Discurso durante a Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Justificativa de requerimento de voto de pesar pelo falecimento do cineasta Eduardo de Oliveira Coutinho.

Autor
Eduardo Suplicy (PT - Partido dos Trabalhadores/SP)
Nome completo: Eduardo Matarazzo Suplicy
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
HOMENAGEM.:
  • Justificativa de requerimento de voto de pesar pelo falecimento do cineasta Eduardo de Oliveira Coutinho.
Publicação
Publicação no DSF de 07/02/2014 - Página 74
Assunto
Outros > HOMENAGEM.
Indexação
  • JUSTIFICAÇÃO, REQUERIMENTO, VOTO DE PESAR, MORTE, TRABALHADOR, PRODUÇÃO, CINEMA, ESTADO DE SÃO PAULO (SP), PESAMES, FAMILIA.

            O SR. EDUARDO SUPLICY (Bloco Apoio Governo/PT - SP. Sem revisão do orador.) - Se me permite, Sr. Presidente, justificar o requerimento.

            Trata-se do paulistano Eduardo de Oliveira Coutinho, que teve seu primeiro contato com o cinema em 1954, aos 21 anos, em um seminário promovido pelo MASP. Trabalhou como revisor na Revista Visão, de 54 a 57, e dirigiu, no teatro, uma montagem de peça infantil Pluft, o Fantasminha, de Maria Clara Machado.

            Ganhou um concurso de televisão, respondendo a perguntas sobre Charles Chaplin. Com o dinheiro do prêmio, foi à França, estudar direção e montagem no IDHEC, onde realizou os seus primeiros documentários.

            Era considerado um dos mais importantes documentaristas da atualidade no Brasil e no mundo. Seu trabalho caracterizava-se pela sensibilidade e pela capacidade de ouvir o outro, registrando sem sentimentalismos as emoções e aspirações das pessoas comuns, sejam camponeses, diante de processos históricos.

            De volta ao Brasil, em 1960, integrou-se ao Centro Popular de Cultura da União Nacional dos Estudantes - CPC da UNE. No núcleo, trabalhou na montagem da peça Mutirão em Nosso Sol, apresentada no I Congresso dos Trabalhadores Agrícolas em Belo Horizonte, em 1962. Foi gerente de produção do primeiro filme produzido pelo CPC, o longa-metragem de episódios Cinco Vezes Favela.

            Para a segunda produção do CPC, Coutinho começou a trabalhar no projeto de ficção baseado em fatos reais, reconstituindo o assassinato do líder das Ligas Camponesas, João Pedro Teixeira, a ser interpretado pelos próprios camponeses do Engenho Cananeia, no interior de Pernambuco. Inclusive a viúva de João Pedro, Elizabeth Teixeira, faria o seu próprio papel. O filme se chamaria Cabra Marcado para Morrer e chegou a ter duas semanas de filmagens, até o Golpe Militar de 1964, que interrompeu a realização do filme. Dezessete anos depois, o Diretor Eduardo Coutinho voltou à região, reencontrou a viúva de João Pedro, Elizabeth Teixeira, e muitos dos outros camponeses que haviam atuado no filme e retomou o projeto.

            Coutinho começou a carreira na ficção, mas descobriu o documentário durante passagem pelo programa "Globo Repórter", da TV Globo, nos anos 70. Durante carreira de mais de quatro décadas, ajudou a transformar o documentário no gênero cinematográfico mais forte do Brasil.

            O jornalista Artur Xexeo, recordando essa época, afirmou que "o olhar de Coutinho sempre foi original, desde os tempos em que fazia parte da equipe que deu as diretrizes do que seria uma boa reportagem no Globo Repórter".

            Recordou seu primeiro contato com o cineasta:

Eu o conheci em Cabo Frio, em 1980, alguns dias antes do primeiro julgamento de Doca Street. Coutinho entrevistava os jurados do caso.

            Achei-o ingênuo. Jurados não podem dar entrevistas sobre o crime que estão julgando. Se derem, são eliminados do júri. Se eles não falavam do crime, o que mais poderia interessar? Quando assisti ao programa, percebi que o bobo era eu. Coutinho deixou os jurados falarem. Sobre eles, sobre suas vidas, sobre suas ideias.

            Considerado um dos maiores documentaristas do Brasil, o paulistano Eduardo Coutinho foi ganhador do Kikito de Cristal, principal premiação do cinema nacional, pelo conjunto da obra. Entre seus principais filmes estão Edifício Master, Jogo de cena, Babilônia 2000 e Cabra Marcado para Morrer.

            Em junho do ano passado, ele e o também cineasta José Padilha foram convidados a integrar a Academia de Artes e Ciências Cinematográficas, responsável pela premiação do Oscar.

            Em 2013, em entrevista ao G1, o cineasta contou que seus temas principais sempre foram os mais simples do dia a dia, "O que é viver? Para quê estudar? Para quê dinheiro?", e afirmou que as perguntas mais básicas sempre são as mais interessantes. E deu uma sugestão do que poderia ser um bom documentário atual. Segundo Coutinho, as manifestações de rua vistas em junho de 2013 no país também valeriam um filme, desde que ele se propusesse a discutir o assunto. "Bom é o filme que faz perguntas; o que tem respostas, você joga no lixo", comentou.

            Um dos primeiros a se manifestar sobre a morte do diretor foi Cacá Diegues. "Era um homem muito inteligente, muito sereno, fácil de lidar. É uma perda muito grande, ele era o maior documentarista brasileiro de todos os tempos", declarou.

            Para o cineasta Silvio Tendler,

Seus filmes e suas lições de vida irão permanecer. Antes de ser documentarista, ele foi um grande roteirista, como, por exemplo, de Dona Flor e seus Dois Maridos, de 1976. Sem sombra de dúvidas, foi um dos grandes cineastas que este Brasil teve. Vai deixar uma grande saudade e lacuna. A violência com que ele morreu é o que me deixa mais chocado [disse Silvio Tendler].

            Silvio Tendler e todos aqueles que o conheceram, Zuenir Ventura, Cacá Diegues, Bruno Barreto, que trabalhou com o documentarista, disseram que Coutinho tinha um senso de humor muito perspicaz. "Era um cineasta completo", frisou.

            A Cinemateca de São Paulo está organizando, para o mês de março, uma mostra retrospectiva com diversos filmes da carreira de Coutinho. No evento, serão exibidos clássicos, como Cabra Marcado para Morrer, Babilônia 2000 e Edifício Master.

            Que pena que Eduardo Coutinho tenha sido tragicamente morto, numa situação de extrema dificuldade, por seu próprio filho, e que sua esposa, Maria das Dores Coutinho, tenha sido, no episódio, ferida e, por pouco, também não se foi!

            Possa Deus...

(Soa a campainha.)

            O SR. EDUARDO SUPLICY (Bloco Apoio Governo/PT - SP) - ... ajudar essa família e todos os seus componentes a superarem tamanha dificuldade!


Este texto não substitui o publicado no DSF de 07/02/2014 - Página 74