Discurso durante a 174ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Comemoração do sucesso do Programa Bolsa Família; e outros assuntos.

Autor
Wellington Dias (PT - Partido dos Trabalhadores/PI)
Nome completo: José Wellington Barroso de Araujo Dias
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
ATUAÇÃO PARLAMENTAR. POLITICA SOCIAL.:
  • Comemoração do sucesso do Programa Bolsa Família; e outros assuntos.
Aparteantes
Eduardo Suplicy.
Publicação
Publicação no DSF de 09/10/2013 - Página 70298
Assunto
Outros > ATUAÇÃO PARLAMENTAR. POLITICA SOCIAL.
Indexação
  • PRESTAÇÃO DE CONTAS, RELAÇÃO, ATUAÇÃO PARLAMENTAR, ORADOR, LOCAL, MUNICIPIOS, ESTADO DO PIAUI (PI).
  • ELOGIO, POLITICA SOCIAL, PROGRAMA DE GOVERNO, BOLSA FAMILIA, IMPLEMENTAÇÃO, GOVERNO FEDERAL, MOTIVO, MELHORIA, QUALIDADE DE VIDA, DISTRIBUIÇÃO DE RENDA, COMBATE, POBREZA, LOCAL, ESTADO DO PIAUI (PI).

            O SR. WELLINGTON DIAS (Bloco Apoio Governo/PT - PI. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, eu li hoje aqui, antes de começar a Ordem do Dia, um texto apresentado pela Ministra Ideli, em que ela apresenta esclarecimentos sobre matéria veiculada - e ela confirma - de que ela, em agenda oficial, utilizou-se de um helicóptero federal que tem a condição de funcionar tanto para a área da segurança como para a área da saúde, em situações emergenciais, em Santa Catarina, como também em relação ao transporte de autoridades. É o que prevê o Regimento da Polícia Rodoviária Federal.

            E ela é conhecida e reconhecida - as pessoas podem até ter divergências políticas, eleitorais - como uma mulher trabalhadora, uma mulher que se dedica, de corpo e alma, às missões que assume, e agora, dia e noite, sábado, domingo e feriado, à sua missão de Ministra de Relações Institucionais.

            Ainda hoje ouvi aqui, da Senadora Vanessa, a agenda que, com o Senador Braga, ela fez. Em um dia e meio, esteve em três Estados, visitando o Amazonas, visitando o Amapá, visitando, enfim, vários lugares, para tratar da relação institucional do Governo com os prefeitos, com as lideranças regionais.

            Da mesma forma no seu Estado, na atividade de inaugurações, na atividade de entrega de obras, como as do Minha Casa Minha Vida, e várias outras. E isso é uma rotina. Então eu queria aqui reforçar esse esclarecimento.

            Também eu queria aqui dizer da importante agenda que realizei na última semana na região de Sebastião Leal, de Bertolínia, onde visitei obras, estive em inaugurações, no meu Estado, em Manoel Emídio, Jerumenha, Canavieira, Guadalupe e Floriano, onde conclui participando de um evento na área dos lojistas.

            Nessas cidades tive oportunidade de tratar de temas relacionados a projetos destacados para essa área do meu Estado, do Piauí. Visitei ali a BR que leva Bertolínia em direção a Eliseu Martins e vi o quanto a obra está avançada. Ali também estamos tratando da conclusão do trecho para Canavieira, ligando a BR-135 a Canavieira.

            Ali tratamos da retomada das obras do Luz para Todos, obras de creches, unidades de saúde.

            Tive oportunidade de inaugurar obras importantes naquela região. E sou grato aqui a todas as Lideranças pela forma carinhosa como fui recebido em Guadalupe.

            Quero aqui destacar o trabalho na área relacionado ao projeto de irrigação. O Governo Lula e agora o Governo da Presidenta Dilma trabalham naquela região.

            Eu quero aqui, Sr. Presidente, hoje, fazer um pronunciamento sobre o momento fundamental, e eu comemoro, do meu Estado. Mais de 40 mil famílias tiveram oportunidade de, pela renda, deixar o Programa Bolsa Família no Piauí. São pessoas que foram lá e retiraram-se do programa, porque passaram a não mais precisar dele, por sua renda.

            Sr. Presidente, Srªs Senadoras, Srs. Senadores, recentemente vim aqui a esta tribuna fazer um discurso sobre o início das comemorações dos 10 anos do Bolsa Família. Quando foi criado pelo Presidente Lula, o Programa Bolsa Família tinha por objetivo retirar da miséria os 16 milhões de brasileiros e brasileiras com renda familiar per capita inferior a R$70,00 mensais.

            Hoje eu volto a tratar do tema para comemorar a eficácia do Programa que tem dado tão certo que só no Piauí mais de 40 mil famílias - eu estou falando de aproximadamente 200 mil pessoas - já abriram mão voluntariamente da ajuda governamental. Em todo o Brasil já são mais de 2 milhões que abriram mão do benefício porque passaram a ter uma renda que lhes permite não mais precisar do programa.

            Segundo dados do Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome, 40.764 famílias abriram mão do Bolsa Família no meu Piauí. Elas declararam voluntariamente que ultrapassaram a renda limite estabelecida hoje de R$140,00 por pessoa e decidiram se desligar do programa. Os dados abrangem todo o período de existência do Bolsa Família até fevereiro de 2013.

            Em Teresina, a capital do Piauí, mais de 7 mil famílias pediram o desligamento, porque passaram - ou porque têm um empreendimento, ou um negócio - a ter um salário fruto de um trabalho, de um emprego, ou por uma situação de aposentadoria.

            Quero citar aqui o exemplo de Cleudiane Sousa, de 27 anos, que declarou ao jornal O Dia, lá do meu Estado, que “o Bolsa Família é uma renda boa, mas você não pode se conformar; tem que buscar outro rumo”. Veja quantas vezes o preconceito impede de entender uma declaração como esta de Cleudiane Sousa, de 27 anos. Repito o que ela diz: “o Bolsa Família é uma renda boa, mas você não pode se conformar; tem que buscar outro rumo.”

            E, permita-me aqui, minha querida Ana Rita, dizer, com a experiência de quem na vida experimentou a pobreza. Eu sou de uma família que experimentou morar em uma casa sem piso; morar em uma casa sem banheiro; morar em uma situação de baixa renda. E muitos dos meus familiares, graças a Deus, muitos ultrapassando principalmente pela educação. O fato é que - essa é uma engenharia que nem sei se o Presidente Lula, se os idealizadores, o Graziano; depois, o Patrus Ananias; agora, a Ministra Tereza Campello, com toda a equipe, entenderam bem isso - alguém que nunca teve um valor mensal, por mais baixo que fosse, chegando a sua mão, nunca teve a experiência de algo mensal, não deseja com a mesma força aquilo que já experimentou. Por isso que é chamada porta de entrada.

            No momento em que se tem um valor mensal e se toma gosto - vou usar um termo popular - de poder com esse dinheirinho comprar uma alimentação no comércio, comprar uma fruta, Senador João Vicente, passa-se a se desejar mais. É como alguém que não tinha condições de comprar uma roupa; quando passou a comprar, quer cada vez mais comprar melhor. Você não tinha como andar em um veículo, pode até começar com uma moto, mas você fica com o desejo de ter nem que seja um “Fusquete”. Lembro-me de quando comprei... O meu pai não queria que eu andasse de moto. Em uma vez, ele soube que eu estava juntando um dinheirinho para comprar uma moto e disse: “Meu filho, quanto é que falta? Não compre que esse bicho é perigoso! Eu complemento aqui e vê se compra um carro”. Compramos na época um Corcel II, velho, usado, mas era o que era possível, e ali você não se conforma e quer algo sempre melhor. Sai de um Fusca para ter um Corcel; passa a querer ter algo melhor. Assim como alguém que nunca teve uma casa, no momento em que consegue essa casa, quer um “puxadinho”, quer algo mais. E também é assim com a renda.

            É esse depoimento importantíssimo que quero colocar aqui, porque, muitas vezes, até por um conceito - a palavra preconceito parece uma coisa distante, mas é um conceito mesmo de achar que alguém vai se conformar em receber R$100,00, R$200,00, às vezes, R$300,00, que é o que Bolsa Família já paga por mês. Não, a pessoa que começa a receber aquilo, que começa a tomar gosto, sente-se desafiada a querer mais. É o caso da Cleudiane Sousa. Eu gostei desse depoimento dela declarado em um jornal do meu Estado. O que ela diz, repito pela terceira vez, é: “O Bolsa Família é uma renda boa, mas você não pode se conformar; tem que buscar outro rumo”, Senador Armando Monteiro.

            Essa é uma declaração de alguém do meu Estado que nunca teve renda na vida, passou a ter pelo Bolsa Família, e que, pela via do emprego, teve a condição de sair. A Cleudiane buscou outro rumo, Sr. Presidente, meus colegas Senadores e os que estão nos ouvindo.

            Essa cidadã piauiense, que é da cidade de Caxingó, norte do Piauí, uma cidade que tem população de renda muito baixa, embora um potencial grande, com uma bacia leiteira, especialmente, criação de animais, fez um concurso público. Ela estudou e fez um concurso público. Foi aprovada e hoje é servidora pública. Por ser servidora pública, passou a ter uma renda e sua família já não tinha mais, por pessoa, renda abaixo de R$140,00; era acima de R$140,00.

            Trabalhando agora em um posto de saúde de Caxingó - mando meu abraço à população de Caxingó; à Prefeita Rita, do meu Partido; ao Nato, que é uma grande e importante liderança lá -, a Cleudiane, que recebia o benefício há quatro anos, resolveu abdicar da quantia mensal depois que passou no concurso. “O benefício era bom, mas nada comparado com o meu salário”, diz ela. Afirma a servidora que tem um filho de quatro anos e já trabalhou como ajudante no recadastramento de famílias no programa.

            Veja, ela hoje já está recadastrando famílias no programa. Ela diz: “Como eu já trabalhei no recadastramento, eu tinha consciência de que tinha que sair para dar lugar para outra pessoa que precisasse”, explicou ela.

            Além de Cleudiane, mais 69 famílias se desligaram voluntariamente do Bolsa Família só no Município de Caxingó, no Piauí. É um Município de 4.809 habitantes, situado a pouco mais de 300 quilômetros da capital Teresina.

            Sr. Presidente, meu querido Humberto, Senadores aqui presentes, as famílias que recebem o Bolsa Família, além de terem que enviar suas crianças à escola, também têm a oportunidade de estudar, de aprender um ofício. E, o mais importante, existe um trabalho de conscientização feito pelas prefeituras, com apoio do Estado, das entidades, enfim, de que aquela ajuda é um incentivo para buscar algo melhor.

            Não é à toa que hoje o programa é um exemplo de política pública para a redução da miséria e da pobreza e geração de renda mínima para 50 milhões de brasileiros e brasileiras, tornando-se uma referência global, Senador Suplicy, de sucesso, como programa social de transferência de renda e modelo para a Organização das Nações Unidas.

            Outro fator fundamental para que as famílias possam deixar o programa é que, entre 2003 e 2013, foram gerados 19 milhões de empregos formais no Brasil. Ou seja, desses 19 milhões, dois milhões de pessoas do Bolsa Família, que, certamente, Senador Suplicy, se não tivesse uma renda para poder ter alimentação, para poder o menino, o filho e a filha irem à escola, certamente, casos como esse de Cleudiane não aconteceriam.

            Eu tenho uma convicção e sempre dou este depoimento, olhando para minha própria história de vida, Senador Suplicy. Às vezes, vou lá ao meu Município e fico examinando o que aconteceu comigo em relação àquela geração que conviveu comigo naquela região do Vale do Fidalgo. O que aconteceu comigo que não aconteceu com alguns que ainda hoje passaram a ter a renda muito baixa?

            Eu olho, é a educação, o esforço da minha mãe, Terezinha, e do meu pai, Joaquim, que me fizeram estudar. Sei que fazendo, como se diz no ditado popular: “Fazendo das tripas coração”, para poder viabilizar que eu estudasse. Eu saí de casa para estudar com sete anos de idade e nunca mais pude retornar porque não eu tinha nem onde estudar. Eu fiz o primeiro ano e lá só tinha o primeiro ano. Então, tive que ir para a cidade de Oeiras, situada a 150km, para estudar. E isso foi o que marcou a diferença: poder ter um ensino médio, ter uma profissão; fiz o curso de Técnico em Contabilidade, comecei também a trabalhar aos 14 anos.

            Hoje, eu estava conversando, na Liderança, e alguém me perguntou: “Por que você é torcedor do Cruzeiro?” Aliás, o Cruzeiro está na moda. Não dava muito trabalho, mas agora é o time da preferência. Eu, com meus 12 anos, dava aula. Às vezes, ouço aqui o debate sobre a história do trabalho infantil e precisamos ter muito cuidado com isso. Eu tenho orgulho de, aos 12 anos, ter dado aula para quatro colegas, que me davam o dinheiro da merenda, que me davam, enfim, alguma forma de atuar, e eu nunca perdi nenhum ano. E, dando aula para eles, eu também aprendia. O resultado é que um teve uma paralisia, o Gilberto, foi para Minas Gerais; naquele ano, ele voltou do tratamento e me deu de presente - lembrou-se de mim, do professor dele, da mesma idade dele - uma camisa do Cruzeiro. Naquele ano, o Cruzeiro foi campeão.

            Eu não tinha nenhum time. Lá, nas minhas tribos, era Baixa Funda, era Cacimbas, eram uns timezinhos jogando com bola de bexiga de boi. Chegar lá bola Canarinho, bola Pelé, bola Dente de Leite, isso foi muito tempo depois. Então, dou esse depoimento para mostrar a importância da educação. É a educação que dá a mão a alguém que está na miséria, que está na pobreza e traz para o outro lado. É a educação. Não tem conversa. Por isso que hoje estamos tratando do tema do Plano Nacional da Educação.

            Com o maior prazer, ouço o Senador Eduardo Suplicy.

            O Sr. Eduardo Suplicy (Bloco Apoio Governo/PT - SP) - Querido Senador Wellington Dias, meu caro Líder, V. Exª enaltece aqui os resultados dos dez anos do Programa Bolsa Família. Em 20 de outubro de 2003, o Presidente Lula baixou a medida provisória segundo a qual os Programas, assim denominados, Bolsa Família, Renda Mínima Associado à Educação, Bolsa Alimentação, Auxílio Gás e o próprio programa que ele havia criado em fevereiro ou março... Eu estive com V. Exª em Guaribas e em Acauã.

            O SR. WELLINGTON DIAS (Bloco Apoio Governo/PT - PI) - Permita-me só acrescentar um dado: aquela Guaribas que você conheceu naquela época - tive muito orgulho da sua presença lá, juntamente com outras autoridades - tinha um Índice de Desenvolvimento Humano de 0,2. Por isso era o Município mais pobre do Brasil. Eu vi agora o IDH de Guaribas, que é 0,55; saiu de 0,2 para 0,55. Então, isso é uma mudança. Quem não comemora isso?

            O Sr. Eduardo Suplicy (Bloco Apoio Governo/PT - SP) - Que bom saber! O governo Lula, com a equipe interministerial, com que dialoguei, de que participava a hoje Ministra do Planejamento Miriam Belchior, que trabalhava junto à Casa Civil, com o Ministro José Dirceu; Ana Fonseca, que acabou sendo a primeira secretária-executiva do Programa Bolsa Família, e Tereza Campello. Havia uma equipe que interagia com o Ministro de Combate à Fome, José Graziano da Silva, e com Benedita da Silva, que era Ministra da Assistência Social, e os demais Ministros, como o Ministro Palocci, da Fazenda. Formaram uma equipe e chegaram à conclusão de que era bom racionalizar e, inclusive, utilizar o Cadastro Único e torná-lo ainda melhor. Aqueles quatro programas foram fundidos no que hoje é o Bolsa Família. Em dezembro de 2003, estavam inscritos 12,5 milhões e hoje, segundo o último dado, há cerca treze milhões e oitocentos setenta e poucas famílias...

            O SR. WELLINGTON DIAS (Bloco Apoio Governo/PT - PI) - Porque dois milhões saíram; seriam quinze milhões. Dois milhões deixaram o programa porque passaram a ter renda.

            O Sr. Eduardo Suplicy (Bloco Apoio Governo/PT - SP) - Então, se o nosso Coeficiente de Gini tinha chegado, nos anos 80, 90, a quase 0,61, 0,63, nos colocando entre os três mais desiguais países do mundo, já em 2001 e 2002, com o efeito dos programas, tais como Bolsa Escola, Bolsa Alimentação, mas estávamos já com 0,59, e, no ano passado, o dado mais recente, que a PNAD agora divulgou, de 0,507, 0,51, que nos coloca ainda entre os 16 mais... Nós somos o 16º mais desigual.

            O SR. WELLINGTON DIAS (Bloco Apoio Governo/PT - PI) - É verdade.

            O Sr. Eduardo Suplicy (Bloco Apoio Governo/PT - SP) - Temos muito ainda que caminhar. Então, quero cumprimentar a Presidenta Dilma, a Ministra Tereza Campello, conforme V. Exª está fazendo, pelos feitos e pelo conjunto de programas de inclusão social, que estão relacionados ao Bolsa Família, para que as pessoas possam ter maiores oportunidades, sobretudo de educação, como no Pronatec e tantos cursos que têm sido tão bem-sucedidos, mas também no apoio aos agricultores familiares, às formas cooperativas de produção ali nos quilombolas e comunidades indígenas, que também são beneficiários do Bolsa Família, mas também como formas de proporcionar a maior inclusão social. Mas veja que teremos agora dez anos da sanção tanto do Programa Bolsa Família, que foi iniciado em 20 de outubro, por medida provisória...

            O SR. WELLINGTON DIAS (Bloco Apoio Governo/PT - PI) - Exatamente.

            O Sr. Eduardo Suplicy (Bloco Apoio Governo/PT - SP) - Mas até o final de 2003, aprovado, e por todos os partidos aqui, cabe assinalar isso, porque não houve oposição ao programa. E foi em 9 de janeiro de 2004 que o Presidente Lula sancionou a lei referente ao Bolsa Família. Na véspera, 8 de janeiro de 2004, o Presidente Lula sancionou a Lei nº 10.835 - portanto, vai fazer dez anos -, que institui a renda básica de cidadania, que um dia proverá a todos uma renda suficiente para atender às necessidades vitais como um direito inalienável de todos os brasileiros e brasileiras, até para os estrangeiros há cinco anos ou mais no País. Então, eu queria lhe dar até a informação, Senador Wellington Dias, de como essa ideia vem ganhando corpo nos mais diversos continentes. Na Suíça, se 100 mil pessoas - pelo menos diz a lei - fazem uma proposta, essa tem de ser objeto de referendo popular, para toda a população decidir. Então, na sexta-feira última, 4 de outubro, na cidade de Berna, 116 mil pessoas entregaram um abaixo-assinado ao parlamento suíço, para propor - e isso terá de ser feito no prazo de quatro anos - que seja efetuado um referendo sobre se os suíços querem ou não instituir lá uma renda básica incondicional de 2,5 mil francos suíços. Isso, só para se ter ideia de que vem ganhando força a proposição em tantos países. Tenho aqui falado da experiência recente que aconteceu na Índia, nos últimos dois anos. Ali, seis mil pessoas, em vilas rurais diferentes, em oito municípios, foram acompanhadas, passo a passo, por dois anos, numa experiência proporcionada pela organização Self-Employed Women’s Association, com o apoio financeiro, inclusive, do UNICEF. E se comparou o que ocorreu nas 12 vilas rurais, de natureza semelhante, onde não foi feito aquele pagamento...

(Soa a campainha.)

            O Sr. Eduardo Suplicy (Bloco Apoio Governo/PT - SP) - ... e os resultados foram altamente positivos para as seis mil pessoas que receberam. Senador Renan Calheiros, pode acontecer uma experiência pioneira, logo, logo, em Alagoas, além do Piauí. Então, é só para aqui transmitir também meu cumprimento entusiasmado ao meu Líder Wellington Dias. Parabéns.

            O SR. WELLINGTON DIAS (Bloco Apoio Governo/PT - PI) - Eu que agradeço. Tenho muito orgulho de fazer parte da Bancada em que V. Exª nos lidera nos temas sociais, com toda sua experiência e sensibilidade.

            E não posso deixar de dizer que era preciso juntar conhecimento técnico, como esse que V. Exª, há muito tempo, desafia-nos a refletir, a pensar. E sei o quanto V. Exª foi professor do Presidente Lula, sempre convivendo perto dele. Aliás, muitas vezes se falava sobre Lula ser analfabeto. Quem não sabe quantos professores da melhor qualidade ele tem em torno dele? Aliás, ainda hoje, aqui, no plenário, falei com ele e sei o quanto ele comemora situações como esta aqui.

            Já concluindo, o que eu quero aqui, Senador Suplicy, nessa reflexão? Eu fiz a reflexão sobre a importância de o Brasil compreender que as pessoas têm vontades, que as pessoas não se conformam com um estado em que elas não conhecem... Se alguém nasce numa comunidade em que só se pode andar a cavalo, nunca andou num carro, num avião, num ônibus, ela sequer deseja aquilo. Se ela nunca viu, não sabe nem o que é. Com a renda, é assim: você precisa saber como é ter uma renda todo mês para poder desejar, e desejar mais, e desejar melhor.

            Mas não é só isso. Há a exigência: vai ter de estudar. Vai receber, mas a meninada tem de estar matriculada, os adultos têm de ir à alfabetização. Para quem não tem uma profissão, há o Pronatec. Há o ensino de jovens e adultos e o ensino de jovens e adultos profissionalizante. Há condição de chegar à universidade, há o ProUni, o Fies. Há a condição de ter uma casa. Se você não tem uma casa, então, se inscreva no Minha Casa Minha Vida, e vai ter uma casa, uma casa que você pode pagar com Bolsa Família. Nesses dias, uma garota que trabalhou comigo algum tempo, quando eu fui governador, me dizia: “Estou morando na minha casa”. Uma garota que, nos programas de televisão, faz a maquiagem. “Estou morando na minha casa. Belíssima. É um apartamento, na verdade”. Eu perguntei: “Quanto é que você paga? Está tendo condições de pagar?” Ela disse: “É R$35,00 a prestação. Claro que eu tenho condição de pagar”.

            Poder ter a energia, poder ter a água chegando à sua porta. Claro que não chegamos ainda a tudo. Meu Estado ainda tem muita coisa para fazer, mas 1 milhão de pessoas que não tinham segurança em água passaram a ter; 149 mil pessoas que não tinham casa passaram a ter; 800 mil pessoas que não tinham ensino médio passaram a ter. É disto que se trata: é de você poder ter a condição de ter um conjunto de coisas que são essenciais à vida.

            Com o Bolsa Família, imediatamente, é o alimento, mas ele desperta outras vontades, outros desejos: “sobrou um troquinho ali, comprei um chinelo. Andava descalço e agora posso andar com um chinelo”. Mas ele não quer só um chinelo. Se é mulher, quer um sapato, quer uma sandália. Então, isso tudo faz a movimentação da economia.

            Eu tive a oportunidade e o privilégio de conviver muito com o Lula. Um dia, nós chegamos a um lugar, em Canto do Buriti, e de repente o Lula deu uma crise de choro, porque uma mulher chegou para ele, o abraçou e disse: “Olha, Lula, você é meu marido.” Aí, ele ficou assim: “Uai, o que eu fiz de errado?” E ela disse: “Não, você é meu marido, porque o meu marido me largou e não me pagou nenhuma pensão. Quem está me pagando a pensão é você e com Bolsa Família, rapaz. Então, você é o meu marido.”

            Aquela mulher era a cara da mãe dele, da Dona Lindu. Aí, quando ele foi falar, se emocionou. Era um pronunciamento, uma situação de um assentamento que ele estava inaugurando, e ele chorou. Ele chorou e entrou numa crise. Ele entrou - hoje foi falado da história do helicóptero da Ideli -, nós entramos no helicóptero. Fomos inaugurar uma estrada asfaltada em uma subestação de energia elétrica, em Eliseu Martins, e ele, chorando e lembrando, disse que voltou o filme todo da vida dele, do que era a mãe dele.

            Essas coisas que aconteceram com o Brasil, de ter um operário com a história do Lula e, do lado dele, quantas pessoas, como o Senador Suplicy, e um Vice-Presidente como o José de Alencar, por isso eu creio em Deus. Essas coisas não acontecem por acaso. Uma experiência de uma visão empreendedora, que já defendia a redução de juros, essas coisas todas, enfim, tudo isso contribuiu para termos o Brasil que temos hoje.

            Alguém pode não gostar do Partido dos Trabalhadores, pode não gostar do que dizemos e fazemos, ser de oposição e ter raiva, mas não pode desconhecer as mudanças...

(Interrupção do som.)

(Soa a campainha.)

            O SR. WELLINGTON DIAS (Bloco Apoio Governo/PT - PI) - Conto com a bondade do meu Presidente, pois eu me empolguei aqui, Sr. Presidente, com esse tema, e o meu filme viajou.

            Era isso que eu queria dizer.

            O SR. PRESIDENTE (Renan Calheiros. Bloco Maioria/PMDB - AL) - Fique à vontade, Senador Wellington.

            O SR. WELLINGTON DIAS (Bloco Apoio Governo/PT - PI) - Então, quero destacar aqui que o salário mínimo, nesse período, aumentou 70% em termos reais. E a nossa meta, Sr. Presidente, é atingir mais de US$800,00 porque o salário mínimo de US$800 já tira todo mundo da pobreza, pelo padrão internacional.

            Esse aumento foi fundamental no combate à pobreza e à desigualdade, pois atingiu, principalmente, a população trabalhadora, situada na base da pirâmide salarial, predominantemente composta por mulheres e negros.

            Se na população ocupada o rendimento médio real aumentou 30%, a expansão foi de 36% para as mulheres, 44% para os negros e 47% para as negras. Então, ele é um programa fundamental, porque foi direcionado...

(Interrupção do som.)

            O SR. WELLINGTON DIAS (Bloco Apoio Governo/PT - PI) - Muitas críticas foram e são feitas desde o início do Bolsa Família, mas a que menos procede é a que diz respeito à disposição para o trabalho dos seus beneficiários.

            Nesses dias, eu dizia aqui ao Senador Aécio: olha, você não pode, tem que parar com esse negócio de dizer frases que parecem estar dizendo que o povo do Bolsa Família não trabalha. Não tem gente preguiçosa aí. As pesquisas mostram: quase todo mundo em idade de trabalhar trabalha e está se esforçando para sair, como a Cleudiane Sousa, de quem eu falei aqui.

            Exemplos como esse do Piauí mostram que as famílias retiradas da miséria, por meio da garantia de uma renda mínima, podem e vão atrás de uma autonomia econômica e inclusão produtiva. Segundo o PNAD de 2011, entre as famílias com rendimento mensal per capita de até um quarto do salário mínimo, as mais pobres, 62% da renda familiar advém do trabalho. O Bolsa Família é uma parte da renda. Este dado confirma as informações do Cadastro Único do Governo Federal de que a maioria da população pobre é beneficiária do programa e, de fato, trabalha. Entretanto, são, em sua maioria, trabalhos precários, informais, e isso precisa mudar.

            Quero concluir, Senador, reconhecendo a importância do Bolsa Família para retirar da miséria milhões de brasileiros. Eu quero daqui parabenizar o Presidente Lula, toda a sua equipe, a Presidenta Dilma, que agora, com tanta maestria, já criou o Brasil Carinhoso, olhando o lado da criança, que enxergou essa necessidade e continua desenvolvendo políticas e iniciativas de combate à pobreza por meio da geração de emprego e renda do nosso País.

            Era isso que eu tinha a dizer, em nome da Cleudiane Sousa. Eu comemoro com as 40.764 famílias que deixam o Bolsa Família pela via do emprego ou do empreendedorismo.

            Muito obrigado.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 09/10/2013 - Página 70298