Comunicação inadiável durante a 212ª Sessão Não Deliberativa, no Senado Federal

Perplexidade com o anúncio, pelo Governo Federal, do sucesso do leilão dos aeroportos.

Autor
Roberto Requião (PMDB - Movimento Democrático Brasileiro/PR)
Nome completo: Roberto Requião de Mello e Silva
Casa
Senado Federal
Tipo
Comunicação inadiável
Resumo por assunto
POLITICA DE TRANSPORTES, PRIVATIZAÇÃO, GOVERNO FEDERAL, ATUAÇÃO.:
  • Perplexidade com o anúncio, pelo Governo Federal, do sucesso do leilão dos aeroportos.
Publicação
Publicação no DSF de 26/11/2013 - Página 85487
Assunto
Outros > POLITICA DE TRANSPORTES, PRIVATIZAÇÃO, GOVERNO FEDERAL, ATUAÇÃO.
Indexação
  • CRITICA, ANUNCIO, GOVERNO FEDERAL, REFERENCIA, COMEMORAÇÃO, LEILÃO, OPERAÇÃO, AEROPORTO, MUNICIPIO, RIO DE JANEIRO (RJ), ESTADO DO RIO DE JANEIRO (RJ), CONFINS (MG), ESTADO DE MINAS GERAIS (MG), MOTIVO, PRIVATIZAÇÃO, UTILIZAÇÃO, RECURSOS PUBLICOS, FINANCIAMENTO, OBRAS.

            O SR. ROBERTO REQUIÃO (Bloco Maioria/PMDB - PR. Para uma comunicação inadiável. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, quero aqui colocar a minha perplexidade em relação ao canto de bom sucesso que o Governo e a Base do Governo vêm fazendo em relação aos leilões dos aeroportos.

            “Dezenove bilhões de reais entrarão nos cofres da República”. Eu fui dar uma olhada no leilão. Não é bem isso! A Infraero terá 49% de todos os leilões. Então, dos R$21 bilhões e pouco, a Infraero vai entrar com R$10,7 bilhões. Dinheiro público, dinheiro da Infraero. Não é dinheiro do grupo empresarial privado.

            O grupo empresarial privado tem um financiamento de 75% do BNDES. Se não me engano, a juros baixíssimos e prazos maravilhosos, isso significa R$5,7 bilhões. E esse dinheiro todo, R$19 bilhões do Galeão e mais outro tanto, bem menor, de Confins, entra no caixa da União em 25 a 30 anos.

            Mas serão eles integrais, Senador Mozarildo?

            Hoje, a Infraero, que administra os aeroportos, já recebe as taxas de embarque e os alugueres dos espaços. Eu, pessoalmente, não acredito que seja função da União explorar aluguel de lanchonete, de banca de jornal e de restaurante, esses aspectos de shopping center de um aeroporto. Realmente, não é essa a função do Estado. Eu poderia admitir a privatização do aeroporto, mas não a privatização do sistema de gerenciamento de táxi aéreo.

            Mas o que, afinal, fez a nossa Presidenta? Uma privatização? Não. Ela diz que não. Uma concessão? Eu acho que não. Isso tudo me parece mais uma ação entre amigos, Senador Mozarildo. Por quê? Porque o empresário privado passa a ser dono do shopping e vai se ressarcir de tudo o que tiver que pagar e mais o seu lucro por meio de taxas de embarque e de alugueres. Então, quem vai pagar, na verdade, somos nós. E ele vai superfaturar a construção, que será feita pela sua própria empresa. Então, ele ainda vai ganhar algum dinheiro com esse financiamento do BNDES e o dinheiro da Infraero.

            Foi uma gentileza com o grupo empresarial. “Mas houve concorrência. Todos os grupos participaram”. Não, houve uma mandraquice no fim desse leilão. Proibiu-se que empresas participassem desse leilão com mais de 15% se estivessem participando de outros leilões. Então, isso deu à Odebrecht a condição de participar sozinha, uma ação entre amigos que será paga pela taxa de embarque e pelos juros baixos do BNDES.

            E, nessa propaganda dos R$19 bilhões que entrarão na caixa, se esquecem de dizer ao público, em todos os jornais, em toda a mídia, que isso se dará entre 25 e 30 anos de prazo e com o dinheiro da arrecadação. E o dinheiro da arrecadação que já existe hoje teria que ser deduzido disso. Quanto a Infraero já recebe de taxa de embarque e de aluguel de espaços do aeroporto?

            Então, nós não tivemos nada de significativo em benefício da União.

            (Soa a campainha.)

            O SR. ROBERTO REQUIÃO (Bloco Maioria/PMDB - PR) - Nós não tivemos uma concessão. Foi uma doação para uma empresa, que foi defendida pela exigência de que outras não pudessem participar do leilão, a não ser com o máximo de 15%. E quem vai pagar isso é o usuário e o recebimento dos alugueres, como eu disse, das taxas internas do aeroporto. Não tem nenhum cabimento. É um sucesso, mas é um mau sucesso. Mas, acima de tudo, é uma mistificação. A União não vai receber nada com isso. A União vai doar os aeroportos do Brasil, assim como já fez com o petróleo de Libra, como pretende fazer com os próximos leilões de petróleo, como fez com os portos, como está fazendo com o pedágio das estradas.

            O que difere, afinal, o comportamento econômico da nossa Presidenta do comportamento do Fernando Henrique Cardoso? Há pouco, um assessor do meu gabinete me dizia: “Requião, a única diferença é que ela não fala um inglês tão ruim quanto o Fernando Henrique Cardoso.”

            Era a comunicação que eu queria fazer. É a pergunta que eu deixo para a base do Governo me responder. E talvez fosse até interessante chamar os Ministros da área para explicar como é que eles anunciam os R$19 bilhões sem subtrair o dinheiro do BNDES, o dinheiro da Infraero, as taxas e os alugueres. Tapeação pura. Mistificação na mídia.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 26/11/2013 - Página 85487