Discurso durante a 25ª Sessão Solene, no Congresso Nacional

Pronunciamento na Sessão Solene do Congresso Nacional destinada a homenagear o Movimento Novembro Azul e a Sociedade Brasileira de Urologia.

Autor
Wellington Dias (PT - Partido dos Trabalhadores/PI)
Nome completo: José Wellington Barroso de Araujo Dias
Casa
Congresso Nacional
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
HOMENAGEM, SAUDE.:
  • Pronunciamento na Sessão Solene do Congresso Nacional destinada a homenagear o Movimento Novembro Azul e a Sociedade Brasileira de Urologia.
Publicação
Publicação no DCN de 05/11/2013 - Página 2214
Assunto
Outros > HOMENAGEM, SAUDE.
Indexação
  • PRONUNCIAMENTO, SESSÃO SOLENE, CONGRESSO NACIONAL, HOMENAGEM, SOCIEDADE, UROLOGIA, BRASIL, CAMPANHA, COMBATE, PREVENÇÃO, CANCER, HOMEM.

            O SR. WELLINGTON DIAS (Bloco Apoio Governo/PT - PI. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, Senador Waldemir Moka, minha querida primeira signatária, Senadora Ana Amélia. Aliás, esse é um tema de tanto tabu que foi preciso uma mulher para poder vir ao debate aqui no Senado Federal.

            Quero saudar aqui também o Deputado Federal Maurício Quintella, minha querida Rose de Freitas, Deputado Jorge Silva, Dr. Luciano Carvalho, da Associação Médica de Brasília, em nome de quem quero saudar todos os profissionais aqui presentes, cada um dos Parlamentares, minha querida Deputada Rosane, que aqui nos alegra, sempre presente nos bons temas desta Casa.

            Sr. Presidente, eu aprendi que nada melhor do que uma história, fatos e, muitas vezes, o contexto da vida real para a gente entender a importância do que estamos fazendo aqui. Falo aqui em nome do Partido dos Trabalhadores, que represento nesta Casa, do Bloco de Apoio ao Governo, mas também em meu nome próprio. O exemplo que vou citar aqui é muito pessoal.

            O avô da minha esposa, o Sr. Heráclito, é desses homens do interior do Brasil, dessas pessoas que muitas vezes só vão ao médico quando não há outro jeito, para toda e qualquer doença. E a partir de diagnósticos de médicos do interior, na região de São João do Piauí - uma cidade ali no Semiárido do Piauí, na região de São Raimundo Nonato, a porta de entrada do Parque Nacional da Serra da Capivara -, a gente vinha, como família - eu já era casado com a sua neta - pedindo para que ele fizesse o exame de próstata. E ele fugia do exame, como muitos dos homens. Eu me incluo no meio, mas já me convenci da necessidade e faço o exame periodicamente. Não posso negar que esses exemplos me fizeram refletir bastante sobre isso.

            Bem, o fato é que ele tinha um medo muito grande. E confesso aqui que nós tivemos que fazer um laço: tivemos que levá-lo dizendo que era para tratar de outro tema. Marcamos com o médico, e aí ele fez o exame. Quando eu cheguei em casa, no final da tarde, começo da noite, ele estava lá, quietinho em um canto. E eu dizia: “E aí, Sr. Heráclito, como é que o senhor está?” Ele disse: “Vocês são uns irresponsáveis”. “Mas, seu Heráclito, o que houve?” “Isso não é coisa que se faça com um homem como eu, rapaz, na minha idade.” E aí eu disse: “Mas, seu Heráclito, qual foi o problema?” “Você sabe o que esse médico fez comigo?” E ali, aquele era um momento delicado, porque, além de encontrar esse ambiente, eu, com a minha esposa, tinha que comunicar a ele que ele estava com câncer numa fase muito avançada. E ele veio a falecer disso.

            Depois eu tive que conviver com ele, inclusive na minha casa - ele ficou um período fazendo um tratamento violentíssimo, em Teresina - e um dia ele confessou a mim e aos filhos: “Que bobo eu fui.” Eu vi a frase do Zico agora no boletim, por isso estou contando essa história. “Que bobo eu fui. Hoje me dizem que, se eu tivesse tratado lá atrás, eu tinha me curado dessa doença.”

            O meu avô materno, Mundeiro, Raimundo José Dias, ele é o meu lado índio, também se vangloriava de nunca ter ido ao médico. E, no dia em que foi, foi para ficar internado e, logo em seguida, falecer, também de câncer de próstata.

            Então, eu cito esses depoimentos para que o Brasil compreenda a importância do que estamos tratando aqui. Eu acho que qualquer um, quando chega a uma idade, não precisa ser após os 40 anos, de alguma forma experimentou alguma doença. E a doença tem também, na minha visão - aí é o meu lado cristão -, uma função de nos fazer parar para refletir sobre a vida. E é disso que se trata.

            Nós estamos falando, como diz aqui esse material divulgado, que nós estamos atingindo cerca de 9 homicídios - vou usar esse termo para poder ficar forte o que vou dizer - para cada grupo de 100 mil. No meu Estado, junto com Santa Catarina, de mortes à bala, à faca, de mortes violentas, é em torno de 9 homicídios para cada grupo de 100 mil. Significa dizer que morrem mais pessoas de câncer de próstata, muitas vezes, como em Santa Catarina, do que de morte violenta, essa que nos atormenta, essa que nos faz fazer os muros, as grades, gastar, enfim, para poder virar, muitas vezes, até uma paranoia. E algo como isso não tratamos da mesma forma.

            Então, o que quero é chamar a atenção aqui do Brasil; louvar, parabenizar por esta agenda, Senador Moka. E aqui é às mulheres que quero render as homenagens. Acho que as mulheres há muito tempo já tiraram o preconceito, pelo menos na forma como havia, do câncer de mama. Aliás, é algo que me encanta, a forma como as mulheres encaram os cuidados com a vida mais do que os homens. Mas eu creio que, aprendendo como aprendemos tanto com as mulheres, se Deus quiser, vamos avançar também nesta área.

            Então, parabéns ao Congresso Nacional e a todos que fazem o Movimento Novembro Azul. Que a gente possa ter cada vez menos pessoas como os meus avós - repito -, que, exatamente por encararem os exames da forma como encararam, pagaram com a vida. É isso que a gente quer evitar para os homens, especialmente os que têm idade acima de 40 anos, de todo o Brasil.

            Muito obrigado. (Palmas.)


Este texto não substitui o publicado no DCN de 05/11/2013 - Página 2214