Discurso durante a 216ª Sessão Não Deliberativa, no Senado Federal

Elogios ao Sr. Olívio Dutra pelo seu posicionamento ideológico sobre o “mensalão”.

Autor
Pedro Simon (PMDB - Movimento Democrático Brasileiro/RS)
Nome completo: Pedro Jorge Simon
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
HOMENAGEM, CORRUPÇÃO, GOVERNO FEDERAL.:
  • Elogios ao Sr. Olívio Dutra pelo seu posicionamento ideológico sobre o “mensalão”.
Aparteantes
Cristovam Buarque.
Publicação
Publicação no DSF de 30/11/2013 - Página 89025
Assunto
Outros > HOMENAGEM, CORRUPÇÃO, GOVERNO FEDERAL.
Indexação
  • ELOGIO, VIDA PUBLICA, OLIVIO DUTRA, EX PREFEITO, MUNICIPIO, PORTO ALEGRE (RS), EX GOVERNADOR, ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL (RS), EX MINISTRO DE ESTADO, REFERENCIA, POSIÇÃO, IDEOLOGIA, RELAÇÃO, PAGAMENTO, MESADA, CONGRESSISTA, TROCA, APOIO, GOVERNO FEDERAL.

            O SR. PEDRO SIMON (Bloco Maioria/PMDB - RS. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente e Srs. Parlamentares, eu venho hoje fazer um pronunciamento que me orgulha muito.

            Eu tenho um adversário político no Rio Grande do Sul - um adversário político, meu amigo fraterno -, mas ele é um grande nome do PT, e eu sou do MDB: Olívio Dutra. Ele foi Prefeito de Porto Alegre, ele foi Governador do Rio Grande do Sul, ele foi Ministro do Governo Lula. Não se adaptou ao Governo Lula e voltou a Porto Alegre.

            Nessa confusão, nesse complexo do debate em cima do mensalão, analiso o contexto do que um Parlamentar deve falar. Eu sou desse partido, eu tenho que defender intrinsecamente, apaixonadamente, o meu partido, mesmo que eu sinta que esteja errado? Ou ajudo melhor o meu partido - claro que com elegância, sem ofender -, mas dando uma orientação no sentido de que deve mudar?

            Eu tive por muito tempo uma posição dessas dentro do meu partido. No início, com jeito, de uma forma tranquila; ao final, até composições mais genéricas e mais duras - desta tribuna, eu critiquei o meu partido. Não admitia ficar sem candidatura à Presidência da República, não admitia uma série de coisas que eu - durante muito tempo Secretário-Geral e Primeiro Vice-Presidente, ao lado do Dr. Ulysses no MDB nacional, e um enorme de um tempo Presidente do MDB do Rio Grande do Sul - defendi.

            Estamos vivendo um problema agora que está se tornando dramático. Eu acho que saiu um capítulo dos mais positivos da política brasileira - a questão do mensalão. Ninguém ficou satisfeito com a decisão, e é compreensível que cada um tinha o seu lado, o seu pensamento, mas foi uma grande decisão.

             Admiro profundamente o Presidente que saiu do Supremo. A mim emocionou pela correção, pela dignidade, pela pureza. Ele era um jurista, ele era um poeta, ele falava as coisas mais duras com a doçura. E admiro o atual Presidente, na sua energia, na sua coragem e na sua bravura.

            É verdade que, às vezes, ele exagerou na maneira de ser, dizendo tudo absolutamente certo, mas falando em um tom que não era o ideal. Os jornais andam dizendo que ele anda recebendo críticas que não merecia, que na verdade tem gente que já se acostumou a ver num alto, tão alto cargo, um Presidente que não seja branco.

            Não creio, embora, na verdade, as suas críticas sejam um pouco injustas, embora eu reconheça que realmente o Presidente do Supremo podia ser mais tranquilo, mas sereno, dizendo coisas sem o tom da agressividade. Mas essa decisão foi tomada.

            Eu falo hoje, porque a partir de segunda-feira não há dúvida de que nós vamos entrar em uma outra guerra. É a guerra de São Paulo, que está sujeita a atropelar o mensalinho de Minas Gerais, e o mensalinho de Minas Gerais vai esperar de novo. Esperou o mensalão, para começar o mensalinho. Mas há rapidez e desconforto das Justiças completamente desconsideradas.

            Meu amigo Cristovam, eu passei os jornais atrasados e fiquei praticamente um dia lendo essa questão. Ela é séria demais. Empreiteira internacional fazendo denúncias; afirmativas de que houve o primeiro dossiê, o segundo dossiê, terceiro dossiê, sem assinatura.

            Um dossiê, em inglês, dizendo isso; outro dossiê que é a tradução daquele de inglês dizendo isso, acrescentando algo para atingir o Líder do PSDB.

            Eu assisti ao pronunciamento do Ministro da Justiça ontem na televisão, e é um equívoco. A Bancada do Governo não foi contra a vinda dele, foi aprovada. Concordo com a Bancada do Governo, pois, em relação a pessoas como o Ministro da Justiça, que é só convidar e vem, não há por que convocar. Nós temos o direito de convocar e devemos convocar. Defendi muitas vezes a convocação, quando o Governo não quer trazer, mas, no caso específico, eu acho que a vinda é interessante, e vir como convidado também é interessante. Ele apresenta argumentos importantes, então eu acho que esta semana o debate vai ser muito pesado.

            Por isso, eu quero dizer aqui que o Sr. Olívio Dutra foi um bancário que estudou, se formou na universidade e foi presidente dos bancários. Desta tribuna eu fiz um longo e duro pronunciamento, que eu publiquei, defendendo o Olívio Dutra, preso pela movimentação que fazia à frente do Sindicato dos Bancários. Fui visitá-lo; protestei desta tribuna - é claro que não foi por minha causa -, mas a inconformidade foi tão intensa que ele foi solto. Participou e foi uma das pessoas mais importantes da criação do PT, porque ele levava um setor significativo, que era o dos bancários; trabalhadores, como tantos outros, mas que tinham um grau de instrução superior e um grau de debate com mais participação no contexto da sociedade.

            Depois de Lula e das grandes lideranças sindicais, ele foi um dos mais importantes criadores do PT. Eu também fui convidado para entrar no PT, mas a minha tese era aquela que eu defendi a vida inteira: naquela ditadura, nós não podíamos criar partido, partido, partido, nós tínhamos que ficar unidos para criar a democracia, para criar a Constituinte e, na Constituinte, fazer os partidos novos.

            Olha, meu amigo Cristovam, modéstia à parte, me perdoe, mas, cada dia que passa, eu vejo como eu estava certo, como eu estava certo. Nós estávamos no MDB. O MDB, meu Deus, era um armazém de atacado, tinha de tudo, é verdade. Mas nós estávamos ali, numa situação excepcional, era uma guerra. Nós estávamos lutando contra uma ditadura, contra um regime horrível, com relação ao nosso povo. O nosso objetivo ali era lutar lá, derrotar lá. Era o que eu dizia: eu não quero saber o passado, eu não quero saber o futuro, eu não quero saber o que os caras que estão do nosso lado querem. Eu quero é saber se eles querem derrotar o lado de lá. Aí, nós vamos nos reunir numa democracia, vamos fazer uma assembleia nacional constituinte e vamos nos organizar.

            Não como aconteceu na Constituinte de 46. A Constituinte de 46 foi uma grande constituinte, só que quem estava atrás era o Getúlio, quem comandava era o Getúlio Vargas. Então, na Constituinte de 46, não houve ideologia, não houve ideia, não houve programa, não houve esperança. Quem era do PTB e do PSD votava. Os getulistas votaram: uma parte, no PTB, porque o Dr. Getúlio, na sua capacidade e na sua malícia, viu que era um grupo que estava nascendo, que era uma nova classe que surgia com o desenvolvimento industrial; outra parte, no PSD.

            E o que era o PSD? Naquela época de 1945, o Brasil era um país rural, as populações estavam no interior, a força era o interior, os grandes comandantes, os coronéis... Quem mandava estava lá: os senhores do açúcar, do gado, da cana, no interior.

            Então, foram os dois grandes partidos.

            E quem era oposição foi para a UDN. A UDN eram os jovens, os que debatiam, os que discutiam, os universitários, os intelectuais. Ninguém com ideologia alguma.

            Se nós olharmos para aquela Constituinte de 46, nós vamos ver que, dentro do PTB, havia gente excepcional e havia gente de quinta categoria. Havia gente que tinha posição progressista, avançada, querendo o melhor; e havia gente que não queria coisa alguma. Com o PSD, pior ainda. Muitos eram aqueles fazendeiros, os donos, os proprietários de café, de cana-de-açúcar, os caras que não tinham nenhum interesse, nenhuma bandeira, nenhuma ideologia, mas que eram getulistas, estavam ali, estavam ganhando, eram os antigos interventores que mandavam nos governos e foram para o PSD. Outros, gente séria, digna, correta, que também foi para o PSD.

            E a UDN foi o partido que teve um lado altamente positivo: eram os idealistas, eram os que lutaram contra o Estado Novo de 1937 a 1945, eram os que eram contra o Getúlio e eram os que, com o final da guerra, respiravam o clima de liberdade e de democracia e estavam bem-intencionados. Mas, junto com eles, havia uns reacionários da pior espécie que queriam, realmente, mudar e fazer do Brasil um país com uma perspectiva de filhote dos Estados Unidos.

            Deu no que deu. Uma Constituição boa, mas os partidos não valeram dois mil réis. O PSD nunca conseguiu ser coisa nenhuma; o PTB nunca conseguiu ser coisa nenhuma; nem a UDN. Porque, na hora, era uma mistura geral. Na hora da votação, havia gente da UDN que votava com o Dutra... E houve outra conseqüência: o Dutra foi quem derrubou o Getúlio. Depois, o Getúlio deu uma rasteira naqueles que o derrubaram, porque quem comandava a derrubada era a UDN, era o Brigadeiro Eduardo Gomes, era... Mas derrubaram o Getúlio, convocaram eleição direta, e, lá de São Borja, Getúlio mandou votar no Dutra, naquele que o tinha derrubado pelo PSD e derrotou a UDN. Vejam como foi. O Sr. Getúlio Vargas tinha muito prestígio. Era ele que nomeava todos os interventores, era o dono, era o chefe; a imprensa vivia em torno dele, ele tinha esse prestígio. E ganhou o PSD, e ganhou o Sr. Dutra, que o tinha derrubado.

            E nenhum dos partidos teve consistência. Foi uma anarquia, veio mais um, veio mais outro e veio mais outro. Depois, com o tempo, os partidos começaram a se consolidar. O PTB passou a ser um partido principalmente em torno da figura de Alberto Pasqualini, que tinha uma ideologia social, preocupada com o Estado socialmente mais estável, com o desenvolvimento social voltado para o conjunto da sociedade, com um humanismo mais profundo. O PSD passou, realmente, a ser o homem das empresas rurais, dos grandes proprietários do campo. E a UDN passou a ser um partido que realmente debatia ideias e princípios e era um partido mais voltado para o reacionarismo. E veio o PDC, que era para ser o partido da Igreja e não sei do quê. O Plínio Salgado veio e criou o PRP, que queria a volta do Integralismo. E veio uma série de partidos. E deu uma anarquia generalizada.

            Naquela época da revolução, naquela época em que nós começamos a nos preparar, já havia um clima em que a gente respirava a perspectiva de derrubar a ditadura. Quando estávamos nos preparando para isso, o que aconteceu? O Dr. Brizola, dos Estados Unidos: “Quero porque quero criar o PDT, porque quero criar o PDT.” E os trabalhadores, bem intencionados: “Quero porque quero criar o PT, porque quero criar o PT.” E, aí, todo mundo queria criar o seu partido. E eu dizia, eu insistia: vamos criar os nossos partidos, mas o momento não é agora. Vamos ficar todo mundo junto, e o MDB não vai continuar; não vai ter MDB.

            Convocaram a Constituinte - é a minha tese, Presidente -; fizeram a eleição da Constituinte. Está eleita a Constituinte. Convocada a Constituinte, seguiram os partidos. O Presidente da República e o Presidente da Constituinte davam o prazo de um mês - ou seja qual fosse - para cada um escolher um grupo partidário, formar um grupo no Congresso: um grupo que viesse a ser o PTB, um grupo da reforma, os grupos que quisessem. E se fazia a Constituinte.

            Promulgada a Constituinte, tinha um ano para se formarem os partidos, e se diziam quais eram as condições. Não é que nem agora, em que se forma como quer, como não quer. E faziam isso durante um ano, e se criavam os partidos. Ainda não tinha nem o partido de Getúlio, nem contra Getúlio; nem da revolução, nem contra a revolução. Mas seriam partidos em torno de ideias. Não fizeram lá, e agora nós estamos com 32 partidos, um mais igual do que o outro, nos erros e nas qualidades.

            Pois bem. Olívio Dutra foi para o PT. Era considerado um grande nome no PT. Todo mundo afirmava que o grande Líder era o Lula e o segundo era o Sr. Olívio Dutra, grande amigo do PT, grande correligionário do PT. Criou-se uma atuação positiva, dura, honesta, decente. Era trabalhador, mas era um intelectual que estudava e que conhecia, grande amigo do Presidente Lula. Ele foi Prefeito de Porto Alegre e Governador do Rio Grande do Sul. Ninguém nunca pôde dizer de sua dignidade - e o Senador Paim está aí para me ouvir -: nunca se ouviu dizer uma vírgula contra o Sr. Olívio Dutra como Prefeito, como Governador ou como Ministro das Cidades. Digo isso com a maior tranquilidade.

            Trabalhou, fez o que fez. O Governo pode ter sido bom ou ruim. Ruim porque o PT não tinha condições ainda de governar, estava começando. Ruim porque Lula vai mal mesmo - é difícil levar Lula adiante no Sul. Mas ele fez um grande governo.

            Chamo a atenção agora de V. Exªs, porque é muito importante o que eu quero dizer. Refiro-me a uma manifestação que o Sr. Olívio Dutra deu à imprensa há dois dias, quando ocorreu essa confusão toda - se é justa a decisão do Supremo, se não é justa; é cadeia, não é cadeia; é isso, não é isso.

            Quando começou a se fazer um carnaval em torno desse debate, o Sr. Olívio Dutra, com tranquilidade, com serenidade, se manifestou.

            Ouçamos o seu pronunciamento:

Liderança histórica do PT, o ex-governador do Rio Grande do Sul, ex-ministro das Cidades e ex-prefeito de Porto Alegre Olívio Dutra criticou os dirigentes envolvidos com o mensalão por conduta que teria destoado das ideias do Partido. “O sujeito coletivo do PT não pode ser reduzido em virtude dessas condutas; o PT surgiu para transformar a política de baixo para cima”, afirmou em entrevista ao Jornal do Comércio, publicada anteontem.

“Eu não os considero presos políticos, foram julgados e agora estão cumprindo pena por condutas políticas”, afirmou, referindo-se a José Dirceu, José Genoino e Delúbio Soares. Olívio manifestou “respeito” pela luta de Dirceu e Genoino contra a ditadura, mas advertiu que, no caso do mensalão, eles adotaram “uma conduta que não pode se ver como correta”. [Respeitou o passado, mas disse que, no mensalão, eles não tiveram uma conduta que pode ser considerada correta.] “Não é o passado [deles] que está em jogo, é o presente, e eles se conduziram mal e [prejudicaram] o partido.”

            Reparem a elegância, reparem que não há um termo de radicalização. Mas ele diz tudo. Ele diz tudo.

            Eu tenho orgulho de ele ser gaúcho, embora não seja do meu Partido, e eu penso como ele. E não penso como ele porque estão analisando agora um problema do PT. Eu vim muitas vezes a esta tribuna dizer isso do meu Partido, do PMDB. Eu me magoei, e, às vezes, pessoas me deixaram malvisto.

            Mas, muitas vezes, eu vim a esta tribuna discordando e criticando decisões do meu próprio MDB. Hoje eu até digo com toda sinceridade, eu acho que o Presidente do MDB está tendo uma atitude que eu respeito. O Presidente do MDB está sendo um bom presidente do Partido, e está sendo um ótimo vice-presidente para a nossa Presidência da República. O Sr. Michel Temer é um jurista, é um professor universitário de Direito, e a especialidade dele, professor estatuário, é exatamente isso. E ele tem exercido essa missão dentro da Presidência da República, ao lado da Presidente.

            Eu diria, eu quis sempre muito o bem do Marco Maciel. Meu grande amigo, fomos Ministros juntos, aqui nesta Casa há muito tempo. É um homem de bem. Foi um bom vice-presidente. Inclusive nós, do grupo católico, tínhamos nele um grande esteio e coordenador das nossas reuniões. Mas a forma de conduzir o governo do Sr. Fernando Henrique Cardoso foi uma forma pessoal dele de levar adiante. E o Sr. Marco Maciel é uma pessoa de uma humildade respeitável, e como o Fernando Henrique não o convidou, não lhe entregou função, ele ficou oito anos na dele, sem criar nenhum tipo de problema, mas também sem resolver, porque ele não fazia nada que não fosse a pedido do Presidente.

            O nosso querido Vice-Presidente da República, meu irmão, vice do Lula, foi um grande homem, um grande companheiro. Eu gostava dele quando estava no MDB e gostava dele na Vice-Presidência. Foi um gesto de mestre do Lula convidá-lo. Teve um grande papel, mas, cá entre nós, nem era do estio do Vice-Presidente do Lula nem era da sua formação entrar em debate, discussão, fazer costura.

            O papel que ele exerceu, a importância dele ao lado do Lula foi ele estar lá. Um dos maiores empresários do Brasil, conhecido pela sua firmeza, pelas suas ideias, pelos seus princípios; aceitou ser vice do Lula porque confiou no Lula. Em uma nota, um manifesto que o Lula lançou, mais tranquilo com relação a “não se assustem que o Brasil não vai ser incendiado em eu ganhando”, foi o grande papel que o nosso querido Presidente mineiro desempenhou na Vice-Presidência. Mas foi isso.

            O Sr. Michel Temer é diferente. O Sr. Michel Temer está desempenhando o primeiro papel da grande costura interna do Partido na coordenação do MDB. E, segundo, no entrosamento, muitas vezes ele ajudando o PT nas suas diversas linhas que hoje estão. O PT, quando chegou ao governo; o PT, quando estava na oposição, era um PT que tinha diversas ideologias: eu sou do PT da ala majoritária, eu sou disso, eu sou daquilo, e cada um representava uma linha...

(Soa a campainha.)

            O SR. PEDRO SIMON (Bloco Maioria/PMDB - RS) - ... ideológica, cada um tinha uma linha ideológica. Hoje não há isso. Os grupos do PT A, B, C, D etc. e tal representam gente que quer um pedaço do governo. Tem que dar um cargo para aquele grupo, outro para aquele grupo, outro para aquele grupo e outro para aquele grupo. E essa disputa interna do PT.

            Nós vimos, ontem, aqui o comportamento exemplar, excepcional do Senador da Bahia, magoadíssimo. Porque ele tem o legítimo direito de se candidatar a governador; ele queria que a disputa fosse democrática, aberta - ele, o ex-presidente da Petrobras e o indicado pelo Governador. Mas o Governador vai para a rádio, bate na mesa: “O martelo está batido. Bati! O meu candidato é o meu secretário tal”. O Governador, com a máquina do governo, depois de ter uma palestra com duas horas com o Lula; praticamente decidiu. Então, essa é vivência hoje do PT. E o nosso Presidente do MDB, justiça seja feita, está trabalhando, inclusive nessa questão.

            É um Partido hoje o MDB, que alguns dizem que é louco por cargos, e eu sou um dos que disseram muitas vezes que não é possível isso, nós não podemos fazer partido brigando por migalhas. Mas hoje, meu amigo Cristovam, são trinta e - meu Deus - três ministérios. Tem de tudo! Eu concordo, o MDB é o partido que tem mais Senadores, o que tem governadores, mais vereadores, mais prefeitos, a segunda bancada na Câmara. E, cá entre nós, os cinco ministérios que ele tem não valem dois mil réis. Eu trocaria os cinco por um. Eu trocaria pelo da Educação, eu trocaria pelo da Saúde, eu trocaria pelo do Planejamento. Mas não, espera aí um pouquinho... Tem Minas e Energia! Mas, cá entre nós, nós sabemos que Minas e Energia, o nosso companheiro Edison Lobão, é uma pessoa excepcional, mas nem é especialista da matéria, embora esteja se saindo muito bem, diga-se de passagem, mas quem manda lá na Energia não é ele; quem nomeia os diretores da Petrobras todo mundo sabe que não é ele. É um do PCdoB, é outro do PT, os fundos de pensão estão com fulano, o fundo de pensão da Petrobras está com fulano, o fundo de pensão do Banco do Brasil está com beltrano. É essa a comoção. E esse é um Ministro importante, mas sem força nenhuma. Não manda nada na Petrobras, não manda nada na Eletrobrás. Ele está exercendo bem - diga-se de passagem - o papel dele, sem peso político nenhum.

            O Ministério da Agricultura é um Ministério que... Eu fui Ministro da Agricultura. E o que o Ministério da Agricultura está fazendo? CFP, controle de preços, não está mais no Ministério da Agricultura. Reforma agrária, da maior importância, é um Ministério à parte. Pesca era outro setor do Ministério da Agricultura; é um Ministério à parte, não tem mais. Agricultura familiar, desenvolvimento da agricultura, é outro Ministério, e está lá o Pepe, do PT. O que sobrou no Ministério da Agricultura? Uma coisinha de nada.

            O Ministério do Turismo. A Dona Dilma me coloca no Ministério do Turismo, não sei indicado por quem, um ilustre companheiro brilhante, que tem a minha idade - e eu não posso dizer que, por ele ter a minha idade, ele não seja capaz. Mas é Deputado do Maranhão, mora no Rio. Vai fazer turismo do quê? Eu não vi o lado dele em coisa nenhuma.

            Esses são os Ministérios do MDB. Então, não dá para dizer que o Sr. Michel é um cara arregalado, que quer isso e quer aquilo. Por isso, eu digo que ele está exercendo um bom papel. E eu respeito isso.

            Mas, dentro disso tudo, a manchete deve ser o Sr. Olívio Dutra. Eu estava caminhando, saindo de uma reunião do MDB do Rio Grande do Sul, que é na Rua da Praia, a rua principal de Porto Alegre. E há uma avenida que corta a Rua da Praia e sobe em direção ao Palácio, em direção à Catedral e em direção ao Teatro São Pedro. Nós estamos saindo, 9h, 9h30, da reunião, estamos na esquina. Vem Olívio Dutra, com o guarda-chuva fechado, porque não estava chovendo, e a esposa. “Governador, de onde é que tu vens?” “Eu cheguei, deixei o ônibus ali na esquina e estou subindo essas seis quadras para ir assistir à peça”. Era uma peça política, que estava no São Pedro.

(Soa a campainha.)

            O SR. PEDRO SIMON (Bloco Maioria/PMDB - RS) - “Mas de ônibus? Por que você não veio de carro?” “Não”. “E para quê o guarda-chuva?” “E se chover na volta?” Viajou de ônibus. A mulher tem o vale para passagem de graça, porque tem mais de 60 anos. Ele não tem. “Eu sou Governador, eu não tenho”. Mas viaja de ônibus. Mora numa casinha que ele teve a vida toda. Isso me emociona.

            Está, na faculdade, tirando grego para estudar os filósofos gregos. Quer ler Sócrates e Ovídio no original. Vê como a vida é interessante. Não sei se concorda comigo. O cara, nessa situação, numa hora como essa, está lá assistindo suas aulas de grego, na universidade federal, está lendo e relendo os grandes clássicos para conhecer a teoria. “Mas tu já és formado em Filosofia, Olívio. Tu já conheces isso.” “É, Simon, mas uma coisa é conhecer o que está aí e outra coisa é eu pegar, lá na língua dele, o que ele escreveu.”

            Esse homem vem. Em tudo que é movimento e reunião do PT ele está presente. Cargo? “Não, eu não quero mais. Eu passei a minha fase.”

            Numa hora dessas, ele dá um pronunciamento desses. Esse pronunciamento devia ser dividido, devia ser orientação do PT pelo que ele representa. Repito: pelo que ele representa. Ele é amigo do Lula, defende o Lula, é apaixonado pelo PT, bate em mim, bate na gente, mas, numa hora como essa, dessa importância, para mim isso é uma estrela.

            Eu venho aqui e é a segunda vez em que eu falo no nome do Olívio nesta tribuna. A primeira foi no auge da luta. Ele, Presidente do Sindicato dos Bancários, ainda não fazia política partidária, foi preso, porque fez um movimento a favor da democracia, a favor da abertura. Eu, Presidente do MDB, vim a esta tribuna, fiz um protesto duro defendendo o Olívio e publiquei num livro... Publiquei e fomos, em caravana, lá na cadeia. Os caras queriam deixar, não queriam deixar. Entramos em caravana e levamos o abraço ao Olívio, que, felizmente, foi solto.

            Por isso, eu acho que seria muito bom se, nessa hora, cada um de nós baixasse um pouco o tom. Eu vejo a Presidente, que começou seu Governo... Eu cansei de vir a esta tribuna elogiar a Presidente da República. O pessoal do MDB do Rio Grande do Sul cobrava de mim: “Mas que é isso, tu vais entrar no PT?” Não. Eu acho que, no momento, eu quis falar. E ela demitiu sete Ministros. O Lula não demitiu nenhum.

            O Fernando Henrique não demitiu nenhum por corrupção, por ato ilícito e, quando apareceu nos jornais, ela demitiu. Isso, para mim, mereceu respeito. Mereceu respeito... Mas, ultimamente, Lula veio com toda força. O que a imprensa diz, com todas as letras, é que há o plano b. Se a Dona Dilma, até tal data, garante que será ela, se não for possível, vai ser Lula. Embora Lula, justiça seja feita, diz, insistentemente, que não; mas os que interpretam a palavra de Lula dizem que realmente ele é sincero quando diz “não”. Mas que, se houver uma movimentação de tal ordem que o Governo possa perder a eleição, aí a Dilma sairia e ele entraria.

            Em uma hora como essa é que trago a palavra de meu amigo Olívio. Pena que não tenhamos mais gente dessa forma. Eu já devia ter trazido a esta Casa para transcrever nos Anais desta Casa uma entrevista espetacular, Paim, que Frei Beto deu ao Zero Hora. Cristovam, tu tens que ler... Tu tens que ler!

(Soa a campainha.)

            O SR. PEDRO SIMON (Bloco Maioria/PMDB - RS) - Ele faz uma análise do Governo Lula, dele, da Igreja, da sociedade e da hora em que estamos vivendo, do Vaticano, que a gente tem de admirar. A gente, realmente, tem de admirar!

            Eu já disse desta tribuna, uma vez, que nós temos um grupo de irmãos que se reúnem, uma vez por mês, para rezar em missa. Entre as pessoas que a gente convida, estava o Frei Beto em uma dessas. Nessa reunião, por coincidência, ele nos comunicou que havia deixado o cargo de assistente, de assessor político do Presidente Lula; que continuava muito amigo dele, mas que saía. Eu até, no meio da missa, pratiquei um ato infeliz ao dizer: “Mas o senhor errou! O senhor errou!”

(Interrupção do som.)

            O SR. PRESIDENTE (Osvaldo Sobrinho. Bloco União e Força/PTB - MT) - Senador Simon, minha vontade grande era a de não prorrogar o tempo de V. Exª, mas sua história e seu pronunciamento não me deixam fazê-lo. V. Exª tem mais cinco minutos.

            O SR. PEDRO SIMON (Bloco Maioria/PMDB - RS) - Obrigado. Muito obrigado a V. Exª.

            Mas por que errou? “Em que eu errei? Lula está lá.” Todos nós sabemos que o Presidente da República está cercado de gente boa, de gente ruim, de gente mais ou menos, de gente daqui e dali. Para mim, você era o assessor que estava lá e em quem eu depositava confiança.

            Não, o Betinho está lá para orientar, para ajudar, para falar.’ Você me diz que tem de sair? Eu acho que você errou. Você tinha que estar lá. Ainda que tenham divergido, que as divergências possam existir, você tinha que estar lá.”

            Aí, ele me deu a resposta: “Mas eu fiquei lá muito tempo, ao ponto em que eu podia ficar com divergências, mas, agora, a melhor maneira que eu posso fazer para o Lula e para o Brasil é sair, porque, senão, vão-se criar um problema e um clima, que estão querendo fazer, de tal maneira, que vamos sair de uma forma que cria um caso que eu não quero criar. Então, saio, abraço o Lula e vou embora.”

            Isso é interessante, porque quantas pessoas... Nós todos sabemos que o Lula foi Presidente por vários motivos - o povo, as lideranças populares -, mas não vamos esquecer que D. Evaristo e as comunidades de base da Igreja Católica foram os grandes... O PT nasceu, mas uma coisa era o PT nascer com o seu Lula e com o seu Olívio Dutra: “Olha, nós vamos fazer o Partido dos Trabalhadores.” Outra coisa era D. Evaristo Arns - em Brasília, em São Paulo, com todo aquele movimento que ele tinha feito, aquelas comunidades de base da chamada Igreja Nova - com a Igreja criar, lá em Santa Catarina, um centro comunitário espetacular, para reunir 300 jovens, onde eles tinham dormitório, lugar para comer, e onde ficavam por dois ou três meses debatendo. A Igreja, realmente, ajudou muito. E essa gente foi saindo. Essas pessoas que estavam, nesse início, desse lado foram saindo.

            Por isso, Sr. Presidente, levo meu abraço ao Olívio Dutra. Ele está lá, ajudando o Tarso. A gente vê que há divergências, que eu respeito. Raul Pont é o presidente do PT do Rio Grande do Sul, um homem de grande capacidade, de grande competência.

            Eu digo para ele, Raul Pont, e para o Deputado que, hoje, é prefeito de Porto Alegre, pelo PDT, que era Deputado do PT... Eram quatro. Pela primeira vez, o PT elegeu Deputado na Assembleia do Rio Grande do Sul: quatro. Coitado do governador - era eu. Eles aprenderam a fazer política batendo em mim. Eu digo que eles têm uma dívida comigo. Então, fizeram.

            Havia cerca de 60 a 70 mil casas prontas. Está lá o Paim. O Paim vai me dizer, porque lá na sua terra, em Canoas, as casas estavam prontas. Faltava isso, faltava aquilo, faltava mais aquilo... Quantos anos isso levou, Paim? Quantos governos isso levou? “Ah! Vamos ter que pintar.” E não saía. Aí, o Sarney criou um plano de construção de casa popular.

(Soa a campainha.)

            O SR. PEDRO SIMON (Bloco Maioria/PMDB - RS) - Eu vim aqui ao Sarney e disse: Presidente, há uma coisa que posso lhe dizer: o senhor me dá 10% do que custa cada casa dessas e, daqui a 6 meses, o senhor vai a Porto Alegre, no Rio Grande do Sul, na grande Porto Alegre, inaugurar 80 mil casas populares. Os caras vão se perguntar: como? É que já estavam prontas. Mas faltava muita coisa para terminar. Eu não tinha nem assumido quando combinei com o Sarney. Fomos à Caixa Econômica do Rio Grande do Sul, em segredo, ninguém sabia de nada. Mas o PT tinha as suas informações, e ficaram sabendo.

            Um dia, às 6 horas da tarde, me telefona o juiz de direito de Canoas: “Governador, já despachei o pedido determinando que eles evacuem imediatamente. Mas eu vou lhe dar um conselho: cuidado, Governador! Há 5 mil do lado de dentro, nas casas; há 10 mil do lado de fora querendo entrar; e há 500 brigadistas. Vai ser uma morte, vai ser uma desgraça. Não sei o que vai acontecer”.

            Olha, foi uma operação de guerra fantástica! Armaram com a maior competência. Pegavam o cidadão, eu, “condomínio tal, bloco ‘C’, apartamento 307, 3º andar”. Lá, na porta, já estava a mesma coisa. Isso, com o meu nome. Então, eu já ia lá, não havia briga, não havia confusão; eu já ia lá e ia para o meu lugar. Cada um ia para o seu. Só que eles não tiveram cuidado. Levamos uns 2 anos depois. Botaram, em um apartamento de 2 quartos, um pai com 6 filhos; em um apartamento de 3 quartos, um pai com 1 filho.

            Eu chorei. Chorei quando pedi que a brigada militar se retirasse. Eu não aceitei. Achei que o conselho do presidente do tribunal era importante, seria uma carnificina, e eu concordei. E o PT saiu vitorioso. Os quatro Deputados do PT viraram heróis e as casas não saíram. Quer dizer, saíram mais tarde, mas depois de levar um ano e meio para deixar prontas. Os caras que entraram na casa foram aqueles que o PT quis, não ia tirar o cara de dentro da casa. Então digo: essa gente lutou, fez, trabalhou e avançou, mas hoje as coisas estão, realmente, muito complicadas.

            A análise que o Ex-presidente do BNDE - estive conversando com um grupo nosso aqui de Brasília, você estava lá - é impressionante. E o homem é amigo do Lula, foi Presidente do BNDE no tempo do Lula, tem a melhor das intenções, mas a análise que ele faz é impressionante. Na análise, eu não tinha me dado conta, ele diz que foram fazer o leilão da Petrobras lá no fim do mundo, na Barra da Tijuca, com as tropas do Exército e dois navios atracados. Por isso não havia mais de 200 pessoas, e o leilão foi feito daquele jeito.

            Lula, Presidente Dilma, chamem o Olívio Dutra, discutam pessoalmente com ele.

            O SR. PRESIDENTE (Osvaldo Sobrinho. Bloco União e Força/PTB - MT) - Senador, peço licença um pouquinho para anunciar a presença aqui dos alunos do ensino fundamental da Escola Municipal Professor Filomena Rocha Soares, de Alvorada do Tocantins.

            Obrigado pela presença de vocês. Fiquem à vontade.

            A palavra é de V. Exª.

            O SR. PEDRO SIMON (Bloco Maioria/PMDB - RS) - Olhem bem o que há de bom e o que há de ruim. Está vazio, porque hoje é sexta-feira, não há votação, e essa televisão que está transmitindo, que chega a casa de vocês, chega ao gabinete parlamentar. Então ele está lá trabalhando e assistindo. Fica meio enjoado a gente estar aqui sozinho e alguém pergunta: “Trabalham e não fazem nada?”. Não, sob esse ângulo, nós estamos lá.

            Vão ruas, jovens. Quando aparecer o chamamento, vão às ruas, defender. As Diretas Já, vocês foram. Vocês é que criaram, quando vocês foram às ruas para cassar o Collor por corrupção. Vocês foram às ruas, e ele foi cassado. Quando vocês foram às ruas dizendo que tinha que ser aprovada a Lei da Ficha Limpa, que o cara que tem crime, que seja responsável por aquilo não poderia ser candidato, foi aprovado. Quando vocês foram às ruas, cercaram o Congresso, cercaram o Supremo dizendo que o mensalão tinha que chegar ao fim, foi aprovado.

(Soa a campainha.)

            O SR. PEDRO SIMON (Bloco Maioria/PMDB - RS) - Quando vocês ficaram em casa tranquilos, esperando que nós fizéssemos, nós não fizemos. Não esperem nada do Congresso, nem do Supremo e nem do Poder Executivo. O jovem na rua, defendendo as boas ideias, nos leva a fazer por convicção, ou até, vou ser bem sincero, por medo do pensamento da sociedade.

            O aparte a V. Exª, Senador Cristovam.

            O Sr. Cristovam Buarque (Bloco Apoio Governo/PDT - DF) - Senador Pedro Simon, primeiro, um comentário sobre a sua generosidade de vir aqui fazer elogio a um opositor local, mas, segundo, que o senhor podia ficar calado, respeitar o belo texto de declarações do Olívio, mas ficar calado, quieto, em função das restrições locais. No lugar disso, veio aqui falar do artigo dele. Então, a primeira referência minha é a sua generosidade, mas, segundo, é que, se tem alguém que merece um gesto desses, esse é Olívio Dutra. Para mim, Senador, Olívio Dutra simboliza o que três pessoas, hoje, no mundo, simbolizam - ele, o Papa Francisco e o Presidente Mujica: austeridade no exercício do poder. Olívio, além de todas as suas qualidades, que não vou discutir, representa, de maneira radical, o conceito de austeridade durante e depois do exercício do poder, como o Presidente do Uruguai, que mora na sua casinha, que usa o seu Fusquinha, que vive com uma parte apenas do salário e consegue, com isso, funcionar bem. Nós perdemos o costume disso. Já houve isso. No passado, era assim.

(Soa a campainha.)

            O Sr. Cristovam Buarque (Bloco Apoio Governo/PDT - DF) - Getúlio morava de uma maneira austera. Vamos falar com franqueza, os militares, muitos deles, durante o regime militar, tinham austeridade. Nós perdemos essa capacidade. Para nós, hoje, ter poder é ser exibicionista, é gastar muito, é ostentar, o contrário de austeridade, que é ostentação. Então, o senhor traz aqui uma posição, uma lembrança de uma das figuras que, para mim, melhor representa a austeridade na política brasileira, que é Olívio Dutra. Eu o conheci como governador. Depois de ser Governador, voltou para trabalhar no banco, tomar o ônibus, normalmente, como o senhor mesmo se referiu, e levar a vida de cidadão, que é isso que cada um da gente deveria pensar, que, ao sair daqui, vai ser um cidadão igual a qualquer outro e, por isso, é melhor ser um cidadão enquanto está aqui também. Depois, creio que o artigo dele traz uma qualidade muito grande da lucidez. Eu também acho, e o senhor falou, que o Ministro Joaquim Barbosa, às vezes, faz certas coisas certas, mas de uma maneira, até, atrapalhada. Ele prestou um serviço muito grande ao condenar, não ele, ao coordenar a condenação, porque ele era o Relator da prisão dos envolvidos no chamado mensalão. Mas, talvez, não precisasse mandar prender num dia feriado, véspera de domingo. Talvez não precisasse, já que eles tinham direito a prisão domiciliar, não domiciliar, a prisão, apenas, durante a noite, colocá-los presos de maneira integral. Ou seja, é possível que tenha havido algumas trapalhadas, agora, não pode chamar os presos de presos políticos. Não faz sentido. E, inclusive, está caindo mal no exterior, porque tem gente lá fora dizendo: “No tempo do Lula, não tinha preso político; no tempo da Dilma, tem preso político”. Porque só tem preso político quando o Governo quer. A Presidenta Dilma e o Presidente Lula fizeram uma coisa muito correta, não tentaram influir diretamente no resultado negativo, mas preso político eles não fizeram. Não há preso político feito pela Justiça. Preso político é feito pelo Poder Executivo contra os seus opositores, e os que estão presos não são opositores. Então, não são presos políticos. Até a solidariedade a gente tem que ter, sobretudo no caso da saúde do Deputado Genoino...

(Soa a campainha.)

            O Sr. Cristovam Buarque (Bloco Apoio Governo/PDT - DF) - ... mas presos políticos não são. Isso muitos de nós falam. Agora, o Olívio vem e fala isso de uma maneira que o resto da militância do PT não faz, porque virou uma certa religião a maneira como se tratam entre eles, sem autocrítica. O primeiro passo para a destruição de um processo político, é perder a autocrítica. Nenhum governante age bem se não for capaz de ouvir críticas e fazer a sua própria autocrítica, e perderam isso. E, aí, eu quero aproveitar para dizer que, se digo isso dele, eu preciso dar o exemplo. E quero dizer que estou muito incomodado com o fato de um Senador do meu Partido ter o seu helicóptero aprisionado carregando cocaína. Não é por ser do meu Parido que não vou deixar de manifestar, no mínimo, o meu profundo incomodo por isso, e ele não falar, não disse nada ainda. Na verdade, eu acho que qualquer Senador que tiver helicóptero já tem que explicar por que tem helicóptero. Como é que ficou tão rico que tem helicóptero? Qualquer um, qualquer um. Eu não faço exceção aos que fizeram fortuna lícita ou ilicitamente. Ter um cargo público, tem que se explicar o que é que tem de riqueza. Além disso, esse transporte, é preciso explicar muito bem, não está claro. Por outro lado, o piloto era funcionário da Assembleia Legislativa, no gabinete do filho do Senador, o Deputado Perrella. Eu me sinto incomodado e creio que nós deveríamos pedir uma explicação a ele. Que explique, que traga a sua justificativa: como é que tem helicóptero, para que o helicóptero é usado normalmente e como é que foi usado por essa razão? Eu aproveito o seu discurso para fazer essa manifestação, talvez querendo ser um pouco o que é Olívio Dutra. Eu gostaria de ser um Olívio Dutra do ponto de vista da maneira de fazer política, e acho que está faltando. Eu não vejo outros dois, a não ser o Papa Francisco e o Presidente Mujica. Esses são austeros. E eu tenho certeza de que, na hora de fazer crítica a seus partidos - e todo partido merece crítica -, como o senhor faz sempre aqui quando é preciso, do seu, é preciso que a gente faça também. Não podemos deixar que a política se transforme nem em ostentação nem em religiosidade. Cada um tem a sua igreja; partido não é igreja. Partido não é uma questão de fé. Partido é uma questão de princípios, mas, às vezes, estamos tratando a política como forma de ostentar, de ter os recursos para ostentar e também de uma forma religiosa, em que todos os outros são infiéis. Todos do lado de cá são fiéis, qualquer que seja o seu pecado, e os do outro lado são infiéis, qualquer que seja a virtude. Tem virtude no outro lado, e tem pecado no lado da gente, inclusive em cada um de nós, e é preciso estarmos alertas. E não tem pior pecado na política, tirando, obviamente, esses, que são crimes mesmo, como roubar, etc., mas não tem pior do que a ostentação. E isso, Olívio não tem. Ele é o antiostentação. Ele é um senhor austeridade.

            O SR. PEDRO SIMON (Bloco Maioria/PMDB - RS) - Eu agradeço com muita emoção o pronunciamento de V. Exª.

            Eu vou contar a V. Exª. Nas manifestações que a gente recebe pelos diversos métodos que chegam ao nosso gabinete sobre os meus pronunciamentos, muitas, muitas delas dizem o seguinte: “Eu gosto muito do seu pronunciamento, principalmente quando o senhor termina e tem um aparte do Senador Cristovam, porque aí completa. O senhor diz uma parte, mas está faltando alguma coisa. E com o Senador Cristovam está completa, não falta nada”.

            Muito obrigado a V. Exª.

            Eu citei o Deputado Raul Ponte, e ficou no ar o que eu quis dizer. O que eu quis dizer com relação a Raul Ponte, que é o Presidente atual do Partido do Rio Grande do Sul, é que ele não vai mais concorrer. Não disse nada, mas se vê que a fórmula da magoa que ele está sentindo é exatamente essa. Não vai mais concorrer, o que é uma pena, porque é um dos homens dignos, realmente capazes, uma posição bem mais radical do que a de Olívio, mas uma posição firme. Mas a favor de uma linha que o PT não está seguindo.

            Eu agradeço, Sr. Presidente, mas acho muito ruim, meu querido Cristovam, quando essas pessoas saem, quando Olívio não está, quando o Frei Betto não está, quando o Raul não está, quando, de dentro do PMDB então, nós temos uma infinidade de gente que foi para casa. No seu partido, o PDT, uma multidão foi para casa. Geralmente os que vão para casa, não é por covardia, não é por cansaço; é porque acham, que nem o Frei Betto, que não dá para fazer. Pois eu acho o contrário: a gente participando é que dá para fazer.

            Eu tenho medo, Senador, desse ano de eleição. Nesse ano da eleição, no ano que vem, nós não temos meia medida. Ou vai ser uma luta fratricida de dossiê para lá, dossiê para cá, tu és isso, tu és aquilo, ou a gente se reúne e faz uma eleição de alto estilo, de alta grandeza, respeitando-se reciprocamente, cada um apresentando a sua proposta e tendo realmente o Brasil totalizado a democracia. Não há meio termo!

            Hoje o que nós estamos vendo... Pegue o jornal de hoje, pegue a televisão de amanhã. Se isso é o início da campanha, eu não sei como é que ela vai terminar, mas vai terminar mal. Por isso a Presidência da República e os vários partidos têm que agir no sentido da dignidade e da serenidade dessa campanha.

            Encerro, deixando aqui o meu abraço ao meu querido amigo e adversário Governador Olívio Dutra.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 30/11/2013 - Página 89025