Discurso durante a 214ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Comentários sobre A Alegria do Evangelho, Exortação Apostólica publicada pelo Papa Francisco.

Autor
Eduardo Suplicy (PT - Partido dos Trabalhadores/SP)
Nome completo: Eduardo Matarazzo Suplicy
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
IGREJA CATOLICA. POLITICA SOCIAL.:
  • Comentários sobre A Alegria do Evangelho, Exortação Apostólica publicada pelo Papa Francisco.
Publicação
Publicação no DSF de 28/11/2013 - Página 86115
Assunto
Outros > IGREJA CATOLICA. POLITICA SOCIAL.
Indexação
  • PUBLICAÇÃO, TEXTO, PAPA, DOUTRINA, RELIGIÃO, PROBLEMA, ATUALIDADE, POPULAÇÃO, POLITICA URBANA, POLITICA SOCIAL.
  • REGISTRO, CARTA, SENADOR, SECRETARIA DE ESTADO, SECRETARIA DE FAZENDA, ESTADOS, DESTINAÇÃO, PRESIDENTE DA REPUBLICA, DEFESA, CRIAÇÃO, PROGRAMA, RENDA MINIMA, CIDADANIA, SOLUÇÃO, ERRADICAÇÃO, POBREZA.

            O SR. EDUARDO SUPLICY (Bloco Apoio Governo/PT - Sr. Presidente. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, Senador Osvaldo Sobrinho, Senadora Vanessa Grazziotin, “a alegria do Evangelho enche o coração e a vida inteira daqueles que se encontram com Jesus”. O Evangelii Gaudium, ontem divulgado pelo Papa Francisco, é o tema da minha fala, hoje, e de minhas reflexões.

            Mas eu quero saudar a presença na tribuna de honra do Presidente da Câmara Municipal de Praia Grande, Sérgio Luiz Schiano, o Serginho Sim, e de Moisés Gomes, seu chefe de gabinete, dos vereadores Rômulo Brasil, Roberto Andrade, o Betinho, Janaína Ballaris e do Vereador de Mongaguá, Rafael Redó. Há outros vereadores que estão aqui chegando, também da Baixada Santista, que daqui a pouco registrarei.

            Hoje, tendo em conta a divulgação da Alegria do Evangelho, este novo documento que foi escrito pelo próprio Papa Francisco, um documento de aproximadamente duzentas páginas, tal é a relevância do que ele diz, Senador Anibal Diniz, que eu quero aqui ler alguns trechos. São duzentas páginas, mas eu quero assinalar alguns momentos:

Quantos se deixam salvar por Ele são libertados do pecado, da tristeza, do vazio interior, do isolamento. Com Jesus Cristo, renasce sem cessar a alegria. Quero, com esta Exortação, dirigir-me aos fiéis cristãos a fim de os convidar para uma nova etapa evangelizadora marcada por esta alegria e indicar caminhos para o percurso da Igreja nos próximos anos.

Alegria que se renova e comunica.

O grande risco do mundo atual, com sua múltipla e avassaladora oferta de consumo, é uma tristeza individualista que brota do coração comodista e mesquinho, da busca desordenada de prazeres superficiais, da consciência isolada. Quando a vida interior se fecha nos próprios interesses, deixa de haver espaço para os outros, já não entram os pobres, já não se ouve a voz de Deus, já não se goza da doce alegria do seu amor, nem fervilha o entusiasmo de fazer o bem. Este é um risco, certo e permanente, que correm também os crentes. Muitos caem nele, transformando-se em pessoas ressentidas, queixosas, sem vida. Esta não é a escolha duma vida digna e plena, este não é o desígnio que Deus tem para nós, esta não é a vida no Espírito que jorra do coração de Cristo ressuscitado.

Convido todo o cristão [assinala Papa Francisco], em qualquer lugar e situação que se encontre, a renovar hoje mesmo o seu encontro pessoal com Jesus Cristo ou, pelo menos, a tomar a decisão de se deixar encontrar por Ele, de O procurar dia a dia sem cessar. Não há motivo para alguém poder pensar que este convite não lhe diz respeito, já que “da alegria trazida pelo Senhor ninguém é excluído”. Quem arrisca, o Senhor não o desilude; e, quando alguém dá um pequeno passo em direção a Jesus, descobre que Ele já aguardava de braços abertos a sua chegada. Este é o momento para dizer a Jesus Cristo: “Senhor, deixei-me enganar, de mil maneiras fugi do vosso amor, mas aqui estou novamente para renovar a minha aliança convosco. Preciso de Vós. Resgatai-me de novo, Senhor; aceitai-me mais uma vez nos vossos braços redentores”. Como nos faz bem voltar para Ele, quando nos perdemos! Insisto uma vez mais: Deus nunca Se cansa de perdoar, somos nós que nos cansamos de pedir a sua misericórdia. Aquele que nos convidou a perdoar “setenta vezes sete” (Mt 18, 22) dá-nos o exemplo: Ele perdoa setenta vezes sete. Volta uma vez e outra a carregar-nos aos seus ombros. Ninguém nos pode tirar a dignidade que este amor infinito e inabalável nos confere. Ele permite-nos levantar a cabeça e recomeçar, com uma ternura que nunca nos defrauda e sempre nos pode restituir a alegria. Não fujamos da ressurreição de Jesus; nunca nos demos por mortos, suceda o que suceder. Que nada possa mais do que a sua vida que nos impele para diante!

            E, um pouco mais adiante, o Papa Francisco coloca algo de grande relevância para todos os países e, em especial, também para nós, do Brasil. Quando da sua presença aqui no Brasil, ele teve palavras e gestos que tiveram um notável impacto, e eu coloco agora o capítulo sobre uma renovação eclesial inadiável, que fala de coisas tão importantes como o seu próprio procedimento:

O Bispo deve favorecer sempre a comunhão missionária na sua Igreja diocesana, seguindo o ideal das primeiras comunidades cristãs, em que os crentes tinham um só coração e uma só alma (cf. Act 4, 32).

Para isso, às vezes pôr-se-á à frente para indicar a estrada e sustentar a esperança do povo, outras vezes manter-se-á simplesmente no meio de todos com a sua proximidade simples e misericordiosa e, em certas circunstâncias, deverá caminhar atrás do povo, para ajudar aqueles que se atrasaram e sobretudo porque o próprio rebanho possui o olfacto para encontrar novas estradas. Na sua missão de promover uma comunhão dinâmica, aberta e missionária, deverá estimular e procurar o amadurecimento dos organismos de participação propostos pelo Código de Direito Canónico e de outras formas de diálogo pastoral, com o desejo de ouvir a todos, e não apenas alguns sempre prontos a lisonjeá-lo. Mas o objectivo destes processos participativos não há de ser principalmente a organização eclesial, mas o sonho missionário de chegar a todos.

            Logo mais adiante, o Papa Francisco fala de uma mãe de coração aberto:

A Igreja «em saída» é uma Igreja com as portas abertas. Sair em direcção aos outros para chegar às periferias humanas não significa correr pelo mundo sem direcção nem sentido. Muitas vezes é melhor diminuir o ritmo, pôr de parte a ansiedade para olhar nos olhos e escutar, ou renunciar às urgências para acompanhar quem ficou caído à beira do caminho. Às vezes, é como o pai do filho pródigo, que continua com as portas abertas para, quando este voltar, poder entrar sem dificuldade.

            Ao assinalar alguns desafios do mundo atual, disse o Papa Francisco:

A humanidade vive, neste momento, uma viragem histórica, que podemos constatar nos progressos que se verificam em vários campos. São louváveis os sucessos que contribuem para o bem-estar das pessoas, por exemplo, no âmbito da saúde, da educação e da comunicação. Todavia não podemos esquecer que a maior parte dos homens e mulheres do nosso tempo vive o seu dia a dia precariamente, com funestas consequências. Aumentam algumas doenças. O medo e o desespero apoderam-se do coração de inúmeras pessoas, mesmo nos chamados países ricos. A alegria de viver frequentemente se desvanece, crescem a falta de respeito e a violência, a desigualdade social torna-se cada vez mais patente. É preciso lutar para viver, e muitas vezes viver com pouca dignidade. Esta mudança de época foi causada pelos enormes saltos qualitativos, quantitativos, velozes e acumulados que se verificam no progresso científico, nas inovações tecnológicas e nas suas rápidas aplicações em diversos âmbitos da natureza e da vida. Estamos na era do conhecimento e da informação, fonte de novas formas dum poder, muitas vezes, anônimo.

Não a uma economia da exclusão.

Assim como o mandamento “não matar” põe um limite claro para assegurar o valor da vida humana, assim também hoje devemos dizer “não a uma economia da exclusão e da desigualdade social”. Esta economia mata. Não é possível que a morte por enregelamento dum idoso sem abrigo não seja notícia, enquanto o é a descida de dois pontos na Bolsa. Isto é exclusão. Não se pode tolerar mais o fato de se lançar comida no lixo quando há pessoas que passam fome. Isso é desigualdade social. Hoje, tudo entra no jogo da competitividade e da lei do mais forte, onde o poderoso engole o mais fraco. Em consequência desta...

            (Interrupção do som.)

            O SR. EDUARDO SUPLICY (Bloco Apoio Governo/PT - SP) -

... situação, grandes massas da população veem-se excluídas e marginalizadas: sem trabalho, sem perspectivas, num beco sem saída. O ser humano é considerado, em si mesmo, como um bem de consumo que se pode usar e depois lançar fora. Assim teve início a cultura do “descartável”, que, aliás, chega a ser promovida. Já não se trata simplesmente do fenômeno de exploração e opressão, mas duma realidade nova: com a exclusão, fere-se, na própria raiz, a pertença à sociedade onde se vive, pois quem vive nas favelas, na periferia ou sem poder já não está nela, mas fora. Os excluídos não são “explorados”, mas resíduos, “sobras”.

Neste contexto, alguns defendem ainda as teorias da “recaída favorável” que pressupõem que todo o crescimento econômico, favorecido pelo livre mercado, consegue por si mesmo produzir maior equidade e inclusão social no mundo. Esta opinião, que nunca foi confirmada pelos fatos, exprime uma confiança vaga e ingênua na bondade daqueles que detêm o poder econômico e nos mecanismos sacralizados do sistema econômico reinante. Entretanto, os excluídos continuam a esperar. Para se poder apoiar um estilo de vida que exclui os outros ou mesmo entusiasmar-se com este ideal egoísta, desenvolveu-se uma globalização da indiferença. Quase sem nos dar conta, tornamo-nos incapazes de nos compadecer ao ouvir os clamores alheios, já não choramos à vista do drama dos outros, nem nos interessamos por cuidar deles, como se fosse tudo uma responsabilidade de outrem, que não nos incumbe. A cultura do bem-estar anestesia-nos, a ponto de perdermos a serenidade que ainda não compramos, enquanto todas estas vidas ceifadas por falta de possibilidades nos parecem um mero espetáculo que não nos incomoda de forma alguma.

Não à nova idolatria do dinheiro

Uma das causas desta situação está na relação estabelecida com o dinheiro, porque aceitamos pacificamente o seu domínio sobre nós e as nossas sociedades. A crise financeira que atravessamos faz-nos esquecer que, na sua origem, há uma crise antropológica profunda: a negação da primazia do ser humano.

            Sr. Presidente, Senador Osvaldo Sobrinho, seria ótimo poder ler e assinalar... Eu vou pedir que pelo menos os capítulos referentes a alguns desafios do mundo atual e até ao desafio das culturas urbanas - vou assinalar aqui - sejam transcritos como parte de meu pronunciamento. E gostaria de dizer que considero muito importante que todos nós, Senadores, possamos ler esse documento de extraordinária importância.

(Soa a campainha.)

            O SR. EDUARDO SUPLICY (Bloco Apoio Governo/PT - SP) - Tenho a certeza de que a Presidenta Dilma, seus Ministros e pessoas de todos os partidos vão ler isso. Que os Vereadores da Baixada Santista, da Praia Grande e também de Mongaguá, Guilherme Prócida, Carlos José Rocha, Luiz Berbiz, o Tubarão, que estão aqui também presentes, possam ler isso, para refletirmos todos a respeito.

            Inclusive, eu quero assinalar aqui, mais uma vez, a solicitação feita por nós, os 81 Senadores, à Presidenta Dilma Rousseff para que institua um grupo de trabalho, coordenado, se possível, pelo Prof. Paul Singer e por outros especialistas nas áreas de como erradicar a pobreza, para viabilizar qual será a instituição por etapas da renda básica de cidadania...

(Interrupção do som.)

(Soa a campainha.)

            O SR. EDUARDO SUPLICY (Bloco Apoio Governo/PT - SP) -... conforme diz a Lei nº 10.835 (Fora do microfone.), de 2004, sancionada pelo Presidente Lula, o que, em janeiro próximo, fará dez anos, para ser instituída por etapas, a critério do Poder Executivo, como faz o Bolsa Família.

            Quero assinalar que hoje os Secretários da Fazenda que estiveram presentes no seminário realizado na Comissão de Assuntos Econômicos, o Andrea Sandro Calabi, de São Paulo, o Prof. Fernando Rezende, que foi do Ipea e é da Escola Brasileira de Administração Pública e Economia, o Jader Afonso, do Mato Grosso do Sul, o Odir Tonolier, do Rio Grande do Sul, e o Paulo Câmara, de Pernambuco, todos resolveram, como os 81 Senadores, também assinar...

(Interrupção do som.)

(Soa a campainha.)

            O SR. EDUARDO SUPLICY (Bloco Apoio Governo/PT - SP) -... esse apelo, esse documento para a Presidenta Dilma Rousseff, o que, mais uma vez, aqui assinalo e peço para ser registrado na íntegra.

            Muito obrigado, Senador Osvaldo Sobrinho.

 

DOCUMENTOS A QUE SE REFERE O SR. SENADOR EDUARDO SUPLICY EM SEU PRONUNCIAMENTO.

(Inseridos nos termos do art. 210, inciso I e §2º, do Regimento Interno.)

Matérias referidas:

- Capítulos assinalados da Primeira Exortação Apostólica do Papa Francisco.

- Carta à Presidenta Dilma, com assinatura dos Secretários de Fazenda.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 28/11/2013 - Página 86115