Pronunciamento de Paulo Paim em 09/12/2013
Discurso durante a 225ª Sessão Não Deliberativa, no Senado Federal
Satisfação com a liberação, pela Argentina, dos calçados brasileiros que estavam retidos na fronteira do País; e outros assuntos.
- Autor
- Paulo Paim (PT - Partido dos Trabalhadores/RS)
- Nome completo: Paulo Renato Paim
- Casa
- Senado Federal
- Tipo
- Discurso
- Resumo por assunto
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POLITICA EXTERNA, GOVERNO FEDERAL, ATUAÇÃO.
IMPRENSA, HOMENAGEM.:
- Satisfação com a liberação, pela Argentina, dos calçados brasileiros que estavam retidos na fronteira do País; e outros assuntos.
- Aparteantes
- Cristovam Buarque, João Capiberibe.
- Publicação
- Publicação no DSF de 10/12/2013 - Página 92914
- Assunto
- Outros > POLITICA EXTERNA, GOVERNO FEDERAL, ATUAÇÃO. IMPRENSA, HOMENAGEM.
- Indexação
-
- ELOGIO, ATUAÇÃO, GOVERNO FEDERAL, RELAÇÃO, RESPOSTA, APREENSÃO, CALÇADO, FRONTEIRA, ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL (RS), PAIS ESTRANGEIRO, ARGENTINA, RESULTADO, LIBERAÇÃO, PRODUTO.
- ANUNCIO, PARTICIPAÇÃO, LANÇAMENTO, PERIODICO, ASSUNTO, PENSAMENTO, POVO, AFRICA, HOMENAGEM, ABDIAS NASCIMENTO, ELOGIO, VIDA PUBLICA.
- SOLICITAÇÃO, TRANSCRIÇÃO, ANAIS DO SENADO, ARTIGO DE IMPRENSA, JORNAL, JORNAL DO BRASIL, ESTADO DO RIO DE JANEIRO (RJ), AUTOR, ORADOR, HOMENAGEM, NELSON MANDELA, EX PRESIDENTE, PAIS ESTRANGEIRO, AFRICA DO SUL.
O SR. PAULO PAIM (Bloco Apoio Governo/PT - RS. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Presidente Ruben Figueiró, primeiro, claro, os meus cumprimentos ao Diretor da Casa. Eu fico com a palavra “imediata”, porque esta é a questão.
Eu até pensei que era muito mais. Uma empresa dessas que se nega a pagar 25 funcionários... Como é que eles virão trabalhar amanhã? Como é que eles vão comer amanhã?
Alguém me disse: “Não, nem que não fosse, é o dinheiro deles, é justo.” Mas eu quero ir mais além. Esta sensibilidade é que nós temos que ter. São 24 famílias - não é muita gente; então, dá para pagar de imediato - que estão com problema de alimentação e de dinheiro para vir trabalhar, que é o vale-transporte.
Então, eu gostei da resposta do nosso Diretor - meus cumprimentos -, de que a solução será imediata. E tenho certeza de que os funcionários podem aguardar que amanhã eles receberão o vale-transporte, o vale-alimentação e o seu salário.
Agradeço a presteza do encaminhamento feito por V. Exª, porque, permita-me que diga, esse povo não pode esperar. Calcule o que é para eles - que para nós não faz falta - o vale-transporte e o vale-refeição virem daqui a dois ou três dias. Uma funcionária me dizia que pediu dinheiro para a vizinha dela para vir trabalhar. Quanto ao almoço, ela iria comer uma fruta, esperando que chegasse o vale.
Então, meus cumprimentos ao Diretor da Casa. Eu o conheço e sei de sua seriedade e responsabilidade. Eu gostei do termo “imediato”, que significa que eu tenho certeza de que amanhã eles receberão o que têm de direito. Obrigado, Presidente.
Sr. Presidente, eu quero compartilhar com o Plenário do Senado a decisão tomada pelo Governo brasileiro em relação ao boicote que estavam fazendo na fronteira Rio Grande do Sul - Argentina. Então, divido aqui com o Senado, com os calçadistas, com os trabalhadores gaúchos a notícia de que o governo argentino, enfim, liberou os produtos brasileiros que estavam retidos nas fronteiras, quase um milhão de pares de calçados, e quantidade enorme também de móveis e de embutidos.
O embargo ameaçava a situação econômico-financeira das empresas desses setores. Preocupados com essa situação, os empresários do Vale dos Sinos me procuraram para agendar uma reunião com a Ministra-Chefe da Casa Civil, Gleisi Hoffmann. Assim eu fiz, e fui acompanhado dos Srs. Rosnei Alfredo da Silva, Diretor da Abicalçados; Eduardo Schefer, Diretor do Grupo Priority; Marco Aurélio Kirsch, Diretor da Associação Calçadista de Novo Hamburgo; e dos parlamentares que nos acompanharam, Senadora Ana Amélia e os Deputados Federais Marco Maia e Renato Molling.
Estivemos, assim, no último dia 27 de novembro, com a Ministra Gleisi. Na oportunidade, a Ministra nos afirmou que o Governo Federal ia enviar à Argentina uma missão para solucionar o impasse dentro de poucos dias - ela falou dois ou três dias.
Cumprimento aqui a mediação do Ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, Fernando Pimentel. Foi relevante para que chegássemos a uma solução favorável aos produtores e trabalhadores gaúchos.
Quero elogiar também a posição firme, decidida da Ministra Gleisi e do empresariado gaúcho, que não se deixaram abalar e saíram em defesa dos interesses do Rio Grande e do Brasil.
Segundo dados da Abicalçados, o setor amarga prejuízo acumulado de mais de US$13,2 milhões, causado pelo embargo da entrada de, aproximadamente, 800 mil pares de calçados naquele país.
De janeiro a setembro deste ano, os argentinos compraram 6,76 milhões de pares, pelos quais pagaram US$98,7 milhões, uma queda de 2% em pares de sapatos comparada ao mesmo período do ano passado.
De outro lado, o comércio entre os dois países, de janeiro a setembro de 2013, apresentou um superávit de US$2,1 bilhões.
Reafirmo aqui, e já disse, quando do início deste debate: o Brasil tem mantido uma política amigável com os parceiros econômicos e tem preservado boas relações com os demais países, especialmente com os hermanos do Mercosul, mas não abriremos mão de preservar os interesses dos empresários e dos trabalhadores brasileiros. Não abriremos mão de defender a liberação do comércio e a remoção de barreiras nas fronteiras, meta, inclusive, pregada, difundida, falada e defendida pela própria OMC (Organização Mundial do Comércio).
O crescimento das empresas transnacionais está desempenhando papel cada vez mais relevante no comércio mundial, exigindo o rompimento de quaisquer barreiras, especialmente as tarifárias. É importante que as relações do Mercosul caminhem nesse sentido, levando políticas mais audaciosas frente às negociações mundiais para que haja o fortalecimento do nosso bloco aqui do sul da América.
Quero encerrar, cumprimentando a atitude do Governo brasileiro e também a forma como, enfim, o governo da Argentina entendeu e caminhou na linha da conciliação, em prol do fortalecimento das relações do Mercado Comum do Sul do Brasil.
Sr. Presidente, além deste fato, eu gostaria muito de lembrar que hoje, às 18 horas, vou participar da retomada do lançamento da revista Thoth, Escriba dos Deuses, Pensamento dos Povos Africanos e Afrodescendentes. Celebramos, assim, o início de um novo momento, com os pensamentos de Abdias Nascimento.
Comento aqui sobre esse evento que será às 18 horas. Começo falando que a moçambicana Graça Machel, companheira do nosso inesquecível Nelson Mandela, lembrou, no dia de ontem, uma frase dele: “Aquilo que conta na vida não é o simples fato de termos vivido, é a diferença que fizemos na vida dos outros”.
Abdias Nascimento fez muita diferença na vida do povo brasileiro. Mesmo depois de sua passagem, o nosso convívio não silenciou: pelos seus escritos, há um despertar diferente em nossas almas em cada manhã, em cada noite. Se nos faltam forças para seguir adiante, subir montanhas, atravessar desertos, certamente, buscamos beber na fonte inesgotável da sabedoria, compreensão, justiça, solidariedade na enciclopédia de vida e conduta que foi Abdias Nascimento.
Hoje, vou participar, às 18 horas, do lançamento da reimpressão das revistas THOTH - Escriba dos Deuses, Pensamento dos Povos Africanos e Afrodescendentes. Celebramos, como eu disse, o início de um novo momento no pensamento de Abdias Nascimento.
Esse resgate da memória de Abdias, os seus escritos, os espaços disponibilizados por ele para o debate são de extrema importância para o País. Creio eu que outros momentos como este irão acontecer, já que estamos perto do seu centenário, que será em 14 de março de 2014.
Termino cumprimentando todos e todas que vão participar desse evento e que não esqueceram Abdias neste momento em que o mundo chora a morte de Nelson Mandela. Àqueles que tiveram a iniciativa desta reimpressão, deste momento tão feliz, momento em que celebramos a vida lembrando alguém que já faleceu, eu quero lembrar que, numa época, em vida ainda - Abdias fazia 90 anos -, eu escrevi, a pedido do Itamaraty, algo para ele. Escrevi um poema a Abdias que diz assim:
Tua vida, Abdias, foi dedicada a essa causa, a nossa causa, à causa da nossa nação.
Abdias, meu velho e querido Abdias [ele estava lá sentadinho ouvindo], o nosso povo há de contar em versos e prosa a tua história. A história de um guerreiro, a história de um lutador.
Os poetas vão lembrar de Abdias, falando de paz, rebeldia e, tenho certeza, a emoção será tão forte como é hoje o que sentimos [aqui] quando ouvimos a batida do tambor [homenageando você, Abdias, o nosso rebelde indomável].
Falarão [as gerações futuras] de um homem negro, de cabelos brancos e barba prateada, que, independentemente do tempo, nunca parou.
Fez da sua guerra a nossa batalha, como ninguém. Nunca tombou. Foi dele e é nossa a bandeira da igualdade, da justiça e da liberdade.
Abdias, tu és exemplo para todos nós. Tu és um homem que viveu à frente do teu tempo.
Que as gotas de sofrimento arrancadas do teu corpo se tornem pérolas, luzes a iluminar a jornada do nosso povo, da nossa gente. [Abdias] Tu nos deixas [para sempre] uma lição de vida.
(...)
Este poema que fiz para Abdias declamei na frente dele, e ele, sentado na cadeira, só me olhava, e eu sentia que uma pequena lágrima caía dos seus olhos.
Dizia eu:
[Abdias] Viverás para sempre junto de nós. A rebeldia de tuas palavras, que somente os guerreiros ousam, estão cravadas na história da humanidade, nos nossos corações e mentes.
Sr. Presidente, Abdias era alguém que não tinha nenhuma razão para falar para agradar; ele falava o que sentia. Aí eu me lembro de uma frase de Mandela que diz mais ou menos o seguinte: quando você fala para que o outro te entenda, pode ter certeza de que ele vai guardar o que você falou, mas, quando você fala com a alma o que está sentindo em relação a ele, pode saber que isso vai ficar gravado sempre no seu coração. Isto é do Mandela, e é assim que o Abdias falava.
Enfim, é muito bom saber que hoje vamos participar de um evento que vai acabar, com certeza, fazendo uma homenagem justa a Mandela, mas também a Abdias.
Sr. Presidente, eu queria deixar registrado nos Anais da Casa um artigo que escrevi e foi publicado no Jornal do Brasil e Sul em homenagem a Mandela com o título “Meu coração chora”. Na verdade, é uma síntese - é por isso que não vou lê-lo - do discurso que eu fiz aqui na sexta-feira. Muito mais do que falar de algo que eu escrevi e de um poema que eu fiz, eu ainda queria, nesta segunda-feira, quando o mundo homenageia Mandela, Sr. Presidente, ler aqui algumas frases do Mandela, porque elas são lições de vida. Só vou ler as frases.
Sr. Presidente, este é um momento mágico da nossa caminhada. Eu tive a alegria de entregar nas mãos de Nelson Mandela a Medalha e o Diploma consagrados, aqui, no Congresso, como a mais alta honraria que recebe um Chefe de Estado. Só que ele não era Chefe de Estado. Ele tinha conquistado sua liberdade, não foi libertado. Como nós tínhamos ido lá para convidá-lo, ele veio aqui e nós entregamos a ele como se ele fosse Chefe de Estado. Em seguida, ele se tornou Chefe de Estado.
Aqui, eu tenho algumas frases de Nelson Mandela que quero dividir com vocês, frases que guiaram meus passos ao longo da minha vida. Eu vou entrar nas frases rapidamente e depois vou passar para o nosso Senador Capiberibe.
Algumas das frases do Mandela.
"Tudo parece impossível até que seja feito."
"Ser pela liberdade não é apenas tirar as correntes de alguém, mas viver de forma que respeite e melhore a liberdade dos outros."
Em outra, ele diz: "Eu aprendi que a coragem não é a ausência de medo, mas o triunfo sobre ele. O homem corajoso não é aquele que não sente medo, mas aquele que conquista [o melhor para o seu povo] por cima do medo."
Outra frase, que eu já repeti aqui: "Se falares a um homem numa linguagem que ele compreenda (...)”
Uma frase famosa: "Ninguém nasce odiando outra pessoa pela cor de sua pele, por sua origem ou ainda por sua religião. Para odiar, as pessoas precisam aprender e, se podem aprender a odiar, [muito mais facilmente] podem ser ensinadas a amar."
Outra frase: "Quando penso no passado, no tipo de coisas que me fizeram, sinto-me furioso, mas, mais uma vez, [eu entendo que] isso é apenas um sentimento. O cérebro sempre domina e diz-me: tens um tempo limitado de estada na Terra e deves tentar usar esse período para transformar o teu país naquilo que desejas."
Outra do Mandela: "Sonho com o dia em que todos levantar-se-ão e compreenderão que foram feitos para viverem como irmãos." Todos vão se levantar e vão entender que foram feitos para viverem como os demais.
"Se tu queres fazer as pazes com o teu inimigo, tens que trabalhar com o teu inimigo. E então ele torna-se o teu parceiro."
"Uma boa cabeça e um bom coração são sempre uma combinação formidável."
Outra: "Depois de termos conseguido subir a uma grande montanha, só descobrimos que existem ainda mais grandes montanhas para subir." Esta é muito interessante.
Ele termina dizendo: "É melhor liderar a partir da retaguarda e colocar outros à frente, especialmente [aí é que é o detalhe] quando estamos a celebrar uma vitória por algo de muito bom que aconteceu. Mas deves tomar a linha da frente quando há perigo [quando há perigo, o líder tem de ter a coragem de ir para a linha de frente]. Desta forma as pessoas irão apreciar a tua liderança."
Ele diz: "O dinheiro não cria o sucesso, mas, sim, a liberdade cria o sucesso."
"A educação é a arma mais poderosa que você pode usar para mudar o mundo."
“Democracia com fome, sem educação e saúde para a maioria é uma concha vazia”.
“Eu sou o capitão da minha alma”.
Termino lembrando que eu li aqui na sexta o poema de que ele mais gostava, um poema chamado O Indomável.
Senador Capiberibe, aqui encerro meu pronunciamento, mas, com alegria, concedo um aparte a V. Exª.
O Sr. João Capiberibe (Bloco Apoio Governo/PSB - AP) - Senador Paulo Paim, eu ouvia com atenção o discurso de V. Exª. De fato, Mandela, um ser humano e um líder político raro na história da humanidade, partiu e nos deixou doces lembranças e, sobretudo, muita saudade. Eu, particularmente, tive e tenho orgulho de ter, em algum momento da minha vida, apoiado a ANC, o Congresso Nacional Africano, partido liderado por Mandela, que, por meios necessários naquele momento, lutava para reconquistar a liberdade perdida do povo sul-africano. Em 1978 e 1979, nós vivíamos em Moçambique. Nós saímos do Canadá, de Montreal, para participar e colaborar com a independência moçambicana, que, em 1975, tinha se libertado do jugo colonial português. Nós estávamos lá, no país ainda dilacerado pela guerra. Ao mesmo tempo em que apoiávamos a independência moçambicana, havia um grupo de brasileiros que apoiavam a ANC, liderada por Mandela. Esse apoio, claro, consistia em abrigar militantes da ANC e, também, esconder armas e munição que passavam por Moçambique em direção à África do Sul. E alguns companheiros dessa época não chegaram a ver o sucesso da luta da ANC e de Nelson Mandela. Ele estava na prisão em 1978 e 1979, assim como as principais lideranças da ANC, mas eu tenho o orgulho de ter participado daquele momento e de ter acompanhado toda essa trajetória, inclusive, a realização do sonho do pan-africanismo de Mandela, porque era sonho dele construir uma sociedade verdadeiramente democrática. Esse é o grande sucesso. E todos nós, no mundo todo, estamos lembrando a partida de Mandela com inteira razão. Trata-se de um ser humano único e de uma liderança política que nos enche de orgulho, não só o povo sul-africano, mas o povo do mundo todo. Foi um homem que lutou pelos direitos humanos e lutou pelo equilíbrio dentro da sociedade. Portanto, quero parabenizá-lo pelo pronunciamento e dizer que V. Exª representa bastante, muito, os ideais de Nelson Mandela aqui, em nosso País. Muito obrigado.
O SR. PAULO PAIM (Bloco Apoio Governo/PT - RS) - Muito obrigado, Senador.
As suas palavras dizendo que perseguimos, com dificuldade, mas perseguimos os ideais de Mandela são algo que eu guardarei sempre na história da minha vida. É gostoso ouvir isto, saber que o Senador Capiberibe, Senador por quem tenho o maior respeito, diz, na tribuna do Senado, que procuramos seguir os ideais de Nelson Mandela.
Obrigado, Senador.
Senador Cristovam, por favor.
O Sr. Cristovam Buarque (Bloco Apoio Governo/PDT - DF) - Senador Paim, pode continuar dizendo que as palavras do Senador Capiberibe o inspiram muito, mas ponha meu nome assinado embaixo do que ele disse. Eu creio que o mundo inteiro é admirador fiel do Mandela, mas, se formos escolher as pessoas que mais se identificam aqui com aquela visão do mundo, eu acho que escolheremos o senhor, não só pela cor, pela negritude, pela raça, por assumir esse lado, que muitos nem assumem tanto, como também pela sua defesa intransigente de todos os direitos trabalhistas em qualquer tema que apareça aqui. Então, quando eu soube da morte do Mandela, eu me lembrei imediatamente do senhor, porque já o ouvi falar tanto aqui, até chorando de emoção, em alguns momentos, que é a pessoa que identifica. Então, aqui fica meu respeito, minha solidariedade e a certeza de que o senhor representa muito bem esse grande ícone, o maior de todos que tivemos durante, pelo menos, a nossa vida.
O SR. PAULO PAIM (Bloco Apoio Governo/PT - RS) - Senador Cristovam, acho que a melhor forma não de retribuir, mas de reconhecer a sua história, é dizer que foi de V. Exª que eu ouvi, pela primeira vez, que a verdadeira revolução começa pela educação. Depois, Senador Cristovam, eu fui às frases de Mandela, e Mandela diz exatamente a mesma coisa. Só que eu tinha ouvido isto de V. Exª há muitos e muitos anos atrás, logo que nos conhecemos. V. Exª disse: “Paim, é preciso que as pessoas entendam que a verdadeira revolução passa pela educação”. Depois, fui ver que, num discurso, em Moçambique, há uma frase de Mandela que diz exatamente isto, que a verdadeira mudança, que a verdadeira revolução passa pela educação.
Acho que, com isto, eu mostro que há uma identidade de nós todos aqui com a caminhada desse ícone, desse ser iluminado, eu diria, alguém que conseguiu unir o mundo. O mundo todo olha para Mandela e reconhece nele um herói, um herói de todos os tempos. Como sempre digo, ele esteve à frente do seu próprio tempo, para assumir a postura que ele teve, como essa que eu disse aqui. Ele disse que o verdadeiro líder é aquele que dialoga com seu inimigo, na busca de que ele entenda a sua visão, de que ele possa ser parceiro naquilo que ele quer, que é a melhoria para todo o seu povo. Ou seja, conversar, dialogar e brigar no bom sentido, na conversa, não é crime.
Uma vez, perguntaram-me, Senador - permita-me que eu lhe diga isto neste momento -, se, quando quero aprovar um projeto aqui, como, por exemplo, o da igualdade racial, que foi inspirado em Mandela... Eu recebi de Winnie Mandela a Carta da Liberdade, quando lá estivemos em 1989, logo após a Constituinte, em uma missão do Governo brasileiro. Eu recebi do Congresso Nacional africano a Carta da Liberdade, que foi, segundo dito por eles, elaborada por Nelson Mandela. Eu a trouxe para o Brasil. E começamos o debate do que hoje é a Lei do Estatuto da Igualdade Racial.
Ao lembrar tudo isso, Senador, mostro que nós todos temos uma identidade muito grande com Mandela, e é um orgulho caminharmos juntos na construção de um País melhor para todos. É por isso que sua fala aqui faz com que eu lembre momentos como esse.
Enfim, Senador, muito obrigado pela forma como V. Exª aqui apontou a importância dessa caminhada que passa pela educação.
Eu queria terminar meu pronunciamento, fazendo um convite a todos os senhores. Eu estava falando e pensando no convite que eu tinha de fazer.
Às 18 horas, Senador Cristovam, nós vamos fazer uma homenagem a Abdias na Biblioteca. Falaremos sobre os escritos de Abdias. No mundo, é claro, Mandela é reverenciado. Gosto de Mandela, de Gandhi, de Martin Luther King, que é uma figura histórica e que procuro ler e conhecer. Mas, no Brasil, há duas figuras que reverencio: Zumbi e Abdias Nascimento, que foi do seu Partido e que faleceu há pouco tempo.
Hoje, vai ser lançada, mais uma vez, uma revista sobre a história, a caminhada, os pensamentos de Abdias, às 18 horas. Tenho de ir para lá. Por isso, dentro do possível, se os senhores quiserem, estaremos juntos nessa homenagem ao grande Abdias.
Sr. Presidente, muito obrigado pela tolerância.
DOCUMENTO ENCAMINHADO SR. SENADOR PAULO PAIM EM SEU PRONUNCIAMENTO.
(Inserido nos termos do art. 210, inciso I e § 2º, do Regimento Interno.)
Matéria referida:
- “Meu coração chora”; Jornal do Brasil e Sul.