Discurso durante a 231ª Sessão Deliberativa Extraordinária, no Senado Federal

Preocupação com os indicadores sociais do País.

Autor
Cristovam Buarque (PDT - Partido Democrático Trabalhista/DF)
Nome completo: Cristovam Ricardo Cavalcanti Buarque
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
POLITICA SOCIAL, POLITICA DE DESENVOLVIMENTO, PRESIDENTE DA REPUBLICA, ATUAÇÃO.:
  • Preocupação com os indicadores sociais do País.
Publicação
Publicação no DSF de 19/12/2013 - Página 97993
Assunto
Outros > POLITICA SOCIAL, POLITICA DE DESENVOLVIMENTO, PRESIDENTE DA REPUBLICA, ATUAÇÃO.
Indexação
  • REGISTRO, PRECARIEDADE, SITUAÇÃO, PAIS, AMBITO, BEM ESTAR SOCIAL, EDUCAÇÃO, CIENCIA E TECNOLOGIA, EXPECTATIVA, AUMENTO, RESPONSABILIDADE, POLITICA, CANDIDATO, PRESIDENCIA DA REPUBLICA, POPULAÇÃO, OBJETIVO, CRESCIMENTO, MELHORIA, BRASIL.

            O SR. CRISTOVAM BUARQUE (Bloco Apoio Governo/PDT - DF. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Senador Osvaldo Sobrinho, que me dá a honra de presidir esta sessão, pelo seu discurso que acaba de fazer; Senador Maldaner, Srs. Senadores, Srªs Senadoras, dizem que as coisas no mundo todo se interligam. Outros acham que não, são separadas. Mas dois fatos aconteceram nesta semana, e eu gostaria de chamar a atenção para a ligação entre eles, apesar de parecerem tão distantes.

            O primeiro é a compra ontem de caças para a nossa Força Aérea, caças suecos. O outro é o fato de que, no sábado, a República Popular da China conseguiu pousar na lua uma nave espacial.

            Qual é a correlação entre esses dois fatos? A correlação é que a China, que até 40, 50 anos atrás estava atrás do Brasil, hoje consegue colocar uma nave espacial pousada na lua, com um robô passeando pelo solo lunar. O Brasil, que 50 anos atrás estava na frente da China, hoje não consegue fazer caças para a sua Aeronáutica. Há uma correlação.

            E não é só a China. A Índia já mandou uma nave para Marte, está a caminho de Marte. Não tem sido muito divulgado isso. O Irã, o pobre Irã, já mandou um satélite com um cachorrinho dentro, que foi e voltou. Foram capazes de enviar e recuperar.

            O Paquistão já tem uma capacidade de telecomunicações, teleguiados. As duas Coreias, países pequenos...

            O Japão, que é um país rico e que, décadas atrás, estava destruído por causa da guerra, hoje está construindo uma central de energia solar no espaço. Eles vão coletar a energia do sol lá em cima e mandar para a Terra! E nós ficamos para trás.

            O pior não é só isso. O pior é que, no próximo ano, vamos ter a chance de reorientar o futuro do Brasil para recuperar o tempo perdido, e os nossos candidatos a Presidente ainda não disseram exatamente o que vão fazer. A população, os eleitores estão muito mais preocupados com a Copa do Mundo do que com as eleições presidenciais. Isso é uma tragédia!

            Vejam como está o Brasil de hoje, apesar de sermos a sexta potência econômica do mundo, apesar de sermos um dos países mais ricos do mundo: 50 mil brasileiros são assassinados por ano nas ruas, nas quais já não temos possibilidade de caminhar sem medo! E olhem que muitos nem caminham mais nas ruas. Ficam presos nos seus condomínios, saem num carro blindado, voltam para os seus condomínios, passam, às vezes, por um shopping center fechado. Até os cinemas, a que quando eu era jovem ia e depois tomava um café na esquina, hoje são dentro dos shoppings, porque, se forem em ruas, as pessoas não irão. Cinquenta mil mortos por ano! Outros 50 mil brasileiros mortos por acidentes de trânsito.

            Ou seja, nós perdemos em um ano, com o trânsito, o que os americanos perderam na Guerra do Vietnã. Perdemos em um ano, em assassinatos, o que eles perderam no Vietnã. Perdemos em um ano duas vezes, pela violência, o que eles perderam.

            Mas não param aí os indicadores de que precisamos mudar.

            O Brasil hoje - não somos o único país, mas é o meu, e por isso preocupa - é um país cuja juventude está caminhando, a passos rápidos, para a dependência na droga. Os finais de semana dos nossos jovens são passados em bares, e uma parte não desprezível hoje são como zumbis nos centros das cidades, por conta da droga.

            Nossa economia se desindustrializa constantemente. Desindustrializar-se significa dar um passo atrás. Nós éramos um país agrícola, avançamos e nos transformamos em país industrial, ainda que sem ciência e tecnologia apropriada e moderna. Trazemos tecnologia de fora, mas passamos a produzir bens industriais. Estamos perdendo terreno duplamente, perdendo terreno pelo fato de que estamos voltando a ser um país de bens primários e não de bens industriais, e porque os bens industriais que nós produzimos não têm conteúdo de alta tecnologia, porque, na ciência, estamos atrasados, porque estamos longe de colocar uma nave espacial na lua.

            Nossa educação, além de vergonhosa na sua média, é imoral na sua desigualdade. Nós não temos apenas um carimbo no mapa brasileiro “este é um país atrasado em educação”. Nós temos um carimbo em cada cabeça de criança ao nascer, dizendo se ela vai ter uma boa educação ou uma educação ruim.

            Nossos hospitais aparecem todos os dias demonstrando uma grande tragédia da saúde pública brasileira.

            Nós temos hoje 13 milhões de analfabetos que não são capazes de distinguir uma letra de outra, adultos - não com menos de cinco anos. Adultos. E 70 milhões que até conhecem as letras, mas não são capazes de ler e escrever um mínimo texto com coerência.

            Nós somos um País que temos uma logística que não funciona, não dá o apoio necessário à produção dos nossos bens para serem levados à exportação.

            Nós temos, felizmente - veja a tragédia em que vivemos -, 50 milhões de pessoas que sobrevivem graças ao Bolsa Família. Felizmente recebem, mas é uma tragédia que precisem disso.

            Apesar de tantas coisas, eu poderia fazer uma lista ainda maior.

            Na imaginação do povo, 2014 é ano da Copa, não é o ano das eleições, Senador Jucá; 2014 é o ano em que nós vamos disputar quem será o campeão do mundo, e não qual será o futuro do nosso Brasil.

            Essa é uma tragédia política que nós vivemos. Uma razão é porque perdeu-se a esperança na política. Hoje a população vê qualquer um de nós como iguais um ao outro, sem alternativa, sem proposta.

            A outra é que, de fato, nós nos acomodamos e não estamos trazendo propostas novas, especialmente aqueles que têm obrigação de trazer, que são os candidatos à Presidência da República.

            Por isso, Senador Osvaldo, sem querer me alongar muito sobre isso, eu quero desejar um feliz 2015 para o Brasil, que vai depender das eleições de 2014. Eu quero desejar que, no dia 1º de janeiro de 2015, a gente acorde com a sensação de uma esperança, e não de uma continuidade; com a esperança de que as ruas voltarão a ser tranquilas; que as famílias brasileiras poderão sobreviver bem, sem necessidade do auxílio do Estado; que nós vamos poder dizer que não estamos ainda mandando nada para a Lua, mas que já temos recuperado o início de um programa espacial que foi abandonado nos últimos anos; que vamos poder dizer que a nossa produção vai ter uma logística que lhe permitirá escoar dentro de alguns anos.

            Nós vamos dizer que o novo Presidente ou a Presidenta vai, sim, executar um programa de erradicação do analfabetismo, no prazo de 4, 5, 6 anos, e vai começar a fazer com que as escolas brasileiras sejam iguais, não importa a cidade onde a criança tenha escolhido para nascer, sem saber como era a escola ruim daquela cidade; porque, ao nascer, uma criança não sabe como vai ser a cidade da escola dela. Se elas soubessem, elas não escolheriam nascer em 90%, 95% das cidades brasileiras.

            Eu espero que 2015 seja um ano que comece bem para o Brasil, sob uma liderança com propostas novas. Eu nem falei uma nova liderança, porque, no Brasil, é permitida a reeleição. Então, pode ser a mesma líder, mas que traga uma proposta nova, diferente de como fazer o Brasil encontrar o rumo que todos nós desejamos, porque os nossos filhos e netos merecem.

            Portanto, ao Brasil, um feliz 2015; 2014 não dá mais. E para cada um de nós, e às suas famílias, ao povo brasileiro e a cada um que me vê e ouve, eu desejo um feliz 2014; 2014 para cada indivíduo brasileiro, mas para o Brasil não adianta desejar um feliz 2014; eu desejo um 2015. Não adianta, para o Brasil, 2014, a não ser o 2014 da Copa do Mundo. O que eu posso desejar de feliz 2014 para o Brasil como um todo é que sejamos campeões mundiais de futebol. Mas para reencontrar o futuro do Brasil, eu desejo um feliz 2015.

            Era isso, Sr. Presidente.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 19/12/2013 - Página 97993