Pronunciamento de Jorge Viana em 14/10/2013
Fala da Presidência durante a 22ª Sessão Solene, no Congresso Nacional
Abertura da Sessão Solene do Congresso Nacional, dedicada à comemoração do centenário de nascimento de Vinicius de Morais.
- Autor
- Jorge Viana (PT - Partido dos Trabalhadores/AC)
- Nome completo: Jorge Ney Viana Macedo Neves
- Casa
- Congresso Nacional
- Tipo
- Fala da Presidência
- Resumo por assunto
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HOMENAGEM.:
- Abertura da Sessão Solene do Congresso Nacional, dedicada à comemoração do centenário de nascimento de Vinicius de Morais.
- Publicação
- Publicação no DCN de 15/10/2013 - Página 2090
- Assunto
- Outros > HOMENAGEM.
- Indexação
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- ABERTURA, SESSÃO SOLENE, CONGRESSO NACIONAL, HOMENAGEM, ANIVERSARIO DE NASCIMENTO, POETA, COMPOSITOR, DIPLOMATA, JORNALISTA.
O SR. PRESIDENTE (Jorge Viana. Bloco Apoio Governo/PT-AC) - Gostaria, na condição de Vice-Presidente do Senado e presidindo esta sessão solene, também de me pronunciar sobre essa figura extraordinária, esse brasileiro exemplar, o nosso poeta, músico e escritor Vinícius de Moraes.
Queria, mais uma vez, cumprimentar a todos que compõem a Mesa, esta Mesa de honra do Senado Federal. Queria cumprimentar as autoridades presentes, os demais convidados e também todos que nos acompanham pela Rádio Senado e TV Senado nesta homenagem aos 100 anos de nascimento de Vinícius de Moraes.
Senhoras e senhores, 100 anos após o seu nascimento e 33 anos após sua morte, podemos afirmar convictamente que Vinícius de Moraes foi um dos nomes mais relevantes para a arte brasileira no século XX.
Esta sessão solene do Congresso Nacional é uma evidência desse fato: a mais alta instância do Poder Legislativo federal presta esta bela homenagem a Vinicius de Moraes, em reconhecimento à riquíssima contribuição que legou à cultura brasileira, que estamos fazendo, volto a repetir, graças às iniciativas tanto do Senador Inácio Arruda quanto do Deputado Penna, a quem mais uma vez faço questão de agradecer pela iniciativa e cumprimentar.
Evidências também são as dezenas, centenas de homenagens que se estão fazendo ao Poetinha em todo o Brasil e no mundo. A diversa obra de Vinicius de Moraes é, sem dúvida alguma, merecedora de todos esses elogios, e fico feliz com o fato de que o Congresso Nacional também faz parte dessa universal manifestação de apreço a Vinicius e sua obra.
Vinicius de Moraes era dono de uma personalidade intensa e de uma curiosidade intelectual ímpar. Um homem de muitos interesses e de muitos talentos, que conseguiu, como poucos artistas no País, deixar uma marca individualíssima em toda e qualquer atividade à qual se dedicasse.
Sua obra poética é vasta, popular e de altíssima qualidade. Sua produção ombreia com a de outros gigantes da nossa poesia, contemporâneos e admiradores de Vinicius, como Manuel Bandeira, João Cabral de Melo Neto e Carlos Drummond de Andrade.
Vários de seus poemas estão gravados na nossa memória coletiva. Eu tive o privilégio de ler, de ouvir, de assistir, de emocionar-me e ter como auxiliar na minha formação a trajetória e a produção cultural de Vinicius de Moraes. Quem não reconhece imediatamente a autoria do Soneto de Fidelidade, do Soneto de Separação ou do Poema Enjoadinho? Versos como “De repente, não mais que de repente”, “Mas que seja infinito enquanto dure” e “Filhos?/Melhor não tê-los!/Mas se não os temos/Como sabê-lo?”, entre tantos outros, extrapolaram os limites da poesia e se firmaram como ditos populares da língua portuguesa.
Sua obra musical é tão importante quanto sua obra literária, e ainda posso afirmar mais popular. A parceria de Vinicius de Moraes e Tom Jobim foi o encontro mais feliz da música brasileira. Eles não apenas criaram todo um movimento cultural conhecido como Bossa Nova; eles não apenas compuseram algumas das canções brasileiras mais executadas em todo o mundo, como Chega de Saudade e Garota de Ipanema; Tom e Vinicius, acima de tudo, alteraram profunda e definitivamente a paisagem musical brasileira: trouxeram leveza para nossas letras, deram sofisticação às nossas harmonias, e mostraram ao mundo que o Brasil era muito mais do que samba, carnaval e futebol.
Também na música, Vinicius nos legou alguns dos versos mais memoráveis da música popular brasileira. Todos identificam nele, de imediato, o autor de pérolas, como: “Tristeza não tem fim, felicidade, sim”; “Eu sei que vou te amar”; “Olha, que coisa mais linda, mais cheia de graça”; “E, por falar em saudade, onde anda você?”, entre tantos outros versos antológicos da nossa música popular.
Ainda ontem a Rede Globo de Televisão fazia um especial pondo no devido lugar uma fase extraordinária da carreira do nosso querido poeta. As canções infantis que fez com Toquinho, baseadas nos poemas do livro A Arca de Noé, marcaram toda uma geração no Brasil, e ainda hoje nos emocionamos com músicas como Aquarela e A casa. Envolveu praticamente todos os grandes nomes da música popular brasileira naquela brincadeira de cantar para e com as crianças.
A vasta e variada produção de Vinicius é tão mais surpreendente se considerarmos a intensidade com que viveu o Poetinha. Foram nove casamentos, cinco filhos, diversos endereços no Brasil e no mundo, peças de teatro, roteiros de cinema, trabalho jornalístico e 25 anos de uma carreira diplomática bruscamente interrompida pela ditadura militar.
Queria encerrar, mas não tem como encontrar a melhor e mais correta palavra muito menos um discurso protocoar para homenagear Vinicius de Moraes. Eu mesmo ensaiei e sigo ensaiando algumas notas no violão para ver se consigo pelo menos reproduzir algumas dessas frases tão fantásticas que ele nos deixou e que nos marcaram tanto.
Lembro que, quando ainda fazia o curso secundário na época, havia um show, numa cidade próxima de onde eu estava, no interior de São Paulo - eu fazia o Colégio Agrícola. E como perder Vinícius de Moraes? Eu não tinha dinheiro, naquela época, para pagar, nem era muito afeito a essa coisa de comprar passagem; gostava de andar de carona. E, com alguns amigos, saímos para assistir ao show de Vinícius e Toquinho, numa universidade no interior de São Paulo. Fomos de carona. Assistimos ao show, obviamente, e nos alegramos com um pouco de bebida, para ser bem contido. Durante o show, ali no palco, ele também estava tomando a sua bebidinha, para poder melhorar a voz, certamente, um pouco de remédio para o artista e cantor. Ele não teve dúvida: trocou a nossa bebida pela dele. Ficou bebendo a nossa bebida, que estava logo após o palco. Foi uma cena das mais fantásticas da minha vida. Terminado aquele banho de poesia, que alegrou o coração de todos nós, estávamos diante de um problema: o show terminou muito tarde, nem ônibus havia mais para voltarmos para a cidade onde morávamos, mas passei uma das noites mais interessantes, porque fomos para um trevo, como se chama, para tentar uma carona - impossível, na madrugada - e ali dormimos, um ao lado do outro, em pleno asfalto, num lugar protegido, cheio de alegria, olhando para o céu, pensando e lembrando a poesia de Vinícius de Moraes. Vinícius deixou marcas, como esta, na minha vida e, sei, na vida de milhões de brasileiros e de pessoas do mundo inteiro.
Concluo a minha fala, dizendo que este Congresso, simbólica e postumamente, devolveu a ele o cargo de diplomata. Porém, o posto de um de nossos maiores poetas e compositores nunca lhe foi disputado. Vinícius de Moraes segue ocupando um lugar de destaque no afeto de todos os brasileiros.
Muito obrigado. (Palmas.)
O SR. PRESIDENTE (Jorge Viana. Bloco Apoio Governo/PT-AC) - Vamos ouvir agora as canções Valsa de Eurídice, de Vinícius de Moraes; Se Todos Fossem Iguais a Você, de Vinícius e Tom Jobim; e Berimbau, de Vinícius e Baden Powell, outro grande parceiro que Vinícius teve o privilégio de ter na vida junto com Toquinho.
Essas canções serão executadas pelo violonista Marcel Powell, filho de Baden Powell, que está aqui nos dando o privilégio da sua presença.
Quero dizer a todos os que estão nos acompanhando que a Rádio e TV Senado sempre têm uma boa programação cultural, mas nenhuma igual à de hoje. Esta é ao vivo, no plenário do Senado, com Marcel Powell e com todos os artistas convidados, e isso é um privilégio enorme para todos nós.
(Procede-se à execução das músicas Valsa de Eurídice, Se Todos Fossem Iguais a Você e Berimbau.) (Palmas.)
O SR. PRESIDENTE (Jorge Viana. Bloco Apoio Governo/PT-AC) - Maravilha de interpretação desta figura também fantástica que é Marcel Powell.
Quero, então, convidar para fazer uso da palavra o Senador Inácio Arruda, requerente desta homenagem que o Senado Federal presta a Vinícius de Moraes.