Discurso durante a 174ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Tristeza pelos excessos cometidos nas recentes manifestações populares no Estado de São Paulo.

Autor
Eduardo Suplicy (PT - Partido dos Trabalhadores/SP)
Nome completo: Eduardo Matarazzo Suplicy
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
MANIFESTAÇÃO COLETIVA.:
  • Tristeza pelos excessos cometidos nas recentes manifestações populares no Estado de São Paulo.
Publicação
Publicação no DSF de 09/10/2013 - Página 70265
Assunto
Outros > MANIFESTAÇÃO COLETIVA.
Indexação
  • CRITICA, EXCESSO, VIOLENCIA, MANIFESTAÇÃO COLETIVA, LOCAL, ESTADO DE SÃO PAULO (SP).

            O SR. EDUARDO SUPLICY (Bloco Apoio Governo/PT - SP. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente Senador Mozarildo Cavalcanti, Srs. Senadores, Srªs Senadoras, fiquei impressionado hoje com o grau de violência que está caracterizando muitas das manifestações em cidades como Rio de Janeiro, São Paulo e outras. Os principais jornais do Brasil, os meios de comunicação colocam em destaque uma violência que, no meu entender, de forma alguma se justifica.

            Eu quero aqui reiterar o apelo que faço a todos aqueles que têm procurado usar máscaras, que se identificam como membros dos chamados black blocs ou do Anonymus e de outras organizações.

            De um lado, é totalmente condenável que os responsáveis pela segurança pública estejam agindo com violência injustificável, como se detectou em diversos episódios registrados pela imprensa. Mas, por outro lado, os atos de destruição de objetos, de prédios públicos, de estações do metrô, de bancas de jornal, explosões de automóveis, incêndios de ônibus significam sérios prejuízos à própria população.

            Inclusive, conforme ressalta a reportagem sobre o que aconteceu ontem em São Paulo: “Tentaram até roubar meu colchão para tacar fogo na viatura da polícia. Não deixei e tive que dar uns sopapos em um vagabundo”, reclamou um morador de rua que vive na Rio Branco. Ou seja, até mesmo aquelas pessoas mais humildes e mais pobres, que são moradores de rua, estão sendo atingidas por estes que causam ações violentas não apenas contra os chamados símbolos do capitalismo, como sedes de bancos, agências bancárias, caixas eletrônicos, revendedoras de automóveis ou cadeias norte-americanas de lanchonetes ou algo assim. Mesmo com a destruição de bancos, conforme ainda hoje uma pessoa colocou na internet, a diminuição de 1% na taxa Selic causa muito maior prejuízo ao sistema bancário do que destruições como essas que aconteceram nesses últimos dias.

            Então, eu quero insistir no apelo a todos esses manifestantes. Podem notar, como aconteceu ainda ontem, na manifestação legítima de professores ou de bancários que estavam protestando com respeito à necessidade de obterem melhor remuneração, plano de carreiras, de cargos e de salários. Naturalmente, então, se içaram às ruas para manifestar com respeito às autoridades. Muitas dessas pessoas foram às ruas com seus familiares, com pessoas mais idosas e também com crianças. Mas há o momento em que surgem aqueles que, mascarados, resolvem então realizar depredações e provocar ações que geram, depois, a reação da polícia, prendendo pessoas, ou o ataque, como os que vejo nos jornais - pessoas mascaradas, com estilingues, atirando coquetéis Molotov sobre os policiais militares e, às vezes, até sobre a população.

            Esse tipo de procedimento, tenho a convicção, não é o mais saudável, sobretudo porque eu, ao longo de minha vida, resolvi solidarizar-me com a causa de se dar voz e vez àqueles que por tantas gerações não tiveram a oportunidade de viver com plena cidadania, sejam aqueles cujos ascendentes foram escravos ou a população indígena, da qual se tomou a terra, ou tantas pessoas que, em nosso Brasil, ainda são destituídas de direitos plenos à cidadania, de direitos à educação, à moradia, a uma alimentação adequada.

            Eu tenho a convicção de que a melhor maneira de essas pessoas conseguirem seus direitos é justamente através dos meios democráticos e seguindo o exemplo daquelas pessoas que muito refletiram a respeito da violência, da guerra, das revoluções armadas. Então, pessoas como Leon Tolstoi, que tanto escreveu sobre a guerra, como em Guerra e Paz, assim como em outros livros que vieram a influenciar de forma profunda líderes como Mahatma Gandhi, Martin Luther King Jr., propugnaram sempre para que as transformações pudessem ser realizadas por meio da não violência.

            Quero, portanto, transmitir a todos aqueles que se utilizam de máscaras para não facilitarem sua própria identificação e àqueles que provocam incêndios e destruições de prédios públicos ou privados que, certamente, essa não é a maneira mais adequada de realizar as transformações pelas quais precisamos tanto lutar para realizar no Brasil. É claro de que precisamos avançar na busca da melhoria de oportunidades e de boa educação para todos. É preciso avançar muito para conseguirmos a plena alfabetização de todos os brasileiros e provermos as boas oportunidades de serviços de atendimento à saúde para toda população. Também é preciso ampliar os programas de moradia popular para que todas as pessoas tenham direito a viver com dignidade. Para isso, faz-se necessário avançar na direção de todos terem uma Renda Básica de Cidadania, conforme tenho propugnado, mas que a batalha por todos esses objetivos se dê por meios pacíficos, de não violência.

            Eu quero aqui afirmar a essas pessoas que estão realizando atos de violência que eles serão muito mais eficazes com respeito aos seus objetivos de realização de justiça, de término de abusos, como os que muitas vezes são aqui denunciados por Parlamentares e hoje por diversos Senadores, se forem feitos através da palavra, de ações inclusive de eventual desobediência civil, mas, sobretudo, por meios que signifiquem a não violência.

            Este é o meu apelo a todos aqueles que estão realizando essas manifestações. Sim, vamos continuar as manifestações, ouvir a voz do povo; vamos ouvir a voz dos jovens, mas, sobretudo, vamos fazer essas ações sem violência e com respeito a cada ser humano. Por mais que nós discordemos dessas pessoas, vamos agir com o devido respeito e sem a prática da violência, que acaba depois prejudicando os próprios manifestantes, porque são muitos aqueles que depois acabam sendo feridos, às vezes, mortos, às vezes, detidos. E isto acaba se tornando algo que não fará bem para o nosso Brasil.

            Nós temos tido uma tradição de transformação de nossa sociedade, inclusive com vitórias na direção do aperfeiçoamento de nossa democracia. É claro, precisamos avançar muito mais, inclusive com transformações e reforma política para valer. Mas que façamos isso através de meios democráticos.

            Muito obrigado, Sr. Presidente.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 09/10/2013 - Página 70265