Discurso durante a 227ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Reverências a Nelson Mandela.

Autor
Osvaldo Sobrinho (PTB - Partido Trabalhista Brasileiro/MT)
Nome completo: Osvaldo Roberto Sobrinho
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
HOMENAGEM.:
  • Reverências a Nelson Mandela.
Publicação
Publicação no DSF de 13/12/2013 - Página 94070
Assunto
Outros > HOMENAGEM.
Indexação
  • HOMENAGEM POSTUMA, NELSON MANDELA, EX PRESIDENTE, PAIS ESTRANGEIRO, AFRICA DO SUL, LUTA, DISCRIMINAÇÃO RACIAL, APARTHEID, AFRICA, INFLUENCIA, POLITICA INTERNACIONAL.

            O SR. OSVALDO SOBRINHO (Bloco União e Força /PTB - MT. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, Sr. Senador Presidente Collor, que acaba de usar da palavra, eu quero dizer que agradeço antecipadamente porque eu sei da forma como V. Exª está me concedendo carinhosamente a palavra. Eu tenho que viajar a São Paulo daqui a um pouquinho...

            O SR. PRESIDENTE (José Pimentel. Bloco Apoio Governo/PT - CE) - É perfeitamente compreensível, Senador Osvaldo.

            O SR. OSVALDO SOBRINHO (Bloco União e Força /PTB - MT) - ... eu pediria desculpas ao Plenário, mas eu não poderia deixar de fazer este pronunciamento agora. Sei que não vai somar muito mais, porque todos que passaram por aqui praticamente do mesmo assunto falaram, e falaram com muita propriedade e com muito mais convicção do que eu. Porém não posso deixar de trazer aqui também a palavra do povo de Mato Grosso com relação a esse caso único que aconteceu na história contemporânea, de um líder político que foi erigido à condição de mito universal ainda em vida - o que é bom dizer.

            O desaparecimento de Mandela confere a esse estadista excepcional a significação transcendente de valores éticos e morais, talvez só igualados por Gandhi e Luther King.

            Da extraordinária trajetória percorrida por Mandela, desde a sua remota aldeia até ser eleito como o primeiro presidente negro da África do Sul, já dão conta as torrentes de artigos, discursos e editoriais que, com justiça, inundam a mídia mundial. E aqui nesta Casa, nestes três dias, só se fala também nesse assunto. Por isso, pretendo fazer aqui tão somente uma breve e singela consideração sobre o patrimônio moral e ético que, pelo exemplo de uma vida extraordinária, Nelson Mandela deixa como legado para a Humanidade.

            Combatente da liberdade como primado e pressuposto da própria condição humana, Mandela foi um pacifista visceral, um ardoroso defensor do diálogo e da ponderação, mesmo diante da intolerância do odioso sistema racista do apartheid, que relegou a imensa maioria negra à condição de "coisa".

            Sua força moral, seu vigor intelectual e inexcedível capacidade de ponderação decorriam, dizem seus biógrafos, da sensibilidade inata para fundir os princípios ocidentais de honra, propriedade, da virtude, assimilados em escolas britânicas impostas pelo governo segregacionista, com as tradições tribais de dignidade, altivez, compreensão intuitiva e precoce da precariedade do ser humano.

            Foi desse amálgama de saberes contemporâneos e de valores ancestrais que se forjou a personalidade de uma das mais extraordinárias figuras do século XX e deste alvorecer do terceiro milênio. Dessa fecunda e equilibrada fusão de princípios decorre, por certo, a absoluta coerência como um dos maiores atributos da personalidade ímpar de Nelson Mandela.

            Essencialmente um conservador, Mandela jamais cedeu aos apelos do autoproclamado socialismo, mesmo quando isso poderia significar apoio concreto de potências como a União Soviética à sua luta contra o apartheid.

            Fiel aos princípios que assimilou no curso de Direito, optou sempre pelo que chamava de "Revolução Legal", estruturada em discussões bem fundamentadas. Por isso mesmo, Mandela sempre defendeu que gestos de cortesia, consideração e generosidade são capazes de atenuar conflitos.

            Trancafiado por longuíssimos 27 anos nas celas do pavoroso governo racista, que sequer lhe permitiu ir ao enterro de um filho, ainda assim, Mandela manteve o equilíbrio mental, a ponderação essencial e, com eles, a grandeza moral para seguir líder de sua causa e de seu povo, mesmo isolado em uma ilhota tenebrosa, onde só recebia uma visita de trinta minutos duas vezes ao ano.

            Somente quando a brutalidade repressora do regime do apartheid rompeu todos os limites, consumando-se em barbárie, com assassinatos em massa, Mandela, enfim, autorizou a resposta armada à maioria negra sob o argumento moral e político irrefutável: “Quando os que detêm o poder não nos dão a liberdade, então, temos de lutar para conquistar o poder e a liberdade.” Isso foi dito por Mandela.

            Quando foi, enfim, libertado, em consequência da enorme pressão internacional sobre o governo racista sul-africano, Mandela disse a alguém que evitou que a liberdade se tornasse prisioneira da vingança.

            Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, libertado dos calabouços do governo racista, Mandela fez da sua liberdade pessoal instrumento para consumar a construção de uma democracia racial sob os escombros do apartheid.

            E não há nenhuma dúvida de que somente a estrutura moral de Mandela, seu discurso conciliador e sua absoluta fé no diálogo foram capazes de assegurar que a transição na África do Sul se cumprisse sem o banho de sangue que os áulicos da dominação branca tanto temiam como vingança da maioria negra tão longamente segregada.

            Sr. Presidente, como nenhum outro líder, Nelson Mandela, pelas suas extraordinárias qualidades de ser humano e de estadista, teve o magnífico privilégio de inspirar, conduzir e consolidar um movimento de liberdade nacional de dimensão e complexidade sem paralelo na história.

            Se a vida lhe foi generosa em anos, por certo fez justiça a uma prodigiosa existência que agora se consagra, definitivamente, como paradigma universal de irretocável solidez moral e de fé inabalável nas qualidades essenciais do ser humano.

            Mito ainda em vida, agora morto, Mandela ascende ao panteão dos pouquíssimos expoentes universais cujas trajetórias engrandecem seu tempo e tornaram mais nobre a própria humanidade.

            E, não por acaso, já na celebração de suas exéquias, que atraíram à África do Sul quase uma centena de chefes de estado e de governo, a extraordinária força de persuasão de seu exemplo de concórdia e de superação de divergências pelo diálogo se consubstancia em atitudes concretas de grandeza que, sem dúvida, reverenciam e consagram a memória de Mandela.

            Nesse sentido, o convite da Presidente Dilma a seus antecessores para acompanhá-la, nesta semana, como membros da comitiva oficial brasileira nos funerais de Nelson Mandela e, por sua vez, a aceitação do convite por eles provou que todos aprenderam a missão de Mandela.

            Ninguém duvida da luta pesada que foram as campanhas de Lula e do Senador Collor. Nós assistimos. E, de repente, a Presidente Dilma os coloca no mesmo avião e vão para um evento como esse, internacional, da democracia, da liberdade de homens como Mandela.

            Aí, mostra que nós aprendemos e que a história nos ensinou e que Mandela também se revelou em nossas vidas, porque foi um ato de grandeza: Presidente Fernando Henrique, Presidente Lula, Presidente Collor e Presidente Sarney, liderados pela Presidente Dilma. Isso é exemplo de gente que aprendeu e de gente que sabe que, na verdade, a história passa por esse tipo de coisa. Se o Brasil é a potência que é, é porque, na verdade, estamos aprendendo a fazer como os grandes líderes fizeram. Portanto, fico muito orgulhoso disso.

            Durante as horas que conversaram nesse avião, esses cinco Presidentes da República devem ter feito uma revisão geral do que é o Brasil, dos seus governos, dos seus erros, dos seus acertos, daquilo que podem fazer mais pelo Brasil.

            O Senador Collor acaba de fazer o seu pronunciamento, fazer um encontro com a história. Ele vai ter a oportunidade, ao longo de sua vida aqui, nesta Casa, e na vida pública, de provar aos brasileiros que ele foi um grande Presidente da República, foi o homem da inovação, o homem que botou o Brasil na modernidade, o homem que, verdadeiramente, conseguiu mostrar que o Brasil poderia andar e trilhar por novos caminhos.

            Estou muito orgulhoso de ter visto, nesta semana, o que vi e ouvi a respeito da grandeza dos homens que comandam o mundo, principalmente da grandeza das pessoas que comandaram e que comandam o Brasil.

            Portanto, Sr. Presidente, nesse sentido, quero dizer aqui que o Prêmio Nobel da Paz que foi dado a Mandela se estendeu também ao povo brasileiro, através desse ato da Presidenta Dilma. Com o gesto da Presidenta Dilma e a aquiescência dos seus antecessores, sem dúvida, o Brasil prestou significativa reverência à herança de concórdia e de tolerância de Nelson Mandela.

            No âmbito das relações internacionais, o aperto de mãos entre o Presidente norte-americano Barack Obama e o governante cubano Raul Castro, ainda que circunstancialmente, tem marcante carga simbólica, pelo que a imagem que correu o mundo projeta de esperança para o futuro. Ainda que tênue, é o prenúncio de um processo de reaproximação entre os dois países.

            Unanimidade planetária consagrada em vida, com seu desaparecimento, Mandela se perpetua pelos exemplos fulgurantes da conciliação sem sujeição, da concórdia sem submissão e da tolerância como único caminho possível para o entendimento.

            Sr. Presidente, é assim que vejo este momento para o Brasil. É um momento de concórdia, de paz, de tranquilidade. Que o Natal que se aproxima, com o ano novo que chega, possa, na verdade, ser o selo da marca deste ano: da concórdia, da amizade, do amor fraterno e da reconciliação.

            Muito obrigado, Sr. Presidente, pela sua bondade, pelo seu carinho de ter permitido, neste momento, que eu pudesse registrar...

(Soa a campainha.)

            O SR. OSVALDO SOBRINHO (Bloco União e Força/PTB - MT) -..., aqui, no Senado da República, essa minha vontade, esse meu pensamento, aquilo que eu vejo no Brasil de hoje.

            Muito obrigado.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 13/12/2013 - Página 94070