Comunicação inadiável durante a 226ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Homenagem a Nelson Mandela e satisfação pelo encontro amigável dos Presidentes dos Estados Unidos, Barack Obama, e e de Cuba, Raul Castro curante cerimônia religiosa oficial.

Autor
Eduardo Suplicy (PT - Partido dos Trabalhadores/SP)
Nome completo: Eduardo Matarazzo Suplicy
Casa
Senado Federal
Tipo
Comunicação inadiável
Resumo por assunto
HOMENAGEM. POLITICA INTERNACIONAL.:
  • Homenagem a Nelson Mandela e satisfação pelo encontro amigável dos Presidentes dos Estados Unidos, Barack Obama, e e de Cuba, Raul Castro curante cerimônia religiosa oficial.
Publicação
Publicação no DSF de 12/12/2013 - Página 93301
Assunto
Outros > HOMENAGEM. POLITICA INTERNACIONAL.
Indexação
  • APRESENTAÇÃO, REQUERIMENTO, ASSUNTO, VOTO DE PESAR, MOTIVO, MORTE, NELSON MANDELA, EX PRESIDENTE, PAIS ESTRANGEIRO, AFRICA DO SUL, ELOGIO, HISTORIA, POLITICO, VIDA PUBLICA, COMBATE, DISCRIMINAÇÃO RACIAL, EXTINÇÃO, APARTHEID.
  • ELOGIO, GOVERNO ESTRANGEIRO, EVENTO, HOMENAGEM, MORTE, EX PRESIDENTE, PAIS ESTRANGEIRO, AFRICA DO SUL, REGISTRO, CUMPRIMENTO, PRESIDENTE DE REPUBLICA ESTRANGEIRA, ESTADOS UNIDOS DA AMERICA (EUA), CUBA.

            O SR. EDUARDO SUPLICY (Bloco Apoio Governo/PT - SP. Para uma comunicação inadiável. Sem revisão do orador.) - Primeiro, quero saudar todas as entidades de estudantes e professores das APAEs, aqueles que hoje, aqui, estão percebendo o que estamos falando, inclusive pela colaboração da senhora que ali fala na linguagem da Libra e todos que têm qualquer tipo de deficiência por serem cegos ou surdos, que aqui serão bem-vindos no exame do Plano Nacional de Educação que possa contemplá-los naquilo que consideram seu mais legítimo direito.

            Mas, querido Presidente Paulo Paim, quero me associar. Assinei seu requerimento de homenagem a Nelson Mandela e aqui também requeiro, nos termos regimentais, o voto de pesar pelo falecimento desse extraordinário ganhador do prêmio da paz, que faleceu no último dia 5.

            As lágrimas do mundo se transformaram em chuva durante a cerimônia de despedida de Nelson Mandela. Mais de 90 chefes de Estado, milhares de africanos compareceram ao estádio Soccer City, no bairro de Soweto, em Johannesburgo, no último adeus a Madiba, o grande líder do século XX.

            Tão bonita foi a manifestação dos africanos, que, desde as primeiras horas, antes das 6 horas da manhã, eles estavam ali, em fila, para entrar no estádio, dançando e cantando a alegria de terem tido Nelson Mandela como um filho tão especial.

            Filho único do casal Henry Mgadla Mandela e Noseki Fanny, Nelson Rolihlahla Mandela nasceu em 18 de julho de 1918, na vila de Qunu, na região sul-africana de Transkei, hoje Cabo Oriental.

            Em 1925, ele inicia a escola primária nas proximidades de Qunu, onde uma professora passa a chamá-lo de Nelson, nome pelo qual ficou conhecido.

            O jovem Mandela teve uma ampla formação educacional influenciada pelos valores de sua própria cultura e da cultura europeia. Após passar pelas melhores instituições de ensino da época, Mandela chegou à Universidade de Fort Hare.

            Foi expulso de Fort Hare, por organizar um protesto contra a supremacia colonial branca em sua instituição de ensino.

            Na universidade, Mandela conheceu a luta contra o apartheid promovida pelo Congresso Nacional Africano (CNA). Entretanto, antes de lutar contra o problema social que afligia seu país, Nelson Mandela se voltou contra as tradições de seu próprio povo ao não se sujeitar a um casamento arranjado. Mediante o impasse, o jovem se refugiou na cidade de Johannesburg, onde trabalhou como vigia de uma mina, em uma imobiliária e, logo em seguida, em um escritório de advocacia.

            Em Johannesburg, Mandela aprofundou ainda mais seu envolvimento com as atividades do CNA e deu continuidade aos seus estudos no campo do Direito. Em 1944, com o apoio de companheiros como Walter Sisulu e Oliver Tambo, fundou a Liga Jovem do CNA e se casou com Evelyn Ntoko Mase, a primeira de suas três mulheres. Com ela, teve quatro filhos: Madiba Thembekile, Makaziwe, falecida aos nove meses, Makgatho e Makaziwe.

            Na década de 1950, os ativistas aliados a Mandela resolveram realizar uma grande manifestação em protesto às políticas segregacionistas impostas pelo governo do Partido Nacional, um dos regimes mais violentos e simbólicos do racismo do século XX. A manifestação resultou na elaboração da Carta da Liberdade. “Todas as pessoas que fizeram da África do Sul o seu lar, independentemente do grupo nacional ao qual pertencem ou da cor de suas peles têm direito a viver uma vida plena e livre” dizia o texto.

            Em 1956, Nelson Mandela foi preso e condenado à morte pelo crime de traição. Todavia, a repercussão internacional de sua prisão e julgamento serviram para que o líder fosse libertado. Depois disso, Mandela continuou a conduzir os protestos pacíficos contra a ordem estabelecida.

            Um ano depois, ele se divorciou e casou com Nomzamo Winnie Madikizela, com quem teve duas filhas, Zenani e Zindzi.

            Em março de 1960, o movimento opositor ao Congresso Pan-Africano organizou um protesto para queimar os livros de controle que impediam a entrada de negros em áreas do distrito de Sharpeville, no nordeste sul-africano, que resultou na morte de 69 manifestantes. Na sequência, o governo impôs um estado de emergência, e Mandela e outros foram presos. Em 8 de abril, o CNA foi banido.

            Após enfrentar um processo judicial, Mandela foi condenado à prisão perpétua, pena que cumpriria em uma ilha penitenciária localizada a 3km da Cidade do Cabo. Nos 27 anos seguintes, Mandela, o preso 466/64, ficou alheio ao mundo exterior e viveu o desafio de esperar pelo tempo em sua cela.

            Nessa época, consolidou uma inesperada amizade com James Gregory, carcereiro da prisão que se impressionou com os valores e a dignidade do seu vigiado.

            Em 1985, ele rejeitou a oferta de liberdade condicional proposta pelo presidente Pieter Willem Botha em troca da promessa de não incentivar a luta pelo fim do apartheid na África do Sul. Em 1988, ainda preso, Mandela foi diagnosticado com tuberculose e enviado à prisão Victor Verster, em Paarl.

            Nesse meio tempo, após a desarticulação do movimento antiapartheid, novos movimentos de luta surgiram e a comunidade internacional se mobilizou contra a sua prisão. Em 1990, sob a tutela do governo conciliador do Presidente Frederik Willem de Klerk, Nelson Mandela foi libertado. A partir de então, conduziu o processo que deu fim ao apartheid na África do Sul em 1992.

            No ano seguinte, fruto da vitória política, recebeu o Prêmio Nobel da Paz.

            Em 27 de abril de 1994, após mais de quatro décadas do regime do apartheid, Mandela foi eleito Presidente nas primeiras eleições multirraciais do país.

            A vitória eleitoral de Nelson Mandela iniciou o expurgo das práticas racistas do Estado africano e lhe rendeu grande reconhecimento internacional. Depois de cumprir seu mandato, em 1999, Mandela resolveu não se candidatar novamente, passando a atuar em causas humanitárias.

            Em 2001, Mandela foi diagnosticado com câncer de próstata.

            Três anos depois, anunciou sua saída da vida pública. Em 2008, ao completar 90 anos, Madiba pediu que as gerações futuras seguissem lutando por uma sociedade mais justa.

            A Presidenta Dilma Rousseff afirmou, no seu pronunciamento feito ontem, que Mandela inspirou uma luta igual no Brasil e na América do Sul:

O combate de Mandela e do povo transformou-se em um paradigma não só para o continente, mas para todos os povos que lutam pela justiça, pela liberdade e pela igualdade.

Esse grande líder teve seus olhos postos no futuro de seu país, do seu povo e de toda a África e inspirou a luta no Brasil e na América do Sul.

            Emocionou-me profundamente e também a V. Exª e a todos, durante a cerimônia religiosa oficial, ontem, em memória de Nelson Mandela...

(Soa a campainha.)

            O SR. EDUARDO SUPLICY (Bloco Apoio Governo/PT - SP) - ... ver o Presidente Barack Obama, dos Estados Unidos, subir depressa, em passos rápidos, as escadarias das arquibancadas do Soccer City Stadium, em Johannesburg, parar diante do Presidente Raúl Castro, de Cuba, e cumprimentá-lo com um aperto de mão, num breve, mas histórico diálogo estabelecido entre os dois presidentes, na presença, a meio metro, da Presidenta Dilma Rousseff. Eu senti, ao ver essa cena, a presença pacificadora e o exemplo de homem público desprovido de rancor que caracterizam a personalidade de Nelson Mandela.

            Avalio que esse encontro amigável entre os presidentes dos Estados Unidos e de Cuba - contato esse impensável até momentos antes...

(Soa a campainha.)

            O SR. EDUARDO SUPLICY (Bloco Apoio Governo/PT - SP) - ... ocorrido sob a égide do culto à memória de Nelson Mandela, será um sinal para a aproximação entre os dois países, com o fim do embargo econômico, comercial e financeiro e a liberação do movimento de nacionais entre as duas nações vizinhas, mas tão distantes nos últimos 50 anos.

            Minha esperança é de que os exemplos de Nelson Mandela possam servir para todos os povos e nações do mundo, como serviu para aproximar Barack Obama e Raúl Castro nesse histórico 10 de dezembro de 2013, Dia dos Direitos Humanos.

            Até o dia 14 de dezembro, o corpo de Mandela vai ficar exposto no palácio presidencial em Pretória, dentro de um caixão coberto com uma tampa de vidro, para que os sul-africanos e todos aqueles que continuam indo a Pretória possam ver Mandela e estar junto dele.

            No sábado, o corpo do homem que mudou a história da África do Sul...

(Soa a campainha.)

            O SR. EDUARDO SUPLICY (Bloco Apoio Governo/PT - SP) - ... percorrerá 930 quilômetros em um cortejo que levará o caixão pelas ruas de Pretória até a base militar, de onde seguirá, de avião, até a cidade de Mthatha. De lá, outro cortejo levará o caixão até Qunu, o vilarejo onde Mandela passou seus primeiros anos e que tanto amava, como registra seu livro de memórias: “Alguns dos anos mais felizes da minha infância foram passados em Qunu.” E, é de lá, entre as rochas lisas das colinas, que ele vai continuar a olhar o mundo.

            Que bonita lição nos deu Mandela, que, no seu pronunciamento no dia de sua libertação, disse:

Lutei contra a dominação branca e lutei contra a dominação negra. Acalento o ideal de uma sociedade democrática e livre em que todas as pessoas possam viver juntas, em harmonia e com oportunidades iguais. É um ideal pelo qual espero viver. Mas é um ideal pelo qual estou disposto a morrer se for preciso.

            Meus parabéns, meu caro e querido Presidente Paulo Paim, por abraçar tanto, firmemente, a causa e o exemplo de Nelson Mandela e aqui, no Senado, levar toda a sua energia para os ideais deste inesquecível e memorável homem.

            Muito obrigado.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 12/12/2013 - Página 93301