Discurso durante a 22ª Sessão Solene, no Congresso Nacional

Comemoração do centenário de nascimento de Vinicius de Morais.

Autor
Ana Amélia (PP - Progressistas/RS)
Nome completo: Ana Amélia de Lemos
Casa
Congresso Nacional
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
HOMENAGEM.:
  • Comemoração do centenário de nascimento de Vinicius de Morais.
Publicação
Publicação no DCN de 15/10/2013 - Página 2095
Assunto
Outros > HOMENAGEM.
Indexação
  • HOMENAGEM, ANIVERSARIO DE NASCIMENTO, POETA, COMPOSITOR, DIPLOMATA, JORNALISTA.

A SRª ANA AMÉLIA (Bloco Maioria/PP-RS. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão da oradora.) - O Vinícius, em vozes bonitas, é sempre espetacular. E o Vinícius, na voz de uma excelente intérprete e de uma bonita mulher, fica ainda mais bonito. Fica ainda mais a cara de Vinícius de Morais.

O SR. PRESIDENTE (Inácio Arruda. Bloco Apoio Governo/PCdoB-CE) - Viva Vinícius!

A SRª ANA AMÉLIA (Bloco Maioria/PP-RS) - Viva Vinícius!

     A Myrlla aqui interpreta uma parte fundamental do repertório deste grande e pequeno poeta, Vinícius de Morais. Ela nos mostrou que deveríamos fazer a festa para Vinícius, mas estamos sendo homenageados com essa obra primorosa, indescritivelmente bela, que, como

eu disse, fica bonita em todas as vozes, em todos os ritmos e de todas as formas, aqui e em todo o mundo.

     Em todos os países em que a gente vai e ouve Garota de Ipanema a gente se sente dentro do Brasil. E o Vinícius vai coração adentro. Nós temos a alegria de saber que ele é nosso. O Vinícius é nosso, mas ele não é só um patrimônio brasileiro. Vinícius é um patrimônio do mundo, porque o mundo ama Vinícius de Moraes.

     Caro Presidente desta sessão, Senador Inácio Arruda, quero cumprimentá-lo, assim como ao caro Deputado Penna, que juntos tiveram essa iniciativa maravilhosa de homenagear o nosso grande poeta, que completaria, no dia 19, se vivo estivesse, o seu primeiro centenário.

     Quero cumprimentar todas as pessoas que compõem a Mesa, o Chefe da Assessoria Parlamentar do Ministério da Cultura, Pedro Henrique Di Martino, que representa aqui nossa amiga, nossa colega, Ministra Marta Suplicy; a Primeira-Secretária da Delegação da União Europeia no Brasil, Joanna Pliszka Ribeiro; o Diretor do Departamento Cultural do Ministério das Relações Exteriores, Ministro George Torquato Firmeza; e Marcel Powell, que aqui tem uma representação muito significativa para todos nós.

     Quero também agradecer ao Coral do Senado Federal e à Maestrina Glicínia Mendes; à cantora Myrlla, que agora nos brindou com essa maravilha, acompanhada dos músicos Marcelo Lucchesi, João Marinho e José Ocelo, intérpretes de todas essas músicas maravilhosas; ao violonista Marcel Powell e também aos integrantes do Clube do Choro de Brasília, que é um sucesso, Kayo Graco, Roberto Freire e Tiago Tunes. A todos vocês, parabéns e muito obrigada pelos momentos que nos deram aqui.

     Eu quero, também, cumprimentar os alunos do curso de Jornalismo da Faculdade Anhanguera, que estão aqui fazendo um dever de casa. Mas tenho certeza de que vocês, como meus futuros colegas - eu sou jornalista há muito tempo, muitos de vocês não eram nascidos quando eu comecei a minha carreira --, terão uma facilidade muito grande para escrever a reportagem do dia de hoje sobre esta cerimônia, porque é muito bom falar sobre aquilo que gostamos, sobre aquilo que amamos.

     É difícil, aliás, falar sobre um poeta e escritor tão talentoso e tão marcante quanto Vinícius de Moraes. Qualquer palavra sobre tão cativante personagem ficará muito aquém da belíssima contribuição intelectual e criativa desse verdadeiro imortal brasileiro.

     O grande poeta carioca da música popular brasileira, compositor inspirado de Garota de Ipanema e de Menininha do Gantois, completaria 100 anos de vida no próximo sábado, 19 de outubro, se vivo estivesse.

     Mais do que um intérprete com sua peculiar percepção do amor e das mulheres, Vinícius foi um atento observador do cotidiano brasileiro e do jeito latino de ser. E até hoje inspira artistas e músicos daqui e de outros países, levando nossa música e nossa cultura pelo mundo afora.

     Como disse o último grande amor do poeta, Gilda Mattoso, se Vinícius de Moraes estivesse vivo, certamente estaria inconformado, desiludido e frustrado com a corrupção e os erros políticos do Brasil contemporâneo.

     Pouco antes de morrer, em seus pensamentos e hipóteses sobre a política brasileira, não faltavam sonhos ou ideias sobre o que seria, para ele, o perfil mais poético e acertado da política nacional: Jaime Lerner, Sergio Buarque de Holanda, Otto Lara Resende, Paulo Niemeyer ou Clementino Fraga Filho à frente da Pasta da Saúde, ou das Relações Exteriores, ou da Cultura. Nomes de grandes brasileiros que foram, acima de tudo, os melhores amigos de Vinícius de Moraes.

     O poeta falava sobre paixão e, ao mesmo tempo, pensava sobre como seria melhor a vida se houvesse cura para o diabetes, justiça entre os homens ou o fim da desigualdade social em nosso País. Além de músico, escritor e compositor, Vinícius foi diplomata e jornalista, profissões muito lembradas pela União da Ilha do Governador, no Carnaval deste ano. Acertadamente, essa grande escola de samba antecipou as homenagens, no Sambódromo, na cidade do Rio de Janeiro, aos feitos e à biografia de Vinícius de Moraes, com o enredo Vinícius no Plural. Paixão, Poesia e Carnaval.

     Eu ainda não era nascida, quando o poeta, em 1941, já atuava como jornalista e crítico cinematográfico no jornal A Manhã, órgão oficial do Estado Novo, responsável por divulgar as diretrizes propostas pelo regime ao mais diversificado público possível. A Constituição de 1937, por exemplo, era exposta de forma didática e citada diariamente nas páginas desse jornal.

     Anos mais tarde, o poeta trabalharia para importantes veículos de comunicação da história da imprensa nacional, como os jornais Diretrizes, Última Hora, A Vanguarda e o suplemento literário O Jornal.

     A vasta contribuição de Vinícius de Moraes não se resumiu, claro, à música. Incluiu a literatura, o teatro e o cinema, como disseram aqui os oradores que requereram essa cerimônia. Amante da liberdade e da livre expressão, meus caros colegas jornalistas, Vinícius se aliou a outros nomes importantes da história cultural do País, como Tom Jobim, Toquinho, Baden Powell, João Gilberto, Chico Buarque, Carlos Lira e outros, para contar e cantar sua versão poética sobre a vida.

     O cantor e compositor Toquinho, por exemplo, grande parceiro e conhecedor do amigo Vinícius de Moraes, costuma dizer que além de poemas e músicas, o poeta o ensinou a cumprir horários, observar compromissos e a respeitar as pessoas, enfim, a ter disciplina.

     Mesmo acreditando que o cotidiano era a ferrugem da vida, Vinícius de Moraes arrumava um jeito de se harmonizar com as rotinas e as obrigações sem perder a poesia. Como disse, aliás, Carlos Drummond de Andrade, o mais influente poeta brasileiro do século XX: “Vinícius de Moraes foi o único poeta que viveu como poeta”.

     Entre os escritos, não faltavam declarações de amor ao Brasil. Além de falar às crianças, como em A Arca de Noé, o poeta traduzia muito bem as emoções e os pensamentos dos adultos. Em 1949, numa edição de apenas 50 exemplares, o poema Pátria Minha, de autoria de Vinícius de Moraes, foi impresso em Barcelona, na Espanha, pela prensa manual, vejam só, de João Cabral de MeIo Neto, o grande poeta brasileiro. Um dos trechos do poema diz o seguinte:

“Não te direi o nome, pátria minha

Teu nome é pátria amada, é patriazinha

Não rima com mãe gentil

Vives em mim como uma filha, que és

Uma ilha de ternura: a Ilha

Brasil, talvez.”

     Essa ilha, referida pelo poeta, era a mesma que trazia a ele lembranças, saudade e felicidade. Felicidade, inclusive, muito cantada por Vinícius. Como dizia: “A felicidade é como a pluma, Que o vento vai levando pelo Ar, Voa tão leve, Mas tem a vida breve, Precisa que haja vento sem parar”. Que a política brasileira seja “esse vento que não pode parar” e que a poesia

de Vinícius de Moraes continue entre nós, tornando a vida de todos um pouco melhor, mais solidária, mais humana.

     E ao lhe elogiar, esta bela lembrança do centenário de Vinícius, editada pelo Senado Federal, escolhida por V.Exa., meu querido colega Inácio Arruda, vou dizer, como dizia e escreveu Vinícius:

“Irei embora sozinho

Sem angústia nem pesar

Antes contente da vida

Que não pedi tão sofrida

Mas não perdi por ganhar.”

     Muito obrigada. (Palmas.)


Este texto não substitui o publicado no DCN de 15/10/2013 - Página 2095