Discurso durante a 14ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Comentários sobre a decisão do Governo Federal acerca do Superavit Primário em 2014.

Autor
Gleisi Hoffmann (PT - Partido dos Trabalhadores/PR)
Nome completo: Gleisi Helena Hoffmann
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
POLITICA ECONOMICO FINANCEIRA.:
  • Comentários sobre a decisão do Governo Federal acerca do Superavit Primário em 2014.
Aparteantes
Cristovam Buarque, Vanessa Grazziotin.
Publicação
Publicação no DSF de 21/02/2014 - Página 60
Assunto
Outros > POLITICA ECONOMICO FINANCEIRA.
Indexação
  • ESCLARECIMENTOS, DECISÃO, GOVERNO FEDERAL, ALTERAÇÃO, METODOLOGIA, CALCULO, SUPERAVIT, BRASIL.

            A SRª GLEISI HOFFMANN (Bloco Apoio Governo/PT - PR. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão da oradora.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, é um prazer ocupar esta tribuna. Também quem nos acompanha pela Rádio e TV Senado, é um prazer muito grande.

            Eu queria falar hoje, Sr. Presidente, de uma decisão do nosso Governo Federal, que anunciou, há pouco, no final da manhã, qual será o superávit primário do nosso Orçamento para 2014, ou seja, qual é o esforço fiscal, a economia que o Governo Federal fará para pagar os serviços da dívida e manter o Orçamento equilibrado. O esforço que nós faremos para que possamos manter um equilíbrio da nossa dívida em relação ao Produto Interno Bruto será de R$99 bilhões, 1,9% do nosso Produto Interno Bruto.

            Isso vai garantir com que nós paguemos os serviços da dívida, mantendo um equilíbrio em relação à dívida líquida do País e à dívida bruta do País. Por que isso é importante? Porque isso mostra a responsabilidade do Governo Brasileiro de não gastar mais do que arrecada, de se preocupar com o endividamento e de ter uma economia saudável, para que nós possamos entregar à população brasileira resultados econômicos que melhorem a sua vida.

            Um esforço desse do Governo garante os pressupostos da nossa macroeconomia. Portanto, garante, sim, uma inflação sob controle; garante investimentos; garante empregos; garante que a vida do brasileiro seja melhor.

            Mas quero chamar a atenção para um outro fato. Mesmo fazendo essa economia de R$99 bilhões, de 1,9% do nosso Produto Interno Bruto, nós não vamos prejudicar os programas sociais, nós não vamos prejudicar os investimentos, e vamos continuar a oferecer ao povo brasileiro aquilo que a Presidenta disse que é essencial: programas públicos que melhorem a vida da população.

            Isso é importante, porque nós já tivemos um tempo no nosso País em que nós não conseguíamos fazer investimento, não conseguíamos ter programas e projetos sociais, não conseguíamos atender à população. Nós não temos mais esse tempo. Hoje, nós temos uma política social muito abrangente no nosso País, uma política social que foi responsável por tirar mais de 36 milhões de pessoas da miséria e colocar mais de 40 milhões na classe média.

            Hoje nós temos investimentos em várias áreas: na educação, na área de saúde, na área de infraestrutura, e isso faz com que a população brasileira tenha uma melhor qualidade de vida.

            Por que é importante também falar dessa economia e falar do superávit primário? Primeiro, porque mostra que as contas do Brasil estão em equilíbrio, como eu já disse, e também para desmistificar a falsa polêmica de que nós temos um descontrole fiscal no País. Não é verdade. Nós não temos um descontrole fiscal no País.

            E para chegarmos aos R$99 bilhões, o Governo brasileiro está contingenciando em despesas, neste ano, R$44 bilhões. Ou seja, nós vamos contingenciar despesas, porque o esforço fiscal não é só do Governo Federal; é do Governo Federal, dos Estados e dos Municípios. E o Governo Federal vai contingenciar R$44 bilhões. Ou seja, vai fazer uma economia além daquilo a que tinha se proposto no Orçamento.

            E isso não vai impactar os nossos programas. Repito: não vai impactar os programas e projetos essenciais à vida do povo brasileiro.

            Quero dizer que, no Governo da Presidenta Dilma, nós vivemos um governo de profundo equilíbrio, de muita austeridade e responsabilidade fiscal, mas também de muito investimento e direcionamento correto dos recursos. Já começamos isso com o governo do Presidente Lula, e, em 2011, a Presidenta Dilma já tinha feito uma economia e um contingenciamento de R$50 bilhões. Em 2012, fizemos uma economia de quase R$55 bilhões e, no ano passado, chegamos a quase R$30 bilhões. Neste ano, estamos chegando a R$44 bilhões.

            Recebemos muitas críticas, inclusive no início deste ano, dizendo que nós tínhamos utilizado receitas extraordinárias para chegar a esse resultado, e que isso não valia. Mas aí eu me pergunto: e as despesas extraordinárias que nós tivemos ao longo de 2013 ou que tivemos ao longo dos anos anteriores?

            Em 2013, nós tivemos um gasto extremamente grande no enfrentamento à seca do Nordeste, Senador Cristovam. Nós tivemos uma das maiores secas dos últimos 50 anos. Os investimentos que fizemos no Nordeste garantiram que nós não tivéssemos, de novo, as cenas dos retirantes que fogem da seca.

            Nós proporcionamos o Bolsa Estiagem, o Garantia Safra, a renegociação das dívidas. Enfim, garantimos à população do Nordeste o mínimo de dignidade para continuar convivendo com a seca. Isso custou muito. E isso também não estava previsto nas despesas do Governo, como também não estava prevista, por exemplo, a entrada do Refis, que todos criticam como uma despesa extraordinária que veio salvar o superávit. Mas veio também compensar uma despesa extraordinária: a despesa que nós tivemos com a seca, que, apenas no ano de 2013, chegou a quase R$10 bilhões.

            E aí eu pergunto: nós podíamos deixar de fazer essa despesa? Nós teríamos o direito, como Governo, de não socorrer uma população, de não fazer investimento para que essas pessoas tivessem acesso ao mínimo que lhes dá dignidade para conviver com a situação de seca? Não. Nós não tínhamos direito de fazer isso, e não o fizemos. E conseguimos entregar à população programas importantes que a protegeram desse processo da seca.

            Nós também tivemos mais despesas extraordinárias, como, por exemplo, com as chuvas. Nós tivemos um período chuvoso em várias cidades do Sudeste brasileiro. No final do ano, de novembro até dezembro, início de janeiro, nós tivemos muitos problemas com chuvas no Espírito Santo, tivemos no Rio de Janeiro, tivemos em outros Municípios. Isso era uma despesa previsível? Também não era previsível. Também foi uma despesa extraordinária.

            Portanto, dizer que nós fizemos um superávit fiscal baseado em receita extraordinária em 2013 e que ele não é efetivo é um erro, porque nós também tivemos as despesas extraordinárias. E nós não temos o direito de chegar à frente da população brasileira e não socorrê-la nesses momentos mais difíceis de dor e de necessidade.

            Tenho certeza de que o resultado pretendido pelo Governo brasileiro e divulgado hoje vai ser muito importante para a nossa economia e muito positivo também. Ademais, merece registro que nós temos feito um esforço fiscal nos meses de novembro, fizemos um esforço fiscal nos meses de novembro e dezembro de 2013 e também no mês de janeiro. Esses meses trarão um resultado positivo ao Governo brasileiro, sim, e às nossas contas.

            Eu não estou aqui sendo falsa otimista, ou achando que nós não temos problemas, e que é uma situação simples. Eu sei do esforço que foi para o Governo fazer essa economia e entregar esse resultado ao País, equilibrando todas as demandas que tem a Nação. Eu não tenho é autoengano. Eu sei que nós podemos, sim, olhar para o nosso País e dizer que, hoje, nós conquistamos um equilíbrio na nossa economia, nós conquistamos um equilíbrio nas nossas contas, conseguimos manter a nossa dívida em relação ao Produto Interno Bruto, sem sacrificar a nossa população, tirando dela programas e projetos importantes.

            Quero dizer aos senhores que, na média dos três anos da Presidenta Dilma, a proporção do superávit primário, ou seja, a economia que nós fazemos para pagar os serviços da dívida em relação ao Produto Interno Bruto, ao conjunto das nossas riquezas, foi de 1,9%. No governo do Presidente Lula, a média ficou em 2,2% e, no período do Presidente Fernando Henrique Cardoso, foi de 1,1%, Portanto, nós temos mantido, sim, um superávit primário que tem condições de dar o resultado que nós tanto queremos.

            E é importante dizer, Sr. Presidente, Srs. Senadores, repetindo novamente, que isso não tem tido impacto nos investimentos e nos programas que nós fazemos. Muito pelo contrário, o Governo brasileiro tem feito um esforço muito grande para controlar as suas contas e fazer economia naquilo que, de fato, interessa à população.

            Eu queria trazer um dado a quem está nos ouvindo, aos Srs. e às Srªs Senadoras. Por exemplo, a despesa com o pessoal e encargos, que é tão criticada, e que dizem que nenhum governo consegue equilibrar. Pois bem, em 2002, tínhamos uma despesa de pessoal e encargos, em relação ao Produto Interno Bruto, que chegava a quase 5% do Produto Interno Bruto, do nosso PIB.

            Temos hoje, em 2013 - portanto, 11 anos depois -, um percentual de 4,2% de comprometimento de pessoal em relação ao Produto Interno Bruto. Isso mostra a responsabilidade do Governo com aquelas despesas que são governáveis, que só estão sob sua governabilidade, e que requerem muita responsabilidade.

            Onde aumentamos as nossas despesas? Exatamente, onde tínhamos que aumentar: nas transferências de renda às famílias, para melhorar a vida dos mais pobres. Em 2002, tínhamos cerca de 6,7% do nosso PIB gasto com transferência de rendas; hoje, em 2013, temos cerca de 9,5%. Então, se alguém quer nos acusar de aumento de despesa, de descontrole de despesa, que aponte onde estamos aumentando despesa, porque não é em pessoal, não é em custeio.

            Aliás, nas demais despesas de custeio, tirando educação e saúde, tínhamos um gasto que equivalia a 1,2% do PIB em 2002, e, hoje, equivale a 0,8% do PIB. Cortamos despesas naquilo que não afeta diretamente a vida do povo brasileiro, e aumentamos as nossas despesas, sim! Isso é uma opção política, foi uma opção do Presidente Lula, e foi, e é uma opção da Presidenta Dilma: aumentamos despesas naquilo que afeta a vida do povo brasileiro.

            Por exemplo, implantamos o Bolsa Família, que não havia; aumentamos o abono e o seguro-desemprego; aumentamos os investimentos e os recursos para a Lei de Assistência Social, para os benefícios da legislação pessoal, para os benefícios continuados; aumentamos, também, os nossos investimentos, que saíram de 0,9% do PIB e foram para 1,3% do PIB.

            Acho importante registrar isso, Sr. Presidente, porque há uma falsa polêmica de que estamos num descontrole fiscal e aumentamos as nossas despesas. É importante dizer onde aumentamos e por que aumentamos. Um governo tem de ter opção, e fizemos, claramente, essa opção, sem comprometer os pressupostos macroeconômicos, tendo equilíbrio nas nossas contas fiscais.

            Concedo um aparte ao Senador Cristovam.

            O Sr. Cristovam Buarque (Bloco Apoio Governo/PDT - DF) - Senadora Gleisi, gostaria, primeiro, de parabenizar pela clareza como V. Exª apresenta esse assunto. Segundo, queria dizer que fico satisfeito, porque aconteceu algo que não imaginava que poderia acontecer que era, em ano de eleições, o Governo ter um senso de responsabilidade e cortar gastos, seja contingenciando, seja suspendendo. Nesse ponto, eu estou de acordo que é um bom passo. Eu não sei é se esse contingenciamento, de fato, vai ser suficiente e onde ele vai tocar, porque, pelo que eu ouvi de informação - ainda é muito primário, porque isso foi agora -, eu acho que foram contingenciadas, sobretudo, as emendas parlamentares. E eu não sou contra que contingenciem isso, não. Eu sou contra haver emenda parlamentar, acho que não devia existir isso. Mas a gente tem que saber que as emendas parlamentares não vão para os Parlamentares; elas vão para a saúde, para a educação, para outros gastos. Então, na hora de saber onde foi contingenciado, tem que saber para onde é que essas emendas parlamentares iriam, para onde iria o dinheiro. Mas não é isso o que eu quero falar, porque isso exigiria ter até um tempo maior e sentar numa mesa para podermos analisar. Não é na tribuna e aqui. Por isso, eu queria sugerir, como venho sugerindo já há alguns anos, que o Governo ouça algumas das vozes que têm sido críticas, que o Governo considere que está fazendo sua parte ao cortar gastos em pleno ano eleitoral e que, portanto, quer ouvir o que os críticos têm a dizer. Eu confesso até que eu gosto de dizer que eu estou entre os que alertam, não entre os que criticam. Eu creio que seria a hora de a gente discutir esse assunto de uma forma mais suprapartidária e de mais médio prazo, porque o problema não vai se esgotar este ano. Qualquer Presidente que assumir vai ter que tomar certas medidas de contingenciamento, como essas que a Presidente Dilma está tomando neste momento, que são necessárias e que terão impactos eleitorais, talvez. Então, eu queria sugerir, com a liderança que a senhora tem, com o papel que a senhora teve no Governo até muito recentemente, poucas semanas atrás, que está na hora de as autoridades econômicas - eu não falo a Presidente, mas as autoridades econômicas - sentarem com pessoas que têm alertas a dar, que têm críticas a fazer e que, de repente, quem sabe, podem estar certas. Eu falo sentar à mesa não com espírito oposicionista, mas com espírito de alerta. Pode-se até dizer de crítica, mas não de crítica no sentido eleitoral, de querer tirar vantagem; crítica no sentido técnico, do ponto de vista dos impactos econômicos das decisões. Essa é elogiável. Eu acho que não é suficiente ainda, sobretudo se considerarmos o médio prazo. Até pode ser para o imediato, para garantir o superávit fiscal que recupere a credibilidade, que acabe com todas essas notícias que têm surgido ultimamente e que são muito negativas no exterior, mas que não resolve o médio e longo prazos. O Brasil precisa ter um projeto de médio e longo prazos na economia, suprapartidariamente. Eu sei que o que estou dizendo pode parecer coisa de ET (de extraterrestre), de querer, no Brasil, fazer uma discussão suprapartidária, mas, às vezes, quando a crise fica grande, talvez tenhamos de buscar inspirações nos extraterrestres, que são aqueles que tentam analisar a crise que estamos vivendo - e que pode se acirrar -, de um ponto de vista não eleitoral e não partidário, mas de um espírito patriótico, sobre o que nós, Governo e oposição, podemos fazer para que o País não entre em um processo crítico. Então, minha sugestão, solicitação e apelo é que, com sua liderança e sua influência, tentemos fazer isto: convidemos o Ministro Mantega para uma discussão, não para uma audiência, em que ele fala, fala, fala, e depois vai embora, um de nós faz pergunta, cada um entra e sai. Mas sentarmo-nos à mesa e começarmos a conversar sobre os pontos críticos que temos, quais são os erros que os críticos acusam e quais são os possíveis acertos. Se tivermos acertos, aí sim, o Governo tem de cobrar que nós demos sustentação àquilo que a gente sugere, como, por exemplo, se a gente fala em redução de custos, temos de aqui dar sustentação, não pode ser uma coisa só partidária, do Governo, precisa ser uma coisa suprapartidária também na hora dos ônus de tomar certas decisões. Essa é a sugestão que eu gostaria de fazer. Para mim, o Senado existe para isso. E, para isso, precisa de pessoas com a categoria com que a senhora desempenha sua tarefa, conforme comprovamos agora.

            A SRª GLEISI HOFFMANN (Bloco/PT - PR) - Muito obrigada, Senador Cristovam.

            Eu também acho muito importante fazer esse debate. Nós não somos avessos às críticas. Não é isso! Acho que as críticas são bem-vindas e necessárias, até porque não acertamos sempre; também temos falhas, com certeza. O que nos preocupa, particularmente, é quando essas críticas passam do limite e elas comecem a ser uma aposta para que as coisas deem errado, para que saiam errado, para que o País não prospere.

            Quando eu falei, na Comissão de Assuntos Econômicos, sobre o relatório do FED, eu não estava querendo comprar uma briga com quem é maior do que nós para desviarmos a atenção. Ocorre que o FED é um órgão de um país, não é um órgão que medeia relações e que pode dar opiniões. Ele tem interesses e os defende. Então, na medida em que ele faz uma crítica ao Brasil, há um interesse por trás. Qual o interesse que o FED tem?

            Ele disputa - ou seja, o país que defende, os Estados Unidos - os investimentos que estão no mundo, assim como nós disputamos, assim como a China disputa, assim como os países europeus disputam.

            Então, cada vez que um país mais forte, um país que tem mais condições de disputar mais investimentos começa a ter problema, há uma migração desse tipo de investimento.

(Soa a campainha.)

            A SRª GLEISI HOFFMANN (Bloco Apoio Governo/PT - PR) - Então, dizer que um país como o Brasil está no segundo lugar de maior vulnerabilidade, sem mostrar metodologia, com dados que não estão claros e partindo de um órgão que tem interesse nisso, é muito ruim, não é correto fazer, tanto que grande parte dos economistas brasileiros, independente das posições políticas que defendem, criticou essa postura do FED.

            E, hoje, nós temos a boa notícia de que a entrada de dólares superou a saída em 318 milhões no acumulado de fevereiro até sexta-feira da semana passada, informou o Banco Central. E por que temos isso? Se fosse pela avaliação do FED, não teríamos a entrada de recursos, nenhum investidor viria para cá, porque nós somos o segundo maior vulnerável. Nós temos isso, Senador, porque tomamos medidas. Quando começou a movimentação do banco central americano para a questão de mudança dos incentivos da economia, o Brasil começou a tomar medidas, a partir de abril do ano passado.

            E diz aqui o Presidente do Banco Central: “Uma das explicações para o aumento do interesse pelo País é o fato de que o processo de alta da taxa de juros começou bem antes do de outras economias emergentes.” Ou seja, em abril, nós começamos um lento e gradual processo de aumento das taxas de juros, já sabendo que ia haver uma mudança no FED e que haveria, portanto, um desinteresse dos investidores no Brasil. Então, o resultado que estamos tendo aqui, de 318 milhões acumulados, ou seja, de entrada, positivos, reflete exatamente isto: a medida que foi tomada.

            Por isso, naquela ocasião, na reunião da CAE (Comissão de Assuntos Econômicos), eu falei com tanta veemência contra o relatório do FED. Por exemplo, saiu um relatório do Fundo Monetário Internacional, que é uma instituição acima dos países, pode-se dizer assim, dizendo não que o Brasil é vulnerável, mas que foi afetado. Talvez esta seja uma avaliação mais correta: foi afetado. Nós conseguimos dar resposta para proteger nossa economia, para proteger nosso emprego, para proteger a renda do povo brasileiro. Nós, hoje, temos uma das menores taxas de desemprego. Nós não comprometemos a renda do trabalhador. Eu não quero dizer com isso, Senador Cristovam, que não tenhamos problema. É óbvio que temos problemas. Estamos inseridos num contexto internacional.

            Estamos conquistando uma estabilidade no processo econômico, até, e inclusive, porque as discussões de economia tomaram um rumo suprapartidário. Quando o Presidente Lula assumiu a Presidência deste País, ele não refez, não revogou, não revisou os pressupostos da macroeconomia, como a estabilidade, a manutenção da relação dívida/PIB, ter superávit primário, observar a Lei de Responsabilidade Fiscal. Lula manteve isso, e isso foi um ganho para o Brasil. Mas nós fomos além, fizemos isso e dissemos: “Mas nós temos que investir, nós temos que gerar empregos, nós temos que ter política social”. Foi isso o que nós fizemos e conseguimos fazer.

            Hoje, nós temos uma dívida pública líquida de 33,8% do PIB. Aí, muita gente diz: “A dívida pública líquida não vale. O que vale é a dívida bruta, porque há as operações e os aportes do Tesouro nos bancos públicos”. Quando nós conquistamos o equilíbrio da dívida pública líquida, vem uma voz dizendo que não, que nós temos que ir para a dívida pública bruta.

            Então vamos para a dívida bruta. A dívida bruta brasileira hoje é 59% do PIB e está estável. Isto é que é importante: ela está estável. Desde 2006, ela oscila entre 60%, 58%, 59%. Do que se compõe a nossa dívida bruta? De duas coisas: as operações compromissadas...

            O que são operações compromissadas? As operações que resguardam as nossas reservas: compra e venda de dólar, emissão de título do Banco Central, ou seja, as que resguardam nossas reservas. E é natural que essas operações compromissadas tenham subido ao longo dos últimos anos, porque as nossas reservas internacionais subiram - nós temos 370 bilhões de reservas internacionais.

            E também há o que chamamos de dívida mobiliária, que são os títulos colocados no mercado. São, por exemplo, os aportes nos bancos públicos. Mas, para se ter uma ideia, Senador, nós tínhamos, de dívida mobiliária, ou seja, de aporte em banco e de emissão de título, em janeiro de 2007, 52,2% da dívida bruta.

(Soa a campainha.)

            A SRª GLEISI HOFFMANN (Bloco Apoio Governo. PT - PR) - Hoje, nós temos 43,9%. Então, em relação àquilo que nos criticam, que dizem ser o nosso problema, nós estamos mostrando um decréscimo, e estamos também fazendo decrescer os aportes que fazemos nos bancos públicos.

            Então, não é que nós não estejamos entendendo as críticas e não queiramos discuti-las. Nós queremos discuti-las, o que não pode são opiniões que estão sendo repetidas e que não têm base numa realidade que o País está apresentando, dentro de um cenário adverso - porque o cenário da economia global é extremamente adverso.

            Enquanto a nossa dívida bruta é de 59% do PIB... Digamos que tenhamos que pegar a metodologia do Fundo Monetário Internacional, o FMI, que chega a 68 - e nós questionamos essa metodologia e estamos ganhando essa discussão -, para comparar com outros países. A da Alemanha é de 80%, a da Espanha é de 93%, a da Itália é 132% do PIB italiano, a de Portugal é de 123%.

            Eu concordo com V. Exª. Nós temos, sim, que fazer um grande debate. Eu acho que esse é o debate que cabe a esta Casa, cabe ao Senado da República fazer. Temos que chamar todos, mas temos que fazer isso desarmados, não especulando e apostando contra o País, não querendo que as coisas deem erradas.

            O Brasil hoje tem condições, sim, de receber investimentos, além desses que falei agora, em que já temos saldo positivo, ou seja, a entrada supera a saída, o que é magnífico em se tratando de um país que é vulnerável, como diz o FED.

            Temos investimentos em infraestrutura. O sucesso de nossas concessões, de conceder mais de quatro mil quilômetros de rodovias no final do ano passado, de fazer dois leilões vitoriosos de aeroportos, já havíamos feito outros três, de termos investimentos na área de energia. Também foi um sucesso o campo de Libra, o leilão que fizemos. Temos feito leilões e concessões na área de energia elétrica com sucesso, na área de linhas de distribuição, de transmissão, de geração.

            Este País mostra, pela realidade da sua economia, que tem, sim, maturidade na condução. Precisamos discutir, e esta Casa tem que ajudar, não tenho dúvidas disso, mas tenho certeza de que estamos no rumo. Precisamos, talvez, fazer ajustes, melhorar. Sempre precisamos, em qualquer situação da vida, inclusive da nossa pessoal, mas o que não podemos é conviver com um criticismo que, na realidade, é uma especulação em cima do País.

            Concedo um aparte à Senadora Vanessa.

            A Srª Vanessa Grazziotin (Bloco Apoio Governo/PCdoB - AM) - Agradeço, Senadora Gleisi, pelo aparte. Cheguei e V. Exª já estava fazendo algumas observações em relação ao aparte do Senador Cristovam, que, aliás, é o aniversariante do dia. Vamos aqui prestar uma homenagem...

            A SRª GLEISI HOFFMANN (Bloco Apoio Governo/PT - PR) - Muito bem, parabéns!

            A Srª Vanessa Grazziotin (Bloco Apoio Governo/PCdoB - AM) - ... ao Senador Cristovam, que está aniversariando hoje.

            A SRª GLEISI HOFFMANN (Bloco Apoio Governo/PT - PR) - Parabéns, muitas felicidades, Senador!

            A Srª Vanessa Grazziotin (Bloco Apoio Governo/PCdoB - AM) - Senadora, mais uma vez, para cumprimentá-la pelo pronunciamento. Acho que esse é o caminho que precisamos percorrer. Críticas são muito bem-vindas, não só da oposição. Tenho dito: o meu Partido não só apoia, mas participa deste Governo, e nunca se eximiu de apresentar as suas propostas, de indicar os caminhos que entende - e eles podem até não o ser - corretos, mas que entendemos que são os melhores caminhos para o Brasil. Entretanto, nós precisamos pôr os pingos nos is. O que estamos vendo ultimamente, não só no Parlamento, mas muito na imprensa, é a tentativa de construção de uma realidade irreal. São críticas que não se sustentam porque, quando vamos verificar os números... Falar é muito fácil! Podemos falar o que quisermos. O que não é fácil é provar, com números, a realidade. O importante não é o discurso, o importante são os fatos. Quando vemos os números efetivamente, vemos que a inflação está em queda e que os índices sociais são positivos. Quanto à dívida, travamos na Comissão recentemente - e V. Exª fala da dívida bruta brasileira. Nós, no Brasil, oscilamos entre a 30ª e a 40ª posição em termos de proporção dívida/PIB. Estamos melhores do que os Estados Unidos e do que muitos países que têm uma dificuldade muito maior do que nós. Então, quero cumprimentar, porque quando debatemos neste Plenário não estamos debatendo apenas entre nós. Estamos debatendo com o Brasil. E é preciso que o Brasil entenda e perceba que dificuldades existem, porque o mundo passa por uma dificuldade grave. Mas, até o momento - e eu não tenho dúvida que assim será daqui para frente -, o Brasil tem sabido se portar, tem sabido enfrentar a crise, e enfrentá-la com os olhos voltados para o povo brasileiro, e não de costas para ele. Parabéns pelo pronunciamento de alto nível, que demonstra conhecimento, não só familiaridade, mas muita segurança nos dados que expõe. É isso que faz com que nós cada vez tenhamos um ânimo maior de continuar trabalhando para ver as coisas melhorando para toda a nossa gente. Parabéns, Senadora.

(Soa a campainha.)

            A SRª GLEISI HOFFMANN (Bloco Apoio Governo/PT - PR) - Agradeço o aparte, Senadora Vanessa.

            Eu queria reafirmar aqui que o anúncio feito hoje pelo Governo brasileiro mostra o compromisso que tem com a responsabilidade fiscal, com a responsabilidade pelas suas contas públicas. E, mesmo assim, mostra também a responsabilidade que tem com os investimentos e com os aportes de recursos nos programas sociais.

            Eu queria agradecer, Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, e dizer a todos que nos assistem pela TV e que nos ouvem pela rádio Senado do espaço para essa discussão, que julgo uma das mais relevantes e importantes para o nosso Brasil. É um Brasil que tem crescido, é um Brasil que tem dado dignidade ao seu povo, com uma baixa taxa de desemprego, que tem cuidado da renda das pessoas e que, mesmo assim, tem conquistado e conseguido fazer com que suas contas sejam equilibradas.

            Eu sempre digo: nós não podemos ter de escolher entre equilíbrio e investimentos sociais e investimentos em infraestrutura. Nós temos que ter sempre equilíbrio fiscal e nunca escolher entre apenas fazer a poupança, apenas não gastar, ou investir em infraestrutura e área social. Nós temos que ter equilíbrio.

            O Governo da Presidenta Dilma, assim como o governo do Presidente Lula, tem demonstrado isso ao País e ao mundo.

            Muito obrigada.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 21/02/2014 - Página 60