Discurso durante a 174ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Alegria pela aliança firmada entre o PSB e a presidenciável Marina Silva.

Autor
Pedro Simon (PMDB - Movimento Democrático Brasileiro/RS)
Nome completo: Pedro Jorge Simon
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
POLITICA PARTIDARIA.:
  • Alegria pela aliança firmada entre o PSB e a presidenciável Marina Silva.
Aparteantes
Cristovam Buarque, Rodrigo Rollemberg.
Publicação
Publicação no DSF de 09/10/2013 - Página 70258
Assunto
Outros > POLITICA PARTIDARIA.
Indexação
  • ELOGIO, UNIÃO, MARINA SILVA, EX SENADOR, RELAÇÃO, PARTIDO POLITICO, PARTIDO SOCIALISTA BRASILEIRO (PSB).

            O SR. PEDRO SIMON (Bloco Maioria/PMDB - RS. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Obrigado pela tolerância, Sr. Presidente.

            Sr. Presidente, Srs. Parlamentares, o Brasil acompanhou um momento muito importante. Alguns dizem que foi uma verdadeira mudança de rumos na política brasileira. Nós estamos às vésperas de um pleito da maior importância, e os nomes que estão disputando são do maior respeito - a Presidente Dilma, com alguns reparos importantes que ela tem que fazer; agora, é essa Ministra de Santa Catarina; o Aécio, grande Governador de Minas Gerais, por duas vezes, neto do extraordinário companheiro, Presidente Tancredo Neves; e estavam aí na disputa a Senadora, querida Senadora, Marina e o Governador de Pernambuco, Eduardo Campos.

            Estava havendo um longo debate, e toda a imprensa apontava. E eu, desta tribuna, falei, disse como era positivo haver quatro grandes candidaturas. Aí, aconteceu algo estranho. O Governo assistiu à criação do PSD. Assistiu e estimulou, deu força para que ele se criasse. Inclusive, um dos meios da força para que ele se criasse foi garantir que o Vice-Governador do Estado de São Paulo continuasse Vice-Governador do Estado de São Paulo, fosse indicado e assumisse o 38º ou 39º - não sei - Ministério, que é o Ministério das Pequenas Empresas.

            Ainda não sei se acertaram. É uma coisa que ainda não está decidida - se o Ministro fica quarta, quinta e sexta na Vice-Presidência e sábado, domingo e segunda no Ministério, ou se é o contrário, fim de semana no Ministério e quarta, quinta e sexta lá como Vice-Presidente da República. Mas acertaram.

            Então, o partido saiu com toda a força, com toda a garra, com todo o entusiasmo do Governo, tanto que, quando se falou em PSD, ele estava mais ligado ao PSDB. Pessoal amigo do Serra; aliás, íntimo do Serra. Ele estava com essa disposição. Inclusive, falavam alguns que ele estava sendo criado à espera da vinda do Serra para ser o candidato. Mas fechou com o Governo a preço de ouro. Feito isso, quando a Senadora Marina mandou seu projeto de criação de partido, houve uma guerra.

            Olha, legenda como lá, em São Paulo, no ABC de São Paulo, onde as prefeituras do ABC são todas do PT... Lá, em São Bernardo do Campo, berço e capital do PT, oitenta e tantos por cento das assinaturas apresentadas pela Rede foram impugnadas, sem que se dissesse por quê! A lei diz que se deve fazer e se deve explicar. Sem dizer uma palavra, foi impugnado! E olha que foi um boicote tremendo... Surpreendentemente, o partido foi rejeitado.

            O outro partido, cujo nome não recordo, já possuía uma impugnação, por provocação de outro partido, dizendo que ele tinha fraude nas assinaturas. O tribunal verificou e viu que havia fraudes, mas constatou que aquelas fraudes não eram suficientes e que não impediriam sua aceitação e o registrou. O Governo poderia ter dito: “Se há fraude nessa, vamos fazer uma vistoria geral. Vamos pegar uma daqui, outra de lá, uma mais adiante, para ver”. Mas, não! Houve aquela; então, tudo resolvido.

            O Superior Tribunal Eleitoral poderia ter feito o mesmo com a Rede e poderia ter solicitado uma vistoria nos oitenta e tantos por cento, que foram impugnados lá no ABC, em São Bernardo. Poderiam abrir e ver os nomes: esse nome, esse nome, esse nome. Vamos ver o que houve e qual seria o motivo. Não toparam!

            Lá, no Rio Grande do Sul, o coordenador, o bravo companheiro ex-Deputado Jorge Uequed, ele, sua mulher e sua filha foram impugnados, ninguém sabe por quê.

            Esse fato foi adiante quando o Governo exagerou contra o companheiro Eduardo Campos. Os irmãos Cid e Ciro, do Ceará, saíram do partido, levaram os prefeitos, levaram os deputados, ministro, e tudo mais. E está acontecendo com os Governadores dos Estados, porque havia uma pressão no sentido de saírem do Partido Socialista.

            E aí surgiu um fato novo. Aqui em Brasília - aliás, o fato foi todo transmitido ao vivo pela Globo News -, a Rede, da Srª Marina, e o PSB fizeram realmente um entendimento emocionante.

            Os jornalistas que transmitiam e as pessoas que assistiam nunca viram algo semelhante. Num País que nem o nosso, onde o sistema partidário é exageradamente anárquico, foi uma reunião de uma grandeza, de um espírito público espetacular.

            Primeiro, o Partido Socialista. Vamos dizer, muita gente diz que, de certa forma, o Partido Socialista é o segundo de cada um de nós. Cada um tem o seu partido, mas gosta do Partido Socialista. É porque ele tem uma história, tem uma biografia longa de dignidade, de tradição, de defesa de teses e de defesa de princípios. Em segundo lugar, porque Eduardo Campos não só é há oito anos Governador de Pernambuco, considerado o melhor dos Governadores de todo o Brasil, mas é neto de uma figura extraordinária da vida pública brasileira, que é Miguel Arraes.

            Miguel Arraes, na história do Brasil, foi um grande nome.

            Para mim, Arraes, Teotônio, Ulysses, Tancredo, Covas pertencem a um time de notáveis da nossa geração e que eu respeito profundamente. Eduardo Campos vem a Brasília. O nobre líder do PSB foi um dos grandes coordenadores desse debate, inclusive indicado para fazer a negociação, e a Rede indicou um ilustre Deputado do PSDB, que está com a Rede em São Paulo.

            O diálogo foi excepcional, foi grande. Em nenhum momento, Eduardo exigiu, falou que a campanha é essa e que a D. Marina não tinha que falar mais em presidência. Em nenhum momento, a Marina chegou: eu vim e quero isso. Pelo contrário, a Marina veio e disse: vim para ajudar, para fazermos uma união diferente; em primeiro lugar, porque eu, da Frente, eu, da Rede, sou o primeiro caso no Brasil. O regime é democrático e o meu partido está na ilegalidade.

            O partido da Marina estava ilegal, determinado pelo Governo.

            Os dois pronunciamentos foram emocionantes. O objetivo é mudar a política brasileira. Não é bom esse tom - com todo o respeito -, sai tu, entra tu, sai tu, entra tu. Não é bom isso.

            Fora o Brasil composto de dois grandes partidos que nem na Inglaterra, Partido Trabalhista e Partido Conservador; fosse o Brasil composto de dois grandes partidos que nem nos Estados Unidos, Partido Democrata e Partido Republicano. Tudo bem. Mas 38 partidos? É uma anarquia. É um absurdo que não tem lógica.

            E isso que foi feito, o Supremo Tribunal, tem que ser analisado, porque ele também cometeu os seus equívocos. Nós votamos nesta Casa a cláusula de barreira, o Supremo não deixou. Se dependesse do Congresso, já existia a cláusula de barreira, e, existindo a cláusula de barreira, podia ter não 38, 200 partidos e não tinha problema nenhum, que nem os Estados Unidos, que têm 70, 80 partidos. Funcionam normalmente, mas, para estar no Parlamento, para ocupar a televisão, eles têm a cláusula de barreira.

            Os Estados Unidos não têm justiça eleitoral e nem por isso a eleição lá é mais complicada do que a nossa. Não têm justiça eleitoral. Nós, aqui, neste plenário, nos reunimos, vamos ali no cartório, o primeiro que encontrarmos, e criamos um partido. Está criado o nosso partido. Tem vida, está criado.

            Agora, para ir para a televisão, para ganhar dinheiro do fundo eleitoral, para vir para o Congresso, tem que ter povo, tem que ter voto, tem que ter garantia. Aqui não é assim. Aqui é o contrário, absolutamente o contrário.

            A união do Partido Socialista e da Rede da Marina foi algo novo na política brasileira. A imprensa toda dizia...

(Soa a campainha.)

            O SR. PEDRO SIMON (Bloco Maioria/PMDB - RS) - Eu acompanhei, de Porto Alegre, o tempo todo, na Globo News, que, diga-se de passagem, transmitiu ao vivo, desde não sei que hora da manhã até a noite inteira. E eu acompanhei.

            A Marina dizendo: “Eu vim aqui não para interferir na candidatura, que eu respeito. Eu vim aqui para ajudar a fazer um novo estilo de política, para estabelecer uma nova forma de agir e de avançar”. E o Eduardo: “Eu estou aqui reconhecendo, primeiro, a Marina; segundo, reconhecendo que a Rede representa um movimento da maior seriedade e que tem embasamento moral, social e popular. E respeito a Rede como se fora um partido político. E vamos conversar, trabalhar, escrever juntos, e juntos vamos percorrer o Brasil inteiro”.

            Em nenhum momento, o Eduardo Campos, que é a candidatura natural, disse: “O candidato sou eu”. E a Marina, até pelo contrário, lá pelas tantas, disse: “Se tiver que ir como candidata a vice, eu vou”.

            Esse é um problema que não entrou no choque nem no contrachoque.

            Vamos juntos percorrer o Brasil!

            O Sr. Rodrigo Rollemberg (Bloco Apoio Governo/PSB - DF) - Senador Pedro Simon.

            O SR. PEDRO SIMON (Bloco Maioria/PMDB - RS) - Eu não vi nada parecido, tão bonito, na história do Brasil.

            Eu não vi. Se me contarem que tem, me contem, porque eu não vi. Eu gostei da reação da Presidenta Dilma, gostei dela falando: “Eu respeito a Marina.” Começaram a querer ridicularizar a Marina e ela disse: não, ela é um grande nome, tem grande liderança, fez 20 milhões de votos, está em segundo lugar nas pesquisas e merece respeito.

            E, com relação ao Eduardo, o Lula disse: “É um grande nome.” Ele, Lula, disse que lamenta porque, se dependesse dele, teria feito um entendimento na tentativa de que ele ficasse junto com o PT.

            Eu vejo que a grande imprensa foi impressionantemente favorável ao que aconteceu. Mas, nas redes - e a gente sabe que são teleguiadas, determinadas -, alguém começa a fazer perguntas...

(Soa a campainha.)

            O SR. PEDRO SIMON (Bloco Maioria /PMDB - RS) - É. Pois é. Mas, e a Marina? Como é que é a Marina com relação ao meio ambiente? Como é que é a economia e o problema do meio ambiente da Marina com relação ao Campos, com relação a isso, com relação àquilo? São perguntas válidas. Eu, por exemplo, pergunto. Há coisas que eu nunca gostei de ver. Por exemplo: o Lula teve uma vitória espetacular em São Paulo, capital. Pegou um poste e elegeu prefeito. Ninguém conhecia, nunca foi nada, nem um grande ministro de educação - pelo contrário, a pasta cheia de problemas - e ele elegeu o poste. E, para ele eleger o poste, valeu tudo, até a exigência do Maluf: eu apoio, se ele vier aqui na minha casa, e apertar a minha mão, e tirar fotografia. E o Lula foi lá à casa dele, no parque da casa dele - beijar a mão, não; ele beijou foi a mão do Jader, lá em Belém do Pará. Em pleno comício, na eleição de Belém do Pará, ele beijou a mão do Jader e agradeceu o trabalho extraordinário que o Jader tinha feito com o governo dele. O Lula não beijou a mão, mas abraçou, apertou, feliz, nos jardins do Maluf. E ganhou a eleição. E, até não sei, parece que perdeu no Pará, apesar de tudo. Então, cobrar sinceridade, profundidade, rigidez numa hora como essa? Eu não atiro a primeira pedra em ninguém, mas duvido que tenha muita gente aqui que possa atirar pedras.

            Querem ver como é que vai ser o fulano ou o beltrano na composição de dois partidos? Nós sabemos! Não tem esquerda, não tem direita, não tem isso, não tem aquilo. A maneira de ir, e vai!

            Quem diria que o PT, com o governo dele, sairia privatizando nossos aeroportos? Quem diria que o PT estaria pensando em privatizar os nossos portos? Quem diria que o PT autorizaria a privatização das nossas estradas? Quem diria? E está acontecendo isso na cara!

(Soa a campainha.)

            O SR. PEDRO SIMON (Bloco Maioria/PMDB - RS) - E, quando o Dr. Fernando Henrique privatizou a Vale, que era uma empresa, foi um escândalo.

            Gostei da declaração do Lula: “A campanha vai ser muito difícil. Lamento que não tenham feito o que eu queria com relação ao Eduardo, e lamento a companheira Marina.”

            Agora, algumas expressões estão sendo usadas nas linhas populares de televisão. Vão entrar num ambiente muito pesado, muito carregado, e não acredito que chegaremos lá.

            Pois não, Senador.

            O Sr. Rodrigo Rollemberg (Bloco Apoio Governo/PSB - DF) - Senador Pedro Simon, V. Exª...

            O SR. PEDRO SIMON (Bloco Maioria/PMDB - RS) - Felicito V. Exª pelo belo trabalho que fez - sou testemunha disso - com grande competência e com grande responsabilidade.

            O Sr. Rodrigo Rollemberg (Bloco Apoio Governo/PSB - DF) - Muito obrigado, Senador Pedro Simon. Mais uma vez, V. Exª sobe a essa tribuna e nos emociona com um discurso histórico, V. Exª, que tem compreensão da importância dos momentos e dos movimentos políticos. Quero dar aqui um testemunho. Quando, daqui a 20 ou 30 anos, os historiadores forem contar a história do Brasil, dessa cena política da história brasileira, que tenho convicção produzirá consequências muito positivas da história política, o nome de V. Exª estará grafado como um dos inspiradores desse momento político. Em primeiro lugar, quero registrar que ouvi da ex-Ministra, ex-Senadora Marina Silva, em relação a V. Exª, palavras de muito respeito, de muito carinho. Ouvi de vários dirigentes da Rede a expressão de que V. Exª era o patrono da Rede Sustentabilidade. Lembro, jamais vou esquecer - eu me dirigia para minha casa, quando tive a reunião com o Deputado Federal Walter Feldman e o dirigente da Rede, Basileu -, recebi um telefonema de V. Exª, que já tinha falado com o Governador Eduardo Campos, apelando para um grande entendimento entre Marina e Eduardo, que, na opinião de V. Exª, mudaria o rumo da história do Brasil, produziria um fato político da maior dimensão e contribuiria para acenar com um facho de esperança às novas gerações, que querem construir uma nova forma de fazer política. V. Exª, com toda a sua experiência, naquele momento manifestava uma ansiedade, porque estava marcada uma entrevista coletiva para as 15 horas. V. Exª me dizia, quando eu lhe disse que haveria uma reunião com o Deputado Walter Feldman: “Mas eles não podem anunciar nada às 15 horas”. E eu disse: “Estou indo ao encontro do Walter Feldman, vamos ver qual será o resultado dessa conversa”.

            Quero registrar aqui que a decisão,...

(Soa a campainha.)

            O Sr. Rodrigo Rollemberg (Bloco Apoio Governo/PSB - DF) - ...tomada de forma madura, serena, tranquila, foi da Senadora Marina Silva. Meu papel aí é que a história me brindou com a oportunidade de participar desse processo, de ouvir as palavras do Deputado Walter Feldman comunicando a decisão da Senadora Marina Silva. Coube a mim comunicar, por telefone, a decisão ao Governador Eduardo Campos. Mas não tenho dúvida de que foram fundamentais as manifestações do Partido Socialista Brasileiro, ao longo de todo esse processo de apoio à construção da Rede como uma expressão legítima da sociedade brasileira, que queria ter uma candidatura que expressasse uma parcela do pensamento nacional. O Governo tentou, por todos os meios, evitar, mas nós, aqui no Congresso, numa atuação democrática, suprapartidária - está aí V. Exª, estão aqui o Líder do PSDB, Aloysio Nunes Ferreira, o Senador Pedro Taques, o Senador Randolfe, o Senador Valadares, o Senador Cristovam e vários outros Senadores -, nos unimos e, naquele momento, fomos ao Supremo Tribunal Federal tentar impedir que se fizesse um grande casuísmo eleitoral contra a Rede Sustentabilidade. Vejam V. Exªs que houve, naquele momento, um acanhamento daqueles que queriam produzir aquele casuísmo eleitoral. E eu dizia, sem entrar no mérito da decisão do Supremo Tribunal Federal anterior: nós não podemos tratar de forma diferente partidos e Parlamentares apenas porque um partido recentemente criado apoiaria a Presidenta da República e um outro partido teria uma candidatura de oposição. As pessoas achavam estranha aquela nossa posição, um partido como o PSB, que tinha uma candidatura a Presidente da República, uma pré-candidatura do Governador Eduardo Campos, defendendo um partido que tinha outra candidatura à Presidência da República, inclusive com um número maior de intenções de voto. Mas nós fomos ali para defender um princípio, para defender o Estado democrático de direito. E é claro que aquela atitude nos aproximou, quando a Senadora Marina decidiu que não tomaria uma decisão previsível, como gostariam os partidos dominantes, que seria não ser candidata e ficar pregando pelas redes sociais ou, simplesmente, se filiar a um outro partido para ser candidata a Presidente da República. E ela sabia que iria encontrar um discurso pronto. Iam dizer: “Estão vendo? Ela é igual aos outros. Ela só queria um partido político para disputar a Presidência da República.” Não. A Senadora Marina demonstrou que está à altura dos grandes desafios que o País enfrenta neste momento, que está sabendo interpretar corretamente o sentimento das ruas, que quer construir uma nova forma de fazer política. E, num gesto de desprendimento, de grandeza e de uma visão de futuro decidiu: “Não, vou me filiar ao Partido Socialista Brasileiro e vou apoiar sua candidatura a Presidente, Eduardo, porque a sua candidatura representa o enfrentamento ou a polarização, uma falsa polarização, nefasta para a política brasileira, porque tenta cercear o livre debate político das ideias”. Mas eu quero registrar, prezado Senador Pedro Simon, que o momento mais emocionante desses dois dias foi quando, depois de procurá-lo pelo telefone e não encontrá-lo nos telefones que tinha, no sábado pedi que minha secretária viesse ao Senado e falei: eu preciso falar com o Senador Pedro Simon. Ligue para a Secretária-Geral Cláudia Lyra que ela vai conseguir o telefone. Não sei se ela chegou a falar com a Cláudia Lyra. Eu sei que, num determinado momento, ela me passou o telefone e era V. Exª. Eu estava ao lado do Governador Eduardo Campos e passei o telefone para o Governador Eduardo Campos. Ele se levantou da mesa e, quando retornou, estava absolutamente emocionado, com os olhos cheios de lágrimas, não escondia que ele tinha chorado. Ele contou, naquele momento, o diálogo - e peço a liberdade, peço licença a V. Exª e a ele para transmitir. Quando contou a V. Exª o entendimento que tinha sido feito e que seria anunciado daí a alguns minutos, V. Exª disse que queria estar lá, como estava em espírito, em energia, mas queria estar lá para dar um beijo nele, que o avô dele, Miguel Arraes, seu grande amigo, daria. E V. Exª se emocionou do outro lado da linha e foi às lágrimas, e ele, aqui desse lado, também foi às lágrimas. Eu registro esse momento íntimo de dois grandes homens públicos para mostrar que esse momento também foi carregado de muita emoção, de uma emoção que precisamos resgatar na política brasileira, de uma energia que é a energia do bem, da energia de pessoas que querem, efetivamente, fazer com que a política volte a ser um instrumento para melhorar a qualidade de vida das pessoas. Eu quero dizer que, depois da ditadura que este País enfrentou e que V. Exª enfrentou, na companhia de Miguel Arraes, é importante registrar que estamos vivendo o maior período de democracia da história brasileira. E, neste momento, nós precisamos nos orgulhar de termos no cenário político brasileiro, na cena política brasileira, pré-candidatos como a Presidenta Dilma, que é uma mulher honrada, uma mulher direita; o Governador Eduardo Campos na companhia da Senadora Marina Silva, duas pessoas de trajetória sempre ao lado do povo; e do Senador Aécio Neves, um homem de bem, que foi um grande Governador de Minas Gerais e que é um grande homem público. Espero que tenhamos um debate político de alto nível neste País, discutindo o futuro deste País, os rumos deste País, um debate diferente do que ocorreu na eleição passada, que foi um debate rasteiro, um debate de dossiês, de denúncias, de preconceito. Espero que nós estejamos à altura dos desafios deste País, do que este País espera de nós, como a Senadora Marina Silva esteve e está à altura e como V. Exª sempre esteve. Tenho convicção de que, se depender desses três candidatos, nós teremos um grande debate sobre o futuro do Brasil. E a democracia é isso. A população vai ter oportunidade de decidir quem é o melhor para comandar o Brasil neste novo momento histórico que ele vive. Parabéns, Senador Pedro Simon. Fiquei muito orgulhoso, muito feliz, muito honrado de receber o seu telefonema e de ter participado deste momento histórico do País.

            O SR. PEDRO SIMON (Bloco Maioria/PMDB - RS) - Eu lhe agradeço e agradeço a tolerância de V. Exª.

            Foi um aparte de declaração. Na verdade, V. Exª representa hoje, aqui, o Partido Socialista Brasileiro e a Rede e dá uma demonstração de alto espírito público. Eu tenho muito orgulho de V. Exª. Acho que esse espírito que V. Exª está demonstrando é o que eu sinto no Governador e é o que eu sinto na Marina.

            Convivo com a Marina aqui há muito tempo. Sou um homem de fé assim como a Marina. Sou um homem que aprendeu a entender a sua vida, a sua luta, o seu sofrimento. Analfabeta aos dezesseis anos, vivendo no meio dos seringais, conseguir chegar aonde chegou, crescer como cresceu e conseguir manter uma linha de dignidade, de seriedade, merece respeito.

            Na hora mais difícil e mais dura, lá estava ela com o grande herói do humanismo brasileiro, o Chico Mendes.

            Na hora de fundar o PT, quando isso parecia impossível, ela estava lá, firme, para fundar o PT.

            Na hora de ser Governo, ela foi a primeira Ministra a ser convidada. O Lula foi convidá-la lá nos Estados Unidos, e a convidou por causa do prestígio dela, da credibilidade dela, para mostrar como ela faria o Governo. Ela se portou no Governo com seriedade, com respeito. Largou o Governo com seriedade e com respeito. Saiu do PT - vamos analisar -, saiu como o Frei Betto saiu, como muitas pessoas saíram.

            Como eu, lamentavelmente, era um apaixonado do PT na época em que ele era oposição, votei na Dilma, no segundo turno, com muito respeito, mas estou vendo, agora, as coisas irem para um determinado sentido que nós temos que analisar.

            Por isso entendo o pronunciamento de V. Exª. Nós temos que viver este novo momento. Tem razão quando foi dito aqui que foi uma das eleições mais tristes a eleição passada. Entrar para uma campanha eleitoral para debater o problema do aborto, para debater o problema do homossexualismo e não sei mais o quê! Mas o que foi aquilo daquela campanha, o ridículo daquela campanha?

            Tenho certeza de que esta vez não vai acontecer isso. Nós vamos viver um momento novo, e isso deve servir para uma política nova. Política em que eu reconheço que a Presidente da República é uma mulher de respeito e vai usar a linguagem necessária; em que nós todos sabemos que o companheiro Aécio é um homem excepcional e que tem uma grandeza, uma dignidade que nós respeitamos; e em que o Eduardo, tendo a Senadora ao seu lado, vai representar o mesmo.

            (Soa a campainha.)

            O SR. PEDRO SIMON (Bloco Maioria/PMDB - RS) - Que bela campanha, que novo patamar!

            Vamos votar aqui, fazer com que o Supremo não faça de novo o que fez: vetou a proibição de cláusula de barreira.

            Vamos iniciar um grande ano. Que a Dilma seja feliz, que realize os seus objetivos. Que a Dilma seja feliz, por exemplo, com relação a essa Ministra que usou um helicóptero ridiculamente. Um helicóptero que é único em Santa Catarina, usado como ambulância para salvar vidas em Santa Catarina, para. Desmancha o helicóptero, tira os objetos de saúde para transformá-lo em helicóptero de passageiros para levá-la para a sua campanha eleitoral.

            Presidenta, toma providência, para continuar a linha do seu Governo!

            Eu aprendi a admirar o Governador Eduardo Campos, sinceramente: seu jeito, seu estilo, sua franqueza. A grandeza, quando vejo, por exemplo, Eduardo Campos e Jarbas Vasconcelos, dois grandes amigos que viraram adversários e voltaram a ser amigos. Mas é uma linha que temos de seguir.

            Comporta o Governo agora, um Governo que nem é da Presidente Dilma, neste momento, é quem mais tem interesse em fazer um Governo de seriedade; uma campanha digna, uma campanha limpa.

            Não precisa inventar defeitos na Senadora Marina. Não precisa inventar seja lá o que for do Governador Eduardo. Acho que não queremos inventar defeitos na Presidência da República nem no companheiro Aécio. Vamos fazer uma campanha de alto nível. Vamos fazer como nos Estados Unidos: em vez de entregar a campanha para meia dúzia de encarregados fazer a propaganda, na qual a empresa de publicidade é a que dita a norma, a orientação, o programa, o que tem de fazer, e o candidato à Presidência da República se transforma num macaquinho que repete o que o orientador fez...

(Interrupção do som.)

            O SR. PEDRO SIMON (Bloco Maioria/PMDB - RS) - O debate é ao vivo! Está aqui um, está ali o outro. Um pergunta, e o outro responde ao vivo, e o povo está assistindo. Aí é diferente. Aí as questões são outras. Aí o negócio não vai para o aborto aqui, o homossexualismo ali e não sei o que lá. Mas são as grandes questões e as grandes teses.

            Nós estamos dando um passo que vai mudar o Brasil e, se Deus quiser, acho que os outros partidos devem entrar nessa linha.

            Meu querido Cristovam.

            O Sr. Cristovam Buarque (Bloco Apoio Governo/PDT - DF) - Sr. Presidente...

            O SR. PRESIDENTE (Mozarildo Cavalcanti. Bloco União e Força/PTB - RR) - Senador Cristovam, queria só fazer um apelo a V. Exª. O nobre Senador Pedro Simon já está na tribuna por mais de 30 minutos. Portanto, eu gostaria que fosse breve, porque há vários oradores já reclamando porque querem falar.

            O SR. PEDRO SIMON (Bloco Maioria/PMDB - RS) - Obrigado, Presidente.

            O Sr. Cristovam Buarque (Bloco Apoio Governo/PDT - DF) - Se me permite, esse tema é tão importante, que a gente deveria dedicar um tempo para reflexão. Mas realmente há outros inscritos, com outros temas importantes. Eu não poderia deixar aqui de dizer, Senador, primeiro que me lembro de outro momento parecido, não tão simbólico, mas que tinha certo gesto como esse: quando Brizola, no segundo turno, apoiou Lula e transferiu para Lula todos os votos que tinha tido no primeiro turno. Esse foi um gesto também bonito. Mas, ao longo do Governo, depois que Lula ganhou, não naquela eleição, em outra, nós não vimos a capacidade de eles se juntarem num programa unitário. Ficaram separados. Para mim, o que aconteceu, na semana passada, com Eduardo e Marina é algo extremamente marcante e é uma novidade. Mas, para ser o novo, para transformar a novidade em novo, é preciso saber quais as propostas claras, nítidas que eles vão trazer para nós - eleitores, no caso. Este é o desafio das próximas semanas...

(Soa a campainha.)

            O Sr. Cristovam Buarque (Bloco Apoio Governo/PDT - DF) - ... ou meses: como construir, a partir de um belo gesto, um sólido gesto de mudanças no Brasil? De fato, a beleza vem de que é muito possível a eleição dessa chapa, porque há um esgotamento do governo representado pelo PT. Doze anos cansam, e os erros que cometeram cansam mais ainda. Também há uma sensação de que o PSDB não se reciclou para ser uma novidade em relação ao PT. Então, é o momento de uma novidade, e eles nos ofereceram essa novidade. É preciso que, agora, eles ofereceram o novo ao Brasil. Senão, ficará apenas num gesto bonito e não num gesto transcendente, a ponto de fazer a mudança de que o Brasil precisa. Eu torço para que, logo, logo, a gente comece a perceber que a junção deles traz o novo para o Brasil e não apenas uma novidade para as eleições.

            O SR. PEDRO SIMON (Bloco Maioria/PMDB - RS) - Eu agradeço V. Exª. Não é por nada que o Congresso em Foco vem lhe apontando como o melhor Parlamentar do Brasil. V. Exª, muitas vezes, monologa na tribuna, pregando e debatendo a necessidade e a importância de se fazer alguma coisa, de se dizer presente, de se avançar. Eu creio que essa pregação longa de V. Exª não caiu no escuro.

            Eu diria a V. Exª que, tanto no caso da Senadora, como no caso do Senador, seu conterrâneo, foi isto que se apresentou...

(Soa a campainha.)

            O SR. PEDRO SIMON (Bloco Maioria/PMDB - RS) - ... foi isto que foi importante e significativo: nós termos, realmente, uma campanha com austeridade e com seriedade, com responsabilidade; não cairmos no que foi a maneira triste como foi o registro dos dois últimos partidos, a forma interna com que o Tribunal Superior Eleitoral analisou essa matéria; a forma como a gente está caminhando para uma campanha; a forma como a gente está vendo a divisão do dinheiro; a forma como nós aqui aprovamos, ainda que a toque de caixa, uma reforma que não é uma reforma, é uma microrreforma, não é uma microrreforma, é não sei o quê, mas que, na Câmara, não sai - nem aquilo que era o mínimo do mínimo do mínimo que a gente podia fazer está na gaveta da Câmara, porque eles não se acertaram.

            Então, nós estávamos caminhando para uma linha que não se sabe qual.

            Acho que nós temos condições de elevar o nível da nossa campanha, temos condições de elevar o nível da nossa sociedade, temos condições de elevar o nível do debate nesta Casa e, de certa forma, iniciarmos um índice de mais participação e maior presença. Temos de fazer isso. É necessário fazer isso.

            Esta Casa tem de ter vez e tem de ter voz, tem de ter autoridade e tem de ser respeitada.

            Eu creio que vivemos um grande fato. E foi um grande início, Sr. Presidente, e, se Deus quiser, essa caminhada vai continuar.

            Eu agradeço muito a V. Exª pela exagerada tolerância que teve pela minha parte.

            Obrigado, Presidente.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 09/10/2013 - Página 70258