Discurso durante a 225ª Sessão Não Deliberativa, no Senado Federal

Anúncio da apresentação de requerimento convidando o ex-Secretário Nacional de Justiça, Romeu Tuma Júnior, para falar à CCJ sobre as revelações que fez em livro intitulado “Assassinato de Reputações – Um Crime de Estado”.

Autor
Alvaro Dias (PSDB - Partido da Social Democracia Brasileira/PR)
Nome completo: Alvaro Fernandes Dias
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
CORRUPÇÃO, IMPRENSA, GOVERNO FEDERAL.:
  • Anúncio da apresentação de requerimento convidando o ex-Secretário Nacional de Justiça, Romeu Tuma Júnior, para falar à CCJ sobre as revelações que fez em livro intitulado “Assassinato de Reputações – Um Crime de Estado”.
Aparteantes
Aloysio Nunes Ferreira, Casildo Maldaner, Cristovam Buarque, Roberto Requião.
Publicação
Publicação no DSF de 10/12/2013 - Página 92876
Assunto
Outros > CORRUPÇÃO, IMPRENSA, GOVERNO FEDERAL.
Indexação
  • REGISTRO, APRESENTAÇÃO, REQUERIMENTO, DEPOIMENTO PESSOAL, LOCAL, COMISSÃO DE CONSTITUIÇÃO E JUSTIÇA, SENADO, SECRETARIO NACIONAL, JUSTIÇA, MOTIVO, ARTIGO DE IMPRENSA, PERIODICO, VEJA, ESTADO DE SÃO PAULO (SP), REFERENCIA, LANÇAMENTO, LIVRO, ASSUNTO, DENUNCIA, CORRUPÇÃO, UTILIZAÇÃO, GOVERNO FEDERAL, PREPARAÇÃO, DOCUMENTAÇÃO, PREJUIZO, ADVERSARIO, POLITICA.

            O SR. ALVARO DIAS (Bloco Minoria/PSDB - PR. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Muito obrigado, Presidente Ruben Figueiró, Srs. Senadores, Srªs Senadoras, antes da aridez do tema que pretendo abordar hoje, a saudação a paranaenses que visitam o Congresso Nacional: Amauri Paske, o Danilo e o Henrique, acompanhados da sergipana Ina.

            Sejam bem-vindos ao Senado Federal!

            Sr. Presidente, quantas vezes comparecemos a esta tribuna para denunciar a existência, nos porões da política suja, de uma fábrica de dossiês para achincalhar biografias mesmo que bem escritas ao longo do tempo. Quantas vezes viemos a esta tribuna para protestar contra especialistas que, se aproximando o período eleitoral, acionam a usina de dossiês com a calúnia e a difamação como armas a alvejar adversários.

            Hoje venho à tribuna exatamente para confirmar a existência dessa usina de dossiês sustentada pelo Governo. A revista Veja traz...

            Eu sei que muitos não gostam que eu suba a esta tribuna com a revista Veja em mãos, mas é inevitável. Não é por prazer; é por dever. A revista Veja faz referência a livro a ser publicado pelo ex-Secretário Nacional de Justiça Romeu Tuma Júnior, Assassinato de Reputações - Um Crime de Estado.

            Romeu Tuma Júnior faz referência a essa fábrica de dossiês instalada e operando a pleno vapor no núcleo do Governo Federal, uma usinagem por demais conhecida.

            As revelações feitas pelo Delegado Romeu Tuma são gravíssimas, trouxeram à tona fatos gravíssimos. Aliás, o ex-secretário de Justiça retira, deste incrível armário de crimes praticados nos últimos anos, alguns esqueletos que ainda não haviam sido retirados e tenta dizer ao País que há capítulos não escritos na história do mensalão e do assassinato de Celso Daniel, quando prefeito de Santo André. São capítulos ainda não escritos e que o País espera sejam ou possam ser escritos. Quem sabe o livro bomba anunciado neste final de semana possa determinar o início de revelações importantes para o País.

            Aliás, nós estamos hoje protocolando, Sr. Presidente, um requerimento para ouvir Romeu Tuma Júnior no Senado Federal. Queremos um depoimento oficial, para, na sequência, se necessário, adotarmos as providências necessárias para a responsabilização civil e criminal, se criminosos existirem em razão destas revelações bombásticas veiculadas pela revista Veja no final de semana.

            O Senador Aloysio Nunes, Líder do PSDB, está encaminhando ao Ministro José Eduardo Cardozo, da Justiça, um ofício em que pede a instauração dos procedimentos para a investigação oficial. Se o Sr. Romeu Tuma Júnior se dispuser a comparecer à Comissão de Constituição e Justiça do Senado e falar sobre essas denúncias, ser questionado sobre elas, eventualmente apresentar documentos que comprovem a sua veracidade, já que, como um policial de larga experiência, certamente não faria denúncias irresponsáveis, é possível que possua material de prova consistente, que ofereça a ele a autoridade suficiente para denunciar com a coragem com que está denunciando.

            O livro de Tuma Júnior expõe práticas rotineiras e orquestradas, que demonstram uma faceta abominável da engrenagem oficial. Ou seja, o PT usa o Governo para disseminar dossiês apócrifos e perseguir os seus adversários.

            A democracia não pode conviver com essa arquitetura marginal, ditando os traços da máquina de Estado. Ações ilícitas dessa natureza atentam contra o Estado democrático de direito e solapam as instituições democráticas.

            Por essa razão, o requerimento que protocolamos hoje faz referência, Sr. Senador Ruben Figueiró, à matéria publicada pela Veja, intitulada “O livro bomba”, cujo teor são as revelações de Romeu Tuma Júnior.

            Segundo a matéria:

Durante três anos, o Delegado de Polícia Romeu Tuma Júnior conviveu diariamente com as pressões de comandar essa estrutura, cuja mais delicada tarefa era coordenar as equipes, para rastrear e recuperar no exterior dinheiro desviado por políticos e empresários corruptos. Pela natureza de suas atividades, Tuma ouviu confidências e teve contato com alguns dos segredos mais bem guardados do País, mas também experimentou um outro lado do poder - um lado sem escrúpulos, sem lei, no qual o Governo é usado para proteger os amigos e triturar aqueles que são considerados inimigos.

Entre 2007 e 2010, período em que comandou a Secretaria, o Delegado testemunhou o funcionamento desse aparelho clandestino, que usava as engrenagens oficiais do Estado, para fustigar os adversários.

A máquina de moer reputações seguia um padrão. O Ministério da Justiça recebia um documento apócrifo, um dossiê ou um informe qualquer sobre a existência de conta secreta no exterior em nome do inimigo a ser destruído. A ordem era abrir imediatamente uma investigação oficial, depois alguém dava uma dica sobre o caso a um jornalista. A divulgação se encarregava de cumprir o resto da missão.

            Enfim, são revelações que mostram a apropriação da máquina do Estado por um grupo que a coloca a seu próprio serviço.

            O requerimento apresentado, solicitando a realização de audiência pública, se reveste de grande oportunidade uma vez que o delegado Romeu Tuma Júnior diz estar disposto a demonstrar que, na Secretaria Nacional da Justiça, foi instado a dar curso a dossiês fabricados contra adversários.

            Portanto, nós não queremos antecipar providências judiciárias. Nós queremos ouvir o ex-secretário para que ele possa detalhar as denúncias, ser questionado e, se possível, se puder, apresentar material de prova que dê consistência às suas denúncias.

            Eu vejo que, na matéria, ele faz referência a um dossiê que foi amplamente divulgado no País à época da CPI dos Cartões Corporativos. Ensejou, inclusive, um inquérito na Polícia Federal. Diz ele:

O PT usava o meu laboratório para fazer dossiês. A ex-Ministra Erenice Guerra foi inocentada, em 2012, desse tipo de acusação. Mas eu sustento, com o nome que herdei do meu pai: havia, sim, uma fábrica de dossiês em via de ser normatizada, que inviabilizei com a mudança do laboratório para a estrutura da secretaria. Estavam usando o meu laboratório para fazer um dossiê contra a finada Ruth Cardoso, mulher do ex-Presidente Fernando Henrique, e, obviamente, contra o governo do seu marido.

            À época, soube-se que o objetivo desse dossiê era amedrontar a oposição, que presidia a Comissão Parlamentar de Inquérito dos Cartões Corporativos. Esse dossiê foi sutilmente remetido a órgãos de imprensa e, inclusive, ao meu gabinete, através do computador de um dos meus assessores. Depois, foi veiculado amplamente no País, ensejando a abertura de inquérito da Polícia Federal, como diz Tuma Júnior, concluído em 2012, sem a responsabilização daqueles que formataram esse dossiê no âmbito da Casa Civil do governo de então.

            Enfim, é preciso que esses fatos sejam esclarecidos devidamente: grampo telefônico, dossiês, a tentativa de inibir a oposição, de calar a oposição, a tentativa de comprometer Ministros do Supremo Tribunal Federal. Enfim, são revelações que ganham o contorno de bombásticas, mas que não podem permitir a passividade, o silêncio, a omissão, a conivência e a cumplicidade das autoridades do Legislativo e do Poder Judiciário especialmente.

            Eu concedo ao Senador Cristovam Buarque um aparte, com satisfação.

            O Sr. Cristovam Buarque (Bloco Apoio Governo/PDT - DF) - Senador Alvaro Dias, ontem à noite, quando eu li essa matéria, eu confesso que fiquei estarrecido e, ao mesmo tempo, com o choque daquilo que chamam por aí de já visto, no passado. Eu lembrei com muita semelhança, Senador Ruben, dos depoimentos do Deputado Roberto Jefferson, naquela época. É a declaração acusativa de alguém de dentro do Governo; não são acusações de jornalistas ouvindo pessoas, muitas vezes fontes não divulgadas, protegidas pelo sigilo. Não. Desta vez, não é um trabalho de jornalistas, ouvindo informações de pessoas, de quem ninguém sabe exatamente quem é. Não, é alguém de dentro do Governo, em um livro. Ou seja, traz a responsabilidade do nome e traz o privilégio do cargo que ocupava. Eu me lembrei muito, Senador Alvaro Dias, de Roberto Jefferson, quando fez aquelas declarações bombásticas de R$4 milhões para comprar Deputados, e que ninguém levou a sério. Eu lamento que não esteja aqui alguém do Governo para se manifestar. Inclusive, eu creio que deveria ser do máximo interesse do Partido dos Trabalhadores convocar para que seja ouvido aqui o Delegado Tuma. Ninguém deve ter mais interesse nisso do que o Partido dos Trabalhadores para desmoralizar as declarações dele, para mostrar que o que ele disse não resiste a uma análise. Eu espero que o Partido dos Trabalhadores tome a iniciativa antes mesmo do PSDB. Se não tomar, eu acho que o PSDB tem toda a razão, todo o direito de fazer isso o mais rápido possível também. Ali, há declarações - estou falando de uma matéria -que realmente são muito preocupantes. Imagine quando o livro inteiro for lido! O que não há ali que possa nos surpreender? Eu insisto que o Partido dos Trabalhadores deveria convocar ou convidar, se for o caso, o Delegado Tuma para se explicar, para dizer, provando, aquilo que ele colocou no livro.

            O SR. ALVARO DIAS (Bloco Minoria/PSDB - PR) - Muito obrigado, Senador Cristovam, pela contribuição de V. Exª.

            Nós já protocolamos esse requerimento, e aproveito a sugestão de V. Exª para apelar a fim de que o PT possa permitir, inclusive, que esse requerimento seja aprovado extrapauta na próxima quarta-feira, para que Tuma Júnior possa comparecer, o mais rapidamente possível, ao Senado, já que estamos no final deste período, deste ano legislativo. Seria muito importante. É exatamente o que nós desejamos: aprofundar os esclarecimentos e, quem sabe, se for possível, conhecer provas que possam dar consistência a essas denúncias, que certamente não são irresponsáveis, porque quem tem larga experiência policial, como Tuma Júnior, certamente não faria denúncias sem ter a consciência de estar denunciando com responsabilidade.

            Eu concedo, ao Senador Roberto Requião, com prazer, o aparte que solicita.

            O Sr. Roberto Requião (Bloco Maioria/PMDB - PR) - O Senador Alvaro Dias sabe que eu acredito que uma das funções do Congresso Nacional é a fiscalização do Executivo. Então, eu me coloco numa posição favorável a qualquer aprofundamento da investigação. Mas eu pessoalmente gostaria de chamar a Veja também para depor, seus responsáveis. O proprietário da Veja faleceu, mas estão lá os seus filhos. Eu conheço em profundidade essa história de destruição de reputações. V. Exª lembra, quando eu fui o Relator da CPI dos Títulos Públicos, a famosa CPI dos Precatórios, em que mostrei a lavagem de dinheiro, a remessa para o exterior, que a Veja me dedicou três ou quatro páginas, com fotografia de corpo inteiro da minha mulher, dizendo que eu tinha remetido dinheiro para o exterior, um processo de lavagem de dinheiro. O jornalista era um tal de Oltramari, se não me engano, se não me esqueci do nome dele. Ele entrou em contato comigo. Eu mostrei a origem do dinheiro, era a venda de um apartamento do meu sogro em São Paulo, e a minha mulher tinha mandado, em um banco oficial, a parte da sua irmã, que morava e ainda mora, nos Estados Unidos, casada com um americano. Não adiantou rigorosamente nada. Depois da Veja, nós merecemos também algumas páginas da IstoÉ no mesmo sentido. Bom, eu vim a descobrir que o tal do Oltramari, depois, era ligado ao Marconi Perillo e ao Cachoeira, naquele processo de corrupção do governo do Perillo. E nós nunca conseguimos levantar isso. Então, essa prática de destruição de reputações é uma prática da Veja também. Seria interessante a gente verificar essa tal usina de dossiês. Que contato essa usina de dossiês tem com Oltramari, com o Civita, com a revista Veja, com a Época e a IstoÉ. Eu nunca consegui uma resposta, tanto que, desde aquela época, eu brigo pelo direito de resposta, preenchendo a lacuna deixada pelo fim da Lei de Imprensa para que a gente possa defender a reputação das pessoas acusadas. Este processo de destruição de reputações é um processo muito conhecido. As denúncias da Veja são graves, mas não são menos graves a história do seu envolvimento nesse tipo de patifaria. Se me fosse possível, eu faria um adendo convocando a Veja e IstoÉ para explicar a indústria de fabricação de dossiês falsos para desmoralizar acusações sérias e desmontar reputações. Mas, de qualquer forma, coerente com a minha posição, eu me somo à tarefa do Congresso Nacional e do Senado da República de aprofundar quaisquer investigações.

            O SR. ALVARO DIAS (Bloco Minoria/PSDB - PR) - Senador Requião, da mesma forma, eu não colocaria nenhum obstáculo à convocação de representantes da imprensa para esclarecer denúncias que são veiculadas com grande repercussão no País. Mas, nesse caso, há um livro, o livro de autoria de Romeu Tuma Júnior. É nesse livro que faz as denúncias, independentemente da entrevista concedida à revista. Nós estamos pretendendo priorizar o essencial. Nesse caso, o essencial é o que Tuma denuncia através de um livro, que denominou de Assassinato de Reputações. O título do livro: Assassinato de Reputações.

            Eu concedo ao Senador Casildo Maldaner, com prazer, o aparte.

            O Sr. Casildo Maldaner (Bloco Maioria/PMDB - SC) - Eu quero aproveitar esse momento Senador Alvaro Dias, para colocar duas situações: uma que V. Exª provoca, quer dizer, traz um relato de uma revista de circulação nacional muito conhecida e que deve merecer um cuidado. E V. Exª propõe, inclusive, um requerimento para que se faça uma audiência e se ouça através do que o próprio filho do Romeu Tuma, que é o Romeu Tuma Júnior, como delegado da Polícia Federal, delegado desse setor, encarregado, e expõe no livro. E através da Veja, em circulação, como conhecida, se possa trazer às claras. Ao mesmo tempo, o Senador Requião, até por circunstâncias que têm acontecido, ele também sugere até que certas circunstâncias, certos casos se possa também fazer com que... Inclusive, o Senador Requião propôs aqui, e foi aprovado na Casa, o direito à resposta, porque muitas vezes alguma pessoa é achincalhada por uma razão ou outra e, para conseguir que saia alguma coisa de correção no rodapé não é fácil. Requer-se na Justiça, e leva muito tempo, é a coisa mais difícil que tem. E, hoje, por lei, devem os órgãos de comunicação ir fazendo, devem dar o mesmo direito de resposta no mesmo espaço e assim por diante. Eu acho que isso serve para nós criarmos a transparência mais forte no Brasil. Eu quero lhe cumprimentar, porque isso aí vai trazer às claras, vai trazer o que um delegado da Polícia Federal e chefe de um setor escreve, e que a revista publicou. Se por acaso aquilo que escreveu e publicou e se o que a revista divulgou não tiver procedência, ela vai ter que dizer o porquê. Vamos criar uma transparência para o Brasil. Quando nós formos ler alguma coisa num jornal, numa revista, em algum documento, isso vai merecer mais credibilidade. Por isso, quero cumprimentá-lo, Senador Alvaro Dias, porque aí nós vamos criar mais, vamos dizer assim... Na Nação, muitas vezes, a gente ouve as coisas, e é dito que isso é coisa de... Não, não é. Se falou, vamos ter de ter cuidado. Em ambos os casos, se a revista não confirmar as fontes, não divulgá-las, aí vai ficar complicado. Eu acho que esse vai ser um serviço para a Nação. Acho que esse vai ser um serviço para o Brasil. Vamos colocar isso, não só para alimentar, não só para criar espaços. Eu acho que é alguma coisa que vem ajudar o Brasil. V. Exª, numa segunda-feira, como hoje, traz um tema desses para começar a semana. E isso tem importância para quem escreve, para quem diz e para quem divulga. Antes de divulgar, vamos assimilar. Se divulgou, deve ter responsabilidade, e isso é bom para o Brasil. O que V. Exª traz, o Senador Requião questionou, e isso valoriza o pronunciamento de V. Exª, valoriza a questão abordada por V. Exª, sem dúvida alguma. Eu sei que o Senador Requião está querendo falar. S. Exª não pode me apartear, mas a V. Exª sim. Acredito que S. Exª, como Vice-Presidente do Mercosul - S. Exª foi eleito agora -, vai ajudar a abrilhantar o tema de hoje, à tarde, inclusive com a participação do ilustre Professor Cristovam Buarque, que ouvi há pouco. Eu andava de carro e o escutava pela Rádio Senado.

            O Sr. Roberto Requião (Bloco Maioria/PMDB - PR) - O Senador Alvaro Dias já entendeu que vai ter de nossa parte, da Bancada do PMDB presente aqui, representada por mim e pelo Senador Casildo, o mais amplo apoio, mas eu vou me esforçar para fazer a exumação de Roberto Civita nesse processo. As calúnias anteriores e as patifarias cometidas contra mim nunca foram respondidas. Nunca houve um espaço para a resposta. E me refiro também à verdadeira usina de detração em que se transformou a Veja e a Imprensa Nacional. Mas eu jamais negaria a assinatura numa investigação desse porte.

            O SR. ALVARO DIAS (Bloco Minoria/PSDB - PR) - O importante é não nos calarmos diante desses fatos, não ficarmos passivamente assistindo, coniventes e cúmplices, a tudo o que ocorre. Nós não nos podemos conformar mais com esse conceito arraigado de que, no Brasil, nos últimos anos, o crime existe, mas não existe criminoso.

            Um livro está sendo editado agora, com denúncias da maior gravidade, tentando escrever capítulos ainda não escritos em escândalos que sacudiram o País, como o do mensalão, o do crime de Santo André e outros. É por essa razão que contamos com o apoio, sim, de partidos do Governo, para que esses fatos sejam considerados importantes no Senado Federal.

            O ex-Senador e atual Deputado Roberto Freire, Presidente do PPS, telefonou-me hoje, sugerindo que os partidos de oposição agissem conjuntamente. E ele tem razão. A ação conjunta de partidos de oposição confere importância maior a essa ação que cobra esclarecimentos. É por isso que o Senador Aloysio Nunes, Líder do PSDB, está encaminhando ao Ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, um apelo para que instaure procedimentos, a fim de que os fatos sejam esclarecidos.

            É o País que exige isso. É a democracia que requer essa postura. Essa é uma exigência da sociedade brasileira. O Brasil não pode ser um grande armário cheio de esqueletos. Os crimes que ocorreram devem ser desvendados. Há crimes insolúveis. Ou o crime de Santo André não é um crime insolúvel até hoje? O ex-Secretário de Justiça afirma taxativamente que é insolúvel, em função da denúncia que faz, ao denunciar que se trata de crime político o desaparecimento do ex-Prefeito de Santo André Celso Daniel.

            Eu concedo o aparte ao meu Líder, Senador Aloysio Nunes, com prazer.

            O Sr. Aloysio Nunes Ferreira (Bloco Minoria/PSDB - SP) - Meu caro Líder Alvaro Dias, quero cumprimentá-lo pelo discurso que faz hoje, sempre muito oportuno, atual, eloquente, tocando um ponto muito sensível da situação política em que vivemos, que é a utilização não das estruturas, mas de elementos das estruturas do Estado - não quero comprometer a instituição Polícia Federal -, com o patrocínio de interesses puramente partidários. Agora, a reportagem publicada na revista Veja traz, na verdade, um segredo de polichinelo. Quem é que não sabia que a fabricação de dossiês era um dos esportes prediletos do petismo? Nós sabíamos. V. Exª citou em seu discurso vários casos que já foram amplamente noticiados. Em um deles, seus autores receberam do Presidente Lula, de quem eram comensais, o epíteto carinhoso de aloprados, numa forma de passar a mão na cabeça. São aloprados, são pobres aloprados que compraram um dossiê fajuto contra o candidato da época ao Governo de São Paulo, José Serra, pagando mais de R$1 milhão. E, até hoje, ninguém sabe o que aconteceu, de onde veio esse dinheiro, o que aconteceu com os aloprados. Mas não é o único caso. Todos os episódios que foram mencionados na revista Veja foram arquicomentados, como a fabricação do dossiê em relação às contas do Palácio da Alvorada no tempo em que o Presidente Fernando Henrique era o primeiro magistrado da Nação, como a quebra do sigilo das contas de familiares do...

            O SR. ALVARO DIAS (Bloco Minoria/PSDB - PR) - José Serra.

            O Sr. Aloysio Nunes Ferreira (Bloco Minoria/PSDB - SP) - ...nosso companheiro José Serra, como o dossiê Cayman. São coisas absolutamente conhecidas. E mais: há uma prática muito comum que, evidentemente, não é retratada nessa reportagem, que é uma triangulação existente entre petistas, geralmente Parlamentares petistas - isso se dava no governo anterior -, com duas ou três figuras carimbadas do Ministério Público Federal - quem não se lembra do Procurador Luiz Francisco? - e com órgãos de imprensa. Levavam um dossiê para um órgão de imprensa, aquilo se transformava em notícia, e a notícia se transformava, depois, num pedido de investigação por parte do Ministério Público. Essas investigações nunca foram concluídas, aliás, mas permaneciam sempre pairando sobre a cabeça dos adversários: “Olha, Fulano está sendo investigado”. Essa é uma prática recorrente. Espero que esse requerimento, que V. Exª apresenta em boa hora, seja aprovado. Estaremos na Comissão de Justiça para pedir ao Presidente, inclusive, que o coloque...

            O SR. ALVARO DIAS (Bloco Minoria/PSDB - PR) - Extrapauta.

            O Sr. Aloysio Nunes Ferreira (Bloco Minoria/PSDB - SP) - Pediremos que o coloque já na pauta, para deliberação nesta semana, para que se ouça o Delegado Romeu Tuma, de modo, inclusive, a poder separar, dentro da Polícia Federal, o joio do trigo: quem são os policiais que se prestam a esse tipo de operação na sombra, de operação de baixa Polícia, e aqueles que são, realmente, dedicados ao cumprimento da missão nobilíssima da Polícia Federal. Obrigado.

            O SR. ALVARO DIAS (Bloco Minoria/PSDB - PR) - Muito obrigado, Senador Aloysio. V. Exª fez referência a outro dossiê que, certamente, é do conhecimento do Secretário Romeu Tuma Júnior. É evidente que ele não revelou tudo à revista Veja. Certamente, seu livro não deve ignorar aquele episódio ocorrido em São Paulo, quando apareceu, Senador Ruben Figueiró, no Hotel Ibis, na capital paulista, uma mala com R$1,7 milhão, dinheiro que foi mostrado a todo o País pelas emissoras de TV, de onde surgiu, como disse o Senador Aloysio, o epíteto de aloprados, uma forma carinhosa de denominar marginais a serviço de interesses eleitoreiros.

            Aliás, quem foi responsabilizado? Quem comandou aquela ação? De onde veio aquele dinheiro? Isso faz parte deste jogo brasileiro dos últimos anos: reconhecem a existência do crime, mas desconhecem a existência dos criminosos. Os criminosos não foram apanhados, não foram identificados, não foram responsabilizados, não foram punidos.

            É por essa razão que o Senado não se pode omitir. Esta não é uma convocação, porque imprópria, mas é um convite que se formula, para que o Delegado Romeu Tuma Júnior possa apresentar aqui elementos consistentes que reafirmem, com autoridade, as denúncias que foram veiculadas nesse fim de semana.

            Era o que eu tinha a dizer, Sr. Presidente, na esperança de que o País possa ter no Senado Federal o intérprete das suas aspirações, tentando elucidar fatos que não podem permanecer na penumbra da ignorância. Se há capítulos não escritos do mensalão, se há capítulos não escritos do assassinato de Santo André, nós precisamos contribuir para que eles possam ser escritos, em nome do respeito ao povo brasileiro.

            Muito obrigado, Sr. Presidente.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 10/12/2013 - Página 92876