Pronunciamento de Rodrigo Rollemberg em 12/12/2013
Comunicação inadiável durante a 227ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal
Homenagem ao ex-Presidente da África do Sul, Nelson Mandela.
- Autor
- Rodrigo Rollemberg (PSB - Partido Socialista Brasileiro/DF)
- Nome completo: Rodrigo Sobral Rollemberg
- Casa
- Senado Federal
- Tipo
- Comunicação inadiável
- Resumo por assunto
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HOMENAGEM.:
- Homenagem ao ex-Presidente da África do Sul, Nelson Mandela.
- Publicação
- Publicação no DSF de 13/12/2013 - Página 94051
- Assunto
- Outros > HOMENAGEM.
- Indexação
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- HOMENAGEM POSTUMA, NELSON MANDELA, EX PRESIDENTE, PAIS ESTRANGEIRO, AFRICA DO SUL, LUTA, COMBATE, APARTHEID, CERIMONIA, ENCONTRO, PRESIDENTE DE REPUBLICA ESTRANGEIRA, ESTADOS UNIDOS DA AMERICA (EUA), CUBA.
O SR. RODRIGO ROLLEMBERG (Bloco Apoio Governo/PSB - DF. Para uma comunicação inadiável. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, foi comovente a cerimônia em celebração ao líder Nelson Mandela, antes de ontem, na África do Sul.
Comovente porque foi uma celebração da vida e não um lamento da morte. Comovente porque revelou o espírito de Mandela nos vários gestos simbólicos ali registrados, certamente inspirados em sua dignidade e vocação humanista e solidária, a começar pelo coro e pela dança histórica de cerca de 70 mil brancos e negros que estavam ali, juntos, no mesmo tom e no mesmo passo, em reverência ao legado do homem que pacificou um país dividido pelo ódio racial.
Em plena celebração da fraternidade, também foi marcante o gesto histórico do cumprimento do Presidente norte-americano, Barack Obama, ao Presidente cubano, Raúl Castro. Mais que uma formalidade de ocasião, o gesto foi comentado oficialmente no portal do governo cubano como "um sinal de esperança".
Ocasional ou intencional, o aperto de mão foi histórico. Desde a revolução cubana que um presidente americano não cumprimentava publicamente um cubano. Em 2000, na Cimeira do Milênio das Nações Unidas, Fidel Castro apertou a mão de Bill Clinton, mas foi em privado, durante um almoço a portas fechadas, longe dos holofotes. À época, a Casa Branca hesitou em confirmar o aperto de mãos, que partiu de iniciativa de Fidel e foi retribuído por Clinton.
O cumprimento de antes de ontem entre Obama e Raúl Castro pode ter sido um gesto de educação ao funeral de Mandela ou um sinal alvissareiro para a congelada relação entre os dois países, ainda que sem consequências práticas e imediatas. Somente o tempo vai confirmar as diversas leituras feitas desse gesto. Mas uma questão parece evidente: ali, naquele aperto de mãos, sobressaiu-se o espírito de Mandela.
Que esse possa realmente ser um sinal de esperança, de um novo milagre de Mandela e não apenas um gesto civilizado, mas um gesto de uma nova civilidade, de um novo paradigma de civilização.
Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, eu quero hoje prestar a minha homenagem ao querido Madiba não só pelo grande humanista e pacifista que foi, mas pelo conjunto da sua luta, pelo valor também extraordinário de sua trajetória revolucionária. E o faço na condição de Líder do PSB, um partido socialista que tem por Nelson Mandela uma profunda admiração.
A melhor forma de anular um homem e em especial um político é torná-lo consensual. Depois da morte física, mata-se pelo elogio desmesurado e vazio de conteúdo a memória política.
Um Nelson Mandela adocicado foi exaltado depois da sua morte como uma espécie de unanimidade, alguém que dirigiu o desmonte do apartheid quase sem enfrentar oposição, quase um personagem romântico de Hollywood.
Mas é preciso destacar também o valor de sua luta. A práxis política de Mandela se inscreve na história específica das grandes lutas africanas pela emancipação humana. E a sua opção pela luta armada não resultou de uma posição de princípio ou de um temperamento bélico. Foi por pragmatismo, ao perceber que o regime e as potências ocidentais seriam insensíveis a uma via pacifica de resistência, e fazia do regime do apartheid um mal menor para os Estados Unidos, eles próprios com pouca sensibilidade para temas como a igualdade racial. Por isso, Mandela aceitou que a guerra civil, mesmo sendo indesejada, poderia vir a ser inevitável.
Madiba viveu com dignidade esta dolorosa etapa de sua vida e pagou por isso, com 27 anos de prisão, e mesmo depois da vivência em cárcere não se deixou cegar pelo rancor. Esta talvez seja a sua mais admirável qualidade humana. Só alguém que atinge o mais profundo comprometimento na interpretação dos desejos do seu povo pode praticar uma absoluta capacidade de entrega, de resignação e sacrifício.
Mandela conciliava ideais com pautas políticas e administrativas - e isso acontecia por sua rara sensibilidade e sabedoria no trato com o coletivo e na valorização do individual.
Poucos políticos souberam harmonizar tão bem competência técnica, liderança, habilidade política, visão estadista e princípios éticos com uma vocação sensível de escuta.
(Soa a campainha.)
O SR. RODRIGO ROLLEMBERG (Bloco Apoio Governo/PSB - DF) - Sua extraordinária disposição ao diálogo foi determinante para a reconstrução democrática da África do Sul. Testemunho que transcendeu as fronteiras de sua pátria para repercutir como magnífico modelo de um político íntegro com a capacidade de fazer política de um modo extraordinariamente novo.
Certamente, Mandela foi um dos maiores líderes políticos da História Moderna. E sua grandiosidade se forjou na profunda e leal ligação com as aspirações e a luta cotidiana do povo sul-africano, como se forjam os grandes heróis. Ele derrubou o apartheid e criou uma África do Sul democrática e não-racial, sabendo exatamente quando e como fazer a transição entre o seu papel de guerreiro, mártir, diplomata e estadista.
E o mundo nunca precisou tanto das táticas e lições de Mandela. Primeiro, quando ele afirma que "a educação é a mais poderosa arma pela qual se pode mudar o mundo" e que "democracia com fome, sem educação e saúde para a maioria, é como uma concha vazia". Uma lição extremamente apropriada para este momento de crise e renovação que vive a democracia brasileira, com esta explosão afirmativa que temos hoje nas ruas do País. Se é o protagonismo do cidadão que sustenta a democracia, não há protagonismo sem educação. Mandela nos ensina que a democracia só será plena, mesmo, se for colocada na escala da promoção humana e nas bases de toda e qualquer diretriz de desenvolvimento e autonomia nacional.
Com ele, descobrimos que somos capazes de fazer a diferença que queremos ver no mundo, no sentido da consciência libertadora e da realização coletiva.
A atitude afirmativa e consciente de Mandela sinaliza a postura crítica e política do futuro, com base na força moral para o combate em pequenas e grandes causas.
Diferença que ele sempre irá simbolizar. Seu exemplo permanece vivo e inspiram novos tempos. Foram 94 anos de vida altamente inspiradores para a humanidade: do garoto protegido de um rei tribal aos primeiros anos de luta contra o regime segregacionista do apartheid, dos anos de prisão aos anos de plena maturidade que lhe renderam o Prêmio Nobel da Paz de 1993.
(Soa a campainha.)
O SR. RODRIGO ROLLEMBERG (Bloco Apoio Governo/PSB - DF) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, encerro este pronunciamento com sábias palavras deste eterno mestre: “Quando deixamos nossa luz própria brilhar, inconscientemente damos às outras pessoas permissão para fazer o mesmo.”
Nossa maior homenagem será manter vivo o seu exemplo. Salve a sua luz, Mandela, guia e esteio de um novo tempo.
Muito obrigado, Sr. Presidente.