Fala da Presidência durante a 217ª Sessão Especial, no Senado Federal

Pronunciamento na sessão especial do Senado Federal destinada à comemoração do centenário de fundação da Universidade Federal de Itajubá/MG - Unifei.

Autor
Delcídio do Amaral (PT - Partido dos Trabalhadores/MS)
Nome completo: Delcídio do Amaral Gomez
Casa
Senado Federal
Tipo
Fala da Presidência
Resumo por assunto
HOMENAGEM, ENSINO SUPERIOR, EXERCICIO PROFISSIONAL.:
  • Pronunciamento na sessão especial do Senado Federal destinada à comemoração do centenário de fundação da Universidade Federal de Itajubá/MG - Unifei.
Publicação
Publicação no DSF de 30/11/2013 - Página 89046
Assunto
Outros > HOMENAGEM, ENSINO SUPERIOR, EXERCICIO PROFISSIONAL.
Indexação
  • PRONUNCIAMENTO, SESSÃO ESPECIAL, SENADO, COMEMORAÇÃO, ANIVERSARIO DE FUNDAÇÃO, CENTENARIO, UNIVERSIDADE FEDERAL DE ITAJUBA (UNIFEI), MUNICIPIO, ITAJUBA (MG), ESTADO DE MINAS GERAIS (MG), COMENTARIO, PROCESSO, CARREIRA, PROFISSÃO, ORADOR, ENGENHEIRO, ELETRICISTA, DIA NACIONAL, ENGENHARIA.

            O SR. PRESIDENTE (Delcídio do Amaral. Bloco Apoio Governo/PT - MS) - Quero agradecer ao Ivan Vilela e dizer, Ivan, que é uma satisfação muito grande ter começado esta cerimônia ouvindo-o. No nosso Mato Grosso do Sul, também a moda de viola faz parte da nossa história, da nossa cultura, e eu, em nome de todos os sul-mato-grossenses, agradeço esta homenagem ao querido Almir Sater, um grande músico e um ser humano exemplar, que elevou o nome do nosso Estado pela música, que cumpriu esse papel importante que você relatou, mostrando a importância da moda de viola e de toda essa história bonita que foi construída no Brasil, desde a Colônia até hoje. Eu, pessoalmente, sou muito ligado à música e tenho bons amigos, como o Renato Teixeira, o Serjão, o grande Sérgio, que me ensinaram a admirar a moda de viola, a música de viola. Então, é, para mim, uma alegria enorme, uma honra ter ouvido você e ter tido uma aula de história de viola, de violão e de outras coisas mais.

            Quero te agradecer de coração. Acho que a Universidade Federal de Itajubá se sente honrada, muito honrada com um músico com a tua qualidade.

            Eu queria apenas registrar aqui que o Reitor Ivan teve de se retirar, porque ele agora tem uma agenda na Universidade. Ele pediu mil desculpas, mas não podia deixar de estar aqui conosco, revendo os amigos.

            Eu só quero - serei muito rápido na minha fala - dizer que sou engenheiro eletricista também de formação. Trabalhei com muitas pessoas de Itajubá, com vários engenheiros e engenheiras, pessoas que me ensinaram muito. Eu brinquei com o Professor Zulcy dizendo que eu estudei máquinas de fluxo nos livros dele e tive muitos amigos e amigas de Itajubá que, de certa maneira, foram verdadeiras referências em minha vida como profissional. Eu já estou meio enferrujado. Não sou um engenheiro que virou suco, mas sou um engenheiro já ultrapassado e muitos que vejo aqui são pessoas que caminharam comigo desde quando eu era um engenheiro recém-formado, com quem enfrentamos grandes desafios.

            O Luiz Gonzaga, meu grande amigo, meu irmão, que me ajudou a organizar esse encontro e essa festa de 100 anos, foi quem me ensinou diagrama funcional. Ele me fez entender de proteção, comando e controle e, depois, me levou para trabalhar na usina de Paulo Afonso IV, na Chesf.

            Depois, nós passamos por Angelim, uma subestação de 500kV, e por Recife II, uma subestação dentro de Jaboatão, as primeiras linhas de 500kV do Nordeste. Depois, fomos para a Amazônia e esticamos as linhas de 500kV, chegando a Belém, com os desafios gigantescos que todos nós enfrentamos para implantar aquele sistema numa região difícil.

            Hoje está muito mais fácil trabalhar lá. Na nossa época, era muito complicado. Eu saí de lá com três malárias nas costas e, depois de implantar o sistema de transmissão de Tucuruí, que interligava a Região Nordeste, fui com o Mário Miranda, e nós criamos o núcleo pré-operacional da usina de Tucuruí. E Tucuruí hoje é essa realidade extraordinária.

            Naquela época, éramos novos, não é, Mário? Também não precisamos exagerar. Chegamos lá, mas ninguém botava muita fé na gente, porque éramos muito novos. E, naquela época, em Tucuruí, os grandes barrageiros eram os mineiros e os paulistas, e nós éramos uma turma misturada. Demos aula, preparamos, qualificamos a mão de obra do Pará.

            Eu saí de lá - nós estávamos com dez turbinas operando, não é, Mário? - para ser Diretor de Operação da Eletronorte, o primeiro diretor empregado da companhia. Indicado por quem? José Marcondes Brito de Carvalho, um craque.

            Se Itajubá tem uma pessoa que é emblemática, uma das pessoas emblemáticas que Itajubá tem é o Dr. Marcondes Brito de Carvalho. Ele me ensinou muito, muitas coisas, até a fumar charuto, porque ele gostava de um charuto. Portanto, eu sempre tive uma integração muito forte.

            Depois, fui para a Shell, fiquei fora durante um tempo. Voltei e fui trabalhar na Eletrosul, com o Dr. Jarbas, que está presente. O Dr. Jarbas era regional no meu Estado, o Mato Grosso do Sul. Depois eu o coloquei numa bucha, para implementar, em pouquíssimos meses, o sistema de transmissão de Rondônia - Ariquemes, Ji-Paraná. Rondônia estava quase em guerra por falta de energia.

            Depois disso passei pelo Ministério. É importante registrar que, quando eu fui Diretor de Operação da Eletronorte, eu fui indicado na época em que o Ministro era Aureliano Chaves, outro formado em Itajubá, figura absolutamente ilustre e que engrandeceu o nosso País. Fui para o Ministério, depois, para trabalhar com um mineiro, que não era de Itajubá, mas um mineiro que também me ensinou muitas coisas: Paulino Cícero - isso no governo Itamar Franco. Espero que o Brasil, um dia, faça justiça ao que o Presidente Itamar representou para o nosso País, e num momento difícil da República. Era um homem humilde, austero, absolutamente republicano.

            Aí, defrontei-me com Joel Rennó, presidente da Petrobrás. Eu comecei como Secretário Executivo do Ministério e, depois, fiquei como Ministro interino até o final do governo Itamar. Eu brincava com o Joel, dizendo assim: “Joel, eu finjo que mando em você e você finge que me obedece”. O Joel era presidente da Petrobras e, para comandar um presidente da Petrobras, não é mole, não! E o Joel prestou serviços inestimáveis, também, ao nosso País.

            Estou vendo aqui a listagem das pessoas.

            Aloísio Carvalho, que foi do Conselho de Administração da Petrobras; foi presidente da CEB aqui em Brasília.

            Alberto Silva, uma figura belíssima, que foi Senador junto conosco quando do nosso primeiro mandato. Um homem que era engenheiro. Os discursos de Alberto Silva eram discursos de engenheiro; ele falava de energia, de usina, de turbina, de gerador. Num plenário que é deserto sob esse aspecto, era uma maravilha ouvir Alberto Silva falar. Era um espetáculo como engenheiro, um cara para frente, que enxergava longe; portanto, uma pessoa extraordinária e que foi muito importante para todos nós aqui.

            Quando nós saímos da Eletrosul, meu querido Jarbas, ela foi cindida. Ficou: Gerasul e a área de transmissão da Eletrosul, empresa de que tive a honra de ser diretor, primeiro de Planejamento e Engenharia; depois, Diretor de Finanças. Compram a área de geração da Eletrosul, e quem estava lá? Manoel Zaroni, também da Escola de Engenharia de Itajubá, da Universidade Federal de Itajubá.

            Então, são várias as pessoas, como o próprio Arruda, que foi Senador conosco aqui, também um engenheiro formado por Itajubá. Eu o conheci ainda quando ele era da CEB, no famoso GCOI, comandado com mãos de ferro pelo Dr. Brito.

            Depois, o nosso querido Celso Ferreira, o imperador do ECEN, como nós o chamávamos, porque era ele que comandava os estudos energéticos do País, de todo o sistema interligado.

            Portanto, Itajubá tem uma grande história, uma história de parceria com o progresso, com o desenvolvimento, com pessoas de bem, que nos ajudaram a construir as coisas boas que o Brasil produziu ao longo de sua história e, principalmente, nas últimas décadas.

            E o importante: falaram bastante do Theodomiro, da figura que ele representou; e um advogado formado em direito lá em São Paulo e que criou o Instituto de Eletrotécnica e Mecânica de Itajubá. E dali os passos foram dados para efetivamente formar uma elite de profissionais no País. Mais uma pessoa que olhava na frente, uma pessoa ousada, um empreendedor - e está faltando gente que empreende no Brasil.

            Eu acompanhei a história dele, com a sua ida para a Europa, e me lembrei dos tempos do meu pai. O meu pai estudou na Politécnica em São Paulo, e os professores eram suíços, eram belgas, eram alemãs, tal como Itajubá foi e se consolidou ao longo do tempo, eu caríssimo Senador Gim Argello.

            E eu vejo o que Itajubá produziu; é uma coisa extraordinária.

            O Dia do Engenheiro Eletricista - e eu sou engenheiro eletricista, mas só depois descobri com o Luiz Gonzaga aqui, o dia 23 de novembro. Aliás, um dia depois, Mário, da inauguração de Tucuruí...

            O Kerman não era de Itajubá, não? Kerman Machado, Diretor Técnico da Eletronorte também de Itajubá e sul-mato-grossense junto com o Lechuga.

            O dia 23 de novembro é o Dia do Engenheiro Eletricista, e por quê? Porque, no dia 23 de novembro de 1913, Itajubá começou. E se existe uma universidade que valorizou a engenharia elétrica no Brasil foi Itajubá, inegavelmente, inegavelmente!

            E por que é importante e emblemático este nosso encontro aqui?

            Esta semana, Luiz, meu querido Hélvio - pessoa importantíssima na Agência Nacional de Energia Elétrica -, eu tive uma reunião com o Confea, com os CREAs e também com a Mútua. Estava todo o Brasil aqui. Fui lá para fazer uma fala de meia hora, gente, e fiquei quatro horas, num debate intenso.

            Mas por que é emblemático este encontro, meu caro Reitor? Porque o Brasil está invertendo as coisas. Com todo o respeito às demais profissões, o Brasil precisa ser um país de engenheiros, porque os engenheiros são empreendedores, são realizadores. E os engenheiros, que são o fim precípuo de qualquer país que quer crescer, que quer progredir, ficamos numa posição secundária. Hoje, no Brasil, é tudo judicializado, qualquer atividade nossa. São os tribunais de contas, são as controladorias-gerais, o Ministério Público, os tribunais; enfim, tudo no Brasil, hoje, é judicializado. A burocracia impera! Como se fosse uma coisa magnífica ter uma burocracia absolutamente imensa e sem fim.

            E, hoje, o curioso de tudo é o seguinte: aquilo que tem que ser o fim ou aquilo que efetivamente precisa representar os objetivos que um país tem que galgar, os controles são mais importantes do que eles. Portanto, os fins acabaram se transformando nos meios, e quem efetivamente executa ficou para trás, nessa exacerbada política de controle de tudo aquilo que é feito; nesse emaranhado jurídico em que o Brasil se envolveu e do qual não consegue sair.

            Portanto, nós temos que incentivar a engenharia nacional. Os países que cresceram tiveram engenheiros no seu comando. E eu não tenho dúvida nenhuma de que, com os desafios da logística que se apresentam, das rodovias, das ferrovias, dos aeroportos, das hidrovias, dos portos, das usinas hidrelétricas, das usinas termoelétricas a carvão, a gás natural, as nucleares - e por que não fazer este debate, que é importante para o País -, eólicas, solares, petróleo, gás, os engenheiros e as engenheiras terão um papel fundamental para que a gente vire essa página de atraso no Brasil, onde os órgãos de controle se consideram os donos do País. Quem manda no País é o povo, e o povo quer realizações, coisas concretas. E, com todo respeito às demais profissões, não há ninguém com uma formação tão ecumênica e ampla como os engenheiros.

            Portanto, este é um dia especialíssimo, porque nós precisamos trazer para a discussão o papel dos engenheiros na nossa sociedade.

            Países como Coreia do Sul, Estados Unidos - é só nominar os países -, todos eles cresceram e se desenvolveram porque os engenheiros foram os protagonistas do seu crescimento. E, no Brasil, não vai ser diferente.

            Por isso, para mim, é uma honra estar aqui, especialmente comemorando os cem anos de Itajubá. Eu, que aprendi a respeitar essa escola, na qual eu tive, como livros de formação, livros escritos por professores da própria escola, naquela época - a Escola de Engenharia de Itajubá.

            Portanto, para mim, mais uma vez, é uma honra tê-los aqui. Esta nossa sessão é emblemática porque se realiza num momento especialíssimo, principalmente quando o Brasil precisa dos engenheiros.

            Eu estava vendo alguns números. Dos engenheiros formados no Brasil, 38% ocupam efetivamente as suas funções como engenheiros; o restante está desenvolvendo outras atividades.

            Quanto a Engenharia sofreu!

            Eu lembro bem, Luís, quando venderam a Light. Eu ouvia as histórias dos bondes, nesse breve histórico da Escola de Itajubá. Os projetos da Light, no Rio de Janeiro, eram feitos em Levallois-Perret, nos arredores de Paris. Enquanto isso, nossos engenheiros, na praia, vendendo sanduíche. Houve até um filme: O engenheiro que virou suco.

            Então, chegou a hora de valorizar os engenheiros. Em função dos projetos que se avizinham, daqui até 2020, vamos precisar de mais um milhão de engenheiros, segundo o Ipea.

            Hoje, pela primeira vez, o número de calouros de Engenharia suplantando o número de calouros de Direito. Os advogados são importantes, mas são um meio. Quem vai efetivamente comandar esse Brasil que todos nós sonhamos são os engenheiros.

            Portanto, acho que as perspectivas que se apresentam são inomináveis. Alguns projetos que estão em andamento, como o Ciência sem Fronteiras, que oferece a possibilidade de engenheiros estudarem lá fora, como outros países também o fizeram e fazem, como a China, a Coréia. Acho que há um “avenidão” pela frente e não podemos perder essa oportunidade.

            Itajubá, sem dúvida nenhuma, meu caríssimo Reitor, será seguramente uma das locomotivas desse novo tempo que o Brasil vai viver, o tempo dos engenheiros e das engenheiras; o tempo da Engenharia nacional.

            Outro dia, lamentavelmente, ouvi dizer que os aeroportos não caminhavam porque os engenheiros brasileiros não tinham qualidade. É inacreditável ouvir, depois de tudo que nós fizemos, que os engenheiros brasileiros não têm qualidade. Os engenheiros brasileiros precisam de oportunidade.

            A gente vai acompanhando por aí e vê que já fizeram o Programa Mais Médicos. Parece que, agora, é preciso o “Programa Mais Engenheiros”. Uma profissão que tem praticamente 62% de profissionais ainda ociosos, se exigir algum tipo de especialização, as companhias trazem. A Petrobras faz isso, assim como outras companhias também o fazem - isso é natural! Agora, montar um programa específico para trazer engenheiros é demais!

            Engenheiro é trecheiro. Ao contrário das dificuldades que os médicos enfrentam, prestando atendimento nessas pequenas cidades, o engenheiro vive no trecho, vive por aí andando pelo mundo, passando muitos deles pelas maiores privações até construir aqueles grandes projetos. Então, as chances são imensas.

            Portanto, essa semana, para mim, foi a semana do Engenheiro. Começou quarta-feira, no Confea e no CREA, e, agora, aqui com Itajubá.

            Todavia, os homenageados são vocês.

            Então, eu queria, primeiro, passar a palavra para meu companheiro, meu amigo, meu irmão, meu caro Senador Gim Argello, que, com muita honra, representa o Distrito Federal e que tem feito um trabalho excepcional como Senador da República aqui, na nossa Casa.

            Com a palavra, o Senador Gim Argello.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 30/11/2013 - Página 89046