Discurso durante a 226ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Preocupação com o aumento dos preços no País devido à Copa do Mundo de Futebol.

Autor
Blairo Maggi (PR - Partido Liberal/MT)
Nome completo: Blairo Borges Maggi
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
ESPORTE, TURISMO, POLITICA ECONOMICO FINANCEIRA.:
  • Preocupação com o aumento dos preços no País devido à Copa do Mundo de Futebol.
Publicação
Publicação no DSF de 12/12/2013 - Página 93759
Assunto
Outros > ESPORTE, TURISMO, POLITICA ECONOMICO FINANCEIRA.
Indexação
  • CRITICA, AUMENTO, PREÇO, PRODUTO, PASSAGEM AEREA, VALOR, TAXAS, HOTEL, ALIMENTAÇÃO, MOTIVO, CAMPEONATO MUNDIAL, FUTEBOL, RESULTADO, ABUSO, CONSUMIDOR, TURISTA, IMPOSSIBILIDADE, CRESCIMENTO, SUSTENTABILIDADE, TURISMO, PAIS, NECESSIDADE, INVESTIGAÇÃO, AGENCIA NACIONAL DE AVIAÇÃO CIVIL (ANAC), EXECUTIVO, EMPRESA, AVIAÇÃO, FISCALIZAÇÃO, HOSPEDAGEM DE TURISMO, ELOGIO, PRESIDENTE DA REPUBLICA, CRIAÇÃO, PLANO NACIONAL, PROTEÇÃO, CONSUMO, CIDADANIA.

            O SR. BLAIRO MAGGI (Bloco União e Força/PR MT. Sem apanhamento taquigráfico.) - Srªs Senadoras e Srs. Senadores, um dos assuntos que, nos últimos tempos, mais tem mobilizado a mídia, a classe política, as autoridades governamentais e o cidadão comum é a carestia acentuada de diversos artigos, produtos e serviços às vésperas do grande evento esportivo que será a Copa do Mundo de 2014 no Brasil.

            A parte mais evidente desse aumento de preços desenfreado está no custo das passagens aéreas. Qualquer um de nós que tentar adquirir um bilhete na ponte aérea Rio - São Paulo durante a Copa sentirá os efeitos contundentes da alta das tarifas.

            De acordo com o jornal Folha de S. Paulo, "o turista que quiser sair do Rio de Janeiro e ir a São Paulo para assistir à abertura da Copa, em 12 de junho, pagará 2.393 reais ida e volta" em uma das companhias aéreas - aumento de 1.054% em relação a uma data comum, cuja tarifa média é de 227 reais.

            E não se trata de fato isolado, pois também nas concorrentes o preço disparou, com majorações que variam entre 200% e os inacreditáveis 1.054%.

            Senhoras e Senhores Senadores, como empresário e político com, sou um homem com larga experiência e ciente das leis do mercado, conheço o imperativo determinado pela chamada "lei da oferta e da procura".

            Simplificadamente, à medida que a procura aumenta e a oferta começa a escassear, os preços tornam-se mais voláteis, expandindo-se até certo limite, também definido pelo mercado.

            Trata-se de conceito bastante difundido e, esclareço, não tenho nenhuma inclinação por "soluções" heterodoxas, como o controle de preços ou o regramento excessivo e contraproducente.

            Contudo, não estamos diante de um fenômeno habitual do mundo mercantil, e isto é fácil de perceber! Não é admissível imaginar que os preços assumam um patamar incoerente com a realidade, seja ela brasileira, seja ela mundial.

            Os preços que mencionei, Senhores e Senhoras, conduziriam o passageiro a destinos na Europa ou nos Estados Unidos, pólos privilegiados de turismo localizados a milhares de quilômetros daqui.

            De outro lado, não se trata de um mercado de livre concorrência natural, pois o número de competidores é muito baixo, traduzindo-se em verdadeiros oligopólios, em uma conformação que exige, sim, um sistema de controle ágil e eficiente, que não penalize as empresas ou iniba os investimentos, mas que assegure transparência e direitos ao consumidor. Ao que tudo indica, compete à ANAC um papel fiscalizatório mais ativo e menos complacente.

            Prezados Colegas, somente a ganância e a completa ausência de regulação explicam o ritmo dos aumentos em diversos setores, como, por exemplo, no ramo hoteleiro.

            Diante da notícia de que o setor estaria praticando aumentos de até 376,4% para o período da Copa do Mundo, a Secretaria Nacional do Consumidor do Ministério da Justiça (SENACON) enviou notificação para conhecer os valores médios das diárias da rede hoteleira das 12 cidades-sede do evento.

            De acordo com o diretor Amaury Oliva, "o turista é um consumidor que precisa de uma proteção especial porque está fora da sua cidade ou país".

            Tem toda razão o diretor da Senacon, e ainda se esquece que essa precificação nada razoável, elevadíssima, de alto risco, também é repassada para o governo e para a população em gerai - e não apenas para os consumidores de turismo.

            Primeiro, com a possibilidade de subaproveitamento da rede, toda uma enorme cadeia interligada, incluindo fornecedores, transportes, bares, restaurantes, lojistas, entre outros, também perde.

            O risco, portanto, se traduz no que os economistas denominam "externalidades negativas", isto é, estendem-se ao País e à sociedade brasileira, que investiram enormemente em infraestrutura e promoção do evento, e esperam, licitamente, ver seus gastos recompensados com a entrada de recursos e a geração de renda na economia local.

            Em segundo lugar, construir uma imagem de País caro -artificialmente caro -, em que o turista se sinta explorado, gera conseqüências funestas a médio e longo prazo. Ainda que o viajante compareça à Copa do Mundo, dificilmente retornará para as próximas Olimpíadas caso os abusos se confirmem.

            No passado recente, a Conferência das Nações Unidas sobre Desenvolvimento Sustentável, a Rio+20, e a Jornada Mundial da Juventude anteciparam os problemas que poderiam advir com os megaeventos dos anos subsequentes.

            A despeito do monitoramento efetuado pela Embratur, dados divulgados no site da FIFA indicam que a situação tende a se repetir.

            De acordo com o Presidente da autarquia, Flávio Dino, os preços anunciados causam, abro aspas, "profundo desagrado, estranheza e preocupação, pois findam por inviabilizar o crescimento da sustentabilidade do turismo no Brasil", fecha aspas.

            Na mesma linha, o Ministro dos Esportes, Aldo Rebelo, se pronunciou em termos enfáticos contra os aumentos desmesurados, prometendo "tolerância zero" para abusos de preços nas diárias de hotéis.

            Segundo ele, o governo poderá acionar a Polícia Federal e os órgãos de fiscalização de estados e municípios. No limite, não estão descartadas medidas extremas, como o fechamento de hotéis.

            Com efeito, as comparações internacionais mostram que as tarifas médias praticadas pela rede hoteleira brasileira, no valor de 461 dólares, são bem superiores às da Alemanha durante o mundial de 2006, que custaram 191 dólares, e da África do Sul, em 2010, que atingiram 200 dólares.

            Como presidente da Comissão de Meio Ambiente, Defesa do Consumidor e Fiscalização e Controle, posso asseverar que estamos bastante preocupados com os efeitos deletérios da alta de preços em setores importantes do turismo.

            Realizamos várias audiências públicas para debater essa temática, e vamos exercer nossa competência fiscalizadora e exigir do Poder Executivo que coíba os abusos nos preços de passagens, estadias, transportes e alimentação.

            Srªs e Srs. Senadores, congratulo-me com a Presidenta Dilma Rousseff pela criação do Plano Nacional de Consumo e Cidadania (PLANDEC), destinado à proteção do consumidor turista.

            Felicito-a, ainda, pela formação de um grupo interministerial para acompanhar os preços e a qualidade dos serviços prestados durante a Copa do Mundo de 2014.

            Sobre o tema, a Ministra-Chefe da Casa Civil, nossa Colega Senadora Gleisi Hoffmann, assim se posicionou: "Não tabelamos, nem tabelaremos preços, mas não permitiremos abusos. Vamos utilizar todos os instrumentos à disposição do Estado para garantir a defesa dos direitos do consumidor, seja ele brasileiro ou estrangeiro".

            Estou inteiramente de acordo. Ressalvo, no entanto, Nobres Senadores e Senadoras, que embora o caminho seguido pelo governo federal pareça ser adequado, o desafio que se apresenta é grande - e não comporta arrefecimento da vontade política.

            Era o que tinha a dizer.

            Muito obrigado, Sr. Presidente!


Este texto não substitui o publicado no DSF de 12/12/2013 - Página 93759