Discurso durante a 180ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Comentários sobre a importância da educação para a ascensão social do cidadão.

Autor
Osvaldo Sobrinho (PTB - Partido Trabalhista Brasileiro/MT)
Nome completo: Osvaldo Roberto Sobrinho
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
HOMENAGEM, EDUCAÇÃO.:
  • Comentários sobre a importância da educação para a ascensão social do cidadão.
Publicação
Publicação no DSF de 17/10/2013 - Página 72576
Assunto
Outros > HOMENAGEM, EDUCAÇÃO.
Indexação
  • HOMENAGEM, DIA NACIONAL, PROFESSOR, COMENTARIO, IMPORTANCIA, EDUCAÇÃO, CRESCIMENTO, SOCIALIZAÇÃO, POPULAÇÃO, BRASIL, DEFESA, NECESSIDADE, AUMENTO, RECURSOS, UNIVERSIDADE, COMBATE, ANALFABETISMO, ELOGIO, APROVAÇÃO, COMISSÃO DE EDUCAÇÃO, SENADO, PROJETO DE LEI, VALORIZAÇÃO, CORPO DOCENTE.

            O SR. OSVALDO SOBRINHO (Bloco União e Força/PTB - MT. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, meu amigo entusiasta Paulo Paim, Senadora Angela Portela, na pessoa de quem cumprimento todas as Senadoras desta Casa, Srs. Senadores, esta semana foi a Semana da Educação aqui no Senado da República do Brasil. Semana em que se comemorou o Dia do Professor, mas também foi a semana em que se fez uma reflexão geral sobre aquilo que se faz em educação neste País. E isto nos deu uma noção geral dos esforços que estão sendo feitos, daquilo que se precisa fazer e daquilo que podemos construir.

            Senador Paim, eu sou entusiasta da educação. Aos 17 anos de idade, eu já estava numa sala de aula, trabalhando com alunos de escola rural. A minha vida toda foi voltada para a educação.

            Tive a oportunidade de, em 1970, fazer aqui, na UnB, um curso de Ciências Sociais. De lá para cá, a minha vida foi envolta nas escolas e falando sobre educação, quer na sala de aula, quer na direção da educação estadual, quer no Congresso, na Assembleia Legislativa, na Câmara dos Deputados e aqui no Senado da República.

            É uma luta que tem de ser incessante, que não pode parar. O mundo está esperando luzes novas, novos conhecimentos. É necessário valorizar a pesquisa, é necessário valorizar aqueles que, verdadeiramente, buscam o saber, o conhecimento, para que possamos tirar a negritude do analfabetismo que avassala o mundo.

            Acredito que a única forma de ascensão social mais rápida para o cidadão é a educação. Vi, durante minha vida como professor, alunos que chegavam descalços à sala de aula, pais pobres, famílias que moravam na periferia sem condições nenhuma de estudo. Ao longo do processo, acompanhei as suas vidas e pude entender o processo milagroso da educação. Grande parte desses alunos, hoje, eu encontro em repartições, uns como engenheiros, professores, advogados, economistas, médicos, salvando vidas, todos através do milagre educacional.

            Entrei na região de Colíder, em Mato Grosso, quando ainda estava começando a colonização, em 1973, e ali vi a miséria na face de cada cidadão. Ali havia problemas sérios referentes à propriedade de terra. Estávamos longe de tudo. Não havia estrada. Era uma situação difícil. Hoje, volto lá, e os filhos daqueles agricultores e posseiros falam: “O meu milagre foi a educação, a escolinha de pau a pique que foi montada aqui, os professores que vieram para cá”. Foram recrutados professores da zona rural que tinham o terceiro ou o quarto ano primário e ali ensinavam as primeiras letras àqueles alunos. Aquela escola melhorou, com curso de reciclagem. Nós levamos outros técnicos para lá para melhorá-la, e, de repente, formou-se uma escola de primeira categoria. Por quê? Porque havia vocação, determinação, vontade de melhorar. Todos estavam imbuídos de um só sentido, o de fazer com que todos melhorassem.

            A minha vida foi essa, Senador Paim, buscando sempre dar condições. Quantas e quantas escolas de pau a pique erguemos no nortão mato-grossense, para dar assistência às famílias que para lá iam à busca de um futuro melhor? Hoje, olho para trás e sinto que valeu a pena a luta.

            Agora, são 22h02 em Brasília, no Senado da República. Entramos aqui às 7 horas para participar da primeira Comissão, e não me sinto cansado, porque acredito que a nossa missão ainda continua.

            A todos nós é dada a responsabilidade de construir este País, de fazer nossa parte, seja com sacrifício ou não. Mas é preciso trabalhar e lutar para mostrar que há um caminho, e o caminho é a educação.

            Quero dizer que o trabalho daqueles pioneiros que começaram a fazer o trabalho de educação no nortão mato-grossense não foi em vão. Os resultados estão sendo colhidos agora.

            Lembro-me bem da primeira escola primária que abri naquela região e que atendia a crianças de 5 a 8 anos. Depois, colocamos ali o Segundo Grau. E, depois, a grande oportunidade que Deus me deu foi a de criar duas universidades em Mato Grosso. Jayme Campos era Governador do Estado, e eu, seu Vice-Governador. Como tal, fui nomeado Secretário de Estado de Educação e também Presidente do Fundo Estadual de Educação.

            Nesse período, não tínhamos professores em Mato Grosso, Senador Paim. Todos que lá estavam iam para São Paulo ou para outros lugares, nos fins de semana, para tentar fazer seu curso superior, com um sacrifício que só eles suportavam.

            Essas coisas foram melhorando. Quando assumi a Secretaria, por determinação do Senador Jayme Campos, nós enfrentamos uma briga para criar a Universidade Estadual do Mato Grosso. Ninguém acreditava. “O Estado não aguenta pagar o ensino primário”, diziam nossos adversários. “Como vai pensar em abrir curso superior?” Nós o abrimos, e ele funcionou. E, hoje, há mais de 23 mil alunos nessa Universidade, com grande qualidade de educação.

            Depois, veio a educação a distância. Tudo era muito longe. Fomos buscar a tecnologia em Quebec, no Canadá, e abrimos um curso, primeiro, com 343 alunos, na cidade de Colíder, em parceria com a Universidade Federal, com a Universidade Estadual criada e com a Secretaria de Educação do Estado.

            Esse processo, hoje, está em toda a América do Sul, formando milhares e milhares de profissionais. Essa é a semente que germina, é a semente que nasce, cresce e dá bons frutos, porque é a semente do investimento no homem, no cidadão.

            Os países que saíram quebrados da Segunda Guerra Mundial, praticamente destruídos, só se recuperaram pelo processo educacional, pelo investimento em pesquisa e em educação. Fora isso, seriam países acabados, arrebentados. Não há outra saída.

            Eu sou um produto da educação. Meu pai é analfabeto, minha mãe é analfabeta. Eles eram pobres, miseráveis, trabalhavam de arrendatários para os outros no interior de São Paulo. Meu pai era peão de roça mesmo, ganhando o dia. E, com o pouquinho que sobrava, ele nos mandava para a escola, descalços. Nós íamos para escola. Éramos nove irmãos que íamos para a escola. E conseguimos quebrar esse cerco que aí está, conseguimos quebrar esse paradigma da ignorância e da miséria.

            Com isso, até hoje, sou professor da Universidade de Cuiabá. Fiz o meu primário, o ginásio. Depois, lecionei. Fiz curso superior. Formei-me em Economia, em Estudos Sociais e em Direito. Fiz pós-graduação em Direito, mestrado em Direito, e estou terminando meu doutorado em Direito. Esse é o processo de quem investe em educação. Vale a pena! Vale a pena!

            Portanto, hoje, um dia após o Dia do Professor, quero dedicar este nosso trabalho àqueles mestres que fazem a educação em Mato Grosso e no Brasil como um todo.

            Como falou V. Exª, tivemos a oportunidade de aprovar hoje, na Comissão de Educação, no Senado da República, um projeto de lei que dá aos professores um terço a mais, ou seja, todos aqueles profissionais que trabalham na educação receberão um terço a mais, a chamada hora-atividade. Aprovamos esse projeto em Mato Grosso em 1985 para toda a categoria. Lá, eram 50% para a sala de aula e 50% para a pesquisa e para estudo e planejamento. Aqui, nesse projeto nosso, estamos pedindo que se dê um terço a mais, para que o profissional na atividade meio da educação possa pesquisar, estudar, acompanhar melhor o aluno, principalmente o aluno especial, e para que se possa dar um carinho maior à educação. Se aprovado - falta somente uma Comissão, a CAE, para aprovar -, haverá uma lei que vem proteger a educação, que vem dar ânimo, força, vigor, nova energia à educação no Brasil. Acredito que haverá sensibilidade dos Parlamentares para a aprovação final.

            Aliás, quero agradecer a V. Exª, que foi o Relator ad hoc hoje dessa matéria e que deu um brilho todo especial a ela.

            Agradeço a todos os Senadores que lá estavam, que, num processo de carinho e até de demonstração de boa vontade com a educação, deram-nos apoio total naquela Comissão.

            Portanto, hoje é um dia feliz para mim, um dia de grandes alegrias para mim, um dia em que saio daqui com as energias renovadas, em que cumpri a minha obrigação e tive o apoio de V. Exª e de outros amigos Senadores, como o Presidente da Comissão, o Senador Cyro Miranda, que nos ajudou também na aprovação dessa matéria. Espero que ela seja aprovada também na última Comissão, que é terminativa, a fim de que possa haver, realmente, mais uma lei para melhorar a educação no Brasil.

            Quero dizer aos meus amigos professores do Brasil, aos meus colegas professores: vamos continuar lutando! A nossa luta e as nossas conquistas são pesadas, difíceis, mas vamos conseguir. É um passo hoje, um passo amanhã, mas, para se dar a grande caminhada, é necessário dar o primeiro passo. Estou feliz por isso. Escolhi a carreira da educação por vocação e nela permaneço, porque acredito que o milagre só acontece através desse processo.

            Senador Paim, vou encerrar meu pronunciamento na noite de hoje, até porque temos de ouvir V. Exª ainda. Tenho a certeza de que muita coisa importante tem para trazer à Nação brasileira através do seu trabalho, um trabalho com as minorias. Eu nunca vi V. Exª aqui defender os grandes conglomerados nacionais ou alienígenas. Nunca vi V. Exª defender interesse próprio ou pessoal. Vejo V. Exª defender os aposentados, os deserdados, os descamisados, aqueles que não têm quem chore por eles. Nesses dias, eu vi V. Exª dando cobertura para os aposentados. À meia-noite, em frente ao Congresso, V. Exª estava lá dando força: “Posso não ter dinheiro para lhes dar, mas dou meu apoio, dou minha luta, dou meu nome, dou todo o respaldo que tenho da minha história em apoio à sua luta”. Isso é muito bonito! Aliás, para mim, isso não é uma novidade. Eu o conheço desde 1986 no Congresso Nacional, onde V. Exª nunca desviou um minuto da sua rota, da sua caminhada. Isso me orgulha.

            Aqui, olhando-o, vejo a história, vejo o homem que dedicou a sua vida, assim como outros grandes fizeram, à educação. Isso é que me anima a continuar trabalhando e a continuar lutando, porque acredito que não sou só eu, mas outras pessoas, como V. Exª, como o Senador Cristovam, que aqui está, a Senadora que acabou de falar...

            O SR. PRESIDENTE (Paulo Paim. Bloco Apoio Governo/PT - RS) - A Senadora Angela Portela.

            O SR. OSVALDO SOBRINHO (Bloco União e Força/PTB - MT) - A Senadora Angela Portela e outros e outros e outros fazem a mesma coisa, porque acreditam no que fazem.

            Quero dizer a V. Exª que estou com 64 anos de idade, mas continuo a sonhar, continuo a ter pensamento positivo, continuo a acreditar que é possível fazer alguma coisa, quando se quer e quando se acredita.

            Portanto, tenho as minhas utopias, e infeliz daquele que não as tem! A utopia é aquilo que está sempre dando um passo à nossa frente, e nós corremos atrás dela. E, quando a encontramos, ela está sempre mais distante. Mas, se ela não serve para outra coisa, pelo menos serve para nos fazer correr e lutar por aquilo de que gostamos.

            Parabenizo V. Exª e agradeço por esta oportunidade, por estarmos aqui até esta hora, porque temos ideal, temos pensamento positivo, temos esperanças e temos utopia.

            Muito obrigado a todos.

            Parabéns aos professores do meu Brasil, àqueles que espantam o analfabetismo e a ignorância e trazem o saber e a alegria aos lares deste País!

            Muito obrigado.

            Boa noite a todos!


Este texto não substitui o publicado no DSF de 17/10/2013 - Página 72576