Discurso durante a 231ª Sessão Deliberativa Extraordinária, no Senado Federal

Destaque para a importância da maçonaria para o País; e outros assuntos.

Autor
Osvaldo Sobrinho (PTB - Partido Trabalhista Brasileiro/MT)
Nome completo: Osvaldo Roberto Sobrinho
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
HOMENAGEM. SENADO.:
  • Destaque para a importância da maçonaria para o País; e outros assuntos.
Publicação
Publicação no DSF de 19/12/2013 - Página 97713
Assunto
Outros > HOMENAGEM. SENADO.
Indexação
  • APRESENTAÇÃO, VOTO DE PESAR, RELAÇÃO, MORTE, SENADOR, ESTADO DO TOCANTINS (TO).
  • ELOGIO, TRABALHO, SENADO, FORTIFICAÇÃO, DEMOCRACIA, CONGRATULAÇÕES, REALIZAÇÃO, SESSÃO, DEVOLUÇÃO, SIMBOLO, MANDATO, EX PRESIDENTE DA REPUBLICA, VITIMA, GOLPE DE ESTADO, MILITAR.
  • ANALISE, IMPORTANCIA, MAÇONARIA, HISTORIA, PAIS.

            O SR. OSVALDO SOBRINHO (Bloco União e Força/PTB - MT. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores da República, dia feliz hoje no Senado da República, muito feliz. Assuntos bons, o Presidente fazendo o seu relato, dando um exemplo de austeridade, de responsabilidade, de seriedade no serviço público. O Presidente que encerra os trabalhos, eu diria, com chave de ouro. Portanto, eu quero parabenizar o Senador Renan pela sua luta, pelo seu trabalho e pela prestação de contas que fez hoje ao Senado da República.

            Quero parabenizar também o Senador Randolfe pela grande sessão que proporcionou a esta Casa, hoje, resgatando a história legítima do Brasil, dando de volta o mandato do Presidente João Goulart, que fora tirado de uma forma estranha, de uma forma indevida e de uma forma antidemocrática. E o Senador Randolfe conseguiu, com o seu projeto de lei, resgatar esse mandato e o entregar a família de uma forma simbólica, e, conseqüentemente, dizer ao Brasil todo e a esta Casa que a democracia não está à venda, que a cidadania não está à venda, que as instituições estão fortes e que elas vão fazer valer a vontade do povo brasileiro.

            Parabenizo o Senador Randolfe por este trabalho, por esta luta. Eu também subscrevi o seu projeto à época. E quero dizer que foi um ato para mostrar ao Brasil que as coisas mudaram, que os tempos mudaram e que, na verdade, a democracia está aí para valer. A democracia está aí para, na verdade, dar ao cidadão as suas condições necessárias para viver em um país moderno.

            A mensagem triste do dia eu poderia dizer que foi o passamento do Senador João Ribeiro, do Tocantins, que, lastimavelmente, hoje, faleceu em São Paulo. Mas este homem prestou um grande serviço à Nação brasileira.

            Lembro-me de quando eu era assessor parlamentar do DNIT, aqui em Brasília, e das reivindicações do Senador João Ribeiro. Quando eu lá estava, ele ia àquele Departamento de Infraestrutura para reivindicar coisas para o seu Estado. Era um homem dotado realmente de um espírito republicano e representava com muita dignidade o povo do seu Estado, o povo do Tocantins.

            Lastimavelmente, na tarde de hoje, nós já não temos o Senador em nosso meio. Mas ficam os seus exemplos, fica a sua luta, fica o seu trabalho, ficam os seus sonhos e ficam também as suas utopias para todos nós pensarmos, reverenciarmos e, conseqüentemente, seguirmos como exemplo para esta Nação.

            Mas o assunto, Sr. Presidente, de que eu quero tratar agora na tribuna do Senado da República, na verdade, não são esses que aqui relatei. Apenas fiz uma retrospectiva do trabalho de hoje, porque foi um dia fértil, um dia produtivo, um dia muito rico para este País que se encaminha para uma grande democracia.

            Eu quero falar hoje sobre uma instituição democrática, uma instituição que, na verdade, ajudou o Brasil desde o período colonial, uma instituição que verdadeiramente tem sido a salvaguarda das democracias, das repúblicas, dos homens livres, dos homens de bons costumes, dos homens que verdadeiramente querem e constroem um mundo melhor.

            Quero falar, na noite de hoje, aos meus irmãos da maçonaria universal.

            Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, ao longo dos séculos, os membros da maçonaria têm oferecido, a inúmeros povos no mundo, o exemplo de dedicação e zelo às melhores causas.

            A independência do Brasil, por exemplo, contou com a contribuição de lojas maçônicas, cujos membros pugnavam, no início do século 19, pela liberdade e pela autonomia dos nossos concidadãos do passado. O simbólico Dia do Fico de Dom Pedro, futuro imperador do Brasil, ocorrido em 9 de janeiro de 1822, resultou de importantes debates entre os maçons do Rio de Janeiro, nossa legítima e bela capital no Império.

            A maçonaria foi também decisiva para que Dom Pedro, após a Independência, no dia 7 de setembro de 1822, viesse a se tornar Imperador, em 12 de outubro daquele ano. Dom Pedro I foi também proclamado grão-mestre da maçonaria, motivo de imensa honra para todos nós maçons.

            Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, a maçonaria brasileira, sempre atenta ao sentido profundo dos ventos das mudanças, soube entender a importância da transição da forma monárquica de governo para o republicanismo, já no final do século IXX. Proclamada a República pelo Marechal Deodoro da Fonseca, o Brasil seria, a partir de então, governado por nada menos que oito presidentes maçons na Primeira República, de um total de doze mandatários que se sucederam ao longo do período.

            A História do Brasil também registra que Rui Barbosa, Benjamin Constant e tantos outros membros da República eram integrantes também da maçonaria, todos eles organizados dentro da República para trazer tranquilidade aos governos que estavam instalados.

            Portanto, eu poderia dizer ainda que o Grão-Mestre Quintino Bocaiúva era também um dos membros importantes tanto do Governo como da maçonaria.

            Do mesmo modo, destacados maçons deixaram a marca de sua presença em movimentos libertários do Brasil Colônia, como a Inconfidência Mineira e a Conjuração Baiana, no final do século XVIII.

            Sob o ideal da liberdade, tão bem simbolizado na máxima Libertas Quae Sera Tamen, que guiava o movimento nas Minas Gerais, reuniam-se importantes personalidades da maçonaria, como Joaquim José da Silva Xavier, o Tiradentes; Thomas Antônio Gonzaga; Cláudio Manoel da Costa e Alvarenga Peixoto, dentre outros.

            No campo da cultura e das artes, ainda no período do Brasil Colônia, destacou-se como maçom de grau 18 o ilustre Francisco Antônio Lisboa, mais conhecido como Aleijadinho, escultor de obras sacras de reconhecimento internacional e mundial. Em suas fabulosas esculturas, os três anjos dispostos em triângulo configuraram a homenagem do artista ao triângulo maçônico.

            Srªs e Srs. Senadores da República, inúmeras foram as circunstâncias políticas e sociais de protagonismo da maçonaria nas terras brasileiras, destacando-se, entre tantas, o papel exercido pelos maçons no fim da escravidão, a verdadeira nódoa de sofrimento e iniquidade da nossa História brasileira.

            Desde a Descoberta da América, o modo de produção escravagista predominou no nosso continente, e no Brasil os ricos engenhos, com os seus senhores que dominavam a economia nacional, refutavam com veemência a libertação dos escravos, cujos corpos faziam as vezes, na estreita visão dos poderosos, de máquinas a serviço da produção agrícola, em triste contraste com as verdadeiras máquinas da Revolução Industrial trazidas da Inglaterra.

            Graças à força persuasiva de intelectuais e ativistas maçons da envergadura do Visconde do Rio Branco, de José do Patrocínio, de Joaquim Nabuco, de Eusébio de Queiroz, de Quintino Bocaiúva, de Rui Barbosa, de Cristiano Otoni e do poeta Castro Alves, o Brasil pode finalmente se livrar do carma histórico da escravidão, cujas funestas consequências se fazem sentir até o presente em nossa sociedade, materialmente rica e ainda desigualmente constituída sem oportunidades.

            Srªs e Srs. Senadores, o valor e a importância da maçonaria têm se revelado não apenas no Brasil, mas em outras terras e em outros tempos também. Na Revolução Francesa, em 14 de julho de 1789, e, pouco antes, na Independência dos Estados Unidos, em 4 de julho de 1776, a maçonaria atuou decisivamente para veicular na história da humanidade os mais elevados desígnios humanos: a promoção da liberdade política, da igualdade e da fraternidade entre todos os filhos de Deus, o direito inalienável dos povos na gestão do seu próprio destino e de seus próprios negócios.

             Ao ser humano espantado por sua vida em sociedade, ao caminhante boquiaberto em sua trôpega caminhada por entre o mobiliário do mundo, as mais profundas e radicais perguntas se impõem desde que o mundo é mundo. Nosso espanto aristotélico em nada difere do espanto dos que nos antecederam ou do espanto que haverá de assaltar a alma dos que ainda não foram concebidos.

            Na tentativa de buscar respostas aos tantos mistérios da vida no plano material e de imprimir sentido aos nossos destinos pessoais e coletivos, a maçonaria tem atuado, dia após dia, ano após ano, século após século, na vida das pessoas que habitam o Planeta. Trata-se, em verdade, de uma associação semi-secreta presente em todo o mundo e que mantém como norte magnético os elevados princípios da fraternidade e da filantropia. É isso o que nos mantém coesos.

            Entre os maçons, a moral, a fraternidade e a retidão se fazem representar por três objetivos: o livro sagrado, o compasso e o esquadro. Por outro lado, a crença em um ser supremo faz da maçonaria uma entidade suprarreligiosa e aberta a integrantes de diversas comunidades espirituais e teístas, como os judeus ou os muçulmanos; os budistas ou cristãos.

            No presente, tanto no Brasil quanto nos demais países do mundo, os descaminhos da política resultam na diminuição gradual da participação da maçonaria nas instâncias de poder. Os maçons, certos de sua impermanência e também da relevância do seu papel na breve caminhada do indivíduo pelo mundo das coisas, têm se concentrado na tarefa da filantropia, da caridade e do auxílio desinteressado ao próximo, aos tantos que sofrem a aberração dos desmandos e da opressão em sociedades em que a democracia e as liberdades públicas, claudicantes e incertas, ainda não deitaram raízes.

            O bom maçom reitera a velha lição do matemático Pitágoras, que há muito afirmou, aspas: “anima-te por teres de suportar as injustiças; a verdadeira desgraça consiste em cometê-las”, fecha aspas.

            Srªs e Srs. Senadores da República, em algum mês incerto do ano de 2313 - repito, em algum mês incerto do ano de 2313 - certo Parlamentar brasileiro, tão estupefato quanto nós ante o fenômeno do universo, haverá de reiterar, em algum espaço público de representação coletiva, os valores atemporais da maçonaria. Daqui a mil anos, teremos gente aqui falando dessa maçonaria.

            Entre os anos de 2013 e de 2313, sucessivas gerações de mulheres e homens terão palmilhado o mesmo mundo por onde caminhamos, e todas as nossas pegadas, como que marcas sobre a cálida areia da praia, terão sido desfeitas por ondas e chuvas, em eterna alternância.

            Entre os cidadãos do passado longínquo e os cidadãos do futuro distante, tão iguais em seu júbilo e em suas múltiplas aporias, cumpre a nós, neste fugaz instante, render homenagem à maçonaria, na certeza de que o Deus arquiteto, o Deus matemático, o Deus lógico, o Deus exato, que imprimiu ordem e previsibilidade ao universo, o indecifrável Deus engenheiro, manifesto e oculto em todas as línguas humanas, sempre haverá de contar com o maçom, seu humilde operário, o maçom que, com humildade e amor, manipula compasso e esquadro na edificação do próprio mundo, nosso grande templo sagrado.

            Instrumentalizado pela própria Divindade, o maçom-operário labora, no plano material, pelos melhores desígnios do Deus poeta, do Deus artista, do Deus filósofo e do Deus literato, a máxima difusão do amor, da concórdia, do desapego, da felicidade, do respeito, do humanismo e da fraternidade, entre os seres humanos e entre os povos e sociedades.

            Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, a maçonaria brasileira tem prestado um grande serviço à sociedade, quieto, calado, no segredo, dando com uma mão e escondendo com a outra, porque não interessa a nenhum dessa instituição aparecer fazendo benemerência, interessa que a sociedade seja mais assistida, que os pobres, os famintos, os miseráveis tenham, também, o seu lugar no espaço e que se possa fazer uma melhor divisão das riquezas que se produzem neste País.

            A maçonaria, ao longo de três séculos em que é instituída, tem feito e tem mostrado o seu trabalho onde ela está - não a maçonaria como instituição, mas os maçons que estão nas instituições, levando o seu apreço, o seu carinho e a sua humanização. Eu tenho certeza de que a maçonaria brasileira e também a maçonaria mato-grossense, que parte dela eu represento, tem feito o seu papel.

            Ai dos Governantes se não fossem a maçonaria e as religiões! Elas, sem quererem nada em troca, tiram as pessoas das calçadas, da sarjeta, da lama, da miséria, da insubordinação, da indiferença social, da vala comum da miséria e faz a inclusão dessas pessoas no processo social.

            O Governo sozinho não dá conta de resolver os problemas sociais. Está provado isso aí. As instituições, os centros espíritas, as igrejas evangélicas e a maçonaria é que fazem com que isso possa acontecer, dando a sua mão, a sua colaboração e fazendo com que elementos se sintam importantes na sociedade.

            É a esse povo que eu estou a falar hoje, já no encerrar dos trabalhos deste Congresso Nacional, deste Senado da República. Num dia feliz como hoje, em que tantas coisas boas aconteceram, eu fico feliz de poder encerrar o meu pronunciamento na noite de hoje falando sobre essa nobre, histórica e importante associação de homens livres e de bons costumes que é a maçonaria.

            Tem crescido muito no Brasil e no mundo. No Brasil, principalmente, o Rito do Real Arco tem crescido muito, porque as pessoas entendem a sua simplicidade, mas entendem a sua efetividade e princípios. Não só esse Rito, mas todos os outros - o Rito Adonhiramita, o Rito Escocês Antigo e Aceito, o Rito Brasileiro, que é o nosso rito nacionalista, o Rito Schröder, que também é o rito dos viajantes. Todos esses ritos têm crescido no trabalho da humildade, da tranquilidade, de pessoas que nascem para servir, nas pessoas que vivem porque sabem servir os outros.

            Portanto, nós, maçons do Brasil como um todo e do mundo, somos pessoas que verdadeiramente se colocam à disposição, renunciamos às nossas vontades pessoais para ver a vontade da coletividade sendo seguida, sendo melhorada, para que se possa distribuir mais oportunidade.

            Sr. Presidente, parabenizo todos os maçons, principalmente de Mato Grosso, os maçons do Brasil, que tem feito essa grande criação, essa grande pirâmide de aspirações para aqueles que acreditam nas instituições. Nós agradecemos, porque eles têm feito o máximo pela sociedade.

            Quero dizer a estes irmãos nossos que, onde quer que estejam, continuem fazendo seu trabalho e que Deus, o Supremo Arquiteto do Universo, possa dar a todos eles uma vida feliz, possa dar um Natal feliz a todas essas pessoas e um Ano Novo muito mais feliz ainda. A todos os dirigentes maçônicos do Brasil, das Três Potências Maçônicas de Mato Grosso e a todos os veneráveis mestres das grandes Lojas, do Estado de Mato Grosso e do Brasil, quero externar a minha solidariedade na certeza de que todos eles estão cumprindo a Constituição brasileira, no que diz o art. 5º da Constituição, dos direitos fundamentais do cidadão, no art. 6º e o art. 4º, onde se vê os direitos fundamentais, os direitos coletivos e também os direitos sociais das pessoas que vivem nesse País.

            Sr. Presidente, estou muito feliz por terminar o meu pronunciamento falando dessa instituição que preservo e que estou ajudando a construir há 39 anos. Tenho certeza que ela viverá milênios. No ano 2013, daqui a mil anos, veremos mais ainda o que ela fez de concreto para redimir, para melhorar, para humanizar a sociedade que aí está.

            Sr. Presidente, muito obrigado por ter me ouvido nesta noite. Agora são praticamente 9 horas da noite, mas eu não poderia deixar de trazer a mensagem aos homens livres e de bons costumes que fazem a maçonaria do Brasil, principalmente a de Mato Grosso.

            Muito obrigado.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 19/12/2013 - Página 97713