Pronunciamento de Valdir Raupp em 20/02/2014
Discurso durante a 14ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal
Relato de missão parlamentar com a participação de S. Exª ao Irã; e outro assunto.
- Autor
- Valdir Raupp (PMDB - Movimento Democrático Brasileiro/RO)
- Nome completo: Valdir Raupp de Matos
- Casa
- Senado Federal
- Tipo
- Discurso
- Resumo por assunto
-
CALAMIDADE PUBLICA.
POLITICA EXTERNA.:
- Relato de missão parlamentar com a participação de S. Exª ao Irã; e outro assunto.
- Publicação
- Publicação no DSF de 21/02/2014 - Página 81
- Assunto
- Outros > CALAMIDADE PUBLICA. POLITICA EXTERNA.
- Indexação
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- COMENTARIO, CALAMIDADE PUBLICA, INUNDAÇÃO, RIO MADEIRA, ESTADO DE RONDONIA (RO), ESTADO DO ACRE (AC), EFEITO, DESTRUIÇÃO, RESIDENCIA, PEDIDO, PROVIDENCIA, GOVERNO FEDERAL, MINISTERIO PUBLICO FEDERAL.
- REGISTRO, VIAGEM, REALIZAÇÃO, ORADOR, EDUARDO SUPLICY, SENADOR, LOCAL, PAIS ESTRANGEIRO, IRÃ, MOTIVO, RELAÇÕES INTERNACIONAIS, NECESSIDADE, AUMENTO, RELAÇÃO, COMERCIO.
O SR. VALDIR RAUPP (Bloco Maioria/PMDB - RO. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Obrigado, Presidente, Senador Ruben Figueiró, pela permuta e concessão do tempo, para que eu possa fazer o meu pronunciamento.
Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, antes de entrar no meu pronunciamento sobre a viagem que fiz em missão oficial para o Irã, para a República Islâmica do Irã, juntamente com o Senador Eduardo Suplicy e mais dois Deputados Federais, eu queria fazer uma pequena fala sobre a enchente do Rio Madeira, ou enchente que está hoje afetando fortemente o Estado de Rondônia e o Estado do Acre. O Estado do Acre já está, há alguns dias, isolado, sem que possa passar absolutamente nada para o Estado do Acre, e tudo passa pela BR-364, que corta o Mato Grosso, Rondônia e chega à capital, Rio Branco, do Estado do Acre, e a outras cidades acrianas.
Da mesma forma, Sr. Presidente, estão isoladas as cidades de Guajará-Mirim, uma cidade histórica do Estado de Rondônia, e Nova Mamoré, também na mesma região, chamada região do Vale do Mamoré, fronteira com a Bolívia. E a Bolívia está numa situação ainda pior. São mais de quatro mil pessoas desabrigadas na Bolívia. Em Rondônia, são quase 1.100 famílias desabrigadas.
A Deputada Marinha Raupp, já pela segunda vez, dirigiu-se a Rondônia, na semana passada, levando o Ministro da Integração Nacional, o Diretor-Geral do DNIT e outras autoridades da Defesa Civil nacional, autoridades da Agência Nacional de Águas, do Ministério de Minas e Energia, para verem de perto e poder encontrar solução para aquele grave problema.
Novamente a Deputada Marinha se deslocou ontem à noite para Rondônia e, hoje pela manhã, foi a Guajará-Mirim e a Nova Mamoré, em reunião com os prefeitos das duas cidades e câmaras de vereadores, associação comercial e industrial, porque também estão isoladas. Já foi encontrado um caminho alternativo, mais muito precário, por uma estrada vicinal que sai de Porto Velho, Jaci Paraná, Bandeirantes, Nova Dimensão, Nova Mamoré, para chegar a Guajará-Mirim. E, quando chove, os caminhões pesados não conseguem transpor essa rodovia.
Então, o pedido, o pleito, neste momento - conversei com o Governador do meu Estado hoje à tarde, Confúcio Moura, que vai me dar retorno mais tarde de uma reunião que ele vai ter ainda hoje com o Ministério Público Federal -, é para que libere uma estrada que está embargada, a BR-421, que sai da divisa do Mato Grosso com Rondônia, Machadinho, passa por Ariquemes, Montenegro, Campo Novo, Buritis e chega também a Nova Mamoré e Guajará-Mirim. Mas há um trecho de apenas 17 quilômetros que corta uma reserva, uma reserva extrativista, e passa muito perto de uma reserva indígena. Então, já estão sendo feitas, há algum tempo, tratativas para que possa ser liberada a travessia, mesmo que seja com estrada parque - já há outros exemplos no Brasil -, pela BR-421.
Neste momento, em poucos dias, talvez em três ou quatro dias, o Governo do Estado, com o DER, o DNIT nacional, que já se colocou à disposição também, e até o Exército, que tem pontes móveis muito rápidas de serem montadas, poderão fazer essa travessia, para tirar do isolamento as cidades de Guajará-Mirim e Nova Mamoré.
E talvez até resolva o problema do Acre, porque as usinas do Rio Madeira represaram um pouco a água e, também, através de muito chuva e da enchente, está isolando o Acre antes do entroncamento de Abunã a Guajará-Mirim. Então, se liberar a BR-421, poderá ser abastecido o Acre por essa rodovia, saindo próximo a Guajará-Mirim, pelo Trevo do Abunã, e seguindo viagem em sentido ao Acre. Então, tiraria do isolamento as cidades de Guajará-Mirim, Nova Mamoré e todo o Estado do Acre, e uma região ainda grande de Rondônia chamada Ponta do Abunã, Extrema, Nova Califórnia, Vista Alegre, Fortaleza do Abunã, aqueles distritos daquela região.
Então, faço aqui, Sr. Presidente, este apelo, para que as autoridades federais, mais uma vez, possam nos ajudar, nos socorrer. É muita gente sofrendo, muita gente no isolamento. As cheias dão sinais de baixa, mas logo voltam a subir novamente. Baixam cinco, seis, sete centímetros e já começam a subir de novo. Então, está estabilizado. Neste momento, graças a Deus, deu uma estabilizada, porque já está mais de 17,8 metros acima do leito do Rio Madeira, causando todo esse estrago naquela região.
Vamos pedir a Deus que possa mandar um pouco dessas chuvas lá do Peru, da Bolívia, das nascentes do Rio Madre de Deus, do Rio Beni, do Rio Guaporé, do Rio Mamoré, para outras regiões do Brasil que neste momento estão com um problema seriíssimo de falta de água. Inclusive São Paulo, a capital do maior Estado brasileiro, está sofrendo a falta de água, possivelmente até com racionamento. Está lá no fundo do poço, no fundo das represas, porque não tem chovido naquela região.
Da mesma forma, os reservatórios também das usinas do Centro-Oeste, do Sudeste, do Sul, principalmente do Nordeste, também estão com problema de falta de água, e sobrando muita água na Região Norte do Brasil.
Deus tem sido muito generoso, mas eu pediria, neste momento, orações mesmo da população brasileira, para que as chuvas cessem naquela região e possa chover em outras regiões do Brasil.
Eu entro, agora, Sr. Presidente, no meu pronunciamento sobre a viagem do Irã.
Entre os dias 15 e 17 de fevereiro último, foi conduzida uma Missão Parlamentar à República Islâmica do Irã. Juntamente comigo participaram da delegação brasileira o Senador Eduardo Suplicy, do PT de São Paulo, o Deputado Edson Santos, também do PT do Rio de Janeiro, e o Deputado Ivan Valente, do PSOL de São Paulo.
Durante a missão, nos reunimos com diversas autoridades iranianas, que a seguir informo: Sr. Ali Larijani, Presidente da Assembleia Consultiva Islâmica, do Parlamento iraniano, que seria como se fosse o Presidente do Congresso brasileiro; Sr. Takht Ravanchi, Vice-Ministro das Relações Exteriores; Sr. Amini Nia, Presidente do Centro de Inovação e Cooperação Tecnológica da Presidência do Irã, que há poucos anos o Ministro Resende, da Ciência e Tecnologia brasileira, esteve visitando; membros do Grupo Amizade Irã-Brasil, no âmbito da Assembleia Consultiva Islâmica; membros da Comissão de Segurança Nacional e Política Externa; também o nosso Embaixador Santiago Irazabal Mourão, Embaixador do Brasil em Teerã, e toda a sua equipe de auxiliares, diplomatas, Drª Patrícia, Gustavo, Rodrigo, Rafael e também o jornalista da Folha de S.Paulo, o Samy Leal, que nos acompanhou na maioria dessas reuniões, inclusive saiu reportagem na Folha de S.Paulo; Vice-Ministro para Assuntos Internacionais e comércio do Ministério do Petróleo do Irã, Sr. Ali Majedi.
De maneira geral, Sr. Presidente, é possível afirmar que os iranianos sentem a falta de interesse do Brasil pelo país. Apesar de todo o potencial econômico, eles veem poucas iniciativas brasileiras para incrementar o comércio entre os dois países. E os números compravam isso. Em 2012, o Brasil comprou apenas 0,03% das exportações iranianas, ou um valor de somente US$24 milhões.
Por outro lado, conseguimos exportar um pouco mais. O Brasil participou com 4,1% das compras iranianas do exterior, ou seja, mais US$2 bilhões. Então, a balança comercial a favor do Brasil é muito forte, muito grande. E já foi melhor. O Irã já comprou mais do Brasil. Hoje o Irã já está migrando para outros países, porque o Brasil não está comprando praticamente nada deles.
Os iranianos imaginam que é possível aumentar substancialmente essas relações econômicas. Creio ser possível incentivar isso, especialmente porque os indícios sugerem que o Irã está normalizando suas relações políticas com o restante do mundo. Principalmente, agora, no último acordo, no último tratado sobre a política de armas nucleares, os Estados Unidos da América, a União Europeia, que tinham embargos fortíssimos contra o Irã, estão aos poucos retirando esse embargo, porque fizeram um acordo, porque o Irã vai enriquecer urânio apenas para fins pacíficos, para a medicina e para a geração de energia elétrica, e não para a bomba atômica. Na verdade, eles afirmam com muita convicção, inclusive o líder supremo do Irã, que nunca tiveram desenvolvendo bombas atômicas, e sim para fins pacíficos.
Essa é uma oportunidade, Sr. Presidente, interessante para o incremento das exportações brasileiras para o país.
Considerando a pujança do agronegócio nacional, podemos imaginar cenário em que seremos capazes de duplicar, talvez triplicar ou quadruplicar em pouco tempo as exportações para aquele país do Oriente Médio. Isso é perfeitamente factível, se considerarmos os dados econômicos iranianos. É um país com 77 milhões de habitantes, ansiosos pelo consumo de produtos de qualidade, coisa que temos em abundância quando tratamos de agricultura e pecuária. São estes os produtos que eles mais compram: soja, farelo de soja, milho, carne de boi, carne de frango, enfim, produtos da agricultura e da pecuária brasileira.
Esse sentimento iraniano não é coisa recente. No passado, ainda no governo anterior, o Irã já expressava a vontade de colaborar no que fosse possível com o Brasil. O ex-presidente iraniano Ahmadinejad, o primeiro Chefe de Estado do Irã a visitar o Brasil, afirmava, já em 2009, que queria expandir o comércio entre os dois países para algo como US$15 bilhões. E o que aconteceu de lá para cá? Ao invés de expandir os negócios, de estreitar mais as relações com o Irã, o Brasil foi, aos poucos, praticamente, se ausentando, se isolando do Irã.
Esse sentimento, essa vontade política, permanece no atual governo, e o momento, como já afirmei, parece bastante propício para isso tendo em vista a flexibilização dos embargos americanos e da União Europeia.
Além disso, é preciso continuar a expandir as ações comerciais brasileiras.
Continuamos ainda excessivamente dependentes das relações comerciais com alguns poucos países, caso de China, Estados Unidos e Argentina. Se pudermos expandir para outros países de população grande como essa do Irã, por que não o fazer?
Creio que a diversificação de exportações é modo de criar uma ilha de estabilidade, capaz de evitar flutuações prejudiciais aos produtores brasileiros. O Irã, assim como outros países emergentes, seria um dos possíveis candidatos para o incremento de relações comerciais.
Esse é, em minha avaliação, Sr. Presidente, o grande aprendizado trazido pela viagem ao país do Oriente Médio. É o momento de estreitarmos relações econômicas, sempre lembrando que o intercâmbio comercial é o caminho fundamental para a prosperidade dos povos.
Era o que tinha a dizer, Sr. Presidente.
É mais um alerta às autoridades brasileiras, ao nosso Chanceler Figueiredo, a toda a nossa diplomacia brasileira, ao Governo Federal, à Presidente Dilma. Já conversei com o Vice-Presidente da República, Michel Temer, que eles estão ansiosos, aguardando uma visita da nossa Chefe de Estado, da nossa Presidente ou, na pior das hipóteses, do Vice-Presidente da República ao Irã ainda este ano.
Muito obrigado, Sr. Presidente.