é relevante, pois o desmembramento do imenso território do Estado de Mato Grosso uno tem reconfigurado a história do Brasil em muitos aspectos.

            Estamos construindo uma unidade federativa de perfil diferenciado, pois temos oportunidade de olhar para as experiências consagradas de Estados mais antigos e, por meio desses parâmetros, desenhar o processo de desenvolvimento interno com os olhos voltados para o futuro, tendo maiores cuidados com o meio ambiente, preservando nossas riquezas naturais e planejando o crescimento com foco na sustentabilidade.

            É importante, Srª Presidente, ressaltar que a criação de Mato Grosso do Sul foi uma aspiração que remonta ao século XIX. A imensidão geográfica do antigo Estado de Mato Grosso relegou ao sul forte influência dos Estados de São Paulo, Minas Gerais, Paraná e Rio Grande do Sul, sobretudo, estabelecendo outra cultura, outra economia, outro processo de crescimento.

            Com o tempo, a secessão tornou-se uma obsessão. E, com isso, inúmeros movimentos sociais surgiram, transformando essa bandeira numa luta política renhida, desembocando, em 1932, na criação da Liga Sul-mato-grossense. Na Revolução de 1932, conhecida como Revolução Constitucionalista, em busca de uma Carta Magna reivindicada desde a Revolução de 1930, que levou Getúlio Vargas ao poder, os sulistas aliaram-se aos paulistas em troca de seu apoio às reivindicações separatistas. Entre julho e outubro de 1932, foi constituído o Estado de Maracaju, que veio a ser derrotado juntamente com os constitucionalistas.

            Como fui um divisionista de primeira hora, tive a oportunidade histórica de lutar ao lado de valorosos companheiros para que pudéssemos ser vitoriosos em nosso sonho.

            Lembro-me aqui, com muita saudade, de Paulo Coelho Machado, José Fragelli, Rádio Maia, Oclécio Barbosa Martins, Eduardo Metello, Nelson Benedito Neto, Paulo Jorge Simões Corrêa, Martinho Martins, Professor J. Barbosa Rodrigues, Demóstenes Martins e tantos outros que abraçaram a ideia do desmembramento de Mato Grosso como condição necessária para acelerar o processo de desenvolvimento do Centro-Oeste brasileiro.

            Era a campanha do dividir para multiplicar, Sr. Senador Alvaro Dias, aspiração centenária nos respingos finais do século XIX por Bento Xavier e Jango Mascarenhas e, relembrada com fervor, na década de 30 do século XX, por Vespasiano Martins, Arnaldo Estevão de Figueiredo, Dolor de Andrade e, claro, outros nomes que deram extraordinária valia ao ideal emancipacionista.

            Tive a oportunidade, Srªs e Srs. Senadores, de escrever inúmeros artigos na imprensa de meu Estado sobre as minhas vivências e experiências no processo político da divisão e criação de Mato Grosso do Sul. Talvez possa ainda publicar um livro relatando detalhes da história vivida, porque se trata de um acontecimento extremamente relevante e que deve ser deixado como legado fundamental para as gerações vindouras.

            Sr. Senador Mozarildo Cavalcanti, quando nasceu o Mato Grosso do Sul, a ideia central era a de que teríamos a chance histórica de criarmos um "Estado Modelo". De imediato, no final da década de 70 e nos primeiros anos da década de 80, difundiu-se para todo o País que o mais novo Estado da Federação era um Eldorado, lugar de esperança e progresso, uma chance para muitos construírem suas vidas a partir do zero.

            No entanto, como inúmeras vezes registrei, o tempo tem suas armadilhas escondidas nas artimanhas do destino, e as adversidades pelas quais atravessava o País, nos anos 70 e 80, com o fim do regime militar, terminaram por toldar toda a euforia com o nascimento do Estado e colocar a classe política em disputas internas, o que terminou por prejudicar imensamente a montagem e estruturação inicial do Estado.

            Sr. Presidente, Senador Mozarildo Cavalcanti, em seguida desses acontecimentos, os recursos previstos na Lei Complementar nº 31, de 11 outubro de 1977 (Prosul), que seriam responsáveis pela implantação da infraestrutura necessária para começarmos a funcionar a pleno vapor -- e também como uma compensação pelo fato de ficarmos com um espaço territorial bem menor do que o de Mato Grosso --, não foram viabilizados.

            Com isso, os novos governantes precisaram contrair imensas dívidas, o que hoje é um dos principais óbices de nosso desenvolvimento. Durante muito tempo, governadores e técnicos das mais diversas áreas procuraram viabilizar um encontro de contas entre aquilo que foi previsto na Lei Complementar nº 31 e os valores dos empréstimos tomados de organismos internacionais, com aval do Governo Federal, para não somente reduzir o valor total da dívida, mas para diminuir sensivelmente o pagamento de juros. O Estado não teve sucesso. Milhares de dificuldades técnicas se impuseram, e nada se avançou nesse processo.

            Mesmo assim, Srªs e Srs. Senadores, Mato Grosso do Sul seguiu em frente. O Estado vive um processo de crescimento em todos os setores, principalmente ocupando posições importantes na produção de commodities de alimentos, sendo o quarto maior produtor de bovinos do Brasil e o quinto maior produtor de grãos.

            Além disso, há uma grande expansão no setor de serviços, indústria, e mais recentemente estamos criando um dos polos florestais mais importantes do País, na região do Bolsão Sul-Mato-Grossense.

            Somos um Estado com 2,5 milhões de habitantes e temos uma boa posição nos índices de desenvolvimento humano, estando entre os dez Estados com melhor qualidade de vida do País.

            Nosso símbolo maior é o Pantanal Sul-Mato-Grossense, patrimônio da humanidade. Nossa identidade cultural advém da confluência de povos das mais diversas origens -- indígenas, paraguaios, bolivianos, paranaenses, mineiros, gaúchos, paulistas e nordestinos --, enfim, um multiculturalismo que busca fincar raízes sobre uma terra que se urbaniza, se transforma e se globaliza com muita rapidez.

            Nossas matas se transformaram em terras ferazes para o cultivo de grãos -- milho, soja, algodão, principalmente --; os campos de vacaria, que lembram os pampas do Rio Grande para o pastoreio da pecuária; os campos cerrados, que possibilitaram uma agricultura transformadora graças a uma tecnologia agrícola avançada; a implantação de um imenso maciço florestal, onde as árvores de eucalipto e de seringueiras estão impulsionando um extraordinário parque industrial de papel e celulose e, em breve tempo, a manufatura do látex.

            Com o maior prazer, meu eminente Líder, Senador Alvaro Dias.

            O Sr. Alvaro Dias (Bloco Minoria/PSDB - PR) - Apenas, Senador Ruben Figueiró, para homenageá-lo e aos conterrâneos de V. Exª que, no Mato Grosso do Sul, desenvolvem um Estado de maneira exemplar. E faço isso com a maior satisfação, porque temos lá muitos paranaenses. Mato Grosso do Sul, na agricultura, sobretudo, passou a ser uma espécie de extensão do Estado do Paraná. Há algum tempo fui, a convite de amigos, proferir palestra no interior do Mato Grosso dessa feita. Os dois Estados possuem tantos paranaenses, não sei qual dos dois possui mais paranaenses. Mas fui ao interior, em Nova Mutum, no Mato Grosso, proferir uma palestra, e perguntei ao auditório: “Quem veio do Paraná levante o braço”. O auditório todo levantou os braços. Portanto, é uma colonização paranaense, paulista e gaúcha, como diz V. Exª, de competentes homens do campo, sobretudo, agricultores de extraordinária competência, promovendo avanço tecnológico, modernizando a produção agrícola, impulsionando o desenvolvimento. O Mato Grosso do Sul é uma das grandes esperanças de desenvolvimento econômico do nosso País. Quando nós conhecemos a potencialidade de um Estado como esse, é que não nos conformamos mesmo com a posição do Brasil no ranking de crescimento econômico da América Latina. Temos riquezas extraordinárias, temos potencialidades econômicas incríveis, e não podemos nos conformar com o índice de crescimento econômico, com o índice do Produto Interno Bruto do nosso País. No ranking da América Latina, em último lugar ou em penúltimo lugar, entre os países emergentes, em penúltimo lugar. Portanto, uma posição de vergonha para os nossos governantes. E nós imaginamos que, em respeito sobretudo a esse esforço de desenvolvimento promovido pelos homens do interior do seu Estado do Mato Grosso do Sul, que são verdadeiros bandeirantes, desbravadores, que para lá foram para construir uma civilização, estão construindo um grande Estado, em respeito a eles é que necessitamos neste País de governo mais competente administrativamente e mais correto eticamente.

            O SR. RUBEN FIGUEIRÓ (Bloco Minoria/PSDB - MS) - Senador Alvaro Dias, V. Exª muito me honra com seu aparte.

            Quero confessar aqui a V. Exª e ao Plenário que os paranaenses muito contribuíram para a conquista das terras sul-mato-grossenses e o seu desenvolvimento naturalmente. E V. Exª, mui especialmente quando Governador do Estado do Paraná, nos estendeu a mão também.

            Confesso que, como Secretário de Agricultura do Estado na ocasião, implantei um projeto de microbacias lá, moldado em projeto implantado, e com sucesso, pelo governo de V. Exª. Além disso, V. Exª há de recordar que, ultrapassando as águas do rio Paraná, nos limites de Mato Grosso do Sul e o Paraná, temos duas pontes interestaduais, e as duas foram incentivadas, uma projetada e outra incentivada, pelo governo de V. Exª. Não me recordo perfeitamente em que ponto ocorreu essa iniciativa de V. Exª, mas, se não me engano, era a partir de Naviraí, no território paranaense, não me recordo o nome, parece-me que Panorama, não me recordo perfeitamente, e a outra que está entre as cidades de Guaíra e Mundo Novo.

            Além disso, essa região sul-mato-grossense foi colonizada por grandes empresas colonizadoras oriundas do Paraná -- Naviraí, Ivinhema, Itaquiraí --, cidades implantadas pela iniciativa, pelo pioneirismo dos homens do campo paranaense.

            Por todas essas razões e para dizer também a V. Exª que a conquista da fronteira de Mato Grosso do Sul ou de Mato Grosso com o Paraná é obra de um grande paranaense, o Barão de Antonina, que lá recebeu do Império uma área de mais ou menos um milhão de hectares e que pode, com isso, firmar a brasilidade naquela região.

            Sou muito grato a V. Exª pelo aparte, porque me faz lembrar fatos em que V. Exª teve uma participação preponderante.

            O Sr. Alvaro Dias (Bloco Minoria/PSDB - PR) - Agradeço a V. Exª, Senador Ruben Figueiró, pela lembrança. V. Exª foi um grande Secretário de Agricultura e desenvolveu lá esse programa que, no Paraná, foi pioneiro e foi considerado pela FAO e pelo Banco Mundial como um programa modelo para o mundo, e foi implementado em 18 países do mundo. Um programa que ensina como compatibilizar a necessidade do crescimento econômico de maior produção com a indispensável exigência da preservação ambiental. Um grande programa de preservação ambiental, mas que assegurou a fertilidade do solo; garantiu o solo rico e fértil para que possa ser produtivo como tem sido. Isso não apenas mudou a cor das águas dos rios que cortam o nosso Estado como o seu, mas, sobretudo, assegurou a produção em níveis de excelência, com uma produtividade ímpar, exatamente em função da riqueza do solo, compatibilizada com a preservação ambiental indispensável. Eu fico muito feliz de ver V. Exª relembrando esses momentos de gestão no Paraná e no seu Estado, o Mato Grosso do Sul, quando V. Exª exercia a função de Secretário da Agricultura.

            O SR. RUBEN FIGUEIRÓ (Bloco Minoria/PSDB - MS) - Mato Grosso do Sul deve a V. Exª a lembrança de lançarmos lá esse programa de microbacias.

            E eu me recordo aqui de um pequeno detalhe: hoje, temos um grave problema em Mato Grosso do Sul, que é a questão do assoreamento do Rio Taquari, um dos principais rios em meu Estado, que teve esse processo, porque as terras erodidas da região planaltina, as areias foram se acumulando no leito do rio e o resultado foi um desastre ecológico que existe hoje lá, que é chamado, em um paradoxo, de deserto aquático.

            Graças à lembrança que tivemos de copiar o projeto do seu Governo, só nessa região, como trabalho pioneiro, nós tivemos oportunidade de, em São Gabriel do Oeste, uma terra fundada também por paranaenses, tivemos oportunidade de recuperar, no curto tempo em que fui Secretário, cerca de 31mil hectares de terras, o que evitou que se agravasse o problema do Rio Taquari.

            São testemunhos que eu quero prestar, sempre homenageando a ideia de V. Exª com relação às microbacias.

            Mas continuo, Sr. Presidente.

            Nossas fontes hídricas, inclusive, as reservas potenciais do aquífero Guarani, estão contribuindo para o complexo hidroelétrico da Ilha Solteira, Jupiá/ Urubu-Pungá e Primavera, das maiores do País. Isso na divisa de Mato Grosso do Sul com o Estado de São Paulo.

            Mato Grosso do Sul, pela inteligência e operosidade de seu povo, enfrenta as adversidades e as vence no campo e nas cidades e se orgulha de sua contribuição para a formação sociocultural da Nação brasileira.

            Daqui desta tribuna da mais alta Casa do Parlamento brasileiro, rendo as homenagens àqueles que, no curso de um tempo longo e de dificuldades múltiplas, lutaram para que o nosso sonho se tornasse a realidade que é hoje o Estado de Mato Grosso do Sul.

            Diante disso, Sr. Presidente, vejo no meu Estado germinar o movimento que olha para o futuro. Dentro de 14 anos estaremos completando o nosso cinquentenário. Será um momento simbolicamente importante para Mato Grosso do Sul. Será o momento propício para se fazerem balanços históricos com vista a nos projetarmos para o primeiro século de existência.

            Ao mesmo tempo, dará oportunidade aos governantes de elaborar planos de meta que devam ser perseguidos como objetivos estratégicos de longo prazo. O que seremos quando completarmos nossos primeiros 50 anos? O que será Mato Grosso do Sul quando atingir a maturidade? Esse é o desafio que terão os próximos governantes de nosso Estado? Acredito que será muito importante conhecermos o que a classe política pensa a respeito desse assunto, que interessa cada vez mais à população de Mato Grosso do Sul.

            Por fim, Sr. Presidente, quero deixar registrado nos Anais desta Casa este fato relevante: o aniversário de criação de Mato Grosso do Sul. Que neste 36º aniversário possamos lançar as primeiras sementes para reflexões e mudanças. Nosso Estado tem potencial econômico, social e cultural para dar grandes respostas ao povo brasileiro.

            Meus cumprimentos aos meus concidadãos por esse grande acontecimento, que será comemorado no próximo dia 11, sábado que vem, e que encherá de orgulho toda a nossa população, pelo muito que temos realizado em favor do nosso País.

            Muito obrigado, Sr. Presidente, pela oportunidade que me oferece.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 08/10/2013 - Página 69944