Discurso durante a 190ª Sessão Especial, no Senado Federal

Comemoração do transcurso dos 25 anos da promulgação da Constituição Federal de 1988.

Autor
Casildo Maldaner (PMDB - Movimento Democrático Brasileiro/SC)
Nome completo: Casildo João Maldaner
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
HOMENAGEM, CONSTITUIÇÃO FEDERAL, SENADO. :
  • Comemoração do transcurso dos 25 anos da promulgação da Constituição Federal de 1988.
Publicação
Publicação no DSF de 30/10/2013 - Página 76644
Assunto
Outros > HOMENAGEM, CONSTITUIÇÃO FEDERAL, SENADO.
Indexação
  • PRONUNCIAMENTO, SESSÃO ESPECIAL, SENADO, COMEMORAÇÃO, ANIVERSARIO, PROMULGAÇÃO, CONSTITUIÇÃO FEDERAL, ENTREGA, MEDALHA, ULYSSES GUIMARÃES.

           O SR CASILDO MALDANER (Bloco Maioria/PMDB - SC. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Meu caro Presidente, Senador Paulo Paim, Senadora Vanessa, caros colegas, não poderia deixar também de neste dia em que estamos a comemorar os 25 anos da Constituinte, ou seja, eu diria até um casamento de prata da Constituinte democrática com a sociedade brasileira, que tem o direito de debater, exercer suas ideias de refletir... Acho que é o momento em que se vivem expectativas, claro que não perfeitas. A Carta deixa algo para melhorarmos? Sim, diversas questões devem ser aperfeiçoadas. Não podemos deixar de - neste momento - aqui registrar que hoje perfilaram por aqui diversas autoridades, diversas personalidades que trabalharam, que viveram esse momento há 25 anos.

           “Chegamos! Esperamos a Constituição como o vigia espera a aurora. Bem-aventurados os que chegam. Não nos desencaminhamos na longa marcha, não nos desmoralizamos capitulando ante pressões aliciadoras e comprometedoras, não desertamos, não caímos no caminho.” Com essas palavras, Ulysses Guimarães deixou ao País o seu maior legado, o alicerce sólido sobre o qual erguemos nossa Nação: a Constituição da República, a Constituição cidadã.

           Os inúmeros avanços obtidos nesses últimos 25 anos já foram exaltados com muita propriedade pelos colegas Senadores que nos antecederam. Portanto, peço licença para destacar essa figura fundamental que foi Ulysses.

           Vistas hoje, com o distanciamento que os 20 anos de sua morte nos trazem, as palavras revelam mais do que a conclusão do árduo trabalho à frente da Assembleia Nacional Constituinte. São a mais perfeita tradução da história de vida desse nobre brasileiro, com quem tive a satisfação e a honra de conviver.

           Nascido no interior de São Paulo, Ulysses dedicou sua vida à atividade política, à construção de um País mais justo e igualitário. Foi, contudo, durante os anos de chumbo, quando estivemos sob o jugo de uma ditadura militar, que Ulysses desfraldou sua maior e mais importante bandeira: a defesa inarredável da democracia e da liberdade.

           Não pretendo estender-me no relato de sua longa e profícua biografia. Seu legado, que até hoje é bússola de nossos ideais; sua voz forte, que não se calou no coração dos brasileiros; são conhecidos de todos.

           Não me furto, no entanto, a lembrar de algumas gratas passagens de nossos anos de convivência, que tanto me ensinaram. Fomos correligionários no velho MDB de guerra, desde sua fundação. Aproximamos-nos ainda mais quando exerci, a seu lado, mandato na Câmara dos Deputados, no período de 1983 a 1987, naqueles anos de abertura política e da belíssima luta pelas eleições diretas, que renderam a Ulysses um de seus codinomes: o "Senhor Diretas", outro igualmente se amalgamou à sua biografia: "Pai da Constituição". Foi também nesse período que militamos na Executiva Nacional do PMDB: Ulysses era nosso Presidente, enquanto tive a honra de ocupar a função de Primeiro Secretário.

           Desse rico período, guardo vivas as memórias e os ensinamentos. O principal deles, sem dúvida, reafirma o poder do diálogo e da troca de ideias, elementos essenciais na construção democrática.

           Sem jamais arredar de suas convicções, Ulysses esteve sempre aberto à conversa na busca pelo entendimento, inesquecíveis as noites de conversa, ao redor da antológica mesa do Piantella.

            Mais tarde, quando tive a honra de governar Santa Catarina, em 1991, convidei-o para inaugurar uma importante obra, a ponte que liga a parte continental à insular, em Florianópolis, capital do Estado, levando o nome do nosso sempre lembrado Governador Pedro Ivo Campos, de quem fui vice, justa homenagem a outro guerreiro peemedebista que tombou em combate. Mesmo cansado e absorto por um sem-número de compromissos, ele lá esteve, levando uma multidão de catarinenses a saudá-lo. Chegou a declarar que não deixaria de comparecer ao ato, ainda que tivesse que ir de ônibus, a pé ou mesmo nadando à nossa ilha de Santa Catarina.

            São momentos que guardo com carinho e saudade, de longos anos de convivência. Sentimentos que, tenho absoluta convicção, são compartilhados por milhões de brasileiros.

            Nesses 25 anos, muita coisa mudou, e as sementes plantadas por Ulysses frutificaram. Há, contudo, muito ainda por fazer, injustiças a corrigir. Nossa missão, como brasileiros e, ainda mais, como representantes políticos da vontade popular, é inesgotável, sem fim. E Ulysses sabia disso, ao afirmar: “Morrerei fardado, e não de pijama.”

            Nossa Constituição é letra viva, regramento dinâmico que deve mudar com as transformações de nossa sociedade.

            Encerro minha fala, Senador Paulo Paim, como a iniciei, recorrendo ao mesmo pronunciamento de nosso apóstolo de Moisés, que buscou incansavelmente guiar seu povo, pois proféticas foram suas palavras - abro aspas:

"Político, sou caçador de nuvens. Já fui caçado por tempestades. Uma delas, benfazeja, me colocou no topo desta montanha de sonho e de glória. Tive mais do que pedi, cheguei mais longe do que mereço. Adeus, meus irmãos. É despedida definitiva, sem o desejo de retorno. Nosso desejo é o da Nação: que este Plenário não abrigue outra Assembléia Nacional Constituinte. A Constituição pretende ser a voz, a letra, a vontade política da sociedade rumo à mudança.

Que a promulgação seja nosso grito: Mudar para vencer! Muda, Brasil! [fecho aspas]”

            São nossas reflexões, nobre Presidente, agora Vanessa Grazziotin, que trago hoje ao comemorarmos os 25 anos da Constituição, como disse no início, as bodas de prata da democracia com os brasileiros; esse dar-se as mãos com a sociedade brasileira.

            Termino com essa frase. Como disse, iniciei e findo com palavras e citações do nosso grande - sem desmerecer ninguém, incluindo todos os que ajudaram, participaram, são inúmeros os que hoje foram aqui citados -, nosso imortal Ulysses Guimarães.

            Muito obrigado.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 30/10/2013 - Página 76644