Discurso durante a 15ª Sessão Não Deliberativa, no Senado Federal

Satisfação pela inauguração da nova biblioteca pública de Cruzeiro do Sul - AC.

Autor
Jorge Viana (PT - Partido dos Trabalhadores/AC)
Nome completo: Jorge Ney Viana Macedo Neves
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
EDUCAÇÃO, ESTADO DO ACRE (AC), GOVERNO ESTADUAL.:
  • Satisfação pela inauguração da nova biblioteca pública de Cruzeiro do Sul - AC.
Aparteantes
Cristovam Buarque.
Publicação
Publicação no DSF de 22/02/2014 - Página 91
Assunto
Outros > EDUCAÇÃO, ESTADO DO ACRE (AC), GOVERNO ESTADUAL.
Indexação
  • ELOGIO, INAUGURAÇÃO, BIBLIOTECA, MUNICIPIO, CRUZEIRO DO SUL (AC), ESTADO DO ACRE (AC), COMENTARIO, INVESTIMENTO, GOVERNO ESTADUAL, EDUCAÇÃO, REGISTRO, APOIO, PROJETO, CRISTOVAM BUARQUE, SENADOR, FEDERALIZAÇÃO, EDUCAÇÃO BASICA.

            O SR. JORGE VIANA (Bloco Apoio Governo/PT - AC. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Caro Presidente, Senador Ruben Figueiró, queria cumprimentá-lo, agradecer a cortesia e a maneira carinhosa com que V. Exª sempre se refere à minha pessoa, ao meu pai, à minha família, e dizer que o carinho, o respeito é recíproco.

            Sr. Presidente, queria aproveitar esse espaço da minha inscrição, nesta sexta-feira, além de cumprimentar a todos que nos acompanham pela TV Senado, pela Rádio Senado, neste último dia de trabalho no Senado, nesta semana.

            Queria celebrar, daqui da tribuna, algo que ocorreu na nossa queria Cruzeiro do Sul, no Acre. Ontem - lamentavelmente, não pude me fazer presente -, o Governador Tião Viana entregou para Cruzeiro do Sul, para a população de Cruzeiro do Sul, para a cultura de Cruzeiro do Sul, a nova biblioteca. É um prédio fantástico, parte de um projeto nosso que vem já de algum tempo no Acre que é de criar uma rede de bibliotecas públicas no Estado inteiro - o Acre tem 22 Municípios -, e essas bibliotecas, para nós, têm que trazer conceitos consigo, não só o conceito clássico, convencional, que já seria suficiente.

            E ontem foi entregue uma das mais completas bibliotecas da Amazônia brasileira, lá em Cruzeiro do Sul, no centro da cidade, ao lado da catedral. A escolha do terreno, lembro bem - eu ainda estava envolvido no governo, ainda era governador -, procuramos compatibilizar, pegar um prédio antigo da cidade que simboliza a arquitetura, a história do povo de Cruzeiro do Sul e foi feito, ao lado dele, além da restauração desse prédio, um prédio que usa os recursos da modernidade arquitetônica de hoje.

            Fiz uma postagem na minha Fan Page ontem, parabenizando a população de Cruzeiro do Sul, o Governador Tião Viana, e hoje venho à tribuna do Senado para fazer esse registro, porque um governo pode melhorar a vida de um povo de muitas maneiras, mas a maneira mais duradoura, mais definitiva, mais acertada é através da educação, através do conhecimento.

            Ontem, brincávamos aqui, numa boa conversa com outros colegas, sobre a sua vida, a sua luta, de ter a criação no Mato Grosso, V. Exª falou que tinha passado para os filhos algumas áreas. Certamente, V. Exª tem orgulho de dizer: “É um tradição da família, já passei, meus filhos estão cuidando do patrimônio da família”. Mas não tenho dúvida de que o maior e melhor patrimônio que V. Exª tem passado para os seus filhos, para os seus herdeiros, é o conhecimento, é o ensino. Esse é um patrimônio valoroso porque está individualizado dentro de cada um. E assim é do simples cidadão àquele que tem as melhores condições materiais. O que todos nós podemos passar de melhor para os nossos filhos é o conhecimento.

            Sou de uma geração, neste nosso Brasil, que é a primeira da minha família a ter nível superior, a fazer uma faculdade, e não abro mão de que minhas duas filhas façam. Uma já concluiu, está fazendo pós-graduação, o segundo curso, e a outra está fazendo Arquitetura, porque esse, de fato, é o melhor legado que um pai pode deixar para um filho.

            E não é diferente nos governos. Lamentavelmente, não há uma pactuação do nosso País. Nesta semana, no Rio de Janeiro, a convite de um grupo que se chama Brasil 21, que é uma parceria da Universidade de Harvard com a Fundação Lemann - do Jorge Lemann, que constituiu um grupo que discute só educação, do qual eu tenho o privilégio de fazer parte -, para discutir só educação. Visitamos escolas inovadoras na Prefeitura do Rio de Janeiro e também no Estado. Como é bom vermos que há muita gente pensando em colaborar para que este nosso Brasil possa, de fato, ter a educação como a sua maior prioridade, a sua grande prioridade.

            Na hora em que estou falando de educação, o Cristovam, nosso Senador, chega, aniversariante de ontem, de hoje, e não é por acaso. Fico contente, Senador Cristovam, porque estou acabando de me referir a algo por que V. Exª é apaixonado, que é a educação. Estou me referindo à inauguração, ontem, pelo Governador Tião, em Cruzeiro do Sul, da mais nova e bem montada biblioteca do Acre. E, como todos falam pela educação, nós podemos perguntar: mas quem pratica esse discurso? Quem, de verdade, faz da sua vida prática um compromisso com a educação?

            Estou celebrando aqui a inauguração de uma biblioteca, e só não vou dizer que é a melhor da Amazônia porque, no Acre, há outras duas que concorrem com ela: uma é a Biblioteca Marina Silva, que eu construí - e aí veio o Ministério Público e proibiu de usar o nome Marina Silva na biblioteca. Eu falei: “Mas onde está o problema? Eu estou colocando o nome de uma Ministra, ex-Senadora”. “Ah, mas está na lei!” É uma lei burra. A lei se aplicaria se eu estivesse dando o nome de um parente, de alguém para agradar. Eu estava colocando o nome de uma das acreanas mais expressivas que nós temos. Foi alfabetizada adulta; fez faculdade com muito sacrifício; saiu do seringal, não conhecia nem dinheiro; foi estudar com as freiras; quase morreu; com muito sacrifício, aprendeu a ler e a escrever, no Mobral; e se tornou referência, pois foi ministra e tem na educação um compromisso de vida. E foi exatamente essa biografia que eu quis destacar na porta, no letreiro da biblioteca, a fim de estimular outros a estudarem e vencerem na vida, como a Marina. Mas o Ministério Público não enxerga isso. É mais uma ação para ficar bem. Mas segue sendo Biblioteca Marina Silva. Só tiramos o nome.

            Eu havia feito lá um acervo contando exatamente a história de que a educação é que fez a Marina ser o que é hoje. Foi a educação, não foi outra coisa. A educação fez da Marina o que ela é hoje.

            E a Biblioteca Marina Silva, a Biblioteca da Floresta, é um conceito de cima a baixo, Senador. Você entra, e sempre há exposições. Ela tem uma conexão e usa a rede mundial de computadores. E eu digo a vocês, sem medo de errar, que não há no Brasil uma biblioteca parecida com a que temos em Rio Branco, que eu tive a honra de, com a equipe toda, com o Governador Binho, que era o meu Secretário de Educação, fazer.

            Só que, depois que fizemos essa, nós falamos: “Agora temos que fazer outra”, Senador Cristovam. E foi concebida no meu governo e concluída no governo do Binho a Biblioteca Pública de Rio Branco.

            Pergunto a V. Exª, que gosta de ideias interessantes: sabe qual é o melhor lugar para você ficar em Rio Branco quando está esse sol escaldante que temos na Amazônia, que chamamos de sol a pino, o do meio-dia, uma hora, aquele que está bem no coco da cabeça, um calor danado? As praças estão muito bonitas, temos calçadas em Rio Branco para andar, uma boa arborização, mas os melhores prédios, os mais bonitos, mais aconchegantes para alguém passar algumas horas ou alguns minutos naquele calorão são os das nossas bibliotecas, Senador Cristovam. Estão abertas todos os dias, de segunda a sábado, até as 21 horas. Então, se você estiver andando em Rio Branco, com a sua criança, com seu filho, e estiver muito quente, você pode ir à nossa biblioteca. Não é preciso ser adulto para ir à nossa biblioteca. Você pode ir com o seu filho. Lá há uma brinquedoteca. Você pode deixá-lo brincando, com cuidadores.

            E se não gostar muito de literatura clássica, você pode ir para a gibiteca, que também existe. Pode colocar as pernas em um pufe, sentar em uma cadeira muito confortável e esperar o calor passar para, depois, seguir sua vida. Isso para pobre e para rico.

            Os melhores espaços que temos na cidade de Rio Branco são espaços ligados à educação e à cultura. Isso é um conceito. Isso não foi feito por acaso. É assim no Brasil? Os melhores prédios públicos são as nossas escolas? No Acre, nós assumimos o compromisso: da delegacia ao hospital, e principalmente a escola. Eu disse: “Delegacia não é lugar de bandido. Delegacia é um lugar onde cidadão que tem algum problema vai procurar seus direitos”.

            Então, as nossas delegacias, no meu governo, eram coloridas, limpas, com plantas, com flores e com o cumprimento da lei, em vez daquelas coisas pichadas, janelas quebradas, tudo escangalhado. Nossas delegacias, na época em que eu estava no governo, a partir de um conceito de gestão, de cuidar, eram desse jeito. Foi assim com os hospitais, com todos os prédios públicos e, também, com as escolas.

            Quando estávamos no “governo da floresta”, assumimos o compromisso de serem as escolas os melhores prédios públicos das cidades, do interior ou da capital. Porque aí você passa mensagens, Presidente Ruben Figueiró. Você passa que mensagem? Se a escola é o melhor prédio público da cidade é porque deve ter alguma importância isso. Não é o mais luxuoso; é o mais acolhedor.

            Senador Cristovam, em meus dois mandatos - o Acre tem 22 Municípios -, nós construímos 14 bibliotecas grandes, sem falar que todas as escolas passaram a ter biblioteca. Ontem, o Governador Tião Viana pegou essa que nós criamos, em Cruzeiro do Sul, chamada Escola Padre Trindade, que foi criada em 1999, por mim. A primeira biblioteca criada no meu governo foi em Cruzeiro do Sul, no interior, biblioteca pública. Quem chegar a Cruzeiro do Sul, vai andar, vai ver a nossa catedral, que é símbolo da cidade, mas, imediatamente, vai olhar e dizer: “Mas o que é aquilo? Que prédio é aquele que estou com vontade de visitar?”. “Aquilo é uma biblioteca.” Eu penso que isso muda tudo.

            O Governador Tião Viana era Senador e me ajudou, com o Gregório Filho, Secretário de Cultura na época, a criar as Casas de Leitura. Em cada bairro pobre, nós treinamos pessoas. Havia uma casa de leitura com pessoas treinadas, contadoras de histórias, ajudando a passar para as crianças pobres esse amor e esse apego pela leitura.

            Senador Cristovam, eu falei nesse grupo de Harvard que estava reunido no Rio de Janeiro na semana passada. Existe uma parceria com Harvard e a Fundação Lemann - e eu faço parte -, que só discute educação, educação pública, e reúne pessoas das mais diferentes áreas, de empresário a educadores, alguns poucos Parlamentares. E eu tenho o privilégio de participar.

            Quando fui Prefeito, Senador Cristovam, e assumi a Prefeitura, Rio Branco tinha quatro mil alunos - uma vergonha, a capital - na rede pública municipal. Era mais barato, Senador Cristovam, matricular todas as crianças, as quatro mil, na melhor escola privada da cidade, que era o Colégio Meta na época. Eu disse: “Se nós matricularmos todos os quatro mil, Binho, na escola mais cara, será mais barato para a Prefeitura e melhor para os alunos. Porque o nosso sistema é de péssima qualidade e muito caro”. Aí nós votamos pelo componente econômico, nós dois. E dissemos: “Quando nós terminarmos este mandato de prefeito a escola tem que ser boa e barata e viável economicamente”.

            Pensar em escola viável economicamente? Não se pode contar com a componente do dinheiro! Por que não? Por que uma escola tem que ser ineficiente? E sabe por que era ineficiente, Senador Cristovam? Porque uma parcela enorme dos professores não estava em sala de aula. Estava agregada em gabinete de políticos, estava agregada na administração. E havia uma relação entre aluno e professor que era pouco maior do que dez alunos para cada professor. Essa é uma relação fantástica em uma escola integral. Já imaginou você ter um professor para cada dez alunos? Seria fantástico. Mas não era essa a relação. Era porque faltava professor nas escolas e sobrava nas atividades que nunca foram fim da educação.

            Então nós começamos um trabalho, também, de fazer uma grande transformação. Lembro bem que o Binho contratou o Toinho, chamou consultores, iniciou um profundo debate para fazer o plano decenal da educação em Rio Branco, na Prefeitura de Rio Branco. Ou seja, planejar, estabelecer metas, objetivos, esse é o papel de um bom gestor. Colocar essas metas, esses objetivos no tempo, fazer as contas de quanto de investimentos, e tomar decisão política.

            Nós começamos, na Prefeitura de Rio Branco, em 93, a fazer as grandes transformações que o Acre vive hoje, em muitas áreas, cuidando da cidade, mas tendo a educação também como uma prioridade. Quando saí, havia perto de dois mil alunos na rede pública municipal. A relação de alunos para professor estava em 25 alunos para cada professor. E a grande maioria dos professores estava na sala de aula.

            Mas aconteceu algo que eu contei, semana passada, nesse debate sobre educação no Rio. Um dia, estou no gabinete, na Prefeitura, e o Governador Binho, à época Secretário Municipal de Educação, chega e diz: “Jorge, nós estamos com um problema. Nós estamos tendo reprovação na primeira série. As crianças que estão ali no pré-primário não conseguem se qualificar para a próxima série”. “Mas como é isso, Binho? Como é que reprovam?” Ele disse: “Não, não é que reprovam. É que eles não conseguem pegar num lápis. Não conseguem ter a mínima coordenação motora, não conseguem ter a razoável lógica. E alguns já se apressam e dizem que é porque são filhos de pobres”. Não tem nada a ver capacidade de aprendizado, não tem nada a ver talento, inteligência com condição financeira, material. Agora, tem tudo a ver, sim, uma criança mal alimentada, mal cuidada e sem acesso a alguns recursos de que dispõe uma criança bem alimentada, bem cuidada e com acesso a uma série de bens materiais, pois esta leva uma vantagem danada.

            E a identificação maior que fizemos, Senador e Presidente Ruben Figueiró, é de que precisávamos saber quem eram aquelas crianças que tinham dificuldade para passar da primeira série ou do pré-primário para a série seguinte. E o Binho disse o seguinte: “Não são quatro mil apenas? Vamos saber quem são essas crianças”. Fizemos uma pesquisa e constatamos que a grande maioria dessas crianças que não tinham condições, depois de um ano, de acessar uma progressão na sua formação era de filhos de analfabetos.

            Nós não conseguimos raciocinar, mas na casa em que o pai e a mãe são analfabetos tem papel? Tem Lápis? Tem caneta? Eu pergunto: Para quê? E como ficam as crianças filhas de pai e de mãe analfabetos? Elas têm dificuldade de lidar com esses instrumentos, que para nós são corriqueiros.

            Nossos filhos, os filhos de nossos amigos, da maioria das pessoas que conhecemos, mal engatinham e já damos a eles um papel e uns lápis de cor, e já começam a criar intimidade com aquilo, com um, dois anos. Depois é que vão para a escola. Filhos de pobres, filhos de pessoas excluídas só vão encontrar esses materiais quando chegam à escola. Foi o que identificamos lá na Prefeitura. Fomos, então, cuidar dos pais: criamos um programa de alfabetização de adultos que foi um sucesso.

            Foi nesse processo de olhar à família, pensar o conjunto. Quando dizem: “Tem um fulano ali que o pai e a mãe são analfabetos, ele era muito pobre, mas deu certo na vida”, estão pegando um exemplo, e nós temos que cuidar é do conjunto, é de todos. E foi isso que fizemos na Prefeitura de Rio Branco. Não paramos mais. Para nós, biblioteca é fundamental.

            A biblioteca inaugurada ontem recebeu um investimento de R$7 milhões. Portanto, quero cumprimentar o Governador Tião Viana. Esse é um recurso do Proacre, negociado ainda na época do Governador Binho, mas toda a parte de acervo mobiliário e equipamentos foi feita agora, no Governo Tião Viana. A construção consumiu R$4,805 milhões. São recursos do BNDES e do Bird. Quer dizer, estamos pegando financiamento para fazer bibliotecas. Nós estamos vendo a biblioteca como um investimento.

            Eu acho que isto é novo, eu acho que isto faz a diferença: construir bibliotecas públicas com acesso à internet com os recursos que nós estamos disponibilizando é um bom investimento a fazer. Bobeando, é o melhor investimento a ser feito.

            Então, a Biblioteca Marina Silva, biblioteca que nós temos, bibliotecas públicas em Rio Branco, as nove bibliotecas públicas no interior do Estado que nós construímos, algumas delas funcionam nos centros de “florestania” que nós criamos - veja que não são centros de cidadania; lá nós criamos um conceito novo, que é uma espécie de cidadania dos povos da floresta.

            Eu queria, então, Sr. Presidente, concluindo minha fala, primeiro, compartilhar com o Brasil essa alegria. Nós estamos, no Acre, pegando financiamento do BNDES e do BID para fazer bibliotecas. Isso, em nosso entendimento, é, sem dúvida, um grande investimento que estamos fazendo.

            A biblioteca pública que nós temos, localizada bem no centro da cidade, é um dos lugares mais frequentados. A Biblioteca Marina Silva, da inauguração para cá, já foi visitada por 180 mil pessoas - e falo isso de uma cidade que tem menos de 300 mil habitantes. Cento e oitenta mil pessoas numa biblioteca!

            A biblioteca pública em Rio Branco, bem no centro da cidade - agora mesmo, há pouco tempo, nós levamos o Presidente Lula, que nos visitou, e ficou chocado -, tem videoteca, que passa filmes clássicos três vezes por semana, tem gibiteca, tem acesso à internet para quem visita. É um ambiente, eu diria - não gosto dessa palavra, mas vou usá-la -, um ambiente luxuoso. É muito melhor do que as bibliotecas dos bacanas, porque ali é para pobre, ali é para todos. É um ambiente limpo, agradável. Quando você passa, pergunta: O que é aí? E tem vontade de entrar sempre. Levamos também o Ministro Aloizio Mercadante.

            Eu diria que o atendimento nesses espaços públicos é de altíssima qualidade. Eu acho que é melhor que o atendimento padrão FIFA. Porque o pessoal fica falando em padrão FIFA, mas muito dinheiro dá um monte de coisa, mas eu quero ver é qualidade no atendimento. É o equilíbrio em fazer uma coisa eficiente, bem feita, inovadora e ter qualidade.

            Senador Cristovam, com satisfação, eu vou ouvir o aparte de V. Exª, que muito me honra. Mais uma vez, aqui, da tribuna, quero parabenizá-lo, porque pessoas como V. Exª fazem aniversário o mês inteiro. Então, esse é o mês de aniversário do Senador Cristovam, e não o dia. A gente tem que valorizar a vida, Senador, a gente tem que comemorar o mês todinho - almoço, pedir aos amigos que paguem almoço, que abram a garrafa de vinho, que façam festa. Tem que ser o mês todo - não é, Senador? -, para valorizar a vida. Então, a V. Exª, de novo, meus parabéns.

            Mas, antes de passar, eu queria apenas dizer que há um lugar, que foi construído durante o governo Binho, chamado OCA, que é um serviço de atendimento ao cidadão. Raciocinem comigo - eu estou marcando uma audiência com o Presidente Lula e vou levar essa ideia para ele e, quando encontrar a Presidenta Dilma, vou falar -: todo mundo questiona os gastos dos estádios da Copa, e não é sem razão. Eu mesmo passo do lado do Maracanã... Eu gosto muito de futebol. Aliás, fico fustigando todo mundo por causa do meu Botafogo, principalmente os flamenguistas - eu faço isso. Aí eles me esculhambam; aí os meus assessores ficam com raiva de mim, ficam na fan page. Futebol é parte da vida do brasileiro, e eu acho isso uma coisa muito positiva.

            Nós construímos um prédio em Rio Branco, no governo Binho, de mais de R$30 milhões. E para que esse prédio de R$30 milhões? Para atender pobre, para cuidar de pobre. Ele compete com as bibliotecas, com a Biblioteca Marina Silva e com a Biblioteca Pública. Então, eu estou falando de três prédios que são fantásticos, em Rio Branco; que prefeitos do Brasil inteiro, se quisessem, deveriam visitar; que governadores do Brasil inteiro deveriam visitar, inclusive, essa biblioteca que o Governador Tião Viana inaugurou ontem - o Lula esteve lá também.

            Eu estou fazendo uma associação desse serviço com a Copa.

            Andando em Lisboa, fomos lá ver o Ligeirinho, esse serviço de atendimento ao cidadão; em Barcelona, também há; em Londres, também há; em quase todas as cidades grandes do mundo há, mas eles não chegam aos pés do que existe em Rio Branco. Estou acabando de dizer que os prontos atendimentos de Brasília, do Rio de Janeiro, de São Paulo, de Salvador, que chegou a criar, de Barcelona, de Londres não chegam aos pés do pronto atendimento ao cidadão de Rio Branco, do ponto de vista arquitetônico e, principalmente, do ponto de vista do atendimento. São nove mil pessoas por dia, em Rio Branco, que frequentam a OCA. É uma coisa extraordinária! Na época, o Mercadante era Ministro da Ciência e Tecnologia e ficou ensandecido com o que viu. O Lula ficou louco. É algo que a gente pegou olhando, porque sempre fizemos as coisas no Acre assim: vamos olhando o que há no mundo de muito bom nessa área; aí vamos pegando, fazendo adaptações e criando algo com identidade própria, mas que leve em conta todas as outras tentativas, os erros e os acertos. Aí você chega a algo muito positivo.

            A OCA é um lugar em que, qualquer que seja o seu problema, entrando ali, há a solução ou, pelo menos, é ali que se pode encontrar a sua solução: do casamento ao descasamento, do registro de uma criança a passaporte, do CPF a todos os serviços. Fizemos convênios com o Governo Federal, com o Governo do Estado e o Municipal. Está tudo lá dentro.

            E um cidadão, uma mãe... Porque já imaginou uma mãe com três, quatro filhos, morando longe, na periferia, duas horas pegando um ônibus, ter de vir três, quatro, cinco vezes à cidade para resolver o seu problema e sendo tratada como este País trata pobre? Quer dizer, deixa ali em um canto; ela, timidamente, também não pergunta e fica ali, às vezes, a manhã toda, com criança, passando necessidade, gastando dinheiro. Lá, não!

            Na Oca, as cadeiras em que os pobres se sentam são melhores do que as do mais luxuoso aeroporto que existe no Brasil, para rico andar. Pode ir lá, ver as instalações. Não tem um cisco no chão, e passam nove mil pessoas, por dia, lá, pobres, em sua maioria, ou pessoas que não têm um grande acúmulo material.

            E aí entra a Copa do Mundo.

            Passo lá, ao lado do Maracanã, e digo: Poxa, um estádio, um templo do futebol para duzentas mil pessoas, e o transformaram, agora, para sessenta e poucas, só cabem sessenta e poucas. A geral, que era a cultura do Maracanã, não tem. Para entrar... Eu estou atrás, tentando comprar um ingresso para a Copa e não consigo. Não sou mais do que ninguém. Estou atrás, tentando comprar para ver um jogo - um! -, e estou tendo dificuldade.

            É óbvio que nós temos de cuidar para que essas coisas... Eu sei que temos de estar abertos para receber o pessoal de fora. É um momento importante para o País. São 60 anos sem sediar uma Copa, e é o país do futebol.

            Então, eu acho uma loucura esse negócio. Acontece em qualquer parte do mundo, dizer: “Ah, não vai ter Copa”. Em Londres foi assim, e na Alemanha, em todos os lugares. Eu acho isso uma insanidade. É para o Brasil sediar e tal. Agora, isso não corrige os erros ocorridos.

            E aí estou juntando com a Copa.

            Imagine, Senador Cristovam, que em todos esses estádios construídos - e eles foram construídos em grandes cidades do País -, que em todos eles houvesse uma espécie de OCA entorno deles! E estou dizendo dessa OCA que custa R$30 milhões, cuja manutenção custa mais de R$1 milhão por mês, com funcionários bem treinados e com atendimento fantástico. Imaginem esses estádios virarem, todos eles - porque as pessoas ficam querendo saber o que fazer com um estádio desses -, um Ligeirinho, um centro de atendimento ao cidadão!

            Quantas pessoas iriam ao Maracanã, por dia, para resolver seus problemas? Trinta mil? Porque, se, em Rio Branco, vão oito, nove mil, no Rio de Janeiro, no mínimo, iriam 30, 40 mil. Então, o brasileiro também se sentiria contemplado com aquele investimento de centenas de milhões de reais.

            O que falta, às vezes, no Brasil - porque é uma coisa para ali, outra para lá -, é tentar fazer com que aquilo tenha uma sensação de pertencimento do cidadão. Os estádios têm que ser parte das cidades.

            É óbvio que há vantagem quando se faz uma mexida na mobilidade urbana - como estamos tendo, sim. O Governo Federal está fazendo investimentos. Todas as cidades do mundo ficaram um pouco melhor, depois que sediaram Olimpíadas ou Copa do Mundo. É verdade!

            Gente, isso começou com a Exposição Universal, que mudou Paris, em 1900. Por onde passa, muda tudo. Mudou Lisboa, na década de 80. Tudo deixa mudanças para melhor. Agora, essas mudanças podem ser muito melhores ainda.

            Então, a ideia é simples: dar uso diário a esses espaços para o cidadão brasileiro. No domingo ou na quarta ou na quinta-feira, o show do futebol. Diariamente, o atendimento ao cidadão. Tranquilamente, se nós tivéssemos debatido, discutido, isso poderia ter sido feito, pegando o exemplo do Acre.

            Então, Senador Cristovam, eu estou aqui celebrando essa inauguração que fizemos ontem.

            São R$7,866 milhões do BNDES, do BIRD (Banco Mundial), que eu chamo de “o melhor investimento”, porque é dinheiro para educação.

            Imaginem a cultura da leitura. Na Finlândia, o per capita de leitura é de 25 livros por ano, por habitantes. Depois ficam achando que a Finlândia disputa os primeiros lugares em educação por acaso. Há uma cultura do conhecimento.

            Os Estados Unidos, que competem muito, têm a cultura de transformar conhecimento em negócio. No Brasil, se chegarmos a uma universidade e dizer “Olha, o conhecimento acumulado, aqui, pode se transformar em um bom negócio para o nosso País, para melhorar a vida das pessoas”, é sacrilégio. Não! Conhecimento não é para ser transformado em negócio! Eu até aceito debater, mas o conhecimento é para tudo: para a vida, para o País, para a Nação, para os negócios, para o cidadão. E acho que é importante investir em biblioteca.

            Então, Senador Cristovam, em 22 Municípios, quando eu era Governador, nós fizemos 14 bibliotecas, fora as casas de leitura. E meu mandato de Senador segue nessa linha: todo ano eu apresento emenda para construir bibliotecas, e estimulo.

            Em Rio Branco, na Escola João Aguiar - V. Exª pasme -, há uma premiação para os meninos que mais leem. Eu fui à biblioteca da escola. Já imaginou uma criança que lê mais de cem livros por ano? Pois há nessa escola. Cem livros por ano! Na Finlândia, a média per capita é de 25.

            Vão dizer: “Mas, Jorge, não pode. Está lendo um livro a cada três dias? É isso mesmo! É isso mesmo! A medalha de ouro lá, uma criança adolescente, lê mais de cem livros por ano! E aí queriam me inscrever lá, Senador. Disseram: “Se inscreve aqui, Jorge, para concorrer com a gente”. E eu disse: “De jeito nenhum, porque essa eu já perdi, e fico feliz de ter perdido”.

            Criança que lê 40 livros por ano, 50 livros, lá, é medalha de bronze. É uma paixão pela leitura. Consegui uma doação de mais de cento e poucos títulos, e estou mandando para essa biblioteca. Eu acho que esse tipo de semente tem que ser espalhada pelo Brasil, para germinar Brasil afora.

            Quando você vê uma criança pobre, que, às vezes, o pai não sabe ler nem escrever, que a mãe também não sabe ler nem escrever, e ela se apaixona pela busca do conhecimento e pela leitura, essa família está salva, essa família, sem dúvida, vai superar as dificuldades e vai ter uma velhice que não vai virar um problema - como está virando um problema para a maioria das famílias do País ter alguém velho na família, porque eles não têm condição de cuidar dos mais velhos.

            Ouço V. Exª, Senador Cristovam, para poder encerrar o meu pronunciamento, agradecendo ao Senador e Presidente desta sessão, Ruben Figueiró.

            O Sr. Cristovam Buarque (Bloco Apoio Governo/PDT - DF) - Senador Jorge Viana, primeiro, quero cumprimentar o Governador Tião, todo o povo do Acre, por essa nova grande obra. Acompanho, desde o seu governo, o que acontece no Acre e consigo ser testemunha do avanço que vocês têm feito no que se refere à educação, à leitura e convivibialidade das pessoas. Não me esqueço de seu conceito de que não basta administrar, é preciso cuidar da cidade, cuidar com carinho. E falta a muitos de nossos prefeitos, governadores, a muitos de nós - falemos assim - esse sentimento do cuidar. O cuidar que leva, por exemplo, a insistir que é preciso colocar recursos para fazer com que as crianças leiam. Por isso, quando ouço uma referência como a sua, no Estado do Acre, quando ouço uma referência como a de Foz do Iguaçu, que há um Prefeito que faz isso, eu me pergunto: Não está na hora de a gente levar isso para o Brasil inteiro? E aí vem a outra pergunta para a qual eu tenho a resposta - posso estar errado, Senador Figueiró, e fico feliz de tê-lo do meu lado -: Há como levar isso para o Brasil inteiro sem federalizar a educação no País? Há como a gente fazer com que todos façam isso, se fica a critério da vontade de um, da vontade de outro dos 5.565 prefeitos e dos mais 27 governadores? Não há. Até porque, no caso do Acre, há uma vontade ferrenha. Não só isso, há um compromisso intenso, mas há uma sucessão de prefeitos, aliás, de Rio Branco e de governadores da mesma concepção. Se essa concepção for interrompida, pode morrer tudo isso.

            O SR. JORGE VIANA (Bloco Apoio Governo/PT - AC) - É verdade.

            O Sr. Cristovam Buarque (Bloco Apoio Governo/PDT - DF) - Então, a gente precisava ter uma lei que definisse isso como responsabilidade da União, da Nação, do povo brasileiro. A criança acriana hoje tem a sorte de ser acriana. Em outros lugares, não tem sorte. A gente não pode deixar que o futuro de uma criança dependa da sorte da cidade onde ela nasceu. Ninguém escolhe onde vai nascer. Os pais nem sempre escolhem; estão ali por circunstâncias. Então, nós precisamos romper com essa ideia de que o futuro de uma criança depende de onde ela nasceu. A criança, ao nascer, é primeiro brasileira e depois, acriana. No Brasil, criança é municipal, universitário é federal. Tem que acabar com isso. Aqui a gente só fica federal depois que começa a pagar imposto, se entra no Exército, se entra na universidade federal. E uns tiquinhos conseguem ser federais entrando numa das 400 escolas federais, inclusive as técnicas. Por isso eu o parabenizo, mas provoco. Aumenta a minha vontade de lutar pela federalização da educação para termos, no Brasil inteiro, o que o Acre tem tido pela sorte de ter. Agora, eu me controlei muito para tocar no outro assunto, mas não resisto. Eu falei que muda um governo e pode mudar tudo isso. É por essa razão - sem querer desviar o nosso debate - que eu não gosto da ideia de ter nomes de pessoas vivas em prédios públicos, porque, se muda o Governo, tira. Eu não vou negar, eu gostaria de um dia ter uma escola com o meu nome, mas nunca, por favor, enquanto eu estiver vivo, porque sobe um cara contra mim e tira. Depois eles não vão saber nem quem eu fui. Então, não tira. Ou então quem está livre de fazer uma besteira na vida? Aí vão tirar o meu nome. Depois de morto, eu não vou mais fazer besteira. Então não tem mais perigo. Eu não gosto muito disso, sem falar em protecionismo, no nepotismo de botar nomes de parentes, como a gente sabe que existe muito, sobretudo em alguns Estados do meu Nordeste. Então, eu acho que o procurador, nesse caso, fez bem, apesar de que eu não vejo nome melhor para a gente botar numa biblioteca do que Marina Silva. Não vejo, não tem. Sua escolha foi perfeita. O momento é que não foi, porque ela ainda está, felizmente, aqui conosco, viva, atuante e podendo cometer erros, como qualquer um de nós. Ou pode um governo do Acre não ser simpático a ela e querer mudar. Prefiro que isso não entre em nossa conversa, só que não consegui me controlar e não falar sobre isso. Quero falar daquilo que eu comecei: parabenizá-los e dizer que eu os acompanho. Nada disso que o senhor está falando é conversa. Tudo isso é fato.

            O SR. JORGE VIANA (Bloco Apoio Governo/PT - AC) - V. Exª esteve, inclusive, na Escola Armando Nogueira quando era Ministro.

            O Sr. Cristovam Buarque (Bloco Apoio Governo/PDT - DF) - Já estive lá, vi e leio os indicadores. O salto que o Acre deu e o deixa lá em cima.

            O SR. JORGE VIANA (Bloco Apoio Governo/PT - AC) - Estava em último lugar, e agora disputa entre o sétimo e o oitavo.

            O Sr. Cristovam Buarque (Bloco Apoio Governo/PDT - DF) - O Acre mostra que é possível, mas eu temo que não dê para esperar surgirem governadores que tenham essa visão e governadores que consigam manter o mesmo projeto um ano após outro, uma eleição depois da outra. Espero até que continuem por muito tempo com esse trabalho. Daí a minha ideia de que sem se federalizar a gente não consegue. Agora, não federalizar obrigatoriamente... A gente pode federalizar as escolas das cidades que desejarem. Prefeitos, câmara de vereadores, pastor, padre, sociedade civil, todos diriam ao Governo Federal: “Queremos entregar nossas escolas a vocês.” Aí o Governo, com uma carreira nacional do magistério, que é a base da federalização, construiria as escolas. O senhor tocou em um ponto importante: a escola deveria ser o prédio mais bonito da cidade. Não há um shopping, não há um banco que não tenha ar-condicionado. Raríssimas escolas têm ar-condicionado central para as crianças. Raríssimas! E tem mais: quando a gente fala que deveria ter ar-condicionado nas escolas, as pessoas riem! Tem gente que está me ouvindo e deve estar achando que é loucura, que é deboche, que é demagogia.

            O SR. JORGE VIANA (Bloco Apoio Governo/PT - AC) - É uma necessidade.

            O Sr. Cristovam Buarque (Bloco Apoio Governo/PDT - DF) - É uma necessidade. Criança não consegue acompanhar uma aula num clima quente, nem o professor consegue dar uma aula boa num clima quente. E nós temos instrumentos para controlar a temperatura. Por que o usamos para tudo... Há dias que eu saio daqui por causa do frio. Saio desta sala por causa do frio. Por que as escolas não podem ter uma temperatura decente, digna, capaz de fazer com que as crianças se compenetrem? Mas, quando a gente fala isso, é absurdo. Isso não seria um dinheiro tão alto quando a gente compara como poder da União. É alto comparado com o poder dos prefeitos. Isso é! É difícil fazer isso. Por isso não se pode deixar nas mãos dos prefeitos, que são pobres e desiguais. São dois problemas: as prefeituras são pobres por causa da política fiscal, mas são desiguais. O que quer dizer que, se a gente mudasse a política fiscal... Por exemplo, vamos supor que não houvesse Governo Federal e que todos os impostos ficassem nas cidades. As cidades pobres continuariam pobres; as cidades ricas passariam a ser ricas (as administrações). A União é quem distribui o que o País produz. Criança deveria receber para a sua educação o mesmo valor. Não importa a renda do pai, não importa a cidade onde nasceu. Criança nasceu no Brasil? Ela não vai saber, mas o País sabe que até o final do ensino médio ela vai receber o mesmo valor para a sua educação. O Suplicy não propõe uma renda mínima de cidadania? Vamos fazer uma renda mínima igual, uma renda média ou até uma renda máxima, no possível, para dar educação para cada criança brasileira. Só quem pode igualar isso é a União, daí a minha proposta, e espero contar com o apoio de todos, de a gente usar a eleição deste ano ainda, se der tempo, para fazer um plebiscito, para saber se a sociedade brasileira quer que a responsabilidade da educação esteja nas mãos dos Municípios, dos Estados ou nas mãos da União, e de preferência de forma voluntária, cidade por cidade. Mas o importante é parabenizar o Acre e dizer que é bom saber que há um exemplo como esse que a gente deve levar para os outros Estados do Brasil.

            O SR. JORGE VIANA (Bloco Apoio Governo/PT - AC) - Eu agradeço e faço aqui, aproveitando este final, uma breve leitura do que é a Biblioteca da Floresta Marina Silva.

            É uma biblioteca temática, com livros e aplicações diversas que tratam da identidade acreana e amazônica, meio ambiente, desenvolvimento sustentável e florestania. Produz publicações voltadas para a identidade acreana, revistas como Povos Indígenas no Acre; Índios Isolados no Acre; Wilson Pinheiro - 30 anos sem o líder seringueiro; Chico Mendes: O homem da floresta - 20 anos de saudade e conquistas; e outras.

            Então, a Biblioteca da Floresta Marina Silva, hoje, é administrada, cuidada pelo Marcos Afonso, um companheiro filósofo, intelectual, ex-Deputado Federal. Foi meu líder, quando fui prefeito, na Câmara Municipal. O Prof. Marcos Afonso tem cuidado da Biblioteca, que é, para mim, um xodó. Eu sou apaixonado pela Biblioteca e fico feliz. Recentemente, participei de um seminário.

            Sob o ponto de vista arquitetônico, ela também é um conceito. Tem um auditório, tem Sala do Saber, sala de exposição, acervo, duas salas de leitura, sala de automação do acervo, pesquisa multimídia, espaço de convivência, Espaço da Floresta, onde está a Casa do Seringueiro - você entra na Biblioteca e leva um choque: é um museu do conhecimento, ou do amanhã -, o Arquivo Chico Mendes - muito do material de Chico Mendes, original, está lá, porque, na época em que eu era governador, eu pus, sala de jogos ambientais e espaço indígena.

            A Casa do Seringueiro, no segundo piso, emociona a maioria dos visitantes, especialmente os próprios seringueiros. Nós colocamos canoa, nós colocamos tudo que tem numa casa de seringueiro na parte superior do prédio, antes de fechar as paredes. Então foi um trabalho muito difícil de ser feito.

            Tem algumas promoções da floresta. A Data da Floresta, o Dia da Amazônia, o Dia do Meio Ambiente, o Dia da Água, o Dia do Sol e outros ligados à causa do meio ambiente e do desenvolvimento sustentável são marcados com ações realizadas junto à comunidade e aos alunos das escolas públicas. Então, a Biblioteca se insere nesse calendário anual e vira um espaço cultural ligado à temática da sustentabilidade.

            A minha ideia, a nossa ideia, na criação dessa Biblioteca, era que ela virasse uma referência conceitual para o mundo inteiro, do ponto de vista da sustentabilidade e de algo que seja expressão da acreanidade nossa, diálogo entre saberes, palestras e debates, grupos temáticos, a Biblioteca da Floresta apóia 10 grupos que se reúnem e realizam atividades na instituição: filosofia, cinema, história, radioamadorismo, astronomia.

            Isso é a vida da Biblioteca da Floresta. Programa de imersão no novo tempo e espaços originais, em parceria com a Sociedade de Filosofia. A Biblioteca da Floresta realiza oficinas na floresta, nos seringais, com jovens especificamente. Então, esse é um aspecto.

            A Biblioteca Pública de Rio Branco foi inaugurada, num prédio novo também. Começou a ser discutida no meu governo, mas o Binho inaugurou em 2008, o Governador Binho. Tem um acerco de 80 mil exemplares de livros, CDs, DVDs e também histórias em quadrinhos e audiolivros.

            Ela é totalmente adequada para receber pessoas com mobilidade reduzida, todas as três bibliotecas têm acervo em Braile, e só a Biblioteca Pública, no centro de Rio Branco, tem 15 mil pessoas por mês que usam o acervo, fora aqueles que usam o espaço apenas para uma leitura, usam a gibiteca, assistem a filmes.

            Os serviços prestados são pesquisa em livros técnicos, empréstimo de livros, espaço comunidade digital, acesso livre à Internet, filmoteca, três sessões diárias gratuitas de filmes, histórias em quadrinhos, tem o espaço, a gibiteca, espaço para a criança, leitura infantojuvenil, empréstimo de livros, prática de estímulo à leitura com profissionais especializados, oficinas próprias para recuperação de livros. E funciona de segunda a sábado, de 8 às 21 horas.

            E a Biblioteca de Cruzeiro do Sul, a Biblioteca Padre Trindade, que tive o prazer de fundar em 99, agora é outra. E mais uma vez parabenizo o Governador Tião Viana. Ela está com uma área de 1.287m2, quatro pavimentos, um mezanino, elevador com quatro paradas e duas plataformas para atender a pessoas com mobilidade reduzida; mais de 23 mil exemplares de livros, CDs, DVDs, livros de história em quadrinhos, além do acervo em Braile. Dentre os serviços prestados, de segunda a sábado, de 8h às 21h, a gibiteca, o espaço para criança, com contação de história, comunidade digital com 20 computadores de última geração, acesso gratuito à internet, oficina de leitura, filmoteca para exibição diária e gratuita de filmes e também a restauração de livros e documentos.

            Esse, Sr. Presidente, é o registro que quero fazer hoje. Que sirva de estímulo para todos os prefeitos e governadores investirem na educação.

            Senador Cristovam, deixei para encerrar, agradecendo a V. Exª o aparte, dizendo - já conversamos sobre isso - que não só concordo com V. Exª, como vou explicitar aqui mais uma inconsistência, uma incoerência que está na própria Constituição e que apontei na reunião desse grupo que debate a educação, da Universidade de Harvard, de que tenho o prazer de participar, financiado pela Fundação Lemann.

            O que está posto na nossa Constituição? Está lá colocado que educação é prioridade, tudo bem. Mas ela divide o cuidado ou as responsabilidades de uma maneira absolutamente equivocada. Com a minha equipe, que está ali, estou juntando informações, vendo mundo afora, estudando outros países, para apresentar uma PEC mudando o que vai nessa linha. São coisas que podem andar paralelamente.

            O que está escrito na Constituição hoje? Traduzindo: quem cuida das crianças neste País? De quem é a responsabilidade maior de cuidar das crianças? Dos prefeitos. Quem cuida dos adolescentes? Os governos estaduais e o Distrito Federal. E quem cuida dos adultos? A União Federal.

            Agora, V. Exª acabou de afirmar, e eu assino embaixo, que tem a intenção de apresentarmos um plebiscito para que a população decida se não deve ser a União Federal quem cuida da educação no País.

            Nós fizemos o pior dos negócios. A intenção é até boa, mas não funciona. Vamos pegar de novo o exemplo da família: quando você tem um bebezinho em casa, você põe qualquer um para cuidar, e a mãe não chega nem perto? Ela só vai cuidar quando ele ficar adulto? Ou é o contrário?

            Todo mundo cuida do bebê em casa, todo mundo: fica ali, dá de comer na boca, limpa, faz a higiene pessoal, faz brincadeira, tenta dar os primeiros ensinamentos, porque é uma criança. As instituições do Brasil fazem o contrário: põem o mais frágil na cadeia para cuidar, o mais frágil, o que tem menos dinheiro, menos condição e, na grande maioria, menos compromisso. Cobrar 5.565 prefeitos é uma coisa; cobrar 27 governadores é outra coisa; cobrar um governo central é outra coisa ainda. Então está errado, Senador Cristovam. Está errado!

            Faço um paralelo, nesse debate, com o SUS. O SUS é uma coisa interessante, mas não descentralizei algumas coisas no SUS para prefeito, porque ele não aguenta, ele não tem condição. Vou pôr hospital de referência para prefeito? Ele tem condição de administrar? Foram criados Municípios que não têm nenhuma condição de ser municípios. Daí que esse debate sobre novos Municípios é muito perigoso, é muito perigoso.

            Criamos Municípios que não têm condições de ser Municípios; são pagadores de vereadores e de prefeitos. E só! Não têm recurso para fazer o básico de um prefeito, que é limpar a cidade, cuidar das vias públicas e fazer com que a cidade funcione. Nem falei de educação e saúde que teriam que ser a base da base.

            Então, Senador Cristovam, concluo dizendo isto: não acredito! O SUS cria pelo menos as comissões tripartites, cria mecanismos de fiscalização, e o que o prefeito tem a responsabilidade de fazer no Sistema SUS (Sistema Único de Saúde) é muito mais avançado do que o nosso sistema da educação. Há comissão tripartite para ver se o dinheiro está sendo aplicado, para ver se as coisas estão acontecendo. E, na educação, onde está a comissão tripartite? O prefeito tem lá um recurso carimbado, gasta pintando escola, fazendo escola sem nenhuma condição de funcionalidade, sem currículo, sem professores formados.

            Quando assumi o governo, havia quase três mil professores leigos. Sabe o que fiz, Senador? Falaram: “Cria uma faculdade estadual que você vai botar seu nome na história.” Falei: não, vou pegar e fortalecer a federal. Gastei mais de R$130 milhões, naquela época, pondo dinheiro. Tive reação da própria universidade, alguns professores não queriam. Falei: gente, vocês estão com salário baixo; vocês estão subutilizados - havia menos de três mil alunos na Universidade Federal do Acre. E falei também: vamos pôr a universidade nos 22 Municípios. Eu pago; o governo financia. E pusemos. Foi o primeiro lugar, Senador, primeiro Estado em que a universidade federal estava formando gente nos 22 Municípios. Já imaginou? Já imaginou a nossa UnB funcionando em todas as cidades-satélites? Formando jovens? E o que eu fiz? A desculpa era de que eu estava formando os professores - porque havia três mil professores leigos, que são aqueles que não têm diploma algum -, e, aí, abríamos vagas para a comunidade. Boa parte dos Municípios do Acre - eram oito quando assumi, dos vinte e dois - não tinham o segundo grau, o ensino médio! Não tinham, na sede! E eu fui colocar a faculdade lá. Não havia pessoas com nível superior para assumir um cargo na prefeitura ou assinar um documento que exija uma formação superior.

            O que houve? O Acre tem uma formação enorme, os nossos professores todos com formação de professor, com nível superior. Agora, saiu uma turma indígena, que era o nosso sonho maior: formar professores indígenas. Sempre formamos através da CPI, que é a Comissão Pró-Índio, uma ONG, em convênio, e agora também com nível superior.

            Então, nós formamos todos os professores do Estado, e, certamente, melhorou, com isso, o salário, melhorou a qualidade do ensino, e esparramamos uma melhora da educação em todo o Estado. Em todos os lugares, nas comunidades rurais, há ensino médio. Em todas as importantes comunidades rurais do Acre. E eu não acredito que os prefeitos teriam condição de fazer isso. Então, eu peguei e financiei a formação de todos os professores dos Municípios. Foi o Governo do Estado que financiou.

            Portanto, nós temos de fazer algo nesta linha de o País assumir a responsabilidade - e eu encerro com isso, Senador. O senhor concluirá minha fala. O País tem que fazer um pacto, mas toda a hora em que vem a discussão do pacto é sobre dinheiro. Eu acho que o dinheiro teria que ser o segundo elemento. O pacto tem que ser um compromisso político. O País vai mudar o patamar da educação em tantos anos, daqui para ali. Nós vamos querer estar nessa condição daqui a dez anos; na outra, daqui a vinte; e, em outra, daqui a trinta.

            Para isso, entram salário de professor, piso da educação, tudo. Mas esse pacto é político, porque, se colocar o dinheiro primeiro, não vai haver pacto nunca. Mas eu quero ver quem tem a coragem de fazer esse pacto político na Nação brasileira pela educação. Acho que é isso que devemos perseguir.

            Com a palavra, V. Exª, para concluir o meu discurso.

            O Sr. Cristovam Buarque (Bloco Apoio Governo/PDT - DF) - Eu creio que a expressão pacto da sociedade brasileira foi correta. Nisso eu acredito, mas não acredito em pacto dos governadores, dos prefeitos, do Presidente, como entidades administrativas. Não funciona. Assinam e esquecem. Já fizemos diversos pactos. No primeiro pacto pela educação - eu me lembro de que assisti à reunião -, eu já era Reitor, foi em 1985. O Unicef promoveu. Porque cada um vai embora, mas, agora, se a gente junta toda a sociedade brasileira, como fez a Irlanda.... A Irlanda fez uma reunião de líderes, durante três semanas, que se reuniram no Castelo de Cork. Os líderes sindicais, empresariais e políticos se reuniram para decidir o que fazer com o dinheiro que iria entrar no País com a Comunidade Econômica Europeia e decidiram: educação, saúde, ciência e tecnologia. A partir daí, muda governo, muda Presidente, muda Primeiro-Ministro e continua. Quando eu estive lá para ver isso, Senador Ruben, eu cheguei para o nosso Embaixador Stélio, que era Embaixador do Brasil na Irlanda, e eu disse: eu quero ir a esse lugar, eu quero ver o lugar - isso tinha ocorrido nos anos 70 -, porque eu queria ter o sentimento. Ele disse: “Não, não adianta, é muito longe. Você vai ficar aqui só três dias.” Havia um mapa na parede, e eu disse: mas, embaixador, olha este mapa aqui. Aqui não tem nada longe. Ele disse: “Não, é longe; vai levar quatro horas de viagem.” E eu disse: mas olha esse pedacinho aqui. Ele disse: “É, as estradas são muito ruins.” E, aí, eu perguntei: como é que a Irlanda, que hoje tem uma das melhores educações do mundo, tem estradas ruins? Ele disse: “É por isso. Colocaram todo o dinheiro em educação. Agora estão fazendo as estradas.” Este é o pacto que eu gostaria de ver no Brasil: o de protelar algumas coisas para se resolver a educação. Mas o executor do pacto não podem ser 5.565. Não vai se conseguir. O executor tem que ser um só. O pacto, o senhor disse bem, é da sociedade, não dos agentes administrativos do Brasil. O executor tem que ser, eu creio, a União. Finalmente, quero dizer que eu também sofri isso de reação da universidade. Quando eu era Ministro, fiz aquele programa de erradicação do analfabetismo, consegui reservar os recursos, fui às universidades que precisavam de dinheiro e disse: nós vamos repassar R$1 bilhão...

            O SR. JORGE VIANA (Bloco Apoio Governo/PT - AC) - Naquela época.

            O Sr. Cristovam Buarque (Bloco Apoio Governo/PDT - DF) - Naquela época. E vocês assumem a responsabilidade de alfabetizar - eu não lembro quantos por ano - com os alunos. Bastava que cento e trinta alunos, são quatro milhões e quatrocentos mil, se interessassem em ser alfabetizadores durante um período que a gente resolveria o analfabetismo em quatro anos. E os reitores disseram para mim: “O analfabetismo não é nosso problema.”

            O SR. JORGE VIANA (Bloco Apoio Governo/PT - AC) - Não é nossa função.

            O Sr. Cristovam Buarque (Bloco Apoio Governo/PDT - DF) - Eu disse: mas isso vai melhorar a consciência dos seus alunos, e vocês vão receber o dinheiro. “Não, queremos o dinheiro, mas não queremos a obrigação.” O mesmo que aconteceu com o ProUni. O ProUni nasceu de um projeto que eu elaborei como Ministro chamado PAE (Programa de Apoio ao Estudante). Foi entregue na Casa Civil o projeto de lei para mandar para o Congresso. Mas lá, Senador Jorge, o aluno beneficiado do ProUni tinha que ser alfabetizador de adultos, durante seis horas por semana, durante um semestre apenas. Não era um esforço grande, melhorava a consciência dele, a capacidade de conhecer gente mesmo do povo, e, ao mesmo tempo, prestava um grande serviço. No processo entre o PAE virar o ProUni, tiraram isso. Eu acho que porque dá muito mais voto você dar o dinheiro sem exigir uma contrapartida do que você dar o dinheiro recebendo uma contrapartida, o que, também, seria bom para o aluno, porque ele não ficava devendo, ele estava dando um serviço em troca. Então, eu reconheço: as universidades viram as costas para a educação de base e ainda constroem um muro entre a educação de base e eles - um muro que você só salta pelo vestibular. De vez em quando, põem umas escadinhas para facilitar: são as quotas, felizmente. Colocam as quotas, que é uma escadinha para facilitar pular o muro, mas só alguns conseguem pular o muro. A universidade - acho que este é um dos grandes problemas; são dois, na verdade -, virou as costas para o povo e não aceita conviver com o setor empresarial, que é fundamental. Essas duas coisas, a meu ver, atrapalham, conspiram contra o conhecimento no Brasil.

            O SR. JORGE VIANA (Bloco Apoio Governo/PT - AC) - E nos Estados Unidos... Aí vão dizer: “Ah, mas é porque são os Estados Unidos, então estão querendo imitar.” Não! Todo desenvolvimento, por exemplo, na costa oeste americana, da Califórnia, foi todo em torno das universidades.

            O Sr. Cristovam Buarque (Bloco Apoio Governo/PDT - DF) - Claro, claro.

            O SR. JORGE VIANA (Bloco Apoio Governo/PT - AC) - Porque elas estavam inseridas e tinham uma missão de educar, de desenvolver conhecimento, de buscar conhecimento e obviamente de consolidar uma atividade econômica do lado de fora.

            O Sr. Cristovam Buarque (Bloco Apoio Governo/PDT - DF) - Finalmente, eu quero agradecer seus cumprimentos pelo meu aniversário, mas dizer uma coisa que o Senador Ruben, que é da minha faixa, vai entender.

            O SR. JORGE VIANA (Bloco Apoio Governo/PT - AC) - Passa rapidinho, é?

            O Sr. Cristovam Buarque (Bloco Apoio Governo/PDT - DF) - A partir dos 70, em vez de a gente fazer festa para comemorar, eu tenho medo que a festa vire para se despedir.

            O SR. JORGE VIANA (Bloco Apoio Governo/PT - AC) - (Risos.) Muito obrigado e, mais uma vez, parabéns, Senador Cristovam.

            Sobre a coisa do Pacto, é isto: não deu certo porque foi a Unesco que estava fazendo. Só vai dar certo quando for a Nação brasileira mesmo, quando as autoridades, a sociedade, os setores organizados pactuarem. Agora, o Brasil precisa fazer isso. O Brasil precisa fazer isso!

            Muito obrigado, Sr. Presidente.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 22/02/2014 - Página 91