Discurso durante a 26ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Expectativa com a realização da Copa do Mundo no Brasil.

Autor
Ana Amélia (PP - Progressistas/RS)
Nome completo: Ana Amélia de Lemos
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
ESPORTE.:
  • Expectativa com a realização da Copa do Mundo no Brasil.
Publicação
Publicação no DSF de 13/03/2014 - Página 101
Assunto
Outros > ESPORTE.
Indexação
  • COMENTARIO, EXPECTATIVA, RELAÇÃO, REALIZAÇÃO, EVENTO, ESPORTE, CAMPEONATO MUNDIAL, FUTEBOL, LOCAL, BRASIL, ELOGIO, ATUAÇÃO, TRIBUNAL DE CONTAS DA UNIÃO (TCU), REFERENCIA, FISCALIZAÇÃO, GASTOS PUBLICOS.

            A SRª ANA AMÉLIA (Bloco Maioria/PP - RS. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão da oradora.) - Caro Presidente desta sessão, Senador Paulo Paim, caros colegas Senadores, nossos telespectadores da TV Senado, ouvintes da Rádio Senado, a Copa do Mundo de futebol em nosso País - e que começa agora - é, sem dúvida, um dos assuntos mais comentados aqui e no exterior, seja pelos meios de comunicação, TV, rádio, jornal, revista, comércio, conversas políticas, negócios, entre colegas de trabalho ou entre amigos e familiares. Faltando exatos 92 dias para o início de um dos torneios mais emocionantes e disputados do Planeta, o termo "copa do mundo 2014" registra hoje na internet, por exemplo, mais de 19 milhões e 60 mil resultados em páginas de buscas e pesquisas.

            São cinco vezes mais dados e informações que as geradas na rede sobre o Mundial de 2002, quando o Brasil conquistou o tricampeonato ao vencer a Alemanha por 2 a 0, em Yokohama, no Japão. Todos querem saber o que vai ocorrer no Mundial que será realizado entre os próximos dias 12 de junho e 13 de julho nas cidades-sede - Belo Horizonte, Brasília, Cuiabá, Curitiba, Fortaleza, Manaus, Natal, Porto Alegre, Recife, Rio de Janeiro, Salvador e São Paulo.

            Penso que dois são os principais motivos para essa euforia, misturada também com sentimentos de receio, frustração e melancolia, misturados também com a euforia: a paixão pelo esporte, que anima e motiva os torcedores e atletas do Brasil e do mundo, e as dúvidas sobre o andamento de um dos maiores acontecimentos esportivos de nosso País.

            Fatos ocorridos no auge das manifestações que tomaram conta das principais cidades brasileiras no ano passado estão agora voltando à pauta e às discussões. Entre as principais críticas da população estavam, naquela época, e continuam, os gastos públicos para receber as Copas do Mundo e a das Confederações, que já aconteceu no ano passado.

            Tais críticas e dúvidas persistem. Na audiência pública realizada na Comissão de Cultura e Esporte desta Casa, presidida pelo Senador Cyro Miranda e da qual sou Vice-Presidente, ouvimos ontem as percepções de cinco especialistas: o presidente do Sindicato Nacional das Empresas de Arquitetura e Engenharia Consultiva (Sinaenco), José Roberto Bernasconi; o pesquisador da Universidade de São Paulo nessa área, Lamartine Pereira da Costa; e o jornalista e diretor do Portal da Copa 2014, Rodrigo Magalhães Prada. Também participaram ativamente da audiência os representantes do Tribunal de Contas da União, Adalberto Santos de Vasconcelos e, brilhantemente, o Rafael Jardim Cavalcante, que foi uma das figuras notáveis dessa audiência.

            Na audiência pública, requerida pelo Senador Alvaro Dias, aqui presente; pelo Senador Aloysio Nunes Ferreira; pelo Senador Cyro Miranda e por mim, ficou claro e cristalino que a população continua, de alguma forma, insatisfeita com o andamento das obras da Copa, mesmo com alguns ganhos já identificados com a realização do mundial de futebol no Brasil, o chamado legado da Copa.

            Até fiz uma brincadeira, porque o Prof. Lamartine Pereira da Costa, que é da USP, defendeu, Senador Jarbas Vasconcelos, a Copa. Ele admitiu até que é pequena a pilhagem, como ele chamou, para não usar o termo corrupção, no superfaturamento, nos problemas que acontecem em eventos dessa envergadura. Mas defendeu com tanto ardor que eu cheguei até dizer que ninguém do Governo havia feito uma defesa da Copa com tanta veemência e com tanta convicção quanto ele.

            Para minha surpresa, alguns assessores da Base do Governo, das assessorias da Liderança do Governo acharam que eu tinha razão, porque ele foi absolutamente não só corajoso, mas foi convincente, mesmo que discordando de muitas das opiniões do Prof. Lamartine.

            Então, pode estar acontecendo também um erro de comunicação em relação a esse evento.

            O Tribunal de Contas da União - e louve-se o rigor na fiscalização efetuada pela Corte, com referência ao Ministro Valmir Campelo, que lidera o grupo dos analistas e fiscais - identificou que a economia de dinheiro público, após a aplicação das novas metodologias de análise e fiscalização pelo Tribunal, foi de R$550 milhões. No caso do aeroporto Salgado Filho, de Porto Alegre, a nossa capital, Senador Paulo Paim, ficamos sabendo que R$6,6 milhões de recursos públicos foram economizados, graças à efetiva atuação do TCU.

            Na construção de estádios e nas melhorias de aeroportos, a melhor aplicação do gasto público ocorreu sem que uma obra sequer fosse paralisada. Isso reforça o quão importante são as instituições que fiscalizam e zelam pela melhor gestão do gasto público.

            Este é o nosso grande desafio em todos os eventos, não apenas os da Copa do Mundo: o controle, a fiscalização para que o dinheiro seja exatamente aplicado naquilo e, também, o planejamento de obras, porque nós não temos a cultura do planejamento da execução e da avaliação etapa por etapa das grandes obras.

            Na capital do Amazonas, em Manaus, por exemplo, foram R$73,1 milhões de recursos economizados. No aeroporto de Confins, próximo a Belo Horizonte, em Minas Gerais, a economia, antes das obras, alcançou R$97 milhões.

            Em Fortaleza, no Ceará, foram R$15 milhões de economia. No Galeão, na cidade do Rio de Janeiro: R$15,2 milhões. Em Cuiabá, a fiscalização do TCU permitiu uma economia de R$11,5 milhões em recursos públicos.

            Neste caso, a Copa do Mundo no Brasil permitiu maior interação entre União, Estados e Municípios para uma missão muito relevante: acompanhar - começo, meio e fim - a aplicação dos recursos para as obras da Copa.

            Tomara que também um dos legados seja o ensinamento de que é fundamental fazer o planejamento de obras que são relevantes para o País.

            O caráter foi colaborativo, que deixa um legado para a sociedade. Mesmo assim, não é isso que o povo tem visto. Todas as perguntas enviadas para debate na audiência pública, por meio do sistema Alô Senado, não trouxeram nenhum elogio, nenhuma referência positiva. Ao contrário, todas as observações ou perguntas feitas por brasileiros e brasileiras de todos os cantos do País mostravam descrença e muitas dúvidas sobre a questão do mundial.

            A revista Veja desta semana trouxe uma reportagem de capa mostrando os riscos da Copa. Nessa matéria, a revista assume a defesa do evento e diz que não é possível que uma minoria descaracterize aquilo que pode deixar mesmo um legado significativo para o nosso País.

            Mas ali são mostradas também as preocupações do Governo, que já decidiu investir R$2 bilhões para que haja segurança não só para as torcidas no Brasil, mas especialmente para os convidados estrangeiros e os visitantes, os turistas que gostam, que são apreciadores de futebol.

            Veja só que uma partida em Porto Alegre vai ser com a Seleção da Argentina. Então, vai ser realmente um momento de grande ebulição e é preciso toda a segurança para que haja uma celebração serena.

            Os riscos também de problemas nas comunicações de dados, no acesso à telefonia, no tráfego de informações e na movimentação de automóveis e pessoas são temores naturais que fazem parte da execução da Copa em nosso País. A clara ausência de planejamento e as falhas latentes de comunicação, no caso de sistemas que nós temos hoje - internet e tudo -, revelam o lado de dúvidas sobre a administração desse evento nesse momento.

            Como enfatizou o pesquisador da Universidade de São Paulo (USP) Lamartine Pereira da Costa, a realização da Copa no Brasil mostrou, de modo enfático e mais claro, as fragilidades e as mazelas do nosso País às vésperas de um evento em que ...

(Soa a campainha.)

            A SRª ANA AMÉLIA (Bloco Maioria/PP - RS) - ...a alegria e o nacionalismo são as presenças mais esperadas. Essa é a concepção e o desejo dele e da maioria dos brasileiros.

            São preocupações legítimas sobre a segurança, a saúde e a educação, que mostram a insatisfação com a forma de administrar e influenciar as instituições democráticas.

            Estou terminando, caro Presidente Paulo Paim.

            A revista IstoÉ, desta semana, trouxe uma relevante entrevista também com o Ministro da Defesa muito ilustrativa para esse caso específico da Copa do Mundo. O Ministro Celso Amorim destacou que o País precisa estar preparado para tudo durante a Copa. Segundo ele, tropas da Força de Contingência poderão ser acionadas em casos de emergência grave.

            Sobre possíveis episódios citados sempre nas publicações, inclusive na Veja, relacionados a um eventual risco de terrorismo, durante a Copa, ele disse o seguinte - abre aspas: “O Brasil não é um alvo, mas temos que pensar no pior." - fecha aspas. A segurança eletrônica é fundamental e indispensável em um grande evento como esse que receberá atletas e torcedores de todos os cantos do mundo. Do ocidente ao oriente, juntos, no país do futebol!

            É óbvio que precisamos estar preparados. Por isso, a importância do "planejamento", com qualidade, sem atropelos ou improvisações.

            Não se pode promover um evento de tamanha importância sem definir garantias para os investidores e para os usuários de todos os serviços da Copa - mobilidade urbana, turismo, saúde, todos eles. No Brasil, país que conseguiu atrair mais patrocinadores que a Inglaterra durante os grandes eventos, espera-se, no mínimo, gestão e comunicação mais eficientes porque elas serão um caminho para mostrar se nós estamos ou não preparados para um evento dessa envergadura e desse porte. São características que precisam estar em vigor na rotina administrativa pública.

            Como eu disse na audiência de ontem, Senador, "El camino se hace al andar". Só iremos saber tudo ou quase tudo depois que a Copa for realizada. O País só será grande na hora que trocar a cultura da improvisação pelo cultura do planejamento. Expertos em gestão dizem o seguinte: “Quando você planeja, você tem grandes probabilidades de acertar. Quando você não planeja, você nunca acerta!” Mesmo planejando, obviamente, corremos riscos.

(Soa a campainha.)

            A SRª ANA AMÉLIA (Bloco Maioria/PP - RS) - Necessitamos urgentemente de planejamento, de não fazer as coisas “nas coxas”, como nós costumamos dizer no bom português. Precisamos mudar a visão de vantagem em tudo. Precisamos de planos com começo, meio e fim. A segunda etapa, no caso da Copa, será cobrar aquilo que ficou no meio do caminho, pois obra inacabada é muito mais cara sob todos os aspectos e, se esse legado é realmente o grande patrimônio da Copa, ele não pode ficar no meio do caminho. Todas as obras devem ser concluídas para o benefício dos brasileiros.

            Não interessa se vai ser a melhor Copa de todos os tempos. O que interessa é que o Brasil precisa demonstrar ao mundo que os brasileiros são capazes de fazer uma Copa com absoluto respeito e um bom acolhimento de milhares de pessoas que aqui virão, não só os atletas, de todas as partes do mundo.

            Muito obrigada, Presidente.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 13/03/2014 - Página 101